domingo, 9 de julho de 2023

Relatório da Abin revela lideranças do agronegócio que articularam ataques de 8 de janeiro

Documentos sigilosos da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) revelados nesta sexta-feira (7) mostram quem são os principais líderes do assim chamado Movimento Brasil Verde e Amarelo (MBVA), acusado de articular os atos antidemocráticos registrados em Brasília no último dia 8 de janeiro. Setores ligados ao agronegócio compõem o grupo que levou bolsonaristas do Norte e do Centro-Oeste para a capital federal.

O relatório intitulado “Participação de lideranças do agronegócio em atos antidemocráticos e em ações de contestação do resultado eleitoral” foi revelado para o jornal O Globo. O documento foi produzido em 10 de janeiro e tem a numeração 0005/2023. A Abin fez um levantamento que começou logo após o segundo turno das eleições, quando integrantes do MBVA lideraram bloqueios de rodovias em Goiás, Mato Grosso do Sul, Roraima e Tocantins.

De acordo com a Abin, o grupo tem “recursos econômicos para financiar transporte de manifestantes e ações extremistas como as ocorridas em 8 de janeiro”.

O MBVA surgiu em 2017, formado basicamente por produtores de soja do Centro-Oeste. De acordo com a Abin, cresceu antagonizando com os setores do agro voltados para a exportação. Enquanto os exportadores apresentam maiores preocupações ambientais e trabalhistas, com vistas a não perder vendas para a Europa e os EUA, os produtores ligados ao MBVA carregam valores mais próximos do bolsonarismo, com pouca ou nenhuma preocupação ambiental e social. A Associação Brasileira de Produtores de Soja (Aprosoja) teria contribuído com o MBVA na organização de atos favoráveis ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

A principal liderança, tratado por “general” dentro do MBVA, é Antônio Galvan – que ainda acumula a presidência da própria Aprosoja. Galvan já foi alvo de inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF) pelo apoio aos atos golpistas e, quando intimado a dar depoimento à Polícia Federal, compareceu à sede da PF em cima de um trator e acompanhado de apoiadores. No ano passado, candidatou-se senador pelo Mato Grosso pelo PTB de Roberto Jefferson. Felizmente não se elegeu.

Ainda segundo o relatório da Abin, o advogado e produtor rural Jeferson Rocha seria uma espécie de líder intelectual do MBVA. Nas redes sociais ele defendeu a anulação das eleições e o controle sobre o STF. Rocha negou participação nos atos golpistas à imprensa.

·         Golpista do dia 8 de janeiro confessa ajuda de general do Exército em fuga

A participante dos atos golpistas do 8 de janeiro Ana Priscila Azevedo era uma das principais influenciadoras bolsonaristas presentes na tentativa de golpe contra o governo Lula. Contudo, após a prisão e as sequenciais derrotas dos bolsonaristas na justiça, Azevedo decidiu colaborar com a Justiça.

Em depoimento ao Ministério Público Militar divulgado pelo Estadão, a bolsonarista afirmou que um general do Exército orientou os terroristas lotados na frente do Quartel General do Exército em Brasília a fugir após os atos golpistas do dia 8 de janeiro.

Em seu depoimento, ela afirmou que o homem de patente alta falou com os golpistas por volta das 9 horas da manhã da segunda-feira posterior à tentativa de usurpação do poder.

"Na manhã do dia 9, uma autoridade do Exército se pronunciou ao público e pediu ao público pedindo para que o pessoa ali na frente do QG que fosse embora, até onde que consta, era um general mesmo do Exército, antes das prisões", afirmou Ana ao Ministério Público Militar.

Ele relembrou que pessoas do exército colaboraram com os golpistas. “Isso foi amplamente divulgado pelas pessoas que estiveram ali e não foram presas. Tem até um vídeo, dentro do Palácio do Planalto, aonde (sic) que ali um coronel do exército tentou impedir um Policial Militar de prender um manifestante. Esse vídeo circulou na época", disse.

 

       Moraes abre inquérito contra deputado General Girão por suposta incitação ao 8 de janeiro

 

O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou, na quinta-feira (6), a abertura de inquérito contra o deputado Eliéser Girão Monteiro Filho, o General Girão (PL-RN), para apurar supostos incentivo e influência aos atos de 8 de janeiro, em Brasília.

A investigação vai apurar os supostos crimes de associação criminosa, incitação ao crime, abolição violenta do Estado Democrático de Direito e golpe de Estado.

Serão investigadas publicações do deputado nas redes sociais e sua participação em manifestação em frente a um quartel do Exército em Natal no final de 2022.

A decisão de abrir o inquérito atende a pedido da Polícia Federal (PF) e da Procuradoria-geral da República (PGR). O prazo inicial para as investigações é de 60 dias.

“Os elementos iniciais trazidos na presente PET demonstram a existência de justa causa para a instauração de inquérito policial em face do deputado federal ELIÉSER GIRÃO MONTEIRO FILHO, conforme solicitado pela Polícia Federal e reiterado pela Procuradoria Geral da República”, escreveu Moraes na decisão.

Em sua manifestação, o subprocurador-geral da República, Carlos Frederico Santos, responsável pelas investigações dos ataques de 8 de janeiro, disse ser necessário apurar “todos os contornos eventualmente criminosos das condutas” do deputado e se as postagens “tiveram influência nos atos do dia 8 de janeiro de 2023”.

Segundo Santos, Girão fez diversas publicações nas redes sociais entre 8 de novembro de 2022 e 10 de janeiro de 2023 “fomentando a animosidade das Forças Armas contra os Poderes constituídos e de golpe de estado, especialmente instigando a violência contra o Congresso Nacional, STF e TSE, considerando os golpistas presos pela prática dos atos antidemocráticos de 8/1/2023 como vítimas perseguidas pelo Poder Judiciário”.

“Com efeito, o discurso em apoio e a conclamação dos atos que culminaram na invasão às sedes dos poderes constitucionais são indicativos de que o incitamento difundido pelo requerido por meio das referidas postagens supostamente estimulou a prática das ações criminosas acima narradas”, declarou.

As postagens foram reunidas pela Procuradoria da República de Mossoró. Segundo o órgão, Girão estimulou “reiteradamente” as condutas antidemocráticas.

Para o MPF, o deputado extrapolou os limites da imunidade parlamentar. O órgão listou publicações de Girão nas redes sociais. Em uma delas, de dezembro, o congressista escreveu, em referência ao Congresso, que “a Casa do Povo pertence ao povo. O Brasil pertence aos brasileiros. A justiça pertence a Deus. #VamosVencer”.

De acordo com a Polícia Federal, a frase “Vamos Vencer” seria “claramente uma incitação golpista, como se comprova a partir da charge juntada, quando se vê, de, modo abominável, um Congresso Nacional amedrontado diante de uma turba de golpistas”.

“A vontade do Deputado em ver a concretização de um golpe de Estado, como se sabe, quase se consumou a pouco mais de um mês de tal postagem, evidenciando o nexo de causalidade entre conduta e dano”, pontuou a PF.

Na decisão de abrir o inquérito, Moraes determina:

•        envio de ofício à Meta e Twitter para preservar as postagens do deputado;

•        nova pesquisa por parte da Polícia Federa para identificar outras postagens que não tenham sido mencionadas na representação;

•        análise sobre a necessidade de implementação de eventuais medidas cautelares;

•        a inquirição do deputado, para que, querendo, esclareça o que considerar pertinente ao caso.

A CNN entrou em contato com a assessoria do deputado General Girão, que, em nota assinada pelo seu gabinete, afirmou: “Ficamos sabendo pela imprensa sobre essa demanda e ainda não tivemos acesso aos autos. Assim que soubermos do que se trata, retornamos com um posicionamento oficial do Deputado.”

 

Fonte: Fórum/CNN Brasil

 

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