sábado, 2 de setembro de 2023

BRICS pode criar alternativa viável ao dólar, enquanto moeda dos EUA será destronada

O grupo BRICS pode criar alternativas viáveis ao dólar, e a própria moeda dos EUA deixará de ser dominante no mundo, disse Jeffrey Sachs, economista estadunidense e professor da Universidade de Columbia, em entrevista à Sputnik.

"O BRICS pode criar alternativas viáveis ao dólar. Neste sentido, o dólar será destronado como moeda global excessivamente dominante", disse Sachs. "Isso é inevitável a longo prazo, especialmente tendo em conta a cota-parte decrescente do PIB dos EUA e do comércio americano nos índices mundiais".

O BRICS acelerará a transição para um sistema multi-moeda, o dólar estadunidense ainda terá o seu papel, mas muito menor entre as outras moedas, acrescentou o economista.

·         Expansão do BRICS fortalecerá a OPEP+

Sachs observou também que a recém-anunciada expansão do BRICS fortalecerá a Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados (OPEP+) e dará às nações do grupo mais alavancagem nas negociações no cenário global.

"A expansão do BRICS fortalecerá os membros do BRICS e dará a esses países mais influência nas negociações em fóruns internacionais. Isso também vai fortalecer a OPEP+", disse o interlocutor da agência.

"Os investimentos em minerais serão de grande importância na indústria nas próximas transformações industriais e energéticas. Os países do BRICS desempenharão um papel de liderança na produção e no comércio globais de minerais estratégicos", ressaltou Sachs.

Após a Cúpula do BRICS em Joanesburgo, a África do Sul, Brasil, China, Índia e Rússia, que compõem o bloco, convidaram oficialmente a Arábia Saudita, Argentina, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia e Irã a aderir ao grupo. A entrada plena dos novos países deve começar em 1º de janeiro de 2024.

<><> Ascensão do BRICS tem impacto 'devastador' e quebra os EUA, adverte congressista americana

O desenvolvimento do comércio entre os países do BRICS, sem o uso do dólar, terá um efeito devastador para os Estados Unidos e quebrará o país, afirmou a congressista da Câmara dos Representantes dos EUA, Marjorie Taylor Greene.

"Eles estão fazendo acordos comerciais entre si, dizendo que não se importam com as sanções dos Estados Unidos, venderão e comprarão uns aos outros na sua própria moeda, não no dólar. Essa é uma das coisas mais devastadoras que podem acontecer a todos nós", disse ela a seus eleitores na Geórgia na quinta-feira (31).

O BRICS se tornará uma associação ainda mais "poderosa", resultando em um dólar mais fraco, explicou ela.

"E sabem o que vai acontecer com todos nós? Ficaremos destroçados", sublinhou a deputada republicana.

A congressista Greene salientou ainda a perspectiva de efeitos devastadores de um dólar mais fraco para as gerações futuras de americanos.

"O que acontecerá aos nossos filhos quando o dólar não significar nada, visto que a Rússia, a China e a Índia, com sua enorme população de bilhões de pessoas, terão um poder de compra de suas moedas superior ao do dólar?", acrescentou Greene.

O BRICS atualmente é composto por cinco nações: Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Após a Cúpula do BRICS em Joanesburgo, o bloco convidou oficialmente Arábia Saudita, Argentina, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia e Irã a aderir ao grupo. A entrada plena dos novos países deve começar em 1º de janeiro de 2024.

<><> 'Bidenômica' é o maior erro de Joe Biden, admite mídia americana

O presidente americano Joe Biden espera com a ajuda de seus passos na esfera da economia, que foram chamados de "bidenômica", conseguir a reeleição para um segundo mandato presidencial, escreve o observador do 19FortyFive, John Rossomando.

Entretanto, segundo o autor, na verdade, a "bidenômica" tornou-se o maior erro do atual chefe da Casa Branca, e os eleitores americanos não estão otimistas sobre a situação econômica no país.

O chefe da Casa Branca pode estar esperando a ajuda de "bidenômica" para dar impulso aos seus planos de reeleição para um segundo mandato, mas os membros do Congresso do Partido Democrata nos distritos instáveis não sentem o amor dos eleitores por essa ideia.

Os americanos veem o aumento dos gastos com alimentos, energia e moradia, apesar de um declínio geral da inflação de 9% em junho de 2022 para os atuais 4,9%. Ao mesmo tempo, como o autor lembra, em 2019, a inflação no setor de alimentos dos EUA foi de apenas 1,8%.

O povo dos Estados Unidos não olha com otimismo para a economia de seu país, como é observado no artigo. De fato, apenas 36% dos americanos agora acreditam que Biden está administrando bem a economia, enfatiza o autor.

 

Ø  Brasil está 'anos-luz' à frente da Europa na produção agrícola para parceria com a África

 

O Brasil tenta recuperar o espaço diplomático perdido no continente africano durante os últimos quatro anos sob gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro, o único mandatário brasileiro das últimas duas décadas que nunca visitou nenhum país da região.

Atual presidente, Luiz Inácio Lula da Silva vem tentando resgatar o prestígio nas relações bilaterais com as nações africanas. Alguns avanços já foram registrados, como os acordos de cooperação selados entre Brasil e Angola, país cujo atual presidente é João Lourenço.

Entre eles figura a cooperação agrícola entre ambas as nações. A ideia, segundo Lula, é ajudar a revolução rural no país com o desenvolvimento da atividade no Vale do Cunene, região no sul de Angola prejudicada por uma intensa seca nos últimos anos.

"O Vale do Cunene é parecido com o Vale do São Francisco, no Brasil: uma região historicamente afetada por secas que se transformou num polo produtor de alimentos", declarou.

O presidente brasileiro também disse que está estudando a retomada do Programa Mais Alimentos, criado em 2008 e voltado à estimulação da agricultura familiar nos países africanos.

Durante a 14ª Conferência de Chefes de Estado da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), em São Tomé e Príncipe, país da África Central, em 27 de agosto, Lula afirmou que o continente tem elementos para se tornar uma potência no setor de cultivo de alimentos.

"A África tem tudo para se tornar uma potência agrícola, com capacidade para alimentar seu povo e o mundo. O Brasil continuará a ser parceiro nessa empreitada. Assim como no passado, uma versão do Mais Alimentos para a África deve ser retomada como mais uma vertente da cooperação Sul-Sul brasileira", apontou.

As medidas também ganham contornos geopolíticos, já que nações da Europa vêm adotando o chamado protecionismo verde, alvo de constantes críticas do chefe do Executivo do Brasil.

Eduardo Assad, professor do Centro de Estudos do Agronegócio da Fundação Getulio Vargas (FGV Agro) e diretor da consultoria Fauna, diz que esse protecionismo tem um "viés impressionante".

"Se olharmos o que os países europeus fizeram na África, eles não deveriam nem estar falando nada com relação ao protecionismo verde e à produção sustentável. O que foi feito na colonização belga, francesa e inglesa na África foi uma espécie de arrasa-quarteirão", critica. "Agora, de qualquer maneira, não assusta, porque nós estamos alguns anos-luz à frente deles [europeus] em termos de escala. A agricultura ABC [plano setorial para adaptação à mudança do clima e à baixa emissão de carbono] já funciona há dez anos, as condições de fazer um tipo de agricultura como a ABC na África são enormes e nos dão uma diferença, uma referência boa com relação aos países africanos", aponta.

Para contornar a questão, o pesquisador sugere que seja aplicado o princípio de reciprocidade da diplomacia. Ou seja: se houver protecionismo, então não se compra determinado produto. "É preciso começar a falar mais duro com esses países. Nossos diplomatas não podem entrar em uma mesa de negociação com punhos de seda, porque ali só se entra com luva de boxe", avalia.

Ele afirma, porém, que as relações bilaterais com países africanos só vão funcionar de acordo com as demandas de cada um, isto é, o que eles querem e precisam.

"A dieta deles é um pouco diferente da nossa. Aliás, é bem diferente da nossa. Então, a gente precisaria levar para lá, por exemplo, a ideia de cesta básica e começar a trabalhar com a produção de feijão. Já tem o niebê, que é o feijão-de-corda, muita gente come isso no continente inteiro, além de mandioca, de frutas que existem na região. Temos uma tecnologia muito boa na produção desses alimentos, que a gente pode utilizar lá", indica.

Assad se diz reticente com a exportação da produção de soja, contudo. Isso porque a estrutura fundiária e as condições de produção são diferentes. "É preciso incentivar o consumo de produtos que eles precisam, e nisso aí a produção daqueles produtos da cesta básica [brasileira] é muito boa."

Guilherme Ziebell, professor de relações internacionais na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), endossa o colega e lembra que o Brasil "é um país com grande expertise e significativo desenvolvimento tecnológico no que diz respeito ao setor agrícola".

"A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária [Embrapa] é, nesse contexto, um ator central, porquanto é responsável por grande parte das inovações e desenvolvimentos no setor, os quais têm permitido, historicamente, o aprimoramento crescente da produção agrícola brasileira, aumentando tanto sua qualidade quanto sua produtividade (sem necessidade de expansão da fronteira agrícola)."

Nesse sentido, prossegue, as parcerias do Brasil com os países africanos podem contribuir de forma ampla, tanto pela experiência brasileira em termos gerais (sobretudo em regiões áridas, já que o continente africano possui grande diversidade de climas e biomas) quanto pela possibilidade de cooperação no desenvolvimento de produtos específicos (como algodão, cacau e outros) e de ações conjuntas (por exemplo em trabalhos de preservação de solos).

Ambos os pesquisadores concordam, também, que as relações bilaterais entre Brasil e países africanos estão em reconstrução após a sua desestruturação e descaracterização — operadas de forma "voluntária e consciente", como nota Ziebell — principalmente a partir de 2018.

"O Brasil perdeu espaço e prestígio no continente, e parte importante da cooperação com os países africanos foi encerrada (ou muito fragilizada). No contexto atual, a partir do início do governo Lula, há um movimento no sentido de restabelecer esses laços, o qual, todavia, seguramente enfrentará um longo percurso, tanto pelo retrocesso vivido ao longo do período anterior quanto porque, ao longo desse período, outros atores internacionais incrementaram seus laços com os atores africanos, aumentando significativamente a competição que será enfrentada pelo Brasil nessa busca de retomar sua presença no continente", finaliza o professor da UFRGS.

<><> Apoio brasileiro pode aumentar o peso da moeda argentina?

Em meio à grave crise argentina, a moeda nacional tem sido um fiel retrato da instabilidade econômica. Dada a importância dos laços bilaterais, qual deve ser o impacto do apoio do Brasil ao país vizinho na prática?

A instabilidade da economia argentina e de sua moeda tem levado casas de câmbio e outros estabelecimentos de países vizinhos a recusarem ou reduzirem a aceitação do peso argentino. No comércio ou no setor de serviços de cidades do Brasil, do Paraguai e do Uruguai, a moeda argentina é cada vez menos bem-vinda, devido à dificuldade de trocá-la por outras moedas.

Embora o problema seja mais visível nas regiões de fronteira, seu impacto pode ser verificado também em outras partes. Em uma casa de câmbio do Rio de Janeiro, por exemplo, o fluxo de entrada do peso tem sido muito maior do que a saída, já que a procura por essa moeda não é mais a mesma.

"Tem dias que não consigo comprar, porque se não sai, não adianta ficar só entrando peso, que vou ter que me desfazer", afirma o diretor da Casa Aliança Câmbio e Turismo, Carlos Dalbone.

O operador conta, em declarações à Sputnik Brasil, que a saída do peso já vinha abalada desde a pandemia, já que o volume de turistas brasileiros na Argentina foi reduzido. E, com a volatilidade atual, tem sido muito difícil operar com essa moeda.

"A volatilidade dificulta operar com ele, porque não pode ficar estocado. Porque corre risco de perda, e me parece também que o mercado lá, não sei exatamente como está, mas parece que tem um mercado paralelo muito forte, e não conseguimos atender nesse sentido. Vemos na Internet que o peso lá está 350 no oficial [350 pesos por dólar], mas, pelo mercado informal, acabam pagando mais, e o nosso preço de venda aqui não fica interessante."

A volatilidade limita a aceitação do peso em diferentes esferas, conforme explica o professor de relações internacionais da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) Fábio Pereira de Andrade, especialista em economia e administração pública.

"Na prática, ela pode diminuir os ganhos de exportadores para a Argentina, bem como ampliar os custos de empresas que operam na Argentina e dependem de importação", diz Andrade em entrevista à Sputnik Brasil.

Apesar da crise, a aceitação ainda ocorre, inclusive no Brasil. Porém, segundo o professor, é baixa e custosa. Pois, nos casos em que ela ocorre, está condicionada a contratos que fixam a taxa cambial do peso.

"É importante destacar que a aceitação se deve ao elevado volume de negociações entre Brasil e Argentina, uma vez que a volatilidade da moeda e as incertezas da vida política na Argentina contribuem apenas para diminuir a aceitação do peso", ressalta.

Nas últimas semanas, o governo brasileiro tem conversado com autoridades argentinas a fim de encontrar meios para reduzir as dificuldades nas trocas comerciais entre os dois países. Recentemente, o ministro argentino da Economia, Sergio Massa, se reuniu com seu homólogo brasileiro, Fernando Haddad, e com o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, em Brasília, para tratar de um impasse em torno de garantias de exportação.

O encontro, realizado na última segunda-feira (28), terminou com um acordo envolvendo o Banco de Desenvolvimento da América Latina e Caribe (CAF), que se comprometeu a analisar um plano de US$ 500 milhões (R$ 2,47 bilhões) a US$ 600 milhões (R$ 2,96 bilhões) em garantias para a Argentina, dados os baixos níveis das reservas cambiais do país.

Me reuni, no Brasil, com o presidente Lula e o ministro da Fazenda Fernando Haddad, com quem dialoguei sobre o enorme passo que demos internacionalmente com o convite para que a Argentina integre o grupo BRICS.

Para especialistas, a reunião na capital brasileira também serviu para marcar o apoio do Brasil à Argentina neste período pré-eleição presidencial, na qual Massa será o candidato do atual governo argentino em uma corrida apertada contra o direitista Javier Milei, que lidera as pesquisas de intenção de voto.

Questionado sobre o impacto do apoio do presidente Lula ao governo de Alberto Fernández, Fábio Pereira de Andrade disse que uma aceitação maior do peso no Brasil dependerá mais do volume de trocas entre os dois países na prática.

"O apoio em si não altera nada, mas a ampliação do volume comercial entre os dois países pode criar um cenário em que a ampliação da aceitação seja inevitável."

 

Fonte: Sputnik Brasil

 

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