Parar de fumar
reduz a hipertensão em apenas 12 semanas, diz pesquisa
Que
fumar faz mal à saúde não é novidade para ninguém. O tabagismo é uma doença
crônica associada ao aumento de risco de uma série de outras doenças, entre
elas, as cardiovasculares. Vários estudos demonstram que os fumantes
hipertensos possuem pior prognóstico cardiovascular, mesmo quando tratados com
medicamentos para a hipertensão.
A
novidade é que um estudo realizado no Instituto do Coração (InCor) do Hospital
das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP mostrou que parar de fumar reduz a pressão
arterial de fumantes hipertensos em apenas 12 semanas, mesmo entre
aqueles que usam remédios para hipertensão.
“Nosso
estudo concluiu que parar de fumar funciona como um remédio para tratar a
hipertensão. Cerca de 40% dos pacientes do nosso ambulatório [de cessação do
tabagismo] possuem comorbidades, entre elas, a hipertensão. Esse estudo
constatou o que víamos na prática clínica, que eram pacientes hipertensos
diminuindo a necessidade do uso do remédio porque pararam de fumar e alcançaram
a meta do controle da pressão”, explicou a cardiologista Jaqueline Scholz,
coordenadora do Programa de Tratamento do Tabagismo do InCor, orientadora do
estudo e assessora-científica da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo
(Socesp).
O
estudo reuniu 361 participantes que faziam tratamento para
parar de fumar no hospital – entre eles, 113 eram fumantes com hipertensão e
tomavam remédio para controle da pressão arterial. O grupo foi dividido em dois
e receberam duas medicações distintas. Os pacientes fizeram seis visitas ao
ambulatório e os níveis pressóricos foram medidos no primeiro dia, após 4 semanas
e após 12 semanas de tratamento.
Do
grupo de pacientes fumantes hipertensos, 72 pessoas pararam de fumar (chamado
grupo de cessação) e outros 41 não pararam, mas reduziram o consumo. Após o
período de três meses, os níveis pressóricos reduziram entre aqueles que
pararam de fumar (cerca de 10 mmHg na pressão sistólica, o valor mais alto que
aparece quando medimos, e cerca de 4 mmHg na pressão diastólica, o valor mais
baixo). Para a regulação da hipertensão arterial, o ideal seria uma
pressão arterial diastólica menor que 85 mmHg e sistólica menor que 130 mmHg.
“Nós
não interrompemos o uso da medicação hipertensiva, mas observamos uma melhora
clínica considerável. Quando avaliamos novamente a pressão arterial desses
pacientes vimos que ela estava dentro da meta, como se o fato de parar de fumar
fosse um outro medicamento, pois ele potencializou os efeitos no controle da
pressão arterial”, explica a cardiologista. Os participantes que pararam de
fumar também reduziram a frequência cardíaca, outro marcador importante para
doenças cardiovasculares.
·
O
cigarro e a hipertensão
O
tabagismo não é uma causa direta da hipertensão arterial, mas fumar é um fator
de agravo na pressão arterial e esse público possui uma pior evolução no
tratamento das doenças cardiovasculares. A relação entre fumar e o aumento da
pressão envolve uma complexa interação entre fatores hemodinâmicos e sistema
nervoso autônomo. De forma resumida, a nicotina presente no cigarro gera uma
ativação do sistema nervoso simpático e aumenta a frequência cardíaca, a
pressão arterial e, ao mesmo tempo, reduz a oferta de oxigênio aos vasos e ao
coração.
Segundo
a médica, existem poucos trabalhos com pacientes fumantes hipertensos que
pararam de fumar porque a taxa de cessação num ambulatório de hipertensão é
muito baixa. A ideia de fazer o estudo partiu da observação da evolução desses
pacientes na prática clínica do ambulatório de tabagismo, já que muitos
fumantes hipertensos que pararam de fumar relataram redução no uso de
medicamentos hipertensivos.
“A
literatura não coloca o tabagismo como causa da hipertensão, e realmente não é.
Nesse aspecto podemos dizer que esse é um dos primeiros estudos que avaliam o
impacto de parar de fumar no paciente hipertenso. Víamos isso corriqueiramente
no ambulatório, mas ainda não havia um estudo controlado e randomizado para
comprovar esse benefício”, disse a cardiologista.
·
Tabagismo
mata mais de 440 brasileiros por dia
Segundo
a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 8 milhões de pessoas morrem
todos os anos em consequência do tabagismo. No Brasil, mais de 440 pessoas
morrem a cada dia por doenças associadas ao cigarro, segundo dados do Ministério
da Saúde.
Entre
as mortes anuais atribuíveis ao cigarro, 37 mil correspondem à doença pulmonar
obstrutiva crônica (DPOC); 33 mil às doenças cardiovasculares (entre elas
infarto e AVC); 24.400 mil ao câncer de pulmão; 25.600 a outros cânceres;
18.600 ao tabagismo passivo, entre outras causas.
O
trabalho, que foi realizado como parte de uma tese de doutorado, começou a ser
realizado em 2017 e encerrou no final do ano passado. Os resultados foram
apresentados em um congresso sobre tabagismo nos Estados Unidos e está em
processo de submissão para publicação do artigo científico.
“A
gente sabe que abandonar o tabagismo não é uma tarefa fácil, mas existe
tratamento e ele é fundamental para melhorar a qualidade de vida e prevenir
outras doenças, inclusive melhorar a performance da pressão arterial. Parar de
fumar é o melhor que a pessoa faz para a saúde dela”, finalizou a
cardiologista.
Ø
Relacionamentos
ruins são tão nocivos à saúde quanto fumar, diz estudo
Ter
relacionamentos ruins, seja com um parceiro, amigos ou colegas de trabalho, é
tão prejudicial à saúde quanto ter um estilo de vida não saudável, ser fumante
ou obeso, segundo mostra um estudo publicado na edição de fevereiro da
revista General Psychiatry.
Os
pesquisadores da Universidade de Queensland, na Austrália, descobriram que as
mulheres de meia-idade que não conseguem ter conexões sociais
satisfatórias correm
maior risco de desenvolver condições crônicas de saúde anos depois.
Para
chegar à conclusão, os cientistas acompanharam ao longo de duas décadas a
evolução da saúde de 7.694 mulheres australianas saudáveis, com idades entre 45
e 50 anos.
No
início do levantamento, nenhuma delas tinha diagnóstico para condições comuns
de longo prazo, como depressão, ansiedade, diabetes, pressão alta, doenças
cardíacas, derrame, doença pulmonar
obstrutiva crônica (DPOC), asma, osteoporose, artrite ou câncer.
A
cada três anos, as participantes deveriam responder quão satisfeitas estavam
nos relacionamentos com seus parceiros amorosos, familiares, amigos e colegas
de trabalho. Enquanto isso, os pesquisadores rastreavam o surgimento das
doenças listadas.
Aproximadamente
seis em cada dez mulheres (58%) desenvolveram mais de uma das condições. O
risco de desenvolver múltiplas doenças foi duas vezes maior entre as que
relataram menor nível de satisfação com as relações sociais em comparação às
mais satisfeitas.
Fatores
de risco bem estabelecidos, como posição socioeconômica, estilo de vida e menopausa, juntos, foram
responsáveis por menos de um quinto das chances de desenvolver as condições de
longo prazo, de acordo com os pesquisadores.
Os
resultados mostraram que todos os tipos de relacionamento são igualmente importantes
para a saúde na velhice e a qualidade deles deve ser tratada como um fator de
risco.
Os
cientistas da Universidade de Queensland acreditam que as descobertas têm
implicações significativas para o gerenciamento e intervenção de doenças
crônicas a nível individual, comunitário, nacional e global.
“Essas
implicações podem ajudar a aconselhar as mulheres sobre os benefícios de
iniciar ou manter relações sociais diversificadas e de alta qualidade durante a
meia-idade e o início da velhice”, escreveram os autores do estudo em um
comunicado.
Fonte: Agência Einstein/Metrópoles
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