sexta-feira, 10 de março de 2023


 Consumo moderado de vinho remodela flora intestinal e beneficia coração, diz estudo

O consumo moderado de vinho tinto ajuda a remodelar em poucas semanas a microbiota intestinal, cujo papel nas doenças cardiovasculares é cada vez mais reconhecido pela ciência. É o que revela um estudo publicado no periódico The American Journal of Clinical Nutrition.

A pesquisa envolveu 42 pacientes com doença arterial coronariana. Intitulado “Wine Flora Study”, o trabalho contou com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Assinam o artigo pesquisadores das universidades de São Paulo (USP), Estadual de Campinas (Unicamp), de Verona (Itália), de Brasília (UnB), de Harvard (Estados Unidos) e do Instituto de Tecnologia Austríaco (Áustria).

Os cientistas usaram no ensaio clínico uma estratégia conhecida como cross over, ou seja, cada um dos participantes (homens com idade média de 60 anos) passou por duas intervenções: durante três semanas, consumiam diariamente 250 mililitros de vinho tinto (com 12,75% de concentração alcoólica e produzido com uva merlot pelo Instituto Brasileiro do Vinho especialmente para o estudo) e, pelo mesmo período, abstinham-se de álcool.

Ambas as intervenções foram precedidas por um washout de duas semanas (pausa no consumo de determinadas substâncias para que seus traços sejam totalmente eliminados do organismo), sem consumo de bebidas alcoólicas, alimentos fermentados (iogurte, kombucha, lecitina de soja, kefir e chucrute, por exemplo), prebióticos (incluindo insulina), probióticos, fibras e derivados do leite.

 “Nesse tipo de trabalho, cada pessoa é o controle de si mesmo e, com isso, eliminamos fatores de confusão”, explica Protásio Lemos da Luz, professor do Instituto do Coração (InCor) da USP que estuda os efeitos do vinho tinto há mais de 20 anos e já demonstrou experimentalmente que o consumo por animais (coelhos), associado a uma dieta rica em colesterol, reduz a formação de placas ateroscleróticas.

Outra estratégia para afastar eventuais fatores de confusão foi submeter todos os participantes a uma dieta controlada e sem outros componentes presentes no vinho – por exemplo, polifenóis também encontrados nos chás, no morango e no suco de uva.

A cada intervenção, a microbiota intestinal foi analisada por sequenciamento de alto rendimento 16S rRNA, tecnologia que permite a identificação genética de espécies de bactérias pelo gene 16S, que está presente em todas.

Também foram analisados os metabólitos presentes no plasma (metaboloma plasmático), como resultado da metabolização de compostos químicos e alimentos, por meio da técnica LC-MS/MS, que separa os compostos em um sistema de cromatografia líquida e depois os analisa em um espectrômetro de massas.

Um dos metabólitos de interesse dos pesquisadores é o chamado TMAO (N-óxido de trimetilamina), que é secretado por microrganismos da flora a partir de alimentos ricos em proteínas e tem sido associado ao desenvolvimento de doença ateroesclerótica.

        O que mudou

Os pesquisadores observaram que a microbiota intestinal sofreu remodelação significativa após o período de consumo da bebida – com predominância dos gêneros Parasutterella, Ruminococcaceae, Bacteroides e Prevotella. Tais microrganismos são fundamentais na homeostase humana, ou seja, no funcionamento normal do organismo.

Também foram observadas mudanças significativas na metabolômica plasmática, consistentes com a melhoria da homeostase redox. É esse processo que garante o equilíbrio das moléculas oxidantes e antioxidantes, evitando o chamado “estresse oxidativo”, que induz doenças como a aterosclerose.

Com esses resultados, os pesquisadores concluíram que a modulação da microbiota intestinal pode contribuir para os supostos benefícios cardiovasculares do consumo moderado de vinho tinto.

“Quando o assunto é aterosclerose, temos basicamente duas vias de tratamento: uma é usar estatinas, medicamentos que diminuem os eventos cardiovasculares, e a outra é modificar o estilo de vida, praticando exercícios, evitando o tabagismo, cuidando de fatores de risco, como hipertensão, e controlando a dieta – e isso inclui o consumo moderado de vinho”, diz da Luz.

“Mostramos que uma intervenção habitual [usada por várias populações, como as da Espanha, França, Itália, de Portugal e do sul do Brasil] pode interferir na flora intestinal e na metabolômica plasmática, explicando em parte os efeitos benéficos do vinho observados em estudos ao longo dos anos. No entanto, alertamos que o consumo excessivo de álcool, isto é, maior do que 30 gramas [no caso do vinho, 250 ml] por dia, é maléfico e está associado a aumentos na mortalidade por cânceres, acidentes e mortes violentas.”

O pesquisador informa ainda que, no caso do metabólito TMAO, cujos efeitos na saúde ainda precisam ser mais bem investigados, as análises indicaram que os níveis plasmáticos não foram diferentes durante o consumo e a abstenção de vinho.

“Considerando outros estudos recentemente publicados, que identificam o aumento da substância como marcador de eventos cardiovasculares em longo prazo, nossa interpretação é que o período de três semanas é muito curto para que uma modificação significativa pudesse ocorrer”, conclui da Luz.

 

       Álcool pode impactar micróbios intestinais – mas não como se imagina, diz estudo

 

O consumo de álcool em excesso é uma das principais causas de danos ao fígado. O abuso de álccol também está associado a impactos sobre o microbioma intestinal. Cientistas buscam explicar como isso acontece, considerando que a maior absorção do álcool acontece no estômago.

Em um novo estudo, publicado no periódico científico Nature Communications, pesquisadores da Universidade da Califórnia em San Diego, nos Estados Unidos, sugerem que mudanças na microbiota intestinal podem ser causadas pelo acetato produzido pelo fígado, que se espalha em volta dos intestinos, onde se torna uma fonte de carbono para apoiar o crescimento bacteriano.

“Você pode pensar nisso um pouco como despejar fertilizante em um jardim”, disse o pesquisador Karsten Zengler, professor dos departamentos de Pediatria e Bioengenharia da Escola de Medicina da Universidade da Califórnia e da Escola de Engenharia Jacobs. “O resultado é uma explosão de crescimento biológico desequilibrado, beneficiando algumas espécies, mas não outras”, completa.

O acetato é um nutriente utilizado no metabolismo celular e tem funções na regulação do apetite, gasto energético e resposta imune. Em níveis moderados, promove a saúde geral, desde o aprimoramento da função cardíaca até a produção de glóbulos vermelhos e funcionamento da memória. Em níveis excessivos, está associado a alterações metabólicas ligadas a doenças, incluindo câncer.

No estudo recente, os pesquisadores alimentaram camundongos com uma molécula que poderia ser decomposta em três acetatos no intestino dos roedores. Os pesquisadores notaram que a microbiota intestinal dos animais foi alterada pelo acetato adicional de maneira semelhante ao que observaram ao alimentar os camundongos com álcool, mas sem efeitos prejudiciais ao fígado.

“O consumo crônico de álcool está associado à menor expressão intestinal de moléculas antimicrobianas. As pessoas que sofrem de doenças hepáticas relacionadas ao álcool geralmente têm supercrescimento bacteriano em seus intestinos”, disse Zengler.

O especialista afirma que as descobertas sugerem que o metabolismo microbiano do etanol não contribui significativamente para o desequilíbrio do microbioma intestinal. “O microbioma alterado pelo acetato não desempenha um papel importante no dano hepático”, afirma.

Segundo Zengler, os achados levam a novas investigações que buscam explicar se as mudanças no microbioma intestinal estão relacionadas ao consumo de etanol em si.

“A situação é mais complicada do que se supunha anteriormente. Não é tão simples como mais álcool equivale a mudanças no microbioma e, portanto, a disbiose do microbioma equivale a mais doença hepática”, explica.

Zengler afirma que embora a descoberta não se traduza em novos tratamentos imediatos para a doença hepática alcoólica, poderá ajudar a delinear o efeito do acetato na microbiota e a refinar projetos de estudos futuros.

 

       Consumo moderado de álcool pode fazer bem a adultos com mais de 40 anos, diz novo estudo

 

O consumo moderado de álcool de adultos com 40 anos ou mais, que não tenham problemas prévios de saúde, pode beneficiar a saúde, incluindo um risco reduzido de doenças cardiovasculares, derrame e diabetes. É o que aponta um novo estudo publicado na revista científica “The Lancet” nesta quinta-feira (14). Mas, o que significa uma ou duas doses por dia? Segue o que diz o estudo:

De acordo com o estudo, uma dose-padrão é definida como 10 gramas de álcool puro, como por exemplo:

        Uma taça pequena de vinho tinto (100 ml) a 13% de álcool por volume

        Uma lata ou garrafa de cerveja (375 ml) com 3,5% de álcool

        Uma dose de uísque ou similares (30 ml) a 40% de álcool

No entanto, a revista mostra que há um risco aumentado para a saúde de jovens que usam álcool em comparação com os adultos mais velhos.

A análise, que relata o risco do álcool por região geográfica, idade, gênero e ano, sugere que as recomendações globais de consumo de álcool devem ser baseadas na idade e na localização dos indivíduos. De acordo com os especialistas, as diretrizes mais rígidas devem ser direcionadas aos homens entre 15 e 39 anos, que estão em maior risco de consumo nocivo de álcool em todo o mundo.

        Detalhes do estudo

Usando estimativas de uso de álcool em 204 países, os pesquisadores calcularam que 1,34 bilhão de pessoas consumiram quantidades nocivas em 2020.

Em todas as regiões do mundo, o maior segmento da população que bebe quantidades consideradas fora do limite de segurança eram homens de 15 a 39 anos. Para essa faixa etária, o consumo de álcool não oferece nenhum benefício à saúde, podendo apresentar diversos riscos, além de quedas e lesões.

De acordo com o estudo 60% dos casos ocorrem entre pessoas nessa faixa etária, incluindo acidentes automotivos, suicídios e homicídios.

“Nossa mensagem é simples: os jovens não devem beber, mas os mais velhos podem se beneficiar bebendo pequenas quantidades. Embora possa não ser realista pensar que os jovens adultos vão se abster de beber, achamos importante comunicar as evidências mais recentes para que todos possam tomar decisões informadas sobre sua saúde”, diz a autora sênior Emmanuela Gakidou, professora de Ciências de Métricas de Saúde do Instituto de Métricas e Avaliação de Saúde (IHME, em inglês) da Escola de Medicina da Universidade de Washington, nos Estados Unidos.

Os pesquisadores analisaram o risco do consumo de álcool em 22 resultados de saúde, incluindo lesões, doenças cardiovasculares e cânceres usando dados da Carga Global de Doenças de 2020 para homens e mulheres com idades entre 15 e 95 anos ou mais entre 1990 e 2020, em 204 países e territórios.

A partir disso, os pesquisadores conseguiram estimar a ingestão média diária de álcool que minimiza o risco para uma população. O estudo também estima outra quantidade crítica – quanto álcool uma pessoa pode beber antes de assumir um risco excessivo para sua saúde em comparação com alguém que não bebe álcool.

A quantidade recomendada de álcool para pessoas de 15 a 39 anos antes de arriscar a perda de saúde foi de 0,136 dose-padrão por dia (um pouco mais de um décimo de uma dose-padrão, relembre: definida como 10 gramas de álcool puro). Essa quantidade foi ligeiramente maior para mulheres de 15 a 39 anos com 0,273 dose (cerca de um quarto de uma dose-padrão por dia).

A análise também sugere que, para adultos com 40 anos ou mais sem problemas de saúde prévios, beber uma pequena quantidade de álcool pode trazer alguns benefícios, como reduzir o risco de doença cardíaca isquêmica, acidente vascular cerebral (AVC) e diabetes.

Em geral, para indivíduos com idade entre 40 e 64 anos em 2020, os níveis de consumo seguro de álcool variaram de cerca de meia dose-padrão por dia (0,527 dose para homens e 0,562 por dia para mulheres) a quase duas-doses padrão (1,69 por dia para homens e 1,82 para mulheres).

Para indivíduos com mais de 65 anos em 2020, os riscos de perda de saúde pelo consumo de álcool foram alcançados após consumir pouco mais de três doses-padrão por dia (3,19 doses para homens e 3,51 para mulheres).

As estimativas sugerem que pequenas quantidades de consumo de álcool em populações acima de 40 anos sem condições prévias podem estar associadas a melhores resultados de saúde, particularmente em populações que enfrentam predominantemente uma maior carga de doenças cardiovasculares.

A distribuição da carga de doença para uma determinada faixa etária variou bastante entre as regiões, resultando em diferenças nos riscos do consumo de álcool, principalmente em indivíduos com 40 anos ou mais.

Entre indivíduos com idades entre 55 e 59 anos no Norte da África e no Oriente Médio, por exemplo, 30,7% dos riscos à saúde relacionados ao álcool foram causados por doenças cardiovasculares, 12,6% devido a câncer e menos de 1% devido à tuberculose.

Por outro lado, nessa mesma faixa etária na região central da África subsaariana, 20% dos riscos à saúde relacionados ao álcool foram causados por doenças cardiovasculares, 9,8% por câncer e 10,1% por tuberculose.

Como resultado, os níveis de consumo para esta faixa etária antes do risco de ameaça à saúde foram de 0,876 dose (ou quase uma dose-padrão por dia) no Norte da África e no Oriente Médio e de 0,596 dose (cerca de metade de uma dose-padrão por dia) na região central da África Subsaariana.

No geral, a ingestão de álcool recomendada para adultos permaneceu baixa entre 0 e 1,87 dose-padrão por dia, independentemente da localização, idade ou gênero.

A autora principal do estudo, Dana Bryazka, pesquisadora do IHME, afirma que as estimativas encontradas apoiam diretrizes diferenciadas por idade e região.

“Mesmo que seja adotada uma abordagem conservadora e o nível mais baixo de consumo seguro seja usado para definir recomendações de políticas, isso implica que o nível recomendado de consumo de álcool ainda é muito alto para populações mais jovens. Compreender a variação no nível de consumo de álcool que minimiza o risco de perda de saúde para as populações pode ajudar a estabelecer diretrizes de consumo eficazes, apoiar políticas de controle de álcool, monitorar o progresso na redução do uso nocivo de álcool e projetar mensagens de risco à saúde pública”, diz Dana.

        Risco aumentado para homens jovens

A partir das estimativas, os pesquisadores também foi calcularam a proporção da população que consome álcool em quantidades que excedem esses limites por local, idade, gênero e ano, servindo como guia para direcionar os esforços de controle do álcool.

Entre os indivíduos que consumiram quantidades nocivas de álcool em 2020, 59,1% tinham de 15 a 39 anos e 76,7% eram do sexo masculino, com 1,03 bilhão de homens e 312 milhões de mulheres consumindo quantidades perigosas. O uso em excesso de álcool foi particularmente concentrado em jovens do sexo masculino na Australásia, Europa Ocidental e Europa Central.

“Embora os riscos associados ao consumo de álcool sejam semelhantes para homens e mulheres, os jovens do sexo masculino se destacaram como o grupo com maior nível de consumo nocivo de álcool. Isso ocorre porque uma proporção maior de homens em comparação com mulheres consome álcool e seu nível médio de consumo também é significativamente maior”, diz Emmanuela.

Os autores reconhecem algumas limitações no estudo, incluindo que os padrões de consumo de álcool não foram avaliados. O que significa que o estudo não distinguiu entre indivíduos que raramente se envolvem com embriaguez pesada e aqueles que consomem a mesma quantidade de álcool por vários dias.

 

Fonte: CNN Brasil

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