'Possibilidade de interferência ocidental no
atentado em Moscou é muito grande', diz analista sobre Crocus
Em entrevista à
Sputnik Brasil, especialistas analisam o pano de fundo, possíveis motivações e
eventuais envolvidos em ataque terrorista no Crocus City Hall, na região de
Moscou, que matou mais de 130 pessoas e deixou mais de uma centena de feridos.
O mundo foi
surpreendido na última sexta-feira (22) com um ataque atroz ao teatro Crocus
City Hall, próximo a Moscou. Na ocasião, homens armados e com trajes camuflados
abriram fogo contra os presentes no edifício, além de lançarem granadas que
provocaram um incêndio no local.
As operações de
resgate foram dadas como encerradas há poucas horas neste sábado (23), mas as
autoridades russas seguem em busca de vítimas do atentado. Por outro lado, os
serviços especiais e agências de segurança da Rússia seguem investigando os
envolvidos e quem pode estar por trás dos ataques. Um homem foi preso neste
sábado e disse que agiu "por dinheiro". O Daesh (organização
terrorista proibida na Rússia e em vários outros países), por sua vez, assumiu
a responsabilidade pelo ataque.
De acordo com Boris
Zabolotsky, doutorando em Ciência Política na Universidade Federal do Rio
Grande do Sul (UFRGS), a reivindicação não significa que o grupo islâmico tenha
sido o mentor, considerando que outros atores podem estar envolvidos. O
pesquisador contextualiza, inclusive, que a formação desses grupos tem
dissidências de conflitos da Rússia, quando ex-combatentes da Chechênia fogem e
se refugiam em países como a Síria, o Afeganistão e o Iraque.
O presidente da
Rússia, Vladimir Putin, afirmou neste sábado que os envolvidos no ataque feito
no Crocus City Hall avançaram em direção à Ucrânia, onde, de acordo com dados
preliminares, foi preparado um "corredor" para que eles pudessem
atravessar a fronteira.
Zabolotsky afirma,
conforme o contexto, que a Ucrânia recebeu muitos soldados do grupo extremista
para lutarem lado a lado no conflito contra a Rússia. Portanto, segundo ele,
uma provável associação que pode ser feita é, como eles se deslocavam para a Ucrânia,
eles poderiam, de fato, ter vindo de lá e planejado o ataque também a partir do
país vizinho.
"Isso é uma coisa
que precisa ser investigada, se eles tiveram de fato uma mentoria, um apoio ou
algum auxílio seja de inteligência, seja financeiro da Ucrânia ou de algum país
ocidental", destaca o analista.
"A grande questão
que se coloca é como o Estado Islâmico, que está numa situação de debilidade
após a derrota na Síria, teria condições de orquestrar um grande ataque nesse
nível em Moscou sem uma mentoria, sem um auxílio, de uma forma independente",
argumenta Zabolotsky em entrevista à Sputnik Brasil.
A hipótese da
reivindicação do ataque pelo Daesh, prontamente, foi acatada e reafirmada pelos
Estados Unidos, que também, ainda diante de informações precárias e poucas
horas após o atentado, foram rápidos em afirmar que a Ucrânia não teria ligação
com os ataques. O alto escalão do governo russo, entretanto, adota ressalvas em
relação "às certezas" norte-americanas.
A representante
oficial do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova,
criticou, também neste sábado, as tentativas deliberadas de ligar o atentado ao
Crocus City Hall ao Daesh.
"O mais
importante é que as autoridades americanas não se esqueçam de como a sua
informação e ambiente político ligaram os terroristas que atiraram nas pessoas
no teatro de Crocus com a organização terrorista", escreveu em uma
publicação no Telegram.
Para Robinson
Farinazzo, analista militar e oficial da reserva da Marinha do Brasil, o ataque
na região de Moscou não se caracteriza em nada com ações do grupo islâmico.
Eles [Daesh], "na
verdade, são usados como uma franquia, como uma marca de fantasia; alguém
patrocina um grupo qualquer, um grupo terrorista qualquer que faz um ato",
afirmou ao dizer que os ataques são assinados pelos grupos islâmicos, mas provavelmente
não são realizados por eles, acreditando que as investigações darão conta
disso. "O Coronel McGregor já disse que a CIA e o MI6 britânico estão por
trás desse atentado".
Farinazzo ressalta que
"a possibilidade de ter interferência ocidental nesse atentado é muito
grande". A efeito de comparação, o especialista relembra o ataque que
aconteceu neste ano no Irã ao túmulo do general Soleimani, evento que também
foi "colocado na conta" do Daesh.
"Ele [o ataque ao
Crocus] guarda as mesmas características com o atentado que aconteceu no Irã
meses atrás no túmulo do general Soleimani, que matou dezenas de pessoas.
Depois o ISIS teria assumido [a responsabilidade do ataque], mas o Irã não
acreditou nisso e atacou grupos baluques no Paquistão. Então, na verdade, o Irã
sabia que aquilo ali era uma falsa bandeira e procurou os verdadeiros
responsáveis, como os russos também sabem que esse é um ataque de falsa
bandeira e provavelmente irão atrás dos responsáveis".
EUA sabiam da
possibilidade do ataque e não avisaram a Rússia?
Larry Johnson, oficial
de inteligência aposentado da Agência Central de Inteligência (CIA, na sigla em
inglês), supôs, na sexta-feira, que os EUA tinham informações de que os ataques
iriam acontecer e não compartilharam com a Rússia. A porta-voz do Conselho de
Segurança Nacional da Casa Branca, confirmou, no mesmo dia, que os EUA
receberam, em março, dados sobre a preparação de um ataque terrorista em
Moscou, presumivelmente em locais lotados, e os compartilharam com a Rússia.
Farinazzo, em sua
análise, relembra que em janeiro deste ano, Victoria Nuland, subsecretária de
Estado para Assuntos Políticos dos EUA, fez "uma declaração de que a
Rússia teria algumas surpresas. Ela fez essa declaração em Kiev depois de ter
encontrado autoridades. Doze dias depois, dia 12 de fevereiro, ela pede
demissão e é admitida pelo Departamento de Estado americano".
Segundo o pesquisador,
a ilação que se faz, é que "provavelmente ela sabia desses atentados e
alguém no Departamento de Estado, ou no alto escalão do governo americano,
disse um basta para isso".
"O alerta que os
americanos deram talvez se dê ao fato que eles efetivamente sabiam, ninguém tem
dúvidas disso, mas eles já não poderiam parar a operação. Talvez esse alerta
tenha sido além do que apareceu na imprensa, talvez tenha havido conversação
entre autoridades dos dois governos, dos EUA e da Rússia, mas essas autoridades
americanas talvez não tivessem acesso a todas as informações", completa.
O que o cenário
aponta, segundo Farinazzo, é que podem haver divergências no alto escalão
político em Washington "sobre a maneira de conduzir" o conflito na
Ucrânia.
Uma fonte dos serviços
de inteligência russos confirmou que as informações dos EUA sobre a preparação
de ataques terroristas em Moscou foram realmente recebidas, mas que eram de
natureza geral, sem quaisquer detalhes específicos.
O presidente russo,
Vladimir Putin, afirmou que "o Serviço Federal de Segurança da Rússia e
outras agências policiais estão trabalhando para identificar e revelar toda a
base de cúmplices dos terroristas" e salientou que a Rússia conta com a cooperação
de todos os países que compartilham a dor da tragédia e estão prontos para se
juntar a ela na luta contra o terrorismo.
Ø
Atentado em Moscou não parece ter sido obra
do Daesh, diz Scott Ritter
O ex-oficial de
inteligência dos EUA analisou as informações conhecidas sobre o ataque
terrorista e concluiu que as pessoas que o executaram vieram da Ucrânia.
As tentativas de
Washington de atribuir a culpa pelo ataque terrorista de sexta-feira (22) em
Moscou ao Daesh (organização terrorista proibida na Rússia e em vários outros
países) parecem suspeitas devido ao comportamento dos atacantes, disse à
Sputnik um ex-oficial de inteligência do Corpo de Fuzileiros Navais dos EUA.
Mencionando o fato de
que os terroristas foram detidos quando fugiam em direção à Ucrânia, Scott
Ritter observou que as "pessoas ligadas à violência" têm a tendência
de acabar por "navegar em direção ao seu 'norte verdadeiro'".
"O que quero
dizer com isso é que, por exemplo, uma equipe de forças especiais operando
atrás das linhas inimigas: se forem comprometidos, eles tentam voltar para
casa, tentam escapar e se evadir em direção às linhas amigas", explicou.
"O Daesh é leal à
sua versão pervertida da religião, Deus. Seu 'norte verdadeiro' é se tornarem
mártires, para navegarem de volta para o céu."
No entanto, disse ele,
não foi isso que esses terroristas fizeram.
"Seu verdadeiro
norte era a Ucrânia, e eles estavam indo em direção à Ucrânia. E isso é tudo o
que precisamos saber sobre isso. Esse foi um ataque que estava ligado ao
conflito em andamento na Ucrânia", de acordo com Ritter.
"Quem esteve por
trás desse ataque? Quem são os mentores? Os serviços de segurança russos vão
descobrir. Mas quem quer que sejam, eles estão na Ucrânia", apontou.
Zakharova critica tentativas deliberadas
de ligar o atentado ao Crocus ao Daesh
Representante oficial
do Ministério das Relações Exteriores chama atenção para o fato de que os
terroristas, após cometerem o atentado, "escolheram especificamente a
Ucrânia como destino de fuga".
A representante
oficial do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova,
comentou, neste sábado (23), as tentativas do governo dos Estados Unidos de
ligar o Daesh (organização terrorista proibida na Rússia e em vários outros
países) ao ataque terrorista, realizado na sexta-feira (22), contra o teatro
Crocus, nas proximidades de Moscou.
Em uma postagem no
Telegram, ela sublinhou que "os terroristas, após cometerem o atentado,
escolheram especificamente a Ucrânia como destino de fuga".
"O mais
importante é que as autoridades americanas não se esqueçam de como a sua
informação e ambiente político ligaram os terroristas que atiraram nas pessoas
no teatro de Crocus com a organização terrorista [Daesh]", sublinhou
Zakharova.
Na postagem, ela
classificou os autores do ataque como "bastardos assassinos", e disse
que eles planejavam fugir para a Ucrânia, "o mesmo país que, de mãos dadas
com os regimes liberais ocidentais, tem vindo a se tornar um centro de propagação
do terrorismo no país há dez anos."
Na sexta-feira (22),
homens armados vestidos com roupas camufladas abriram fogo contra civis que
estavam no teatro Crocus para assistir a um show da banda Picnik. O ataque com
arma de fogo foi seguido de um incêndio que, segundo o Ministério de Emergências,
afetou uma área de quase 13 mil metros quadrados.
Posteriormente, o
governo americano afirmou que o ataque foi perpetrado pelo Daesh. Ademais, na
noite de sexta-feira, a porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa
Branca confirmou que os EUA receberam, neste mês, dados sobre a preparação de
um ataque terrorista em Moscou, presumivelmente em locais lotados, e os
compartilharam com a Rússia.
Uma fonte dos serviços
de inteligência russos confirmou que as informações dos EUA sobre a preparação
de ataques terroristas em Moscou foram realmente recebidas, mas que eram de
natureza geral, sem quaisquer detalhes específicos.
Detido pelo ataque ao Crocus City Hall
revela que lhe deram dinheiro para matar pessoas
Um homem detido por
suspeita do ataque terrorista ao Crocus City Hall, disse que lhe foi oferecido
um milhão de rublos (cerca de R$ 54 mil) pelo assassinato de pessoas, de acordo
com o vídeo publicado pela Margarita Simonyan, a editora-chefe do grupo de
mídia Rossiya Segodnya, do qual a Sputnik faz parte.
"No Crocus [City
Hall] matei pessoas. Por dinheiro", disse ele.
O detido especificou
que metade deste dinheiro foi lhe transferido para o seu cartão bancário, a
outra metade foi prometida mais tarde. Ele perdeu o cartão enquanto fugia na
floresta dos agentes dos serviços de segurança.
O detido disse também
que chegou de avião da Turquia em 4 de março, aponta a gravação de vídeo,
publicada pela Simonyan.
"Lá [na Turquia]
[…] os documentos expiraram, cruzei a fronteira aqui", disse o homem
detido.
O homem afirmou que os
organizadores entraram em contato com ele há um mês pelo Telegram e forneceram
armas. Ele recebeu a tarefa de matar todas as pessoas no salão e lhe ofereceram
por isso cerca de um milhão de rublos.
"Eles mesmos
forneceram as armas […]. No Telegram escreveram sem nome, sem sobrenome",
disse o homem.
Simonyan disse também
que o número de pessoas mortas no ataque ao Crocus City Hall aumentou para 143.
Fonte: Sputnik Brasil
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