Entenda em quatro pontos as acusações contra Zambelli no caso
envolvendo hacker da Vaza Jato
A Polícia
Federal (PF) cumpriu, nesta quarta-feira (2), mandados de busca e apreensão
contra a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP), em uma operação que investiga invasões ao sistema do Poder
Judiciário e a criação de documentos falsos.
O mandado determinou a apreensão de armas,
munições, computadores, tablets, celulares e o passaporte de Zambelli, por
exemplo. Também foi
determinado o afastamento de sigilo bancário da deputada no período entre junho
do ano passado e de 2023.
A operação foi autorizada pelo ministro do Supremo
Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. A decisão
de Moraes foi assinada em 1º de agosto e estava em sigilo. Depois das diligências,
o ministro tornou público o documento.
>>>> Entenda
abaixo, em quatro pontos, a investigação e as acusações contra Zambelli
·
1 – O foco da
investigação
A chamada Operação 3FA, da Polícia Federal (PF),
teve como principal foco esclarecer uma invasão aos sistemas do Conselho
Nacional de Justiça (CNJ) e a inserção de documentos e alvarás de soltura
falsos no Banco Nacional de Mandados de Prisão (BNMP).
Os crimes aconteceram entre os dias 4 e 6 de
janeiro deste ano, quando foi inserido inicialmente um mandado de prisão contra
o ministro Alexandre de Moraes e, em seguida, dez ordens de soltura favorecendo
uma lista de pessoas presas por diversos motivos.
O caso inicialmente tramitou na Justiça Federal, na
15ª Vara de Brasília, mas passou para a competência do STF após a suspeita de
envolvimento de Zambelli, que tem foro privilegiado, e porque os fatos podem
ter relação com o inquérito 4.781, que apura atos de 8 de janeiro e o uso de
fake news contra o STF.
>>>> 2 – Como
os crimes aconteceram
- Segundo os investigadores, entre setembro e dezembro de 2022, o
hacker Walter Delgatti Neto, a pedido da deputada Carla Zambelli, invadiu
os sistemas do CNJ com o objetivo de expor vulnerabilidades dos sistemas
do Judiciário como forma de desacreditar o sistema das urnas eletrônicas
gerenciado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE);
- Para o crime, os investigadores suspeitam que Delgatti recebeu
valores em espécie em quantidade ainda não identificada. Também foram
identificadas transferências via Pix no valor de R$ 13,5 mil. As
transferências foram feitas por Renan Cesar Silva Goulart e Jean Hernani
Guimarães Vilela, servidores ligados ao gabinete da deputada e de seu
irmão, que é deputado estadual em São Paulo.
- No dia 4 de janeiro de 2023, em Araraquara, supostamente a pedido
de Zambelli, o hacker incluiu um mandado de prisão contra o ministro
Alexandre de Moraes no BNMP após invadir os sistemas do CNJ.
- Ainda no dia 4, a partir de local ainda não identificado e por uma
pessoa não identificada, com o mesmo acesso utilizado por Delgatti, foram
inseridos alvarás de soltura em favor de dez pessoas presas por diversos
motivos. Em depoimento à PF, Delgatti apontou outro hacker, Thiago Eliezer
Martins Santos, como o provável autor desta ação, mas não relacionou os
alvarás de soltura à deputada Zambelli.
>>>> 3 – As
acusações contra Zambelli
Zambelli foi puxada para dentro da investigação no
final de junho, quando, no dia 27, o hacker Walter Delgatti prestou depoimento
à Polícia Federal (PF). Naquele momento, o caso ainda estava sob a competência
da Justiça Federal em Brasília.
No depoimento, Delgatti disse que a deputada Carla
Zambelli se aproximou em setembro de 2022 porque queria que ele invadisse uma
urna eletrônica ou qualquer sistema da Justiça brasileira para demonstrar a
fragilidade do sistema eletrônico diante da aproximação das eleições gerais de
outubro.
Ele relatou que o pedido de Zambelli foi feito em
um encontro em um posto de combustível na rodovia dos Bandeirantes, em São
Paulo.
“Walter Delgatti Neto aduziu que não obteve sucesso
ao tentar invadir o sistema do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) porque o
código-fonte da urna eletrônica estaria hospedado em um computador offiline”,
relata a decisão de Alexandre de Moraes que autorizou a operação desta
quarta-feira (2).
O hacker também disse à PF que Zambelli lhe pediu
para obter conversas “comprometedoras” do ministro Alexandre de Moraes
invadindo seu celular e e-mail, caso não conseguisse invadir a urna eletrônica.
Zambelli teria dito ainda que, caso o hacker
conseguisse invadir os sistemas, “teria emprego garantido, pois estaria
salvando a democracia, o país, a liberdade”.
O hacker ainda afirmou que foi a deputada a autora
do mandado de prisão contra Moraes inserido ilegalmente no Banco Nacional, e
que foi ela quem vazou para um veículo de imprensa “a minuta e o comprovante”
do mandado.
Os extratos da conta do hacker obtidos pela PF
apontaram para ao menos R$ 13,5 mil recebidos nos meses posteriores e
anteriores à invasão. R$ 10,5 mil enviados por Pix em três transferências por
Renan Cesar Silva Goulart, e R$ 3 mil em uma única transferência de Jean
Hernani Guimarães Vilella.
Em seu depoimento, Delgatti declarou apenas ter
recebido a transferência de R$ 3 mil e disse que o pagamento era para “ficar à
disposição” da deputada.
O hacker
disse que chegou a se reunir com Zambelli e o ex-presidente Jair Bolsonaro
(PL), no Palácio do Alvorada, em agosto do ano passado. Delgatti diz que Bolsonaro o questionou se seria possível invadir uma
urna eletrônica. No entanto, ele alega que apenas Zambelli teve envolvimento na
invasão ao sistema do CNJ.
·
4 – O que Zambelli alega
Na manhã desta quarta-feira (2), Zambelli foi ao
Salão Verde da Câmara dos Deputados dar sua versão sobre os fatos investigados.
Ela confirmou os pagamentos feitos para Walter
Delgatti Neto, mas alegou que eles foram feitos por serviços prestados em seu
site pessoal.
“Os pagamentos que houve foram sempre relacionados
ao site, para ele fazer melhorias no site, fazer firewall no site e ligar as
minhas redes sociais ao site, que ele próprio disse que não conseguiu realizar
essa tarefa. Inclusive, deveria ter tido até a devolução [do dinheiro]”, disse
Zambelli.
De acordo com a parlamentar, R$ 3 mil de sua cota
para comunicação foram usados para fazer os pagamentos a Delgatti. O restante,
que soma R$ 13,5 mil, “saiu de seu próprio bolso”.
Ela também declarou que “não fraudaria as eleições
para que o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva (PT) vencesse o pleito”.
“Ele [Walter Delgatti] queria conhecer o presidente
[Jair
Bolsonaro] e o presidente quis perguntar para ele se as
urnas eletrônicas eram confiáveis, ao que ele disse que não. Eu não fraudaria
as eleições para o Lula ganhar, e nem seria tão barato assim”, afirmou
Zambelli.
Sobre o encontro com Bolsonaro, a deputada ainda
disse: “A conversa foi privada, mas a pergunta que o presidente fez foi se as
urnas eram confiáveis, e ele respondeu que nenhum sistema tecnológico é
confiável. A partir dali não houve mais qualquer contato com o presidente
Bolsonaro.”
“Eu pagaria R$ 3 mil para me arriscar dessa forma
para fazer uma brincadeira de mal gosto? Eu acho que não participaria de uma
piada de mal gosto com o Alexandre de Moraes. Eu sei o que pode acontecer com
um deputado que brinca com ministros do Supremo Tribunal Federal, haja visto o
nosso amigo Daniel Silveira, que está preso em Bangu”, concluiu a parlamentar.
A CNN entrou
em contato com o ex-presidente Jair Bolsonaro e a defesa de Walter Delgatti e
aguarda retorno.
Fonte: CNN Brasil
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