Bandeira
de Lula, projeto global contra fome enfrenta questionamentos no G20
O
lançamento de uma Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, principal bandeira
do presidente Lula (PT) para o G20, enfrenta uma série de questionamentos
levantados por outros membros do bloco. Países do G20 resistem a criar e a
financiar uma nova organização internacional e afirmam que ela pode concorrer
com entidades já existentes.
Em
paralelo a ressalvas feitas pelos sócios estrangeiros, o Executivo passou a
considerar a criação de uma estrutura mais enxuta e com número reduzido de
funcionários. Mais do que isso: o Brasil diz estar disposto a arcar sozinho com
os custos para manter a iniciativa funcionando nos seus primeiros anos.
O
Brasil assumiu em novembro de 2023 a presidência do G20, bloco que reúne as
maiores economias do globo, e o governo Lula considera a Aliança Global contra
a Fome a mais relevante contribuição do mandato brasileiro ao fórum.
Logo
nas primeiras reuniões com os sócios do G20 sobre o tema, no entanto,
auxiliares de Lula viram que o desenho final da proposta precisará ser mais
modesto do que o pensado inicialmente.
No
final de março, em um encontro realizado em Brasília, representantes de
diferentes países disseram respaldar o objetivo do Brasil de mobilizar um
esforço internacional de enfrentamento à pobreza. Mas disseram que é preciso
simplificar a governança proposta para a nova organização.
O
Brasil advoga que a organização tenha um secretariado próprio e um comitê
diretivo, financiados pelos governos que venham a aderir à iniciativa um dos pontos mais questionados por outros
membros do G20, de acordo com relatos colhidos pela Folha de S.Paulo.
Segundo
um diplomata estrangeiro, que falou sob condição de anonimato, existe hoje
pouco apoio no mundo para o lançamento de uma nova organização internacional.
Os
representantes de outros países afirmaram ainda que a declaração ministerial
sobre a iniciativa que Lula quer lançar precisa ser bem mais concisa e focada
na ideia em si, sem referências a questões que vinham sendo tratadas nas
presidências anteriores do G20 a primeira versão da declaração tem dez páginas e 35 parágrafos.
Os
representantes dos países também argumentaram que não está claro no que essa
nova aliança será diferente do trabalho já realizado por organismos como a FAO
(Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura) e o PMA
(Programa Mundial de Alimentos).
A
preocupação é que, se a iniciativa de Lula se sobrepuser ao trabalho da FAO e
do PMA, acabe drenando energia dessas agências.
A
ideia de Lula é anunciar o desenho consolidado da Aliança Global contra a Fome
e a Pobreza em julho, durante uma reunião de ministros da área do G20 no Rio de
Janeiro.
O
objetivo da Aliança, segundo o governo, é "angariar recursos e
conhecimentos para a implementação de políticas públicas e tecnologias sociais
comprovadamente eficazes para a redução da fome e da pobreza no mundo".
O
governo quer criar uma espécie de balcão com boas práticas de combate à pobreza
que países em desenvolvimento poderão consultar e pedir apoio técnico caso
queiram implementar políticas semelhantes em seus territórios.
Auxiliares
de Lula também defendem que a Aliança seja usada para articular as diferentes
fontes de financiamento de ações contra a pobreza que hoje existem espalhadas
pelo mundo.
Do
ponto de vista político, a ideia foi pensada para aproveitar a imagem
internacional de Lula como líder comprometido com a redução das desigualdades.
O Bolsa Família, marca dos governos petistas, servirá de vitrine das políticas
sociais que o país espera difundir globalmente.
Negociadores
brasileiros trabalham para que os países organizem anualmente uma cúpula de
chefes de Estado da Aliança, outro pleito que tem enfrentado objeções diante de
um calendário em que os governantes já estão comprometidos com diversas agendas
internacionais todos os anos.
Sobre
isso, assessores de Lula dizem que essa cúpula poderia ocorrer à margem da
Assembleia-Geral da ONU, que acontece todo mês setembro em Nova York (EUA), ou
mesmo como parte do calendário permanente da reunião de líderes do G20.
Diante
das ressalvas apresentadas, o governo Lula trabalha com uma estratégia
alternativa para garantir que a estrutura saia do papel mesmo que menos ambiciosa. Negociadores
afirmam que o Brasil está disposto a bancar
sozinho o secretariado da nova organização até pelo menos 2030.
Nesse
horizonte, a previsão é que o governo precise desembolsar entre R$ 15 milhões e
R$ 30 milhões.
Após
mapear as resistências, o governo Lula avaliou que o importante é o G20
endossar a proposta da Aliança mesmo que nem todos os membros venham a aderir
formalmente. A presidência brasileira aposta que, no fim, países refratários se
sentirão constrangidos por não apoiar uma proposta que tem como propósito lutar
contra a fome no mundo.
Auxiliares
brasileiros discordam da visão de que a Aliança pode ter funções concorrentes
com as agências da ONU. Segundo eles, o Brasil propõe que a nova estrutura
tenha como missão ajudar a identificar as necessidades dos países e cruzá-las
com as experiências mais adequadas que existem à disposição.
Eles
ainda citam que, no passado, as organizações ligadas à ONU já foram criticadas
por suas ações acabarem danificando a economia local.
No
Haiti, por exemplo, após o terremoto de 2010, o PMA buscou atender a população
local com a distribuição de arroz. No entanto, houve pouca compra de produção
local e os países doaram seus excedentes. Um dos resultados foi que a
distribuição afetou a já frágil economia haitiana, que dependia da produção do
grão.
Yellen se reunirá com aliados
dos EUA em encontro do FMI e Banco Mundial e pressionará China sobre
crescimento
A
secretária do Tesouro dos Estados Unidos, Janet Yellen, se reunirá com
ministros das Finanças de aliados do país nesta semana para discutir uma série
de questões importantes, incluindo o fortalecimento das cadeias de suprimentos
e da estabilidade do sistema financeiro e o apoio à Ucrânia, disse uma
autoridade sênior do Tesouro dos EUA nesta segunda-feira.
As
reuniões de Yellen paralelas às reuniões de primavera (do hemisfério norte) do
Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial em Washington também
incluirão discussões aprofundadas com autoridades chinesas sobre
"crescimento equilibrado", um novo diálogo entre EUA e China lançado
neste mês para tratar do excesso de capacidade industrial chinesa para veículos
elétricos, painéis solares e outros produtos de energia limpa.
Na
quarta-feira, Yellen se reunirá com os ministros das Finanças da Coreia do Sul
e do Japão em uma reunião trilateral inédita para coordenar questões que vão
desde as sanções contra a Rússia e o Irã até a segurança das cadeias de
suprimentos e a construção de resiliência climática e financeira nas Ilhas do
Pacífico, disse a autoridade do Tesouro norte-americano.
As
discussões com as autoridades chinesas virão após viagem de Yellen no início
deste mês a Guangzhou e Pequim, na qual ela defendeu o aumento da demanda
doméstica da China e alertou Pequim de que os EUA não poderiam aceitar uma nova
onda maciça de exportações chinesas baratas de veículos elétricos e produtos
solares, dizimando novas indústrias dos EUA da mesma forma que a produção de
aço foi prejudicada há uma década.
A
autoridade disse que Yellen também falará sobre a força econômica dos EUA nas
reuniões e pressionará por mais progresso no alívio da dívida dos países
vulneráveis e no avanço das reformas dos bancos multilaterais de
desenvolvimento para combater melhor as mudanças climáticas.
"Esperamos
que o caminho dos Estados Unidos para um 'pouso suave' continue a sustentar o
crescimento global", disse a autoridade, referindo-se a um cenário em que
a inflação nos EUA poderia continuar a cair sem arruinar o mercado de trabalho
ou causar uma recessão dolorosa.
"Também
temos nos envolvido com o mundo para mitigar os riscos de curto prazo e apoiar
o crescimento sustentável de longo prazo, reconhecendo que as perspectivas de
um pouso suave não são sentidas igualmente em todos os lugares."
Fonte:
FolhaPress/Reuters
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