Antirretroviral
apresenta proteção total contra HIV em teste
A
farmacêutica americana Gilead anunciou na semana passada um enorme avanço na
luta contra a aids durante testes de um medicamento antirretroviral contra o
vírus HIV. Os resultados de um amplo estudo clínico de fase 3 realizado na
África mostraram que a aplicação de duas doses anuais do medicamento
lenacapavir proporcionou proteção total contra o vírus às mulheres que
participaram dos testes.
"Com
zero infecções e 100% de eficácia, o lenacapavir demonstrou o seu potencial
como uma nova ferramenta importante para ajudar a prevenir infecções de
HIV", afirmou o diretor médico da Gilead Sciences, Merdad Parsey, no
anúncio dos resultados preliminares do teste na quinta-feira (20/06).
O
estudo clínico foi realizado no Uganda e na África do Sul e contou com a
participação de mais de 5 mil adolescentes e mulheres, com idades entre 16 e 25
anos. O teste dividiu as voluntárias em três grupos, que receberam três
diferentes medicamentos.
Das
2.134 mulheres que receberam o lenacapavir, nenhuma contraiu o vírus da aids.
Entre as 1.068 que tomaram diariamente a pílula Truvada – disponível há mais de
uma década –, 16 foram infectadas com o HIV (1,5%). Já entre o grupo das 2.136
mulheres que receberam a Descovy, uma nova pílula diária, 39 contraíram o vírus
(1,8%). Os dados do estudo ainda não foram submetidos à revisão por outros
cientistas (revisão por pares).
Devido
à eficácia mostrada nos resultados, um comitê independente de revisão de dados
recomendou que o estudo clínico fosse interrompido precocemente e que o
lenacapavir fosse oferecido a todas as participantes por proporcionar
claramente uma proteção superior contra o vírus, afirmou a farmacêutica.
A
empresa está testando ainda a eficácia do lenacapavir em homens que fazem sexo
com homens, homens e mulheres trans e indivíduos de gênero não binário que têm
relações sexuais com homens na Argentina, Brasil, México, Peru, África do Sul,
Tailândia e Estados Unidos. Os resultados são esperados para o final de 2024,
início de 2025.
Se
os resultados desse estudo forem positivos, a empresa pretende levar ao mercado
nos EUA o lenacapavir como Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) até o fim de 2025.
• Nova alternativa à PRrEP
"O
lenacapavir para PrEP, se aprovado, poderá fornecer uma nova opção crucial para
a prevenção do HIV", afirmou Linda Gail-Bekker, que participou dos
estudos. "Embora saibamos que as opções tradicionais de prevenção do HIV
são altamente eficazes, se tomadas como o prescrito, o lenacapavir para PrEP
pode ajudar a solucionar o estigma e a discriminação que alguns podem enfrentar
ao tomar ou armazenar os comprimidos de PrEP, assim como potencialmente ajudar
a aumentar a adesão a esse tipo de tratamento", acrescentou.
A
PrEP é um método para prevenir o contágio pelo HIV. Essa terapia é recomendada
para quem tem alto risco de contrair o vírus e consiste na ingestão diária de
comprimidos antirretrovirais. No Brasil, ela é oferecida pelo Sistema Único de
Saúde (SUS) desde 2017, com a utilização dos medicamentos combinados tenofovir
e entricitabina.
Os
pacientes que fazem esse tipo de terapia recebem ainda acompanhamento regular
de saúde, com exames para o HIV e para outras infecções sexualmente
transmissíveis (ISTs). A terapia começa a fazer efeito sete dias após o início
do uso dos remédios.
Esse
método é usado nos EUA desde 2012. No entanto, ele não mostrou ser uma
ferramenta de prevenção potente na África, onde a adesão à terapia é baixa,
principalmente entre mulheres – o grupo mais vulnerável à doença na região.
Especialistas
acreditam que a aplicação de duas doses anuais do lenacapavir pode ampliar o
acesso a esse tipo de terapia na África e reduzir significativamente as novas
infecções da doença. Um problema, porém, é o valor do antirretroviral. Nos
Estados Unidos, onde ele já foi aprovado para o tratamento de infectados com o
HIV, a Gilead cobra 42.250 dólares (cerca de R$ 229 mil) por paciente por ano.
Em
maio, mais de 300 políticos, especialistas em saúde e celebridades pediram à
Gilead que permita a produção de versões genéricas do lenacapavir para que ele
possa chegar a pessoas dos países em desenvolvimento mais afetados pela doença.
O antirretroviral pode ser um "verdadeiro divisor de águas" na luta
contra o HIV, de acordo com uma carta aberta ao CEO da Gilead, Daniel O'Day,
assinada por vários ex-líderes mundiais, grupos de combate à AIDS, ativistas,
atores e outros.
Os
signatários pediram que a Gilead licenciasse o medicamento no Pool de Patentes
de Medicamentos apoiado pelas Nações Unidas, o que permitiria a fabricação de
versões genéricas mais baratas. A Gilead respondeu que está em negociações com
governos e organizações sobre como expandir o acesso ao medicamento.
Ao
jornal americano The New York Times, a farmacêutica afirmou estar comprometida
a disponibilizar o medicamento a um preço acessível a países de baixa renda com
altas taxas de incidência de HIV. Uma das estratégias seria firmar parcerias
com fabricantes de genéricos em diversas regiões do mundo.
Dois
terços dos 39 milhões de pessoas que vivem com HIV estavam na África em 2022,
de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Fonte:
Deutsche Welle
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