Ministros pedem que Lula acelere cargos para o Centrão
Ministros do núcleo duro do governo aconselharam
Lula a não “esticar a corda” com o Centrão na reforma ministerial que o
presidente planeja para abrir novos espaços ao grupo no governo.
Em conversas reservadas, ministros alertaram Lula
que a demora em decidir os ministérios para Republicanos e PP pode atrapalhar
ao governo em votações, sobretudo na Câmara dos Deputados.
Como noticiou a coluna, o presidente da Câmara,
Arthur Lira (PP-AL), avisou a líderes aliados que deve segurar a votação do
novo arcabouço fiscal até que Lula dê sinalizações mais claras sobre a reforma
ministerial.
O novo arcabouço já passou por votação na Câmara e
no Senado no primeiro semestre, mas precisa passar por uma nova análise dos
deputados, em razão das mudanças no texto feitas pelos senadores.
O Palácio do Planalto queria que o projeto fosse
aprovado definitivamente pelo Congresso Nacional até 11 de agosto, data em que
Lula marcou a cerimônia de lançamento do Novo PAC.
Como vem noticiando a coluna, para tentar aumentar
sua base na Câmara, Lula decidiu dar dois novos ministérios ao PP e ao
Republicanos, siglas do Centrão que apoiaram Jair Bolsonaro nas eleições de
2022.
O petista já definiu até os nomes dos futuros
ministros: os deputados Silvio Costa Filho (Republicanos-PE) e André Fufuca
(PP-AM). Até agora, porém, Lula não bateu o martelo sobre que as pastas cada um
deles assumirá.
De acordo com ministros palacianos, o presidente
ainda não teria definido os espaços do Centrão porque, de fato, ainda não
decidiu o desenho ministerial.
Diante dos recados de Lira e do Centrão,
integrantes da articulação política do governo tentam convencer Lula a bater o
martelo das trocas ministeriais até a sexta-feira (4/8), antes de o petista
viajar.
Como mostrou a coluna, o presidente da República
deve passar a segunda semana de agosto fora de Brasília cumprindo agendas nos
estados do Amazonas, do Pará e do Rio de Janeiro.
·
Centrão ficará indócil se esperar uma semana por
cargos
A possibilidade de o presidente Luiz Inácio Lula da
Silva adiar para a semana do dia 14 a definição das pastas que serão ocupadas
pelo Centrão em seu governo tem causado apreensão em integrantes da equipe de
articulação política do Palácio do Planalto. O receio é que a relação com a Câmara
seja tensionada por causa da demora.
Lula viaja para o Amazonas na manhã de quinta-feira
e deve retornar a Brasília apenas no dia 11. Parte dos auxiliares acredita que
o presidente só baterá o martelo sobre o novo desenho da Esplanada na volta.
Nesta terça-feira, o líder do PT na Câmara, Zeca
Dirceu (PR), admitiu que a falta de um acordo sobre a reforma ministerial afeta
a votação do arcabouço fiscal. A entrada do Centrão no governo com a indicação
de nomes do PP e do Republicanos no ministério começou a ser discutida no dia 5
de julho, em meio à supersemana de votações de fim de semestre.
Na ocasião, os líderes do PP, Republicanos,
Cidadania, União, Cidadania e PL estiveram no Planalto para se reunir com o
ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, e com o líder do
governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE). Foram apresentados os nomes dos
deputados André Fufuca (PP-MA) e Silvio Costa Filho (Republicanos-PE) para os
ministérios do Desenvolvimento Social e Esporte, respectivamente. Também houve
discussão sobre o desejo do grupo do assumir o comando da Caixa e da Funasa.
De acordo com integrantes do governo, os líderes
dos partidos queriam que as trocas dos postos fossem definidas antes das
votações previstas para aquela semana. Ao saber da concordância de PP e
Republicanos de ingressar no governo, Lula, ainda segundo os auxiliares, teria
ligado para o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e dito que estava
feliz com a decisão do bloco. Na conversa, afirmou, porém, que os deputados
deveriam votar primeiro os projetos que estavam em pauta para que depois do
recesso de julho as mudanças fossem concretizadas.
Depois disso, naquela semana, a Câmara, com adesão
em peso do Centrão, aprovou a reforma tributária e as mudanças nas regras de
funcionamento do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf), órgão
colegiado que julga processos tributários. Já o Senado votou o novo arcabouço
fiscal.
Ou seja, o bloco de deputados deu um voto de
confiança a Lula e agora espera que o presidente cumpra a parte dele. O petista
concorda com a entrada do Centrão do governo, mas ainda não definiu quais
ministérios serão cedidos ao grupo.
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Janja e ministérios do Planalto
Apesar de mostrarem apreensão e torcerem por uma definição rápida, os
integrantes da equipe de articulação política do governo admitem de forma
resignada que o martelo será batido no tempo de Lula. Como já aconteceu na
troca de Daniela Carneiro por Celso Sabino no Ministério do Turismo, o
presidente faz questão de ditar o ritmo das alterações que faz em sua equipe.
Lula viajará a Parintins (AM) na manhã de
sexta-feira para anunciar a retomada do programa Luz para Todos e o lançamento
do Programa de Descarbonização da Amazônia. Em seguida, ele deve passar o fim
de semana descansando em Alter do Chão (PA).
Na segunda-feira, o presidente vai a Santarém (PA)
inaugurar linhas de transmissão por fibra óptica . Na terça-feira e na quarta,
ele participa da Cúpula dos Países Amazônicos, em Belém. Na quinta-feira, dia
10, vai ao Rio para participar do anúncio da expansão do BRT na cidade. Na
sexta-feira, dia 11, o governo lançará o novo PAC também na capital fluminense.
Ø Centrão quer derrubar ministra do Esporte usando e-mail
Atual ministra do Esporte de Lula, Ana Moser atuou
contra a realização das Olímpiadas de 2016 no Brasil, evento que foi uma das
principais bandeiras do petista em seus primeiros mandatos.
Em 2009, a então atleta Ana Moser enviou um e-mail
para diversas autoridades do Comitê Olímpico avisando que o “Brasil não estava
pronto” para organizar as Olimpíadas.
“O Rio de
Janeiro e o Brasil não estão prontos para organizar os Jogos Olímpicos de 2016.
A maioria da população não concorda com essa aventura de poucos, cuja conta
será paga por todos os brasileiros. Isso porque, como aconteceu nos Jogos
Pan-Americanos de 2007, o governo federal irá pagar ao invés de investir no
esporte para todos”, afirmou Moser no e-mail escrito em inglês e cuja
autenticidade foi confirmada pela assessoria da ministra.
Na mensagem, ela ainda pedia para que não votassem
no Brasil como sede dos jogos. “Não deixem alguns poucos milionários do Comitê
Olímpico Brasileiro (COB) mais ricos, enquanto a população não fica com nada”,
completou.
Quatorze anos depois, o e-mail passou a ser usado
por integrantes do Centrão, nos bastidores, para tentar derrubar Ana Moser do
Ministério do Esporte. O comando da pasta é cobiçado pelo Republicanos.
Lula, porém, resiste em tirar Moser do governo.
Para isso, uma das soluções avaliadas pelo presidente, como noticiou a coluna,
seria criar um novo cargo para realocar a ministra: o de autoridade olímpica.
Ø Presidente da Caixa vira alvo do Centrão por cargo
Ameaçada pela iminente entrada no governo de PP e
Republicanos, a presidente da Caixa, Rita Serrano, traçou uma estratégia para
se segurar no cargo. Nas últimas semanas, ela ampliou o número de agendas com
ministros, acelerou entregas e deu prioridade à comunicação do banco. Em outra
frente, porém, tem recebido respaldo de sindicatos para permanecer.
Nos últimos dias, ela esteve com Alexandre Padilha
(Relações Institucionais), Márcio Macêdo (Secretaria-Geral) e Maria Fernanda
Ramos Coelho, ex-presidente do banco e secretária-executiva da Secretaria-Geral
da Presidência.
A Padilha, ministro responsável por apresentar ao
presidente Luiz Inácio Lula da Silva opções de troca no primeiro escalão,
Serrano apresentou um balanço dos trabalhos. Já com Macêdo, tratou de uma
parceria de financiamento para catadores.
Nessas conversas, ela procura tratar de ações da
Caixa e mostrar os resultados do próprio trabalho. Embora evite tornar sua
eventual substituição a pauta principal, Serrano tem feito comentários das
pressões sofridas.
Neste contexto, ela determinou que a Caixa abrisse
todas as agências uma hora mais cedo em 21 de julho para o Dia do Desenrola,
mutirão de renegociação de dívidas. Ela foi até uma agência em Brasília para
acompanhar os atendimentos e divulgar que, em três dias, a Caixa atendeu 22 mil
pessoas e renegociou R$ 10 milhões em dívidas no programa do Ministério da
Fazenda.
No dia 19, Serrano participou de uma reunião com
outros três bancos públicos para ampliar o compartilhamento da rede de
atendimento da Caixa. Estiveram presentes os presidentes do Banco do Brasil,
Tarciana Medeiros; do Banco do Nordeste, Paulo Câmara; e do Basa, Luiz Lessa.
Ela tratou de convênios para pagamentos e recebimentos e construção de
datacenter.
Na última quinta-feira, quando esteve com Lula no
Palácio do Alvorada, a presidente da Caixa apresentou ao presidente um balanço
da sua gestão. A presidente levou a Lula os números de mais de 322 mil
propostas recebidas para o novo Minha Casa, Minha Vida, R$ 448,5 milhões em
dívidas liquidadas do Desenrola Brasil e cerca de R$ 10 bilhões em contratações
do Financiamento à Infraestrutura e ao Saneamento (Finisa) para estados e
municípios.
Durante essa conversa, integrantes do governo
apontam que Lula teria sinalizado a Serrano um prazo de poucos dias para a
permanência dela no cargo. Auxiliares do presidente, porém, negam que haja
definição a respeito da possível saída. Após o encontro com Lula, Serrano
afirmou que permanece no posto:
— Como sou muito teimosa, vocês fiquem tranquilos:
sou teimosa, estou aqui, vou continuar trabalhando muito.
Integrantes da Caixa ouvidos pelo GLOBO afirmam que
Serrano tem mantido a postura de “fincar o pé” frente à possibilidade de sair.
No Palácio do Planalto, a aposta é que a saída dela é a mais adiantada das
substituições que ocorrerão no âmbito da reforma ministerial.
A avaliação de integrantes do governo é que Serrano
não tem quem a defenda frente à cobiça do PP pelo cargo ou aliados de peso que
sustentem seu nome junto a Lula.
Não bastasse isso, a gestão de Rita Serrano também
sofre críticas internas no Palácio. A principal delas ocorreu quando desagradou
Lula ao anunciar, sem combinar com o Planalto, a cobrança de taxa nas operações
para Pix de empresas, algo que já é prática em outros bancos. Diante da
repercussão negativa da medida nas redes, Lula mandou o banco recuar.
Frente ao desgaste, a presidente da Caixa tem
contado com apoio de sindicatos. O Sindicato dos Bancários do ABC, entidade da
qual Serrano é ex-presidente, divulgou nota afirmando que não aceitaria sua
substituição. A Federação dos Trabalhadores do Ramo Financeiro dos Estados do Rio
de Janeiro e Espírito Santo (Fetraf-RJ/ES) também publicou manifesto destacando
a trajetória de Serrano — ela é funcionária desde 1989.
Em 13 de julho, durante cerimônia de assinatura da
medida provisória que recriou o Minha Casa, Minha Vida no Palácio do Planalto,
servidores do banco repetiram “Fica Rita” na presença do presidente Lula.
A ex-deputada Margarete Coelho (PP-PI) e o
ex-ministro Gilberto Occhi, ambos aliados do presidente da Câmara, Arthur Lira
(PP-AL), são os favoritos para o posto. Atual diretora de administração e
finanças do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae),
Margarete já atuou como advogada de Lira e também foi vice-governadora do Piauí
na gestão de Wellington Dias (PT), hoje ministro do Desenvolvimento Social.
Occhi foi ministro das Cidades e da Integração
Nacional no governo de Dilma Rousseff, por indicação do PP. Ele deixou a gestão
quando o partido aderiu ao impeachment e, posteriormente, já na Presidência de
Michel Temer, esteve à frente da própria Caixa e do Ministério da Saúde.
Fonte: Metrópoles/O Globo
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