quarta-feira, 17 de abril de 2024

Dieta rica em açúcar e gordura na adolescência prejudica a memória, diz estudo

Um novo estudo liderado por pesquisadores da USC (University of Southern California) mostrou que uma dieta rica em “junk food” — um termo em inglês para se referir a comidas ricas em calorias e de baixa qualidade nutritiva, como ultraprocessados e alimentos com alto teor de açúcar — durante a adolescência pode prejudicar a memória longo do tempo.

No estudo, os pesquisadores alimentaram camundongos adolescentes com uma dieta rica em gordura e açúcar e descobriram que a capacidade de memória desses modelos foi prejudicada a longo prazo. A descoberta foi publicada na edição de maio da revista Brain, Behavior, and Immunity.

“O que vemos não apenas neste artigo, mas em alguns de nossos outros trabalhos recentes, é que se esses ratos cresceram com essa dieta de junk food, então eles têm problemas de memória que não desaparecem”, diz Scott Kanoski, professor de ciências biológicas na Faculdade de Letras, Artes e Ciências da USC Dornsife, em comunicado. “Se você simplesmente colocá-los em uma dieta saudável, esses efeitos infelizmente duram até a idade adulta.”

·        Relação entre alimentação e memória

Para realizar o estudo, os pesquisadores levaram em consideração que pesquisas anteriores já haviam mostrado uma relação entre a má alimentação e a doença de Alzheimer, que leva à perda progressiva da memória e capacidades cognitivas.

Pessoas com Alzheimer tendem a ter níveis mais baixos de um neurotransmissor chamado acetilcolina no cérebro. Ele é essencial para a memória e funções como aprendizagem, atenção e movimentos musculares involuntários.

Diante disso, a equipe de pesquisadores se questionou se isso poderia trazer prejuízos a longo prazo para jovens que estão seguindo uma dieta rica em gordura e açúcar, especialmente durante a adolescência, fase em que o cérebro ainda está em desenvolvimento significativo.

Portanto, os pesquisadores decidiram rastrear os níveis de acetilcolina em um grupo de ratos que estavam recebendo uma alimentação gordurosa e açucarada e em um segundo grupo controle de ratos — que não receberam a mesma alimentação.

A equipe analisou as respostas cerebrais a certas tarefas destinadas a testar a memória dos roedores. Os testes incluíam a exploração de objetos em um determinado cenário. Dias depois, os ratos eram reintroduzidos na mesma cena, mas com a adição de um novo objeto.

De acordo com o estudo, os ratos que seguiam uma dieta com “junk food” mostraram sinais de que não conseguiam lembrar qual objeto haviam visto anteriormente e em qual lugar. Já os ratos do grupo controle mostraram familiaridade na tarefa.

Os cérebros dos ratos também foram examinados após a morte deles, em busca de sinais de alterações nos níveis de acetilcolina.

“A sinalização de acetilcolina é um mecanismo para ajudá-los a codificar e lembrar esses eventos, análogo à ‘memória episódica’ em humanos, que nos permite lembrar eventos do nosso passado”, explicou a autora principal do estudo, Anna Hayes. “Esse sinal parece não estar acontecendo nos animais que cresceram comendo uma dieta gordurosa e açucarada.”

·        Prejuízos podem ser menos reversíveis quando ocorrem na adolescência

De acordo com os pesquisadores, a adolescência é um período muito sensível para o cérebro, pois nela ocorrem mudanças importantes no desenvolvimento. “Infelizmente, algumas coisas que podem ser mais facilmente reversíveis durante a idade adulta são menos reversíveis quando ocorrem durante a infância”, afirma Kanoski.

Porém, ainda existe uma esperança de intervenção. O pesquisador conta que, em outro estudo, a equipe examinou se os danos à memória em ratos que foram criados com a dieta com junk food poderiam ser revertidos com o uso de medicamentos que induzem a liberação de acetilcolina.

Para isso, foram utilizados dois medicamentos, PNU-282987 e carbacol. Quando administrados diretamente no hipocampo, região do cérebro que controla a memória, a capacidade de reminiscência foi restaurada. No entanto, sem essa intervenção médica, os pesquisadores acreditam que outros estudos são necessários para saber como reverter problemas de memória causados por uma má alimentação.

 

Ø  Tendência de buscas indica maior interesse do brasileiro por dietas restritivas

 

Fazer dieta é uma estratégia interessante tanto para quem quer perder peso, quanto para quem busca ganhar massa muscular e melhorar a composição corporal. Existem diferentes maneiras de ajustar a alimentação para esses objetivos: algumas são mais restritivas, enquanto outras são mais equilibradas. Entre os brasileiros, a que possui maior tendência de busca na internet é a dieta low carb, um tipo de dieta restritiva, segundo levantamento feito pela CNN no Google Trends.

A dieta low carb é caracterizada pela baixa ingestão de carboidratos. O objetivo é reduzir a quantidade de calorias no prato e optar carboidratos baixo índice glicêmico (com absorção mais lenta pelo organismo, o que reduz as chances de um pico de glicose no sangue). Segundo o Google Trends, essa dieta foi a mais pesquisada nos últimos 12 meses no Brasil, garantindo uma média de 75 pontos durante o período.

Logo em seguida, aparece a dieta cetogênica, uma versão mais “radical” da dieta low carb, com uma média de 51 pontos nas tendências de buscas no período analisado. Ela é baseada na eliminação de carboidratos da alimentação e um maior consumo de gorduras, no objetivo de estimular a cetose, um processo metabólico que acontece no organismo quando os níveis de glicose estão baixos. Esse fenômeno destrói células de gordura e as transformam em corpos cetônicos, o que também pode levar à perda de peso.

Segundo o levantamento, a dieta cetogênica chegou a disputar acirradamente com a dieta low carb nas tendências de interesse dos brasileiros. Em dois pontos específicos, a primeira chegou a ultrapassar a pontuação da low carb, entre junho e julho de 2023 (94 pontos, versus 79 pontos da low carb), e em setembro do mesmo ano (100 pontos, versus 98).

dieta detox aparece em terceiro lugar, com uma média de 17 pontos de interesse ao longo de 12 meses. Essa é uma estratégia que se concentra no consumo de alimentos naturais e não processados, visando eliminar toxinas do organismo. Esse tipo de alimentação, geralmente, inclui o consumo de frutas, vegetais, água e chás de ervas, evitando alimentos processados, açúcares adicionados, cafeína e álcool.

Nas últimas posições estão a dieta mediterrânea e a dieta DASH, no quarto (10 pontos) e quinto (5 pontos) lugar, respectivamente. A primeira é caracterizada por uma alimentação rica em grãos integrais, frutas, vegetais, legumes, nozes, ervas, especiarias e azeite, além do consumo de peixes como proteína animal. Já a DASH é uma abordagem dietética para reduzir a hipertensão, cujo foco é uma alimentação com menos sódio e maior consumo de frutas, vegetais, carboidratos integrais, grãos, leites e queijos.

·        Dietas restritivas levam ao emagrecimento, mas podem trazer riscos à saúde

O levantamento feito no Google Trends mostra uma tendência maior de interesse do brasileiro por dietas restritivas, ou seja, que restringem determinados macronutrientes ou grupos de alimentos. No caso da dieta low carb e da cetogênica, os carboidratos são eliminados ou reduzidos na alimentação, o que pode levar ao emagrecimento, mas também pode trazer riscos à saúde.

Uma pesquisa apresentada em 2023 na Sessão Científica Anual do American College of Cardiology mostrou que a dieta cetogênica pode estar associada a um maior risco de doença cardíaca e eventos como ataque cardíaco e AVC, por estar associada a níveis mais altos de colesterol “ruim”.

Além disso, de acordo com o Ministério da Saúde, uma alimentação com baixa ingestão de carboidratos pode trazer uma série de efeitos colaterais, como:

  • Redução do rendimento físico;
  • Ganho de peso subsequente;
  • Desregulação do organismo;
  • Diminuição de energia.

Por outro lado, as dietas menos pesquisadas, como a dieta detox, mediterrânea e DASH, oferecem mais benefícios à saúde. De acordo com André Camara de Oliveira, diretor da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia Regional São Paulo (SBEM-SP), a dieta detox é segura, desde que respeite a proporção de macronutrientes e atinja a quantidade de calorias necessárias para o bom funcionamento do corpo.

“A dieta tradicional, que respeita a proporção da necessidade de proteínas, carboidratos, lipídios, vitaminas e minerais, é segura, sempre adaptando para cada pessoa e a sua condição de saúde”, afirma o especialista em matéria publicada anteriormente na CNN. Porém, o especialista ressalta: “Versões que substituem alimentos por sucos ou sopas geralmente não são seguros.”

Já a dieta mediterrânea foi eleita o melhor estilo de alimentação pelo sétimo ano consecutivo em 2024, de acordo com a US News & World Report. A dieta DASH foi considerada a segunda melhor dieta no mesmo relatório, mas está em 5º lugar nas tendências de buscas dos brasileiros pelo Google Trends. Ambas oferecem benefícios para a saúde, como reduzir o risco de diabetes, hipertensão e colesterol elevado.

 

Fonte: CNN Brasil

 

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