Falta Planejamento?
Mestre em Urbanismo faz avaliação sobre Feira de Santana
O
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou os primeiros
resultados de população e domicílios do Censo Demográfico do ano de 2022. De acordo
com os dados, o município de Feira de Santana continua sendo a segunda maior
cidade do estado da Bahia com 616.279 habitantes.
O
Acorda Cidade conversou com o mestre em Urbanismo e Engenheiro Civil de
Formação, professor Allan Ribeiro Pimenta, que está fazendo doutorado na Austrália, mas aproveitou o recesso para
visitar a cidade Princesa do Sertão.
Para
o especialista, o município continua crescendo, porém de forma desorganizada.
“A cidade continua crescendo, até o próprio
censo de 2022 a gente viu que a população de Feira de Santana está em cerca de
620 mil pessoas, a cidade continua crescendo, só que não desenvolvendo de forma
organizada, é uma cidade que continua dispersa. A gente vê a cidade
desenvolvendo em regiões que não tem uma infraestrutura muito boa, ao invés de
priorizar regiões que tem infraestrutura. Por exemplo, a Noide Cerqueira é uma
avenida que já tem uma infraestrutura adequada, tem várias faixas para carro,
só que a gente ainda vê um desenvolvimento lento naquela região, enquanto que
ali no SIM, no Santo Antônio, ali na região também do oeste, a gente já vê
desenvolvimentos da cidade sem infraestrutura adequada, e aí o que resulta
nisso? Congestionamento, problemas também de infraestrutura na pavimentação,
iluminação, então ela cresce mas não desenvolve de forma organizada”, relatou.
Com
este retorno ao município de Feira de Santana, o professor contou que pôde
fazer várias observações com relação à mobilidade da cidade, e destacou a falta
de espaços para os pedestres.
“Eu
percebi que há um aumento do congestionamento aqui em Feira de Santana, e um
aumento também da quantidade de veículos tomando espaço de pedestres, de
calçadas. Eu acho que falta uma fiscalização da prefeitura nesta organização de
estacionamento em calçadas, eu falo isso, porque eu estou como pedestre aqui,
já que eu estou estou visitando, então não tenho carro nesse período, estou
usando mais a cidade como um pedestre, usando aplicativo e eu posso ver o que
realmente o pedestre passa aqui. Então eu acho que a cidade estacionou e
regrediu em algumas coisas, e principalmente em congestionamentos, a cidade
está mais congestionada”, disse.
·
Duplicação da Artêmia Pires
Para
Allan Pimenta, a duplicação pode ser algo benéfico de forma temporária, mas o
congestionamento poderá voltar futuramente.
“A cidade
anunciou recentemente que vai fazer a duplicação da Artêmia Pires, é um projeto
complexo porque a prefeitura deu alvará de construção para uma série de
condomínios ali que invadiram o recuo da avenida, então vai necessitar uma
grande quantidade de desapropriações para poder fazer a duplicação que vai
onerar o projeto. É um projeto que pode ser benéfico, mas eu acredito que vai
ser difícil de sair do papel pela quantidade de desapropriações que serão
feitas devido aos erros da prefeitura. Acredito que possa vir a desafogar o
trânsito de curto prazo, porque toda vez que há uma duplicação de avenida, há
um fenômeno de diminuição do congestionamento de curto prazo, por outro lado,
há um outro fenômeno que é o que é chamado demanda induzida. O que é isso? As
pessoas percebem que aquela avenida desafogou um trânsito, então elas priorizam
passar pela avenida que foi duplicada, pessoas que usavam a Noide, pessoas que
utilizavam outras avenidas como Avenida Santo Antônio, elas vão passar a
utilizar a Artêmia porque perceberam que duplicou, e o que é que vai acontecer?
Vai aumentar o tráfego naquela região de veículos, e dessa forma vai aumentar o
congestionamento de novo. Por isso que duplicar a avenida, nunca é a melhor
solução de longo prazo”, afirmou.
Segundo
Allan, a melhor solução é analisar os processos de mobilidade urbana antes das
obras serem executadas.
“A
melhor solução de longo prazo, é de transporte público, é ciclovia e fazer um
planejamento urbano que valorize o pedestre. Como é que a gente faz um
planejamento urbano que valoriza o pedestre? É colocar bairros mais densos e
com a diversidade de uso com comércios e escolas. A prefeitura precisa então
dar um alvará por exemplo, para um condomínio que não seja apenas de casas, mas
um alvará que tenha comércio perto, escola perto e que as pessoas não precisem
se deslocar para longe”, pontuou.
·
Ciclovias em Feira de Santana
Segundo
o mestre em Urbanismo, as ciclovias no município foram construídas de forma
‘quebrada’, que não faz conexão com outras regiões da cidade.
“Toda
vez que a prefeitura investe em mobilidade não motorizada, como ciclovia, é
algo benéfico para a cidade, porém o problema que eu encontro na ciclovia de
Feira de Santana, é que ela não é pensada como uma rede conectada, ela é
pensada em pedaços. Quando a gente sai da Fraga Maia para o centro de Feira de
carro, a gente sabe que vai ter pista contínua e uma rede que eu vou poder
chegar em qualquer lugar porque foi pensada de forma conectada. Já a bicicleta
não, o ciclista tem um pedaço ali da Fraga Maia que vai ter ciclovia, depois
chega no viaduto, não tem mais, então ele vai ter que competir com os carros”,
disse
Segundo
Alan, o que falta é a prefeitura pensar em uma integração do sistema
cicloviário de Feira de Santana de acordo com os principais pontos de destino
da cidade, não pensar apenas em trechos desconectados.
“Ali
no Papagaio que já tem algumas ciclovias, porém não tem manutenção, elas estão
abandonadas, cheias de buracos e as pessoas estão parando de usar porque não
tem manutenção adequada, então não adianta fazer e esquecer, é necessário um
plano de manutenção das ciclovias de conectividade, para que dessa forma o
transporte cicloviário tenha uma evolução na cidade, não apenas como lazer mas
também como transporte”, concluiu.
Fonte:
Acorda Cidade
Nenhum comentário:
Postar um comentário