terça-feira, 4 de julho de 2023

Parar de fumar reduz a hipertensão em apenas 12 semanas, diz pesquisa

Que fumar faz mal à saúde não é novidade para ninguém. O tabagismo é uma doença crônica associada ao aumento de risco de uma série de outras doenças, entre elas, as cardiovasculares. Vários estudos demonstram que os fumantes hipertensos possuem pior prognóstico cardiovascular, mesmo quando tratados com medicamentos para a hipertensão.

A novidade é que um estudo realizado no Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP mostrou que parar de fumar reduz a pressão arterial de fumantes hipertensos em apenas 12 semanas, mesmo entre aqueles que usam remédios para hipertensão.

“Nosso estudo concluiu que parar de fumar funciona como um remédio para tratar a hipertensão. Cerca de 40% dos pacientes do nosso ambulatório [de cessação do tabagismo] possuem comorbidades, entre elas, a hipertensão. Esse estudo constatou o que víamos na prática clínica, que eram pacientes hipertensos diminuindo a necessidade do uso do remédio porque pararam de fumar e alcançaram a meta do controle da pressão”, explicou a cardiologista Jaqueline Scholz, coordenadora do Programa de Tratamento do Tabagismo do InCor, orientadora do estudo e assessora-científica da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (Socesp).

O estudo reuniu 361 participantes que faziam tratamento para parar de fumar no hospital – entre eles, 113 eram fumantes com hipertensão e tomavam remédio para controle da pressão arterial. O grupo foi dividido em dois e receberam duas medicações distintas. Os pacientes fizeram seis visitas ao ambulatório e os níveis pressóricos foram medidos no primeiro dia, após 4 semanas e após 12 semanas de tratamento.

Do grupo de pacientes fumantes hipertensos, 72 pessoas pararam de fumar (chamado grupo de cessação) e outros 41 não pararam, mas reduziram o consumo. Após o período de três meses, os níveis pressóricos reduziram entre aqueles que pararam de fumar (cerca de 10 mmHg na pressão sistólica, o valor mais alto que aparece quando medimos, e cerca de 4 mmHg na pressão diastólica, o valor mais baixo). Para a regulação da hipertensão arterial, o ideal seria uma pressão arterial diastólica menor que 85 mmHg e sistólica menor que 130 mmHg.

“Nós não interrompemos o uso da medicação hipertensiva, mas observamos uma melhora clínica considerável. Quando avaliamos novamente a pressão arterial desses pacientes vimos que ela estava dentro da meta, como se o fato de parar de fumar fosse um outro medicamento, pois ele potencializou os efeitos no controle da pressão arterial”, explica a cardiologista. Os participantes que pararam de fumar também reduziram a frequência cardíaca, outro marcador importante para doenças cardiovasculares.

·         O cigarro e a hipertensão

O tabagismo não é uma causa direta da hipertensão arterial, mas fumar é um fator de agravo na pressão arterial e esse público possui uma pior evolução no tratamento das doenças cardiovasculares. A relação entre fumar e o aumento da pressão envolve uma complexa interação entre fatores hemodinâmicos e sistema nervoso autônomo. De forma resumida, a nicotina presente no cigarro gera uma ativação do sistema nervoso simpático e aumenta a frequência cardíaca, a pressão arterial e, ao mesmo tempo, reduz a oferta de oxigênio aos vasos e ao coração.

Segundo a médica, existem poucos trabalhos com pacientes fumantes hipertensos que pararam de fumar porque a taxa de cessação num ambulatório de hipertensão é muito baixa. A ideia de fazer o estudo partiu da observação da evolução desses pacientes na prática clínica do ambulatório de tabagismo, já que muitos fumantes hipertensos que pararam de fumar relataram redução no uso de medicamentos hipertensivos.

“A literatura não coloca o tabagismo como causa da hipertensão, e realmente não é. Nesse aspecto podemos dizer que esse é um dos primeiros estudos que avaliam o impacto de parar de fumar no paciente hipertenso. Víamos isso corriqueiramente no ambulatório, mas ainda não havia um estudo controlado e randomizado para comprovar esse benefício”, disse a cardiologista.

·         Tabagismo mata mais de 440 brasileiros por dia

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 8 milhões de pessoas morrem todos os anos em consequência do tabagismo. No Brasil, mais de 440 pessoas morrem a cada dia por doenças associadas ao cigarro, segundo dados do Ministério da Saúde.

Entre as mortes anuais atribuíveis ao cigarro, 37 mil correspondem à doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC); 33 mil às doenças cardiovasculares (entre elas infarto e AVC); 24.400 mil ao câncer de pulmão; 25.600 a outros cânceres; 18.600 ao tabagismo passivo, entre outras causas.

O trabalho, que foi realizado como parte de uma tese de doutorado, começou a ser realizado em 2017 e encerrou no final do ano passado. Os resultados foram apresentados em um congresso sobre tabagismo nos Estados Unidos e está em processo de submissão para publicação do artigo científico.

“A gente sabe que abandonar o tabagismo não é uma tarefa fácil, mas existe tratamento e ele é fundamental para melhorar a qualidade de vida e prevenir outras doenças, inclusive melhorar a performance da pressão arterial. Parar de fumar é o melhor que a pessoa faz para a saúde dela”, finalizou a cardiologista. 

 

Ø  Relacionamentos ruins são tão nocivos à saúde quanto fumar, diz estudo

 

Ter relacionamentos ruins, seja com um parceiro, amigos ou colegas de trabalho, é tão prejudicial à saúde quanto ter um estilo de vida não saudável, ser fumante ou obeso, segundo mostra um estudo publicado na edição de fevereiro da revista General Psychiatry.

Os pesquisadores da Universidade de Queensland, na Austrália, descobriram que as mulheres de meia-idade que não conseguem ter conexões sociais satisfatórias correm maior risco de desenvolver condições crônicas de saúde anos depois.

Para chegar à conclusão, os cientistas acompanharam ao longo de duas décadas a evolução da saúde de 7.694 mulheres australianas saudáveis, com idades entre 45 e 50 anos.

No início do levantamento, nenhuma delas tinha diagnóstico para condições comuns de longo prazo, como depressão, ansiedade, diabetes, pressão alta, doenças cardíacas, derrame, doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), asma, osteoporose, artrite ou câncer.

A cada três anos, as participantes deveriam responder quão satisfeitas estavam nos relacionamentos com seus parceiros amorosos, familiares, amigos e colegas de trabalho. Enquanto isso, os pesquisadores rastreavam o surgimento das doenças listadas.

Aproximadamente seis em cada dez mulheres (58%) desenvolveram mais de uma das condições. O risco de desenvolver múltiplas doenças foi duas vezes maior entre as que relataram menor nível de satisfação com as relações sociais em comparação às mais satisfeitas.

Fatores de risco bem estabelecidos, como posição socioeconômica, estilo de vida e menopausa, juntos, foram responsáveis por menos de um quinto das chances de desenvolver as condições de longo prazo, de acordo com os pesquisadores.

Os resultados mostraram que todos os tipos de relacionamento são igualmente importantes para a saúde na velhice e a qualidade deles deve ser tratada como um fator de risco.

Os cientistas da Universidade de Queensland acreditam que as descobertas têm implicações significativas para o gerenciamento e intervenção de doenças crônicas a nível individual, comunitário, nacional e global.

“Essas implicações podem ajudar a aconselhar as mulheres sobre os benefícios de iniciar ou manter relações sociais diversificadas e de alta qualidade durante a meia-idade e o início da velhice”, escreveram os autores do estudo em um comunicado.

 

Fonte: Agência Einstein/Metrópoles

 

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