Negócio da
China: Brasil pode ganhar com a venda de parte da Avibras para o capital
chinês?
Atravessando
um momento de crise financeira, a Avibras pode vender parte de suas ações a uma
empresa de capital estrangeiro. Após desistência de uma interessada
australiana, informações de veículos brasileiros dão conta de que uma estatal
chinesa pode vir a ser sócia da companhia brasileira.
Na
última quinta-feira (13), durante um evento on-line em comemoração aos 25 anos
do Ministério da Defesa, o ministro da pasta, José Mucio, anunciou a
desistência da australiana DefendTex em adquirir parte da Avibras.
Ainda
na mensagem, o ministro relatou o interesse de uma segunda empresa em comprar
49% da companhia brasileira. Mucio não deu mais detalhes, alegando que o
candidato pediu sigilo. Entretanto, segundo informações da Folha de S.Paulo,
trata-se da estatal chinesa Norinco, uma gigante da indústria bélica mundial.
Brasil
ganha em aproximação com os chineses da indústria bélica?
Brasil
e China já possuem programas de cooperação, como o caso do Satélite
Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres. O eventual acordo com a estatal chinesa
na aquisição de parte da Avibras poderia beneficiar a companhia brasileira na
abertura de novos mercados, segundo José Augusto Zague, pesquisador do Grupo de
Estudos de Defesa e Segurança Internacional (Gedes), da Universidade Estadual
Paulista (Unesp).
Com
mais de 60 anos de existência, a Avibras, responsável por projetar e
desenvolver mísseis e foguetes, é considerada a maior empresa privada de
sistemas de defesa do Brasil. Além da importância para a Defesa nacional — a
Avibras é credenciada pelo Ministério da Defesa como Empresa Estratégica de
Defesa (EED) —, ela concentra a maior parte dos seus clientes em forças armadas
internacionais, como as de Iraque, Arábia Saudita, Catar, Angola, Líbia,
Indonésia e Malásia.
Com
a chegada da estatal chinesa, é possível considerar a abertura de "um
mercado de exportação para os países que estão mais próximos à China ou ao Sul
Global", considera o especialista.
A
parceria pode representar, sobretudo para os chineses, a chance de ter
"uma subsidiária no Brasil que seja complementar às outras áreas em que
ela já atua no segmento de defesa", diz Zague. Nesse sentido, outro
atrativo destacado pelo especialista seria o interesse no acervo técnico da
indústria aeroespacial.
• Acordo pode apresentar contrapontos?
Um
dos problemas que a Avibras pode ter, caso a negociação se concretize, são as
sanções por parte dos EUA. De acordo com Zague, tendo ou não o controle, ou
seja, mesmo que a empresa chinesa não adquira a maior parte percentual da
companhia, ainda assim vai ser alvo de sanções dos Estados Unidos.
Atualmente,
o Astros — sistema de artilharia de foguetes e mísseis — depende de peças
fornecidas por empresas norte-americanas. O acordo com os chineses
representaria, então, um empecilho. Para reverter o possível cenário, empresas
chinesas deveriam passar a fornecer "componentes equivalentes aos
fornecidos pelos EUA", sugere o pesquisador.
A
presença da estatal asiática minaria, segundo o especialista, negociações dos
materiais desenvolvidos pela Avibras com países parceiros dos EUA e da
Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN).
Entretanto
"o sistema Astros, que é o principal produto da Avibras, nunca foi vendido
a esses países. Foi vendido a países do Oriente Médio lá nos anos 1980, à
Indonésia mais recentemente, mas não aos países da OTAN, por exemplo",
pondera Zague.
O
especialista chama a atenção também para um eventual problema de adaptação:
"Nas Forças Armadas brasileiras, há uma tendência à aquisição de material
ocidental".
"Fazer
uma mudança nesse modelo vai depender muito das Forças Armadas, e existe uma
ligação muito estreita, especialmente de oficiais mais graduados das Forças
Armadas, com os Estados Unidos", complementa.
Nesse
sentido, é interessante observar, conforme o analista, a visita do general
Tomás Paiva à China.
O
comandante do Exército visita o país asiático no início de julho. Em entrevista
ao Estado de S. Paulo, Paiva defendeu a ampliação de parcerias estratégicas com
a China e outros países do BRICS, afirmou que Brasil e China têm cooperação e
realizam intercâmbio de cursos para militares e elogiou o potencial de ciência
e tecnologia chinês.
Paiva
ressaltou ao jornal que a viagem está focada em ciência, tecnologia e
capacidades militares. "Eles são avançados na parte de missilística, têm
dois conceitos que são muito interessantes, que são muito modernos hoje, que
são antiacesso e negação de área", disse o general durante a entrevista.
Avibras:
por que não estatizar?
Elo
fundamental da Base Industrial de Defesa (BID) brasileira, a Avibras elenca
pedidos de estatização da empresa como forma de tentar mudar o atual momento da
companhia.
A
possibilidade, no entanto, é bastante remota, conforme analisa Zague. "Não
vejo a possibilidade de o Estado ficar com o controle acionário da Avibras. Não
é interessante para o Estado, neste momento, ter esse controle. Ainda que seja
uma empresa estratégica, que interesse muito às Forças Armadas."
O
Brasil atualmente conta com poucas empresas da base industrial de defesa, como
a Indústria de Material Bélico do Brasil (Imbel).
Adquirir
o controle da Avibras poderia inclusive acarretar um problema para o Estado,
segundo o especialista.
"Há
questões de dívidas e tudo mais que precisam ser assumidas. Penso que não é a
melhor solução [estatizar a Avibras]. Não vejo isso no horizonte",
finaliza Zague.
• Embraer indica busca por parceira
americana: 'Estamos sendo agressivos em diversas frentes nos EUA'
No
segundo semestre de 2023, a Embraer deu início a um projeto estratégico nos
Estados Unidos e ampliou o número de funcionários em seus segmentos de defesa e
segurança.
A
empresa quer entrar no mercado norte-americano com suas aeronaves de defesa,
explorando novos produtos e até oportunidades de fusões e aquisições, segundo o
CEO da Embraer, Bosco da Costa Júnior.
"Estamos
sendo muito agressivos em diversas frentes dentro dos EUA", disse Costa
Júnior segundo o jornal O Globo, acrescentando que a empresa está
"tentando ser parceira do governo estadunidense".
Ainda
de acordo com o executivo, a fabricante brasileira de aeronaves está
"explorando novos produtos e a venda de dois portfólios de segurança de
defesa".
Costa
Júnior acrescentou que a empresa também quer apresentar o KC-390 para
fuzileiros navais e Força Aérea dos Estados Unidos.
"Já
temos uma linha de montagem final do Super Tucano [caça de defesa aérea] nos
Estados Unidos, mas acreditamos que o KC-390 poderia desempenhar um papel
importante no mercado dos EUA. Estamos lá tentando promover e apresentar o
KC-390 para fuzileiros navais e Força Aérea dos Estados Unidos porque
acreditamos que o modelo poderia agregar um valor adicional a essas entidades
do governo", afirmou Costa Junior, citado pela Folha de S.Paulo.
No
começo do ano, a empresa assinou um memorando de entendimento com a companhia
indiana Mahindra para colaborar na encomendas da aeronave KC-390 para Força
Aérea da Índia, conforme noticiado.
Na
apresentação de resultados do primeiro trimestre deste ano, a companhia
brasileira comemorou o voo inaugural do KC-390 pela Força Aérea húngara. Lá, a
aeronave ainda tem de passar por uma campanha de testes antes de entrar em
serviço, destaca a Folha.
O
KC-390, avião de transporte militar mais moderno do mercado, pode transportar
mais carga útil (26 toneladas) em comparação a outros aviões de transporte
militar de médio porte, ao mesmo tempo que o modelo voa a 870 quilômetros por
hora.
Até
o momento, o KC-390 Millennium foi selecionado para Força Aérea de Brasil,
Portugal, Hungria, Países Baixos, Áustria, República Tcheca e, mais
recentemente, Coreia do Sul.
• Fuzileiros navais: tropa de elite do
Brasil será referência no uso de armas não letais
Considerada
uma das mais respeitadas e reconhecidas tropas militares do Brasil, o Corpo de
Fuzileiros Navais da Marinha agora quer se tornar referência no uso das
chamadas armas não letais. Isso após o início de um projeto inédito no país em
parceria com uma das principais companhias do setor de Defesa brasileiro.
Do
litoral às regiões ribeirinhas da Amazônia, do Pantanal à Caatinga, a presença
em praticamente todo o território nacional de uma das principais tropas das
Forças Armadas do Brasil, cuja origem está ligada a então Brigada Real da
Marinha do Reino Unido de Portugal: o Corpo de Fuzileiros Navais (CFN). Com
cerca de 18 mil militares, é a força da Marinha brasileira responsável por
combates terrestres e especializada em guerra anfíbia (quando uma ação ofensiva
sai do mar para incursão por terra em regiões hostis).
• Quem são os fuzileiros navais?
Reconhecida
pela Organização das Nações Unidas (ONU) no nível mais alto de classificação
militar mundial para reação rápida de combate, o CFN inicia a preparação para
se tornar referência no uso de armas não letais.
No início
do mês, a Marinha do Brasil assinou um acordo com a empresa brasileira Condor
Tecnologias Não Letais, referência para o setor em todo o Hemisfério Sul.
Comandante
do Material de Fuzileiros Navais, o vice-almirante Rogério Lage disse à Sputnik
Brasil que as tropas foram escolhidas para dar início ao projeto, que
posteriormente poderá ser expandido para outras forças brasileiras, "pela
capacidade que a instituição desenvolveu ao longo dos mais de 216 anos de
existência e da experiência acumulada nos mais diversos empregos em situação
real".
"Além
disso, trata-se da única tropa das Forças Armadas brasileiras 100%
profissional, ou seja, todos os seus integrantes foram aprovados em concurso
público, passaram por rigoroso processo seletivo e são submetidos
constantemente a diversos treinamentos e variadas simulações de combate",
explica, ao acrescentar que o modelo é inspirado no Programa Conjunto de
Emprego de Material Não Letal do Departamento de Defesa dos Estados Unidos
(DoD, na sigla em inglês).
Conforme
o vice-almirante, por meio da parceria com a empresa brasileira serão
desenvolvidas novas tecnologias e uso das armas não letais nos mais
"diferentes cenários de atuação". O protocolo foi negociado ao longo
dos últimos meses e conta com três eixos principais: conhecimento,
direcionamento futuro, além de preparo e emprego.
"Este
Protocolo de Intenções é a semente para um programa conjunto das Forças Armadas
sobre tecnologias não letais. Estamos entusiasmados com as perspectivas que
esta colaboração oferece e ansiosos pelos avanços e pelas inovações que
surgirão desta parceria", declarou durante a assinatura o
diretor-executivo da Condor, Frederico Aguiar.
• Quais os tipos de armas não letais?
Rogério
Lage explica que as armas não letais permitem o uso proporcional da força,
principalmente em situações com civis. "É um instrumento desenvolvido com
a finalidade de provocar incômodo para interromper comportamento violento e
cessar hostilidades. Nesse sentido, seu emprego possibilita a adoção de medidas
eficazes contra elementos adversos, principalmente em operações de Garantia da
Lei da Ordem (GLO) e operações de paz, reduzindo danos colaterais e estruturas
importantes ou elementos que possam estar se opondo ao avanço da tropa do Corpo
de Fuzileiros Navais", pontuou.
No
ano passado, a CFN atuou de forma inédita em uma GLO, convocada pelo presidente
Luiz Inácio Lula da Silva em novembro do ano passado para atuar junto aos
portos e aeroportos de São Paulo e Rio de Janeiro, a fim de fazer frente ao
aumento de crimes como tráfico de drogas e de armas nos terminais.
No
início de maio, quando a operação foi renovada por mais 30 dias, a reportagem
da Sputnik Brasil conversou com o capitão de mar e guerra (fuzileiro naval)
Alex Ribeiro, comandante do 1º Batalhão de Infantaria de Fuzileiros Navais,
responsável por gerir as operações no Porto de Itaguaí, na Região Metropolitana
do Rio de Janeiro. Somente em uma das ações foram apreendidos pelo menos 200
quilos de cocaína no casco de um cargueiro, que seguiria para a Alemanha.
"Como
exemplo de emprego pode ser citada a atividade de controle de distúrbios, em
que a tecnologia não letal é usada para dispersar ou controlar grandes grupos
de pessoas sem causar danos permanentes", acrescentou o vice-almirante.
• Quem são os fuzileiros navais?
Já
o especialista em assuntos militares Pedro Paulo Rezende enfatizou à Sputnik
Brasil que o investimento pela Marinha em tecnologia não letal no CFN também
ocorre diante do tipo de função dessas tropas.
"Os
fuzileiros navais são uma força de imposição de paz básica. Quer dizer, são os
primeiros a desembarcarem caso haja conflito civil, e a ONU [Organização das
Nações Unidas] entra no pacote. Em vez de chegar usando armas de fogo e outras
munições, muitas vezes você tem que ter um tipo de equipamento que sirva para
dispersar a multidão", destacou.
Rezende
acrescenta ainda que tornar os fuzileiros referência no emprego dessas
tecnologias militares é uma "maneira de o Brasil projetar sua força"
internacionalmente. As tropas possuem a classificação 3 da ONU, a mais elevada,
uma das poucas com essa posição disponíveis para atuação no mundo, já que as
outras estão empregadas em conflitos ao redor do globo. "É um excelente
caminho [usar os fuzileiros] para você iniciar o projeto [de desenvolvimento de
tecnologia não letal]. Podem ser armas de choque, gases incapacitantes, mas que
não são letais", diz.
O
especialista ainda traz outro exemplo, desenvolvido pelo Ministério da Defesa
brasileiro para uma operação no exterior. "Quando eu estava lá,
desenvolvemos um sistema de arma não letal que era um aviso sonoro que
atordoava quem tentasse invadir o navio da Marinha do Brasil. Isso foi
utilizado no Líbano, era um sistema de ultrassom que causava náuseas para quem
tentasse entrar sem autorização na fragata. É algo muito bom também para
trabalhar contra piratas", finalizou.
Fonte:
Sputnik Brasil
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