Ricardo Nunes: o
bolsonarista nutella, cheio de esqueletos no armário
NINGUÉM CONHECE BEM RICARDO NUNES, do MDB,
prefeito de São Paulo. Nem os paulistanos. Mas o bolsonarismo o conhece muito
bem. Bolsonaro e seus aliados têm tido encontros frequentes com o prefeito para
traçar estratégias para a próxima eleição municipal no ano que vem e também
para a presidencial em 2026.
PL,
PP, Republicanos e União Brasil acreditam que a disputa no maior colégio do
país será um laboratório para as eleições
presidenciais.
Sabendo que Bolsonaro está inelegível, os bolsonaristas
querem estar junto com Nunes em sua possível reeleição, garantindo cargos na
prefeitura paulistana e acumulando forças para o pleito presidencial.
Apesar
de ser do MDB, partido da base do governo Lula, Ricardo Nunes é aquele tipo de
político de direita que corre pro lado que for mais conveniente no momento.
Entrou na política pelos braços de Milton Leite – um quadro de direita bastante
influente na capital paulista e já foi presidente da Câmara Municipal por 5
vezes.
Quando
se elegeu pela primeira vez como vereador em São Paulo em 2012, Nunes foi um
aliado do PT durante a gestão do então prefeito Fernando Haddad. A partir de
2016, se tornou aliado da gestão tucana de João Doria. Em 2020, Bruno Covas o
escolheu para ser o seu vice. Depois da morte do tucano, o emedebista se
tornou prefeito.
A
trajetória de Nunes na política é curta, mas muito bem sucedida. Mudou de lado
todas as vezes que foi necessário, mas ideologicamente sempre esteve à direita.
Apesar de ser considerado um direitista moderado, a aproximação de Nunes com os
fascistoides do bolsonarismo demonstra que ele topa qualquer negócio. Tudo
indica que o principal adversário de Nunes na próxima eleição municipal será
Guilherme Boulos, do Psol, que será apoiado pelo PT. Como o bolsonarismo ainda
é a corrente mais forte dentro da direita, Nunes não pensou duas vezes antes de
se aconchegar no ninho dos extremistas.
Ninguém
conhece Nunes em São Paulo não apenas por causa do seu perfil discreto, mas por
ser um prefeito ruim, omisso e que não possui nenhuma marca positiva na sua
gestão. A cidade piorou vertiginosamente em praticamente todos os quesitos nos
últimos anos.
O
centro está abandonado, a cracolândia se espalhou pela cidade, os moradores de
rua se multiplicam, as ruas estão sujas, os buracos no asfalto abundam e o
trânsito tem piorado. A maioria dos paulistanos concorda que não há zeladoria
na cidade. Para tentar reverter a falta de popularidade, Nunes tem recorrido à
velha tática eleitoreira de abrir os cofres para torrar com publicidade. Ainda
nem chegamos no ano eleitoral, mas sua gestão já torrou R$ 385,2 milhões em
propaganda nos
dois primeiros anos de mandato. Trata-se do maior gasto publicitário da
prefeitura em 12 anos.
Além
de desperdiçar o dinheiro do povo paulistano promovendo uma gestão que nada
entrega ao povo paulistano, Nunes também tem se beneficiado por uma
superexposição da sua imagem patrocinada pelos partidos da sua coalizão.
Segundo uma reportagem da Folha, uma
série de anúncios de propaganda partidária do MDB e do União Brasil — pagos com
grana do fundo partidário — começaram a ser veiculados em canais da TV aberta.
A coisa está em um nível tão bizarro que em um mesmo intervalo é possível ver tanto
as propagandas dos partidos quanto as da administração comandada pelo
prefeito.
Sem
ter serviço pra mostrar, as propagandas mostram as pequenas coisas que ele fez,
como as pouquíssimas obras de recapeamento. Em uma busca desesperada por criar
uma marca da sua gestão, em junho do ano passado, Nunes lançou um programa
bilionário de recapeamento. A promessa era de recapear 20 milhões de metros
quadrados, mas até agora nem um terço foi feito ou contratado e a meta não
será atingida nesse ritmo. Pela falta do que falar, as propagandas abusam de
platitudes que não dizem nada. Em uma delas, o prefeito aparece falando: “Sabemos que a
nossa cidade tem grandes desafios e é trabalhando que enfrentamos todos
eles”.
A
aproximação entre Nunes e Bolsonaro não se deu apenas por pragmatismo
eleitoral, mas também por afinidade ideológica. Quando foi vereador, Nunes
fez parte da bancada religiosa na Câmara Municipal, performando
o católico fervoroso que luta contra a famigerada “ideologia de gênero” — essa
invenção da extrema direita para assustar a população. “Eu sou pela sua
família, gênero não”, gritou o então vereador na Câmara em 2015. Nunes também
foi coautor de um projeto de lei que implementaria a “Escola sem Partido” —
outro delírio fabricado pelo bolsonarismo.
·
Relações estranhas com o dinheiro público
A
hipocrisia com o trato do dinheiro público também une Nunes a Bolsonaro. Ambos
posam de zelosos com o dinheiro público, mas têm muitos esqueletos no armário.
O
prefeito tem forte influência sobre as creches que mantêm convênios com a
prefeitura, o que motivou uma investigação do Ministério Público de São Paulo.
Há denúncias de superfaturamento no
aluguel de creches.
Segundo a promotoria, Nunes foi favorecido por meio de
sua relação com a Sociedade Beneficente Equilíbrio de Interlagos, a Sobei, que
recebe da prefeitura R$ 329 mil mensais para pagamentos de aluguéis de
creches.
Em
outro caso de favorecimento, a empresa Nikkey foi contratada pela prefeitura
sem licitação para prestar serviços de dedetização em oito creches. Sabe quem são as donas da Nikkey? A
mulher e a filha de Ricardo Nunes, ora vejam só. Detalhe: essas oito
creches são administradas por aliados políticos do prefeito. Elas são
controladas pela Associação Amigos da Criança e do Adolescente, cuja presidente
é uma ex-funcionária de Nunes e o vice-presidente é pai de sua ex-assessora.
Está tudo em casa.
A
organização Nova Esperança foi contratada por Ricardo Nunes meses após ele
assumir a prefeitura. Uma reportagem do Intercept mostrou que a
associação abocanhou um contrato de R$ 335 milhões para gerenciar e executar,
por um ano, ações e serviços em 45 unidades da Secretaria de Saúde do Município
de São Paulo.
A
Nova Esperança foi contratada também para a missão de recuperar usuários de
drogas que frequentam a cracolândia através de internações voluntárias,
involuntárias e compulsórias — um método rechaçado por qualquer especialista em
saúde mental. Detalhe: Nunes firmou contrato milionário com a organização
mesmo depois de saber que ela esteve envolvida no esquema de
corrupção que
levou ao afastamento do governador do Rio de Janeiro Wilson Witzel e à prisão
do Pastor Everaldo.
Essas
são as credenciais do prefeito de São Paulo – o mais novo parceiro do
bolsonarismo. O perfil discreto e a atuação medíocre na prefeitura contribuíram
para que a sua trajetória conturbada na política não ficasse tão exposta.
Apesar do seu nome já ter se envolvido no que há de pior na política
brasileira, Nunes consegue posar de direitista moderado. Mas o fato é que ele
historicamente sempre esteve mais alinhado ideologicamente à extrema direita,
tanto nos valores, quanto nas práticas obscuras da administração pública.
Fonte:
Por João Filho em The Intercept
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