quarta-feira, 17 de abril de 2024

Bandeira de Lula, projeto global contra fome enfrenta questionamentos no G20

O lançamento de uma Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, principal bandeira do presidente Lula (PT) para o G20, enfrenta uma série de questionamentos levantados por outros membros do bloco. Países do G20 resistem a criar e a financiar uma nova organização internacional e afirmam que ela pode concorrer com entidades já existentes.

Em paralelo a ressalvas feitas pelos sócios estrangeiros, o Executivo passou a considerar a criação de uma estrutura mais enxuta e com número reduzido de funcionários. Mais do que isso: o Brasil diz estar disposto a arcar sozinho com os custos para manter a iniciativa funcionando nos seus primeiros anos.

O Brasil assumiu em novembro de 2023 a presidência do G20, bloco que reúne as maiores economias do globo, e o governo Lula considera a Aliança Global contra a Fome a mais relevante contribuição do mandato brasileiro ao fórum.

Logo nas primeiras reuniões com os sócios do G20 sobre o tema, no entanto, auxiliares de Lula viram que o desenho final da proposta precisará ser mais modesto do que o pensado inicialmente.

No final de março, em um encontro realizado em Brasília, representantes de diferentes países disseram respaldar o objetivo do Brasil de mobilizar um esforço internacional de enfrentamento à pobreza. Mas disseram que é preciso simplificar a governança proposta para a nova organização.

O Brasil advoga que a organização tenha um secretariado próprio e um comitê diretivo, financiados pelos governos que venham a aderir à iniciativa um dos pontos mais questionados por outros membros do G20, de acordo com relatos colhidos pela Folha de S.Paulo.

Segundo um diplomata estrangeiro, que falou sob condição de anonimato, existe hoje pouco apoio no mundo para o lançamento de uma nova organização internacional.

Os representantes de outros países afirmaram ainda que a declaração ministerial sobre a iniciativa que Lula quer lançar precisa ser bem mais concisa e focada na ideia em si, sem referências a questões que vinham sendo tratadas nas presidências anteriores do G20 a primeira versão da declaração tem dez páginas e 35 parágrafos.

Os representantes dos países também argumentaram que não está claro no que essa nova aliança será diferente do trabalho já realizado por organismos como a FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura) e o PMA (Programa Mundial de Alimentos).

A preocupação é que, se a iniciativa de Lula se sobrepuser ao trabalho da FAO e do PMA, acabe drenando energia dessas agências.

A ideia de Lula é anunciar o desenho consolidado da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza em julho, durante uma reunião de ministros da área do G20 no Rio de Janeiro.

O objetivo da Aliança, segundo o governo, é "angariar recursos e conhecimentos para a implementação de políticas públicas e tecnologias sociais comprovadamente eficazes para a redução da fome e da pobreza no mundo".

O governo quer criar uma espécie de balcão com boas práticas de combate à pobreza que países em desenvolvimento poderão consultar e pedir apoio técnico caso queiram implementar políticas semelhantes em seus territórios.

Auxiliares de Lula também defendem que a Aliança seja usada para articular as diferentes fontes de financiamento de ações contra a pobreza que hoje existem espalhadas pelo mundo.

Do ponto de vista político, a ideia foi pensada para aproveitar a imagem internacional de Lula como líder comprometido com a redução das desigualdades. O Bolsa Família, marca dos governos petistas, servirá de vitrine das políticas sociais que o país espera difundir globalmente.

Negociadores brasileiros trabalham para que os países organizem anualmente uma cúpula de chefes de Estado da Aliança, outro pleito que tem enfrentado objeções diante de um calendário em que os governantes já estão comprometidos com diversas agendas internacionais todos os anos.

Sobre isso, assessores de Lula dizem que essa cúpula poderia ocorrer à margem da Assembleia-Geral da ONU, que acontece todo mês setembro em Nova York (EUA), ou mesmo como parte do calendário permanente da reunião de líderes do G20.

Diante das ressalvas apresentadas, o governo Lula trabalha com uma estratégia alternativa para garantir que a estrutura saia do papel mesmo que menos ambiciosa. Negociadores afirmam que o Brasil está disposto a bancar sozinho o secretariado da nova organização até pelo menos 2030.

Nesse horizonte, a previsão é que o governo precise desembolsar entre R$ 15 milhões e R$ 30 milhões.

Após mapear as resistências, o governo Lula avaliou que o importante é o G20 endossar a proposta da Aliança mesmo que nem todos os membros venham a aderir formalmente. A presidência brasileira aposta que, no fim, países refratários se sentirão constrangidos por não apoiar uma proposta que tem como propósito lutar contra a fome no mundo.

Auxiliares brasileiros discordam da visão de que a Aliança pode ter funções concorrentes com as agências da ONU. Segundo eles, o Brasil propõe que a nova estrutura tenha como missão ajudar a identificar as necessidades dos países e cruzá-las com as experiências mais adequadas que existem à disposição.

Eles ainda citam que, no passado, as organizações ligadas à ONU já foram criticadas por suas ações acabarem danificando a economia local.

No Haiti, por exemplo, após o terremoto de 2010, o PMA buscou atender a população local com a distribuição de arroz. No entanto, houve pouca compra de produção local e os países doaram seus excedentes. Um dos resultados foi que a distribuição afetou a já frágil economia haitiana, que dependia da produção do grão.

 

                Yellen se reunirá com aliados dos EUA em encontro do FMI e Banco Mundial e pressionará China sobre crescimento

 

A secretária do Tesouro dos Estados Unidos, Janet Yellen, se reunirá com ministros das Finanças de aliados do país nesta semana para discutir uma série de questões importantes, incluindo o fortalecimento das cadeias de suprimentos e da estabilidade do sistema financeiro e o apoio à Ucrânia, disse uma autoridade sênior do Tesouro dos EUA nesta segunda-feira.

As reuniões de Yellen paralelas às reuniões de primavera (do hemisfério norte) do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial em Washington também incluirão discussões aprofundadas com autoridades chinesas sobre "crescimento equilibrado", um novo diálogo entre EUA e China lançado neste mês para tratar do excesso de capacidade industrial chinesa para veículos elétricos, painéis solares e outros produtos de energia limpa.

Na quarta-feira, Yellen se reunirá com os ministros das Finanças da Coreia do Sul e do Japão em uma reunião trilateral inédita para coordenar questões que vão desde as sanções contra a Rússia e o Irã até a segurança das cadeias de suprimentos e a construção de resiliência climática e financeira nas Ilhas do Pacífico, disse a autoridade do Tesouro norte-americano.

As discussões com as autoridades chinesas virão após viagem de Yellen no início deste mês a Guangzhou e Pequim, na qual ela defendeu o aumento da demanda doméstica da China e alertou Pequim de que os EUA não poderiam aceitar uma nova onda maciça de exportações chinesas baratas de veículos elétricos e produtos solares, dizimando novas indústrias dos EUA da mesma forma que a produção de aço foi prejudicada há uma década.

A autoridade disse que Yellen também falará sobre a força econômica dos EUA nas reuniões e pressionará por mais progresso no alívio da dívida dos países vulneráveis e no avanço das reformas dos bancos multilaterais de desenvolvimento para combater melhor as mudanças climáticas.

"Esperamos que o caminho dos Estados Unidos para um 'pouso suave' continue a sustentar o crescimento global", disse a autoridade, referindo-se a um cenário em que a inflação nos EUA poderia continuar a cair sem arruinar o mercado de trabalho ou causar uma recessão dolorosa.

"Também temos nos envolvido com o mundo para mitigar os riscos de curto prazo e apoiar o crescimento sustentável de longo prazo, reconhecendo que as perspectivas de um pouso suave não são sentidas igualmente em todos os lugares."

 

Fonte: FolhaPress/Reuters

 

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