Fortalecido? Rússia pede união em apoio a Putin após motim abortado
A
Rússia enfrentou "um desafio à sua estabilidade" e precisa permanecer
unida ao lado do presidente Vladimir Putin, disse o primeiro-ministro do país
nesta segunda-feira, depois que mercenários ocuparam brevemente um centro de
comando estratégico para a guerra na Ucrânia e marcharam em direção a Moscou.
O
motim armado no fim de semana pelo poderoso Grupo Wagner e seu fim abrupto sem
penalidades aparentes para os perpetradores ou seu líder foram seguidos nesta
segunda-feira por movimentos oficiais para devolver o país à normalidade.
Os
eventos extraordinários deixaram governos, tanto amigáveis quanto hostis à
Rússia, em busca de respostas para o que poderia acontecer a seguir no país com
o maior arsenal nuclear do mundo.
O
primeiro-ministro russo, Mikhail Mishustin, disse durante uma reunião do
governo televisionada que a Rússia enfrentou "um desafio à sua
estabilidade".
“Precisamos
agir juntos, como um só time, e manter a união de todas as forças, reunidas em
torno do presidente”, afirmou.
O
Comitê Antiterrorista da Rússia disse que a situação no país era estável e o
prefeito de Moscou, Sergei Sobyanin, afirmou que estava cancelando um regime
antiterrorista imposto na capital.
A
China, aliada da Rússia, onde um importante diplomata russo visitou no domingo,
disse que apoia Moscou na manutenção da estabilidade nacional, enquanto a
Ucrânia e alguns de seus aliados ocidentais disseram que a turbulência revelou
rachaduras na Rússia.
"O
sistema político está mostrando fragilidades e o poderio militar está
rachando", disse o chefe de política externa da União Europeia, Josep
Borrell, a repórteres em Luxemburgo ao chegar para uma reunião com ministros do
bloco de 27 membros.
A
ministra das Relações Exteriores da Alemanha, Annalena Baerbock, afirmou que a
invasão da Ucrânia por Putin, que ele chama de "operação militar
especial" para combater uma ameaça à Rússia do vizinho e do Ocidente,
estava destruindo a Rússia e o Ocidente continuaria a apoiar Kiev.
Os
mercenários de Wagner que lutam na Ucrânia e cruzaram para a Rússia no sábado
interromperam seu avanço a caminho de Moscou, retiraram-se da cidade de Rostov,
no sul da Rússia, e voltaram para suas bases à noite sob uma anistia que lhes
garante segurança.
Seu
comandante, Yevgeny Prigozhin, que havia exigido que o ministro da Defesa da
Rússia e o principal general do Exército fossem entregues a ele, se mudaria
para Belarus sob o acordo mediado pelo presidente bielorrusso, Alexander
Lukashenko.
Prigozhin,
que tem acusado as duas autoridades de incompetência e corrupção, disse que
queria "restaurar a justiça".
Um
vídeo divulgado pelo Ministério da Defesa nesta segunda-feira mostrou o
ministro da Defesa, Sergei Shoigu, voando em um avião com um colega e ouvindo
relatos em um posto de comando. Não ficou claro quando ou onde foi filmado e
não tinha som.
Putin,
que disse no sábado que a rebelião colocou a própria existência da Rússia sob
ameaça e prometeu punir aqueles por trás da revolta, não fez nenhum comentário
ou aparição pública desde então.
Um
Prigozhin sorridente foi visto pela última vez se afastando de Rostov em um
SUV, enquanto seus homens trocavam cumprimentos com transeuntes antes de
partir. Valery Gerasimov, chefe do Estado-Maior, também não foi visto em
público desde os eventos.
O
Kremlin disse que a questão das mudanças de equipe é prerrogativa exclusiva do
presidente e dificilmente poderia fazer parte de qualquer acordo.
Ø
EUA não estavam
envolvidos em motim russo, diz Lavrov ao citar embaixador
O
ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, disse nesta
segunda-feira que o embaixador dos Estados Unidos em Moscou "deu
sinais" de que seu país não estava envolvido no motim armado do grupo
mercenário Wagner no fim de semana e torcia pela segurança do arsenal nuclear
da Rússia, informou a agência de notícias estatal Tass.
Lavrov
também citou o enviado norte-americano dizendo que o motim é um assunto interno
da Rússia, relatou a Tass.
·
Rússia
está investigando se agências ocidentais estavam envolvidas em motim, diz
Lavrov
Os
serviços de inteligência russos estão investigando se as agências de espionagem
ocidentais desempenharam um papel no motim de combatentes mercenários do grupo
Wagner no sábado, disse o ministro das Relações Exteriores, Sergei Lavrov,
segundo a agência de notícias Tass, nesta segunda-feira.
Em
entrevista à emissora russa RT, Lavrov disse que a embaixadora dos Estados
Unidos no país, Lynne Tracy, conversou com representantes russos no domingo e
deu "sinais" de que os EUA não estavam envolvidos no motim, mas que
torcia que o arsenal nuclear da Rússia fosse mantido em segurança, disse a
Tass.
Ele
também citou Tracy dizendo que o motim é um assunto interno da Rússia.
Vários
líderes ocidentais disseram que o incidente mostra que a instabilidade está
crescendo na Rússia como resultado da decisão do presidente Vladimir Putin de
enviar suas forças armadas para a Ucrânia no início do ano passado.
Questionado
se havia alguma evidência de que os serviços de inteligência ucranianos e
ocidentais estavam envolvidos no motim, Lavrov respondeu:
"Trabalho
em um departamento que não coleta provas sobre ações ilegais, mas temos essas
estruturas e garanto que eles já entendem isso."
Dúvidas
sobre o futuro do Wagner levantaram questões sobre se o grupo continuará suas
operações em países africanos como Mali e a República Centro-Africana, onde
suas forças desempenharam um papel importante em conflitos internos de longa
data.
Desde
que a guerra na Ucrânia minou os laços e o comércio da Rússia com o Ocidente, o
Kremlin também tem enfatizado seu compromisso com a África.
Lavrov
disse à RT que Mali e a RCA mantiveram contatos oficiais com Moscou
paralelamente a suas relações com Wagner, acrescentando: "Várias centenas
de militares estão trabalhando na RCA como instrutores; este trabalho, é claro,
continuará".
Lavrov
também disse que as alegações ucranianas de que a Rússia planeja encenar um
ataque envolvendo uma liberação de radiação na usina nuclear de Zaporizhzhia,
no sul da Ucrânia, são "absurdas", informou a Tass.
·
Motim
de grupo mercenário mostra "grande erro estratégico" de Moscou ao
atacar Kiev, diz Otan
O
motim abortado pelo grupo mercenário russo Wagner no fim de semana demonstrou a
escala do erro estratégico do Kremlin em travar uma guerra contra a Ucrânia,
disse o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, nesta segunda-feira.
A
Rússia tentava restaurar a calma nesta segunda-feira depois que os combatentes
de Wagner interromperam um rápido avanço em direção a Moscou, retiraram-se da
cidade de Rostov, no sul da Rússia, e voltaram para suas bases no final do
sábado sob um acordo que garantiu sua segurança.
Seu
comandante, Yevgeny Prigozhin, deveria se mudar para Belarus sob o acordo
mediado pelo presidente bielorrusso, Alexander Lukashenko, disse o Kremlin.
"Os
eventos do fim de semana são um assunto interno da Rússia e mais uma
demonstração do grande erro estratégico que o presidente (Vladimir) Putin
cometeu com sua anexação ilegal da Crimeia e a guerra contra a Ucrânia",
disse Stoltenberg a repórteres em uma visita à capital da Lituânia, Vilnius.
A
confusão sobre os eventos extraordinários do fim de semana deixou os governos
ocidentais em busca de respostas para o que poderia acontecer a seguir no país
com o maior arsenal nuclear do mundo - e para sua guerra contra a Ucrânia.
Stoltenberg
afirmou que a Otan está monitorando a situação em Belarus e, novamente,
condenou o anúncio de Moscou de implantar armas nucleares lá.
"Não
vemos nenhuma indicação de que a Rússia esteja se preparando para usar armas
nucleares, mas a Otan permanece vigilante", disse ele, acrescentando que a
dissuasão da Otan é forte o suficiente para manter seu povo seguro em um
"mundo mais perigoso".
Ao
mesmo tempo, Stoltenberg garantiu a Kiev o apoio contínuo da Otan.
"Estamos com a Ucrânia o tempo que for necessário", afirmou.
Ø
Rebelião
na Rússia: analistas avaliam futuro do grupo Wagner e população teme guerra
interna
Poucos
dias após o motim da milícia Wagner, o cenário na capital, Moscou, é de
incertezas, apesar da aparente retomada da tranquilidade. Enquanto
especialistas acreditam que tanto o Kremlin quanto o grupo de mercenários saem
perdendo com a tentativa de golpe, o fato trouxe ainda mais insegurança à
população. Uma moradora, ouvida pela RFI, afirma temer que o estado entre em
colapso e que “tudo se transforme em uma espécie de guerra entre grupos ou
entre vários interesses”.
“Tive
medo, porque era óbvio que ninguém pensaria no que estava acontecendo com as
pessoas, com os territórios, com os soldados que foram enviados para atirar nas
colunas que seguiam em direção a Moscou, com aqueles que seriam mortos.
Poderiam dizer algo como: ‘acabamos de bombardear com nossos aviões todos que
estavam por lá, lamentamos muito, vamos pagar uma indenização'. É assim que o
Estado deve se comportar?”, questionou.
A
moradora afirmou ainda que, no momento, Moscou parece segura, mas que a
insegurança é recorrente. “Quando penso no que vai acontecer a seguir, digo a
mim mesma: agora eles concordaram, mas em três semanas ou um mês, outra coisa
vai acontecer e aí, no que isso vai dar? Vai começar de novo? Eu não entendo o
que eles resolveram entre eles. Ninguém fala sobre isso. E aqueles que falam,
não podemos acreditar de maneira alguma. Para mim, isso é a coisa mais
assustadora”, disse.
Por
fim, ela lamentou não poder se expressar, porque isso custaria sua liberdade.
“É um risco muito alto para mim expressar meu descontentamento e raiva”,
finalizou.
·
Rússia e Ocidente aliviados com fracasso do motim
O
diplomata e escritor Vladimir Fedorovski também conversou com a RFI sobre os
acontecimentos do último fim de semana. Para ele, esse é o momento de analisar
os próximos passos e, assim, avaliar os prejuízos sofridos nos dois lados.
Apesar disso, ele não acredita que o grupo Wagner tenha ameaçado, de fato, o
governo russo. “Nenhum militar russo, em todo o país, apoiou Ievguêni Prigojin,
assim como nenhum órgão da imprensa”, destacou.
Sobre
o avanço das tropas Wagner a cerca de 200 quilômetros de Moscou sem enfrentar
nenhuma resistência, Fedorovski considera que houve uma falta de organização do
Kremlin, mas, por outro lado, ele avalia que Vladimir Putin deu
instruções imediatas para evitar perdas civis. Isso fez com que o presidente
não saísse necessariamente fragilizado da tentativa de golpe, deixando o país
aliviado.
“E
outros países, bem como os Estados Unidos, também ficaram aliviados. O Ocidente
hoje está bastante consciente que a desestabilização de uma nação com seis mil
ogivas nucleares é algo gravíssimo”, disse.
·
“Putin conhece Prigojin muito bem, ele é sua criatura”
De
acordo com o Washington Post, o governo americano sabia há alguns dias sobre os planos do
líder do grupo Wagner. Questionado se Putin também estaria informado
sobre a operação que estava sendo preparada, Fedorovski afirma que o presidente
russo também sabia.
“Sim,
o Kremlin tinha informações, ele conhece Prigojin muito bem, ele é sua
criatura. Mas Putin pensava que ele não ousaria ir até o fim. Entretanto, agora
Putin está furioso e ele não vai perdoá-lo”.
Nesta
segunda-feira (26), todas as agências de notícias russas anunciaram que a investigação
criminal contra o líder do grupo paramilitar ainda estava em andamento. No âmbito de um
acordo apresentado como resultado de uma mediação do presidente de Belarus,
Alexander Lukashenko, os combatentes Wagner, que servem como auxiliares do
exército russo na guerra da Ucrânia, concordaram em retornar às suas bases e
garantiram sua segurança enquanto supoõe-se que Prigojin se estabeleça no país.
Putin
prometeu no sábado esmagar o que ele chamou de "motim" e
"traição". Conforme a lei russa, Prigojin, que ainda não reapareceu
em público desde sua retirada de Rostov, pode pegar entre 12 e 20 anos de
prisão.
·
O futuro do grupo Wagner
Uma
das questões principais diante do motim é sobre o futuro do exército paralelo
formado pelo grupo Wagner tanto nas relações com o Kremlin quanto na guerra na
Ucrânia. Quando perguntado sobre o tema, o diplomata Fedorovski afirma que o
governo russo tenta controlar os mercenários no ambiente da guerra e
reintegrá-los no exército, porque é uma força muito eficaz.
“O
governo vai querer continuar a aproveitar esses profissionais na guerra, porque
eles são muito experientes, mas é preciso gerir essa situação. Entretanto é um
cenário muito preocupante. Nós caminhamos para uma guerra total, eu diria mesmo
uma guerra mundial. Essa é a maior crise enfrentada pela Europa desde a Segunda
Guerra Mundial. E será preciso muito conhecimento para gerenciar essa questão”,
finalizou.
Fonte:
Reuters/RFI
Nenhum comentário:
Postar um comentário