quarta-feira, 4 de outubro de 2023

Câncer: cientistas encontram célula de defesa chave para imunoterapia

O sistema imunológico do ser humano é complexo e conta com diferentes agentes destinados a nos proteger de doenças. Quando tumores e infecções crônicas virais levam os linfócitos T à exaustão, células de defesa “reservistas” entram em ação.

Um grupo de pesquisadores internacionais, incluindo brasileiros, conseguiu dar um passo importante no entendimento dessas células. Eles descobriram onde elas se agrupam para combater o tumor e suas características. Essas células apresentam fenótipo, perfil transcricional (de expressão gênica) e funções semelhantes no combate a tumores e vírus.

A descoberta, publicada na revista PNAS nessa segunda-feira (2/10), abre caminhos para aperfeiçoar a imunoterapia, técnica que utiliza as células de defesa do próprio paciente para combater o câncer.

 “O nosso estudo mostrou que, em um ambiente tumoral, onde maioria das células T está exausta, é interessante a presença de uma população de células que pode ser reativada para combater o tumor de forma mais eficaz”, afirma o pesquisador do Hospital Israelita Albert Einstein Helder Nakaya à Agência Fapesp.

Nakaya é professor da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (FCF-USP) e integrante do Centro de Pesquisa em Doenças Inflamatórias (CRID) da Fapesp.

Testes com roedores e com células humanas mostraram que os linfócitos “reservistas” (PD-1+ TCF1+ stem-like CD8 T) estão localizados nas estruturas linfoides terciárias (TLS, na sigla em inglês). O TLS é uma espécie de nódulo que se aloja ao redor dos tumores. A sua presença indica uma boa resposta à imunoterapia.

Segundo Nakaya, as células CD8 T são consideradas soldados da linha de frente do sistema imunológico humano. Uma das estratégias do tumor para levar essas células à exaustão é o envio de uma sinalização pelo receptor PD-1.

De acordo com o pesquisador, essas células apresentam duas características conhecidas que interessam muito aos cientistas por serem importantes para o tratamento com imunoterapia. “Primeiro, elas exibem características de células-tronco, o que significa a capacidade de se autorrenovar. O segundo aspecto é que são essas células que vão se proliferar mais após a imunoterapia”, considera o cientista.

Em um ambiente tumoral onde a maioria das células T está exausta, é interessante a presença de uma população de células que pode ser “reativada” para combater o tumor de forma mais eficaz. “Portanto, é como se as células PD-1+ TCF1+ stem-like CD8 T fossem soldados ‘reservistas’, prontos para serem treinados para entrar na linha de frente no combate ao tumor. Isso abre portas para terapias que visam especificamente reativar essas células CD8 T exaustas, potencializando assim a resposta imunológica contra o câncer”, afirma.

 

       Câncer: insumos para terapia CAR-T passarão a ser feitos no Brasil

 

O Brasil está mais perto de produzir os insumos necessários para a realização de terapias CAR-T, técnica que treina as células de defesa do próprio paciente para combater o câncer.

Na última quarta-feira (27/9), a Anvisa aprovou uma nova rodada de pesquisas com a CAR-T no Brasil. Os ensaios clínicos serão feitos com 81 voluntários nos próximos meses.

Além disso, a medida autorizou que parte dos insumos necessários para a realização da nova terapia sejam desenvolvidos no país.

A autorização permite ao Hemocentro de Ribeirão Preto, à USP e ao Instituto Butantan — que atuam em conjunto na pesquisa de CAR-T no Brasil — a criarem os insumos necessários para a realização dos procedimentos. Atualmente, a terapia depende que as células dos pacientes sejam levadas ao exterior para que as infusões sejam preparadas.

O Núcleo de Terapia Avançada (Nutera), localizado em Ribeirão Preto, atuará como fornecedor de insumos para as terapias celulares avançadas, como as células CAR-T.

“A fábrica é uma plataforma que permite manipular células geneticamente modificadas, como é o caso das células CAR-T. A fábrica foi construída em uma área pública, em um hospital que atende quase inteiramente pacientes do SUS. Começamos com o CAR-T19, mas há muitas pesquisas em curso e um futuro promissor pela frente”, afirma Dimas Covas, diretor do Hemocentro de Ribeirão Preto e coordenador da pesquisa, à Agência Fapesp.

Atualmente, a fábrica tem capacidade de produzir os insumos necessários para atender 13 pacientes a cada 34 dias. “Ainda não dá conta de toda a demanda do SUS. Mas a nossa expectativa é que, em um ano, seja possível fazer 150 casos e ir escalonando esse número com o tempo”, afirma Diego Clé, diretor médico do Hemocentro de Ribeirão Preto e um dos pesquisadores envolvidos.

O que é a CAR-T?

A terapia CAR-T modifica as células de desfesa do paciente em laboratório, de maneira a treiná-las para que combatam o câncer de forma personalizada. Nos testes realizados no Brasil, um paciente com câncer em fase terminal alcançou a remissão em apenas um mês.

Hoje as células dos pacientes precisam ser enviadas aos Estados Unidos ou à Europa para que essas modificações sejam feitas, o que encarece muito o custo do tratamento. Com a produção no Brasil, os custos vão cair e o acesso, aumentar.

<><> Anvisa aprova nova pesquisa do CAR-T e prevê inclusão no SUS

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou uma nova rodada de pesquisas sobre os tratamentos CAR-T no Brasil. Esse tipo de terapia usa células do próprio paciente para combater o câncer.

A técnica CAR-T ficou famosa em maio deste ano ao levar o paciente Paulo Peregrino, que tinha um câncer em estágio terminal, à remissão em apenas um mês.

•        Como será a nova pesquisa?

A nova autorização da Anvisa permite que a Fundação Hemocentro de Ribeirão Preto (FUNDHERP), em parceria com o Instituto Butantan, façam um ensaio clínico mais amplo da terapia celular. O grupo é o mesmo que cuidou do paciente Paulo Peregrino.

Os estudos estão em fase clínica inicial (fase 1/2). O objetivo é avaliar a segurança e a eficácia no tratamento de pacientes com leucemia linfoide aguda B e linfoma não Hodgkin B. Os voluntários da pesquisa são pacientes que já passaram pelos tratamentos disponíveis, inclusive transplante de medula, e não obtiveram resposta satisfatória.

•        Plano é disponibilizar tratamento o antes possível

A Anvisa também criou um plano de acompanhamento dos resultados deste estudo com o CAR-T para colher informações diretamente. Com isso, se os resultados encontrados até dezembro de 2024 forem bons, o objetivo é autorizar a técnica para que as pessoas tenham acesso a uma opção de tratamento segura, eficaz e de alta qualidade disponível no SUS.

“A ciência global está avançando rapidamente para melhorar a qualidade de vida das pessoas em todo o mundo. A experiência recente no Brasil e no mundo tem mostrado que quando os pesquisadores e a Anvisa trabalham juntos desde o começo, isso pode resultar em dados científicos melhores em termos de segurança, eficácia e qualidade. Isso, por sua vez, pode acelerar o acesso a novas tecnologias para as pessoas”, afirmou a Anvisa em comunicado à imprensa.

Rafaela Felicciano/MetrópolesFuturo do tratamento CAR-T

Por hora, apenas pesquisas com CAR-T para cânceres no sangue estão autorizadas no Brasil. No resto do mundo, estão sendo conduzidos estudos para aplicar a técnica em outros tipos de tumor.

 “Em um futuro muito breve este tipo de tratamento vai estar disponível para outros tipos de câncer. Já há estudos semelhantes para câncer de mama, de estômago e de intestino. Não tenho dúvidas de que a terapia celular é a nova fronteira do tratamento do câncer: é específica, age rapidamente, com força, e sem causar os efeitos colaterais dos tratamentos convencionais”, explica o hematologista Dimas Covas.

 

Fonte: Metrópoles

 

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