domingo, 28 de janeiro de 2024

Ricardo Nêggo Tom: CPI das igrejas evangélicas já!

“E, quando Jesus ia saindo do templo, aproximaram-se dele os seus discípulos para lhe mostrarem a estrutura do templo. 2 Jesus, porém, lhes disse: Não vedes tudo isto? Em verdade vos digo que não ficará aqui pedra sobre pedra que não seja derrubada. ” Eis um trecho do capítulo do evangelho de Mateus, onde Jesus anuncia profeticamente a destruição do templo de Jerusalém, e enumera outras coisas que iriam acontecer como prenúncio do fim. Entre elas, o surgimento de falsos profetas que viriam em seu nome para enganar os incautos e desavisados. Em se tratando da “igreja de Cristo” no Brasil, eu incluiria a essa lista de intempéries sócio religiosas uma CPI que investiga os abusos financeiros cometidos por boa parte das igrejas evangélicas brasileiras, sob a bênção de um Estado omisso que ainda garante a essas instituições religiosas o beneplácito da imunidade tributária, estendendo a renúncia fiscal para outras associações supostamente beneficentes ligadas a elas. Sem falar nas prebendas, o salário dos pastores, que foram isentas de imposto de renda numa canetada dada pelo governo Bolsonaro.

Uma CPI sobre essas igrejas evangélicas não deixaria pedras de Hebron sobre pedras de Hebron. As mesmas que foram transportadas em toneladas para a construção do Templo de Salomão, de propriedade do empresário da fé Edir Macedo, sem que a receita federal pudesse cobrar um centavo sequer de impostos sobre a importação. Justiça seja feita, em 1997 a Receita Federal já havia tentado enquadrar a Igreja Universal cobrando impostos devidos e não pagos, sob a pertinente afirmação de que a referida instituição religiosa praticava atividades visando lucros, se aproveitando da imunidade tributária que a constituição oferece às igrejas. Na época, os valores devidos foram estimados em R$ 98,360 milhões e uma notificação foi entregue à igreja. A autuação resultou de meses de investigação onde a Receita identificou atividades comerciais suspeitas realizadas pela IURD nos anos de 1991, 1992, 1993 e 1994, o auge do charlatanismo de Edir Macedo no Brasil. Período onde a sua empresa faturou rios jordões de dinheiro com dízimos, doações e outras estripulias ungidas. Donde concluiu-se que a igreja atuava como um banco e usava seus recursos para fazer empréstimos para vários de seus dirigentes.

O custo para a construção do suntuoso e farisaico Templo de Salomão, em São Paulo, foi avaliado em R$ 400 milhões e, mais uma vez, chamou a atenção da Receita Federal que em 2013 foi cobrar os impostos referentes a importação de materiais utilizados no adorno do castelo de Macedo. Foi calculado um débito total de 1,8 milhão de reais que seriam devidos no recolhimento do ICMS por esses produtos e 615.000 reais em outros impostos, como o IPI. Se fizermos uma pesquisa mais detalhada, perceberemos que líderes religiosos de igrejas evangélicas estão entre os maiores sonegadores e devedores de impostos do país. Silas Malafaia e sua voz nauseante que parece eclodir de um gargalo entupido, mantém uma dívida de R$ 4,6 milhões em impostos com a União, segundo matéria do UOL de 2021, cujas informações foram obtidas por meio da Lei de Acesso à Informação. Segundo outra matéria do UOL, também de 2021, a Igreja Internacional da Graça de Deus, empresa de propriedade de R.R Soares, cunhado de Edir Macedo, possui débitos inscritos na dívida ativa da União de R$ 162 milhões, de acordo com dados da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional. Algo que o deputado federal David Soares (DEM-SP), filho de R.R, cuidou de resolver criando o PL 1581/2020, uma emenda que regulamenta o acordo direto para pagamento com desconto ou parcelado de precatórios federais.

Outro homem de Deus que está enrolado em dívidas com a União é o apóstolo Valdemiro Santiago, aquele que gosta de usar chapéu de fazendeiro. As dívidas de impostos da Igreja Mundial do Poder de Deus, empresa de sua propriedade, triplicaram entre dezembro de 2018 e setembro de 2021, saltando de R$ 48,66 milhões para R$ 171,6 milhões. A maioria das pendências está relacionada com a folha de pagamento da igreja, como contribuições previdenciárias e imposto de renda retido na fonte de FGTS. Ou seja, o ungido do senhor está dando calote nos direitos trabalhistas dos seus funcionários. Não por acaso, sua empresa foi surpreendida por uma greve onde os colaboradores cobravam os seus direitos. Vale lembrar que Valdemiro foi o primeiro a ser vítima de uma facada que o transformaria em mártir do evangelho de Cristo. Por pouco não vira presidente da república. Marco Feliciano, o pastor deputado dos dentes de ouro, devia R$ 47.582,69 ao INSS em 2017, segundo matéria do site Repórter Brasil. Uma dívida que também deve ter aumentado consideravelmente, tendo em vista que o governo Bolsonaro do qual o sorriso mais caro do Brasil era apoiador, não cobrou essa fatura.

 São apenas alguns dados que demonstram o porquê que não devemos ter líderes religiosos ocupando cargos públicos. A bancada evangélica no Congresso foi a responsável pela derrubada do veto presidencial ao dispositivo que concedia anistia aos tributos devidos por igrejas, que totaliza mais de R$ 1 bilhão em dívidas registradas com a União. Curiosamente, a derrubada do veto teve o apoio de quem o havia determinado, o então presidente Jair Bolsonaro. Na Câmara, 439 deputados votaram pela derrubada do vetado, enquanto que no Senado 71 parlamentares ratificaram a decisão imoral. Uma demonstração de força de um segmento religiosos que pretende exercer o poder no país em todas as esferas, contando com a covardia de um Estado cada dia menos laico e com o bundamolismo do povo brasileiro que assiste passivamente a essa orgia abençoada pelo dinheiro público. Qual é o nosso medo diante dessa patifaria? Será que acreditamos que Deus está ao lado dessa gente hipócrita e desonesta? Será que tememos Jesus voltar e nos castigar por ter feito os seus representantes comerciais pagarem os impostos que eles deviam?

Aliás, se esses mandriões da fé pregam a volta de Jesus, é porque eles não acreditam que ele esteja presente em suas igrejas. Se é a presença espiritual de Jesus que eles invocam para fazer os milagres que alardeiam, ele já deve estar entre nós. Não seria a sua presença física que iria alterar o curso de seus “projetos”. A não ser que ele volte para destruir essa igreja que está corrompendo a fé das pessoas, sonegando impostos que poderiam ser utilizados em políticas públicas e projetos sociais em assistência aos mais pobres e vulneráveis – como Jesus pregava – e enriquecendo seus líderes em detrimento das necessidades de seus fiéis. Tenho a certeza de que Jesus Cristo seria o primeiro a assinar essa CPI para investigar as igrejas evangélicas. Se Pilatos lavou as mãos diante da inocência do seu sangue, Malafaia, Macedo, Feliciano e afins, podem estar lavando dinheiro em troca do mesmo sangue. Acabar com a imunidade tributária das igrejas, proibir que líderes religiosos exerçam cargos políticos e punir judicialmente instituições religiosas que fazem campanha política em seus templos sob a égide de um culto a um deus verdadeiro, é o novo evangelho de Cristo para esta nação. O ideal de igreja sem partido deve ser propagado em nome de Jesus por todos aqueles que, independentemente de credo religioso, já estão fartos de verem o nome de alguém que nunca esteve envolvido em pilantragem, chafurdar na lama ungida por falsos profetas e doutores da lei religiosa deste tempo. O sinédrio de hoje precisa pagar pelo que o sinédrio de ontem fez há dois mil anos. E vai pagar!

Ø  O que Hitler quis dizer com "minta até que seja verdade"?

 

Ironicamente, não existem elementos para atribuir essa frase a Hitler, nem tampouco a Goebbels. De fato, Goebbels se presentava como ou acreditava ser um combatente da Verdade contra as mentiras estrangeiras.

As traduções sobre a frase de Pseudo-Goebbels tenderam a figurá-la, o "original" é bastante claro.

Eine Lüge muss nur oft genug wiederholt werden. Dann wird sie geglaubt.

Uma mentira simplesmente se tem que repetir o suficiente, então será crida.

Outra versão é um discurso ainda mais longo e claro, que aparentemente vem do inglês, depois traduzido ao alemão:

Wenn man eine große Lüge erzählt und sie oft genug wiederholt, dann werden die Leute sie am Ende glauben. Man kann die Lüge so lange behaupten, wie es dem Staat gelingt, die Menschen von den politischen, wirtschaftlichen und militärischen Konsequenzen der Lüge abzuschirmen. Deshalb ist es von lebens­wichtiger Bedeutung für den Staat, seine gesamte Macht für die Unterdrückung abweichender Meinungen einzusetzen. Die Wahrheit ist der Todfeind der Lüge, und daher ist die Wahrheit der größte Feind des Staates.

Quando alguém conta uma grande mentira e a repete o suficiente, então a gente acaba por acreditar. Um pode manter essa mentira por tanto tempo quanto o Estado possa proteger às pessoas das consequências políticas, económicas e militares dela. Por isso é de importância suprema para o Estado colocar todo seu poder para a repressão de opiniões divergentes. A verdade é o inimigo mortal da mentira, por isso a verdade é o inimigo mais grande do Estado.

Sim é verdade que Hitler e Goebbels acreditavam que as massas precisavam da repetição de propaganda para que tivesse efeitos, essa é uma doutrina que vem de Le Bon e sua psicologia das massas. No diário de Goebbels, 29 de Janeiro, 1942:

Ich kann wieder sehr viel lernen; vor allem, daß das Volk meistens viel primitiver ist, als wir uns das vorstellen. Das Wesen der Propaganda ist deshalb die Einfachheit und die Wiederholung. Nur wer die Probleme auf die einfachste Formel bringen kann, und den Mut hat, sie auch gegen die Einsprüche der Intellektuellen ewig in dieser vereinfachten Form zu wiederholen, der wird auf die Dauer zu grundlegenden Erfolgen in der Beeinflussung der öffentlichen Meinung kommen. Wer einen anderen Weg einschlägt, mag den oder jenen labilen Intellektuellenkreis beeinflussen, das Volk ist er nicht einmal an der Oberfläche zu ritzen in der Lage.

Ainda posso aprender muito; sobre tudo que o povo é mais primitivo do que pensamos. Então a essência da propaganda é simplicidade e repetição. Somente quando os problemas são levados às formas mais simples e temos o caráter para repetir essas simplificações, também apesar das críticas dos intelectuais, então no longo prazo terão êxito influindo à opinião pública. Quem toma o outro caminho, poderá influir em tal ou qual instável círculo de intelectuais, o povo não será tocado nem superficialmente por ele.

Também das ideias de Nietzsche sobre a fabricação da moral. O tópico da verdade e a falsidade na cultura alemã foi importante desde a época do romantismo.

 

Ø  Por que a maioria das pessoas não achava os estilos de discurso histriônicos, melodramáticos de Hitler e Mussolini totalmente ridículos?

 

Dado que a pergunta é sobre o "histriônico" infiro que se refere à gestualidade.

Isso era comum e continuou até tempos muito recentes. O orador tinha que representar as paixões que queria inspirar, acreditavam em um efeito de identificação e catársis, como na teoria clássica da tragédia. Os braços e a mirada servem a obter uma sensação de cercania com o público e involucrá-lo. Hitler, particularmente, explorava isso: quando falava de algo que envolvia ao público ou à "nação alemã" apontava sobre seu próprio corpo e fazia movimentos de abraço de afora para adentro. Particularmente para os nazistas e fascistas esse código tinha uma justificação ideológica, mostrava a paixão e vitalidade até níveis de violência — um valor positivo para eles.

A maioria das pessoas não o achava esquisito porque muitos oradores faziam algo disso e se entendia que o momento do discurso era especial, um espetáculo, quase uma obra de teatro — artes dramática ao vivo eram muito mais populares nesse momento — ou uma misa. Alguns políticos, como Mussolini, tinham sua imagem meticulosamente planificada baixo a teoria de Gustave Le Bon sobre a psicologia das massas, segundo a qual era necessário elaborar e representar histórias e associações poéticas de coisas, pois massas não entendem razões.

Alguns exemplos de políticos gestuais que não foram fascistas são:

# Theodore Roosevelt;

# Eva Perón, semelha uma Mussolini fêmea; alguns elementos lembram ao paternalismo, maternalismo aqui, do fascismo;

# De Gaulle  com uma retórica bem dependente da gestualidade;

# Martin Luther King já tinha uma proxêmica contida, como os de certos políticos de outra corrente que já comento, mas destacou por seu discurso de prosódia recitativa e marcadas pausas nos períodos junto com figurações ingeniosas.

Prosódia é a entonação dos enunciados. Períodos são as frases entre pausas, o largo dos períodos permite diversas prosódias e volumes. King vem da tradição retórica protestante, muito importante até nossos dias. Certamente a mais florida da atualidade, colocando toda sua calidez e paixão que não tem nem na arquitetura nem nas costumes na palavra, com os pastores evangélicos ou Cornel West:

Há inúmeros exemplos mais. Na atualidade, políticos se decantaram por adotar a comunicação própria dos futebolistas — essas quando acabam os partidos onde falam e não dizem nada — ou das estrelas midiáticas. Adotaram sistemas de "reality show", como Bolsonaro gravando suas reações ao assistir à TV ou gravando sua própria imagem ante os jornalistas fazendo banana. Outros adotam imitações grosseiras da retórica passada e se colocam a falar por horas — Chávez — ou até ficar afônicos de tanto gritar sem técnica nenhuma de respiração e recitado. Trump é um caso aparte, ele usa os braços, marca períodos, usa figurações que ficam no público, adjetiva muito — e pobremente — ; ele é como um David de Miguel Ângelo feito de plástico.

Claro, não todos tinham esse estilo de proxêmica. Alguns se limitavam ao recitado, como Franklin Roosevelt.

Stalin tampouco era gestual. Ele tinha uma retórica de professor aborrecido: prosódia regular, períodos algo marcados, perguntas retóricas, repetições, corpo com movimentos suaves e breves, rostro inexpressivo. Cria uma imagem de "realismo" e sinceridade, aparentemente despojado de arte. Até os dias de hoje os funcionários chineses utilizam esses códigos.

Isso nos leva ao ponto final. A proxêmica foi, é, também uma forma de marcar as orientações ideológicas até construir contrastes tão marcados como os de Mussolini e Churchill ou Hitler e Stalin em forma de oposições de ser, existenciais. Não é a ideologia propriamente, senão a forma de marcá-la, representá-la. Para pessoas que estavam de acordo com uma ideologia militarista e entusiasta da violência como associada ao movimento e progresso, à vitalidade; a exageração máxima do repertório clássico era uma boa marca. Para os que estavam com o common sense, o estado das coisas, ficava bem o english humour. Para os que se presentavam como funcionários trabalhando para o bem do povo naturalmente o tom de um comunicado desapaixonado, mas cordial era o adequado.

 

Fonte: Brasil 247/Quora

 

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