Como o poder da mente pode te deixar mais
forte, sem mexer um único músculo
A ideia de que podemos
ficar mais fortes mesmo no conforto do nosso próprio sofá parece boa demais
para ser verdade.
Mas há evidências
reais de que podemos melhorar nosso desempenho físico sem mover um músculo —
apenas com a "força do pensamento".
Pesquisas mostram que
a chamada "imagética motora" — técnica que consiste basicamente da
representação mental de uma atividade física — realmente funciona.
"Sabemos que a
imagética motora tem vários efeitos. É capaz de melhorar nossa precisão, nossa
velocidade, nossa força. Pode realmente melhorar todos esses aspectos dos
nossos movimentos", diz a neurocientista cognitiva Helen O'Shea, da
Universidade de Dublin, na Irlanda.
A técnica é muito
usada por atletas de elite, mas você também pode tentar. Em poucas palavras,
basta imaginar que está fazendo um determinado exercício.
·
Exercício mental
As pesquisas mais
recentes mostram que combinar a imagética motora com a prática física é uma
maneira mais eficiente de se tornar um atleta mais forte ou melhor do que o
treino físico sozinho.
Para praticá-la com
eficácia, devemos visualizar o fluxo e o ritmo de nossos movimentos e, em
esportes direcionados, o resultado que queremos alcançar.
Os benefícios da
visualização têm sido usados em uma variedade de atividades — do rúgbi ao
tênis, e até mesmo nos ajudando a correr mais rápido.
Mas não são apenas as
habilidades que podem ser aprimoradas com o poder do pensamento.
Muitos de nós
gostaríamos de ficar mais fortes, mas levantar peso muitas vezes é um trabalho
árduo para iniciantes.
A boa notícia é que a
imagética motora também pode ser útil neste caso, já que demonstrou melhorar
nossa força muscular.
·
Se imagine mais forte
A ideia de que você
poderia aumentar a força com a mente vem de estudos na década de 1990.
Em um deles,
pesquisadores da Universidade do Estado da Louisiana, nos EUA, pediram a um
grupo de mulheres que imaginassem estender os joelhos e contrair os quadríceps
por cinco segundos — se certificando de que elas, na verdade, não fizessem de
fato nenhuma contração muscular.
Ao final do estudo, a
força do quadríceps delas havia aumentado impressionantes 12,6%.
Em um experimento
semelhante realizado pela BBC para um programa de televisão alguns anos atrás,
constatou-se que a força muscular dos participantes aumentou, em média, cerca
de 8%.
Não porque os músculos
ficaram maiores (isso não aconteceu), mas porque, depois de um mês pensando em
um exercício específico, passaram a usar mais fibras musculares para fazer o
mesmo movimento.
·
O poder da mente
"Quando você olha
para a imagética motora, é uma técnica cognitiva — não espera algo como ganho
de força", diz Helen O'Shea.
"(Mas) quando
começamos a estudar esta área, descobrimos que a imagética motora não apenas
melhora nossa habilidade de movimento, como na verdade altera a maneira como
nosso cérebro funciona e como nossa fisiologia funciona."
É que a imagética
motora não envolve apenas as partes conscientes do nosso cérebro — as partes
envolvidas no pensamento —, mas também as redes motoras responsáveis pela execução da
atividade.
Esta técnica nos
ensina a estimular nossos músculos de uma forma mais específica e eficiente,
para não desperdiçar energia.
"Não é que se
ganhe massa muscular. Porque é por isso que ainda precisamos da prática física,
para a massa de um músculo", explica O'Shea.
"Mas o impulso
para esses músculos a partir dos sinais elétricos (do cérebro) vai ser muito
mais afinado. Estamos usando apenas os músculos que serão chave para esse
movimento, não estamos desperdiçando energia em nenhum outro músculo de que não
precisamos."
Ou seja, os músculos
não ficam maiores, mas você se torna mais eficiente em usá-los.
Foi por isso que as
participantes do estudo da Universidade do Estado da Louisiana foram capazes de
levantar mais peso apenas com a força do pensamento.
"Podemos usar de
fato a imagética motora para preparar nossos sistemas motores para que, quando
viermos a executar fisicamente o movimento, já estejamos sintonizados e prontos
para agir", afirma.
"E isso permite
que sejamos mais certeiros e precisos com nossos movimentos."
Pode parecer pouco
convencional, mas é uma maneira fabulosa de aprimorar nossa resposta e
aperfeiçoar nossa técnica.
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Para o que mais é
usada?
De acordo com a
especialista, a imagética motora é usada em uma série de atividades — muito
além do esporte.
"Nossa pesquisa
nos mostra que é realmente eficaz para músicos, para cirurgiões, e é usada para
reabilitação motora. E há um corpo maior de pesquisas que demonstra isso",
afirma O'Shea.
Esta técnica pode te
ajudar a ficar mais forte, aprimorar um movimento em particular, melhorar a
função muscular e até mesmo a se recuperar após uma lesão.
A especialista
esclarece, no entanto, que, como não envolve movimentos físicos, não ajuda no
nosso nível de condicionamento.
·
Dicas para praticar
Se quisermos obter os
melhores resultados, O'Shea aconselha combinar a visualização com a prática da
atividade física.
"Normalmente,
dizemos para alternar — você pode fazer quatro mentalizações e depois fazer uma
execução física", sugere.
"Precisamos de
movimento físico para nos dar aquele conhecimento sensorial dos efeitos dos
nossos movimentos — não sabemos como vamos sentir o movimento", diz ela.
Isso é importante para
tentar sentir nosso corpo realizar o movimento de uma perspectiva em primeira
pessoa.
"Certifique-se de
manter o mesmo fluxo e ritmo de quando executa fisicamente essa ação",
observa O'Shea.
No melhor dos mundos,
ela recomenda que você pratique as representações mentais no local em que vai
realizar fisicamente a ação.
Se você quer
aperfeiçoar aquele saque de tênis, segurar a raquete ou de fato ir até a quadra
também reforçará os efeitos da imagética motora.
"Mantenha os
olhos abertos. Você pode visualizar a trajetória da bola assim que acertá-la em
sua mente", diz ela.
Sim, você pode atrair
alguns olhares estranhos, mas isso vai te ajudar a visualizar uma representação
mental vívida e precisa do movimento.
"Não é
absolutamente necessário. Mas há evidências de que ajuda", esclarece
O'Shea.
Na série Just One
Thing, da Rádio 4 da BBC, um voluntário foi convidado a tentar
aprimorar suas habilidades de chute a gol praticando a imagética motora por de
15 a 20 minutos durante cinco dias.
Ele fez isso do seu
quintal, com seu uniforme de futebol, imaginando chutar a bola na rede, sem
tocar na bola.
Ele havia dito que a
última vez que marcou um gol foi há 18 anos, e estava um pouco enferrujado. Ao
fim do experimento, ele havia marcado dois gols em duas partidas.
Quer você esteja
aperfeiçoando aquela flexão ou tentando reduzir seu tempo em algum esporte —
por que não tentar?
Você não precisa fazer
sessões de imagética motora de mais 20 minutos, já que o ritmo destes
exercícios mentais também pode ser cansativo.
Fonte: BBC News
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