Cientistas descobrem classe de antibióticos capaz de matar bactérias
resistentes
Pesquisadores descobriram uma nova classe de antibióticos
capaz de matar bactérias multirresistentes a drogas, um problema de saúde
global que preocupa autoridades de saúde.
A resistência a antibióticos ocorre quando cepas de
microrganismos que antes respondiam a tratamentos com os antimicrobianos passam
a não ser mais suscetíveis, prolongando as infecções, causando novas
hospitalizações e aumentando o risco de transmissão.
Por essa razão, a descoberta da nova classe de
medicamentos com potencial clínico traz esperança para médicos, autoridades de
saúde e pacientes em todo o mundo.
O grupo faz parte dos chamados MPCs (peptídeos
macrocíclicos), moléculas de tamanho maior do que a maioria dos antibióticos
conhecidos e que apresentam uma atividade antimicrobiana promissora, inclusive
combatendo cepas multirresistentes a drogas.
Em um banco de dados com cerca de 45 mil moléculas,
os cientistas encontraram a nova substância, chamada zosurabalpina
(zosurabalpin, em inglês), e descrita pela primeira vez em um artigo na edição
desta quarta-feira (3) da revista Nature por Claudia Zampaloni, Patrizio
Mattei, Konrad Bleicher e demais colegas da empresa farmacêutica Grupo Roche
(Suíça) e da Universidade de Harvard (EUA), dentre outros.
O grupo de antibióticos possui ação contra
bactérias gram-negativas e gram-positivas, mas a zosurabalpina foi eficaz
principalmente contra a CRAB (Acinetobacter baumannii carbapenêmico-resistente,
na sigla em inglês). A droga foi testada em placas de laboratório infectadas
com a bactéria e em camundongos, onde conseguiu inibir o crescimento
bacteriano.
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Combate a bactérias resistentes. São João lidera
projeto internacional
A A. baumannii é uma bactéria gram-negativa listada
entre os microrganismos de prioridade máxima para a OMS (Organização Mundial da
Saúde) devido à resistência antimicrobiana. Segundo um estudo publicado na
revista The Lancet, aproximadamente 1,3 milhão de mortes por ano em todo mundo
são causadas por bactérias resistentes.
A descoberta é, assim, um marco para o
desenvolvimento e pesquisa de novos fármacos capazes de combater
microrganismos. "Faz mais de 50 anos desde o lançamento da última classe
de antibióticos capaz de tratar infecções causadas por bactérias gram-negativas,
e há hoje resistência aos medicamentos de praticamente todas as classes
existentes. Qualquer nova classe de antibióticos que tenha a capacidade de
tratar infecções causadas por bactérias resistentes, como a CRAB, é um avanço
significativo", disse à Folha Kenneth Bradley, autor correspondente do
estudo e chefe global de descoberta de doenças infecciosas da Roche.
No estudo, os autores afirmam que novos
antibióticos descritos nos últimos anos são, em sua maioria, derivados de
substâncias já existentes, e que encontrar novas classes de drogas é
extremamente raro.
Em um estudo complementar também publicado nesta
quarta (3) na Nature, Daniel Kahne e colegas da Universidade de Harvard
descrevem o mecanismo de ação da substância.
Funciona assim: a bactéria A. baumannii resistente
possui várias moléculas de lipopolissacarídeos (LPS) na membrana externa que
impedem a penetração do antibiótico na célula. Pense como se fosse uma película
protetora. Os especialistas encontraram duas maneiras de impedir essa proteção:
bloquear a síntese dos LPS ou interromper o seu transporte até a membrana
externa, evitando assim a formação da película, tornando a bactéria suscetível
novamente a alguns antibióticos. A nova droga age da segunda forma.
Ao ligar a um complexo de proteínas (LptB2FGC)
entre as duas camadas da membrana celular (interna e externa), a zosurabalpina
bloqueia a via de transporte do LPS. Essas moléculas acabam se acumulando na
membrana interna da bactéria, impedindo outras trocas da bactéria com o meio
externo. Sem o transporte, ocorre a morte celular.
Um fato curioso do modo de ação da zorusabalpina é
que ela não chega a interagir com o citoplasma, o que dificulta a aquisição de
resistência microbiana no longo prazo.
"A membrana externa é importante para as
bactérias porque as ajuda a sobreviver em condições adversas e a resistir aos
mecanismos de defesa imunológica. O LPS é produzido dentro da célula
bacteriana, mas precisa ser transportado para a membrana externa, um processo
cuidadosamente controlado por estes microrganismos. Sem a membrana com LPS, as
bactérias têm dificuldade em estabelecer infecções. Mesmo para bactérias raras
que podem sobreviver sem membranas externas, o sistema de transporte é tóxico para
elas, levando-as à morte", afirmou Bradley.
Como ele é altamente específico por se ligar a um
complexo de proteína da A. baumannii, o risco de surgirem cepas resistentes
pelo processo de mutação ou transferência horizontal a aquisição de genes mutados de outras bactérias para a que se tenta combater é baixo.
Os autores do estudo concluem que a nova molécula
supera os mecanismos de resistência a medicamentos existentes, cujos
antibióticos atualmente disponíveis são incapazes de superar.
"Com essa descoberta significativa, a
zosurabalpina tem o potencial de atender a uma grande necessidade não atendida
na luta contra a resistência antimicrobiana", completam.
Fonte: FolhaPress
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