terça-feira, 27 de junho de 2023


 Fortalecido? Rússia pede união em apoio a Putin após motim abortado

A Rússia enfrentou "um desafio à sua estabilidade" e precisa permanecer unida ao lado do presidente Vladimir Putin, disse o primeiro-ministro do país nesta segunda-feira, depois que mercenários ocuparam brevemente um centro de comando estratégico para a guerra na Ucrânia e marcharam em direção a Moscou.

O motim armado no fim de semana pelo poderoso Grupo Wagner e seu fim abrupto sem penalidades aparentes para os perpetradores ou seu líder foram seguidos nesta segunda-feira por movimentos oficiais para devolver o país à normalidade.

Os eventos extraordinários deixaram governos, tanto amigáveis quanto hostis à Rússia, em busca de respostas para o que poderia acontecer a seguir no país com o maior arsenal nuclear do mundo.

O primeiro-ministro russo, Mikhail Mishustin, disse durante uma reunião do governo televisionada que a Rússia enfrentou "um desafio à sua estabilidade".

“Precisamos agir juntos, como um só time, e manter a união de todas as forças, reunidas em torno do presidente”, afirmou.

O Comitê Antiterrorista da Rússia disse que a situação no país era estável e o prefeito de Moscou, Sergei Sobyanin, afirmou que estava cancelando um regime antiterrorista imposto na capital.

A China, aliada da Rússia, onde um importante diplomata russo visitou no domingo, disse que apoia Moscou na manutenção da estabilidade nacional, enquanto a Ucrânia e alguns de seus aliados ocidentais disseram que a turbulência revelou rachaduras na Rússia.

"O sistema político está mostrando fragilidades e o poderio militar está rachando", disse o chefe de política externa da União Europeia, Josep Borrell, a repórteres em Luxemburgo ao chegar para uma reunião com ministros do bloco de 27 membros.

A ministra das Relações Exteriores da Alemanha, Annalena Baerbock, afirmou que a invasão da Ucrânia por Putin, que ele chama de "operação militar especial" para combater uma ameaça à Rússia do vizinho e do Ocidente, estava destruindo a Rússia e o Ocidente continuaria a apoiar Kiev.

Os mercenários de Wagner que lutam na Ucrânia e cruzaram para a Rússia no sábado interromperam seu avanço a caminho de Moscou, retiraram-se da cidade de Rostov, no sul da Rússia, e voltaram para suas bases à noite sob uma anistia que lhes garante segurança.

Seu comandante, Yevgeny Prigozhin, que havia exigido que o ministro da Defesa da Rússia e o principal general do Exército fossem entregues a ele, se mudaria para Belarus sob o acordo mediado pelo presidente bielorrusso, Alexander Lukashenko.

Prigozhin, que tem acusado as duas autoridades de incompetência e corrupção, disse que queria "restaurar a justiça".

Um vídeo divulgado pelo Ministério da Defesa nesta segunda-feira mostrou o ministro da Defesa, Sergei Shoigu, voando em um avião com um colega e ouvindo relatos em um posto de comando. Não ficou claro quando ou onde foi filmado e não tinha som.

Putin, que disse no sábado que a rebelião colocou a própria existência da Rússia sob ameaça e prometeu punir aqueles por trás da revolta, não fez nenhum comentário ou aparição pública desde então.

Um Prigozhin sorridente foi visto pela última vez se afastando de Rostov em um SUV, enquanto seus homens trocavam cumprimentos com transeuntes antes de partir. Valery Gerasimov, chefe do Estado-Maior, também não foi visto em público desde os eventos.

O Kremlin disse que a questão das mudanças de equipe é prerrogativa exclusiva do presidente e dificilmente poderia fazer parte de qualquer acordo.

 

Ø  EUA não estavam envolvidos em motim russo, diz Lavrov ao citar embaixador

 

O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, disse nesta segunda-feira que o embaixador dos Estados Unidos em Moscou "deu sinais" de que seu país não estava envolvido no motim armado do grupo mercenário Wagner no fim de semana e torcia pela segurança do arsenal nuclear da Rússia, informou a agência de notícias estatal Tass.

Lavrov também citou o enviado norte-americano dizendo que o motim é um assunto interno da Rússia, relatou a Tass.

·         Rússia está investigando se agências ocidentais estavam envolvidas em motim, diz Lavrov

Os serviços de inteligência russos estão investigando se as agências de espionagem ocidentais desempenharam um papel no motim de combatentes mercenários do grupo Wagner no sábado, disse o ministro das Relações Exteriores, Sergei Lavrov, segundo a agência de notícias Tass, nesta segunda-feira.

Em entrevista à emissora russa RT, Lavrov disse que a embaixadora dos Estados Unidos no país, Lynne Tracy, conversou com representantes russos no domingo e deu "sinais" de que os EUA não estavam envolvidos no motim, mas que torcia que o arsenal nuclear da Rússia fosse mantido em segurança, disse a Tass.

Ele também citou Tracy dizendo que o motim é um assunto interno da Rússia.

Vários líderes ocidentais disseram que o incidente mostra que a instabilidade está crescendo na Rússia como resultado da decisão do presidente Vladimir Putin de enviar suas forças armadas para a Ucrânia no início do ano passado.

Questionado se havia alguma evidência de que os serviços de inteligência ucranianos e ocidentais estavam envolvidos no motim, Lavrov respondeu:

"Trabalho em um departamento que não coleta provas sobre ações ilegais, mas temos essas estruturas e garanto que eles já entendem isso."

Dúvidas sobre o futuro do Wagner levantaram questões sobre se o grupo continuará suas operações em países africanos como Mali e a República Centro-Africana, onde suas forças desempenharam um papel importante em conflitos internos de longa data.

Desde que a guerra na Ucrânia minou os laços e o comércio da Rússia com o Ocidente, o Kremlin também tem enfatizado seu compromisso com a África.

Lavrov disse à RT que Mali e a RCA mantiveram contatos oficiais com Moscou paralelamente a suas relações com Wagner, acrescentando: "Várias centenas de militares estão trabalhando na RCA como instrutores; este trabalho, é claro, continuará".

Lavrov também disse que as alegações ucranianas de que a Rússia planeja encenar um ataque envolvendo uma liberação de radiação na usina nuclear de Zaporizhzhia, no sul da Ucrânia, são "absurdas", informou a Tass.

·         Motim de grupo mercenário mostra "grande erro estratégico" de Moscou ao atacar Kiev, diz Otan

O motim abortado pelo grupo mercenário russo Wagner no fim de semana demonstrou a escala do erro estratégico do Kremlin em travar uma guerra contra a Ucrânia, disse o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, nesta segunda-feira.

A Rússia tentava restaurar a calma nesta segunda-feira depois que os combatentes de Wagner interromperam um rápido avanço em direção a Moscou, retiraram-se da cidade de Rostov, no sul da Rússia, e voltaram para suas bases no final do sábado sob um acordo que garantiu sua segurança.

Seu comandante, Yevgeny Prigozhin, deveria se mudar para Belarus sob o acordo mediado pelo presidente bielorrusso, Alexander Lukashenko, disse o Kremlin.

"Os eventos do fim de semana são um assunto interno da Rússia e mais uma demonstração do grande erro estratégico que o presidente (Vladimir) Putin cometeu com sua anexação ilegal da Crimeia e a guerra contra a Ucrânia", disse Stoltenberg a repórteres em uma visita à capital da Lituânia, Vilnius.

A confusão sobre os eventos extraordinários do fim de semana deixou os governos ocidentais em busca de respostas para o que poderia acontecer a seguir no país com o maior arsenal nuclear do mundo - e para sua guerra contra a Ucrânia.

Stoltenberg afirmou que a Otan está monitorando a situação em Belarus e, novamente, condenou o anúncio de Moscou de implantar armas nucleares lá.

"Não vemos nenhuma indicação de que a Rússia esteja se preparando para usar armas nucleares, mas a Otan permanece vigilante", disse ele, acrescentando que a dissuasão da Otan é forte o suficiente para manter seu povo seguro em um "mundo mais perigoso".

Ao mesmo tempo, Stoltenberg garantiu a Kiev o apoio contínuo da Otan. "Estamos com a Ucrânia o tempo que for necessário", afirmou.

 

Ø  Rebelião na Rússia: analistas avaliam futuro do grupo Wagner e população teme guerra interna

 

Poucos dias após o motim da milícia Wagner, o cenário na capital, Moscou, é de incertezas, apesar da aparente retomada da tranquilidade. Enquanto especialistas acreditam que tanto o Kremlin quanto o grupo de mercenários saem perdendo com a tentativa de golpe, o fato trouxe ainda mais insegurança à população. Uma moradora, ouvida pela RFI, afirma temer que o estado entre em colapso e que “tudo se transforme em uma espécie de guerra entre grupos ou entre vários interesses”.

“Tive medo, porque era óbvio que ninguém pensaria no que estava acontecendo com as pessoas, com os territórios, com os soldados que foram enviados para atirar nas colunas que seguiam em direção a Moscou, com aqueles que seriam mortos. Poderiam dizer algo como: ‘acabamos de bombardear com nossos aviões todos que estavam por lá, lamentamos muito, vamos pagar uma indenização'. É assim que o Estado deve se comportar?”, questionou.

A moradora afirmou ainda que, no momento, Moscou parece segura, mas que a insegurança é recorrente. “Quando penso no que vai acontecer a seguir, digo a mim mesma: agora eles concordaram, mas em três semanas ou um mês, outra coisa vai acontecer e aí, no que isso vai dar? Vai começar de novo? Eu não entendo o que eles resolveram entre eles. Ninguém fala sobre isso. E aqueles que falam, não podemos acreditar de maneira alguma. Para mim, isso é a coisa mais assustadora”, disse.

Por fim, ela lamentou não poder se expressar, porque isso custaria sua liberdade. “É um risco muito alto para mim expressar meu descontentamento e raiva”, finalizou.

·         Rússia e Ocidente aliviados com fracasso do motim

O diplomata e escritor Vladimir Fedorovski também conversou com a RFI sobre os acontecimentos do último fim de semana. Para ele, esse é o momento de analisar os próximos passos e, assim, avaliar os prejuízos sofridos nos dois lados. Apesar disso, ele não acredita que o grupo Wagner tenha ameaçado, de fato, o governo russo. “Nenhum militar russo, em todo o país, apoiou Ievguêni Prigojin, assim como nenhum órgão da imprensa”, destacou.

Sobre o avanço das tropas Wagner a cerca de 200 quilômetros de Moscou sem enfrentar nenhuma resistência, Fedorovski considera que houve uma falta de organização do Kremlin, mas, por outro lado, ele avalia que Vladimir Putin deu instruções imediatas para evitar perdas civis. Isso fez com que o presidente não saísse necessariamente fragilizado da tentativa de golpe, deixando o país aliviado.

“E outros países, bem como os Estados Unidos, também ficaram aliviados. O Ocidente hoje está bastante consciente que a desestabilização de uma nação com seis mil ogivas nucleares é algo gravíssimo”, disse.   

·         “Putin conhece Prigojin muito bem, ele é sua criatura”

De acordo com o Washington Post, o governo americano sabia há alguns dias sobre os planos do líder do grupo Wagner. Questionado se Putin também estaria informado sobre a operação que estava sendo preparada, Fedorovski afirma que o presidente russo também sabia.

“Sim, o Kremlin tinha informações, ele conhece Prigojin muito bem, ele é sua criatura. Mas Putin pensava que ele não ousaria ir até o fim. Entretanto, agora Putin está furioso e ele não vai perdoá-lo”.

Nesta segunda-feira (26), todas as agências de notícias russas anunciaram que a investigação criminal contra o líder do grupo paramilitar ainda estava em andamento. No âmbito de um acordo apresentado como resultado de uma mediação do presidente de Belarus, Alexander Lukashenko, os combatentes Wagner, que servem como auxiliares do exército russo na guerra da Ucrânia, concordaram em retornar às suas bases e garantiram sua segurança enquanto supoõe-se que Prigojin se estabeleça no país.

Putin prometeu no sábado esmagar o que ele chamou de "motim" e "traição". Conforme a lei russa, Prigojin, que ainda não reapareceu em público desde sua retirada de Rostov, pode pegar entre 12 e 20 anos de prisão.

·         O futuro do grupo Wagner

Uma das questões principais diante do motim é sobre o futuro do exército paralelo formado pelo grupo Wagner tanto nas relações com o Kremlin quanto na guerra na Ucrânia. Quando perguntado sobre o tema, o diplomata Fedorovski afirma que o governo russo tenta controlar os mercenários no ambiente da guerra e reintegrá-los no exército, porque é uma força muito eficaz.

“O governo vai querer continuar a aproveitar esses profissionais na guerra, porque eles são muito experientes, mas é preciso gerir essa situação. Entretanto é um cenário muito preocupante. Nós caminhamos para uma guerra total, eu diria mesmo uma guerra mundial. Essa é a maior crise enfrentada pela Europa desde a Segunda Guerra Mundial. E será preciso muito conhecimento para gerenciar essa questão”, finalizou.

 

Fonte: Reuters/RFI

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