quarta-feira, 5 de julho de 2023

Ricardo Neggo Tom: O suicídio de André Valadão

Observando atentamente a postura e as falas do empresário evangélico André Valadão, percebe-se que ele trava uma luta desesperada com a sexualidade que precisa esconder dentro da Bíblia que ele costuma utilizar para atacar pessoas que não precisam omitir da sociedade a sua verdadeira orientação sexual. Observando mais atentamente o comportamento de outros ditos heterossexuais evangélicos, e não evangélicos também, é possível identificar a mesma luta contra a sexualidade reprimida. E eu não estou aqui apenas repetindo uma narrativa com relação a homossexuais enrustidos, que atacam os assumidos para matar o desejo que têm dentro de si. Eu quero propor uma reflexão sobre a morte. A física e a existencial. Mas, como assim, Ricardo?

Como diria, Jack, o estripador, vamos por partes. Comecemos pela narrativa construída e disseminada por boa parte dos evangélicos, de que eles são perseguidos por pregarem a verdade de Jesus Cristo e que isso já estaria previsto na Bíblia. A mesma Bíblia que destina trechos de alguns livros para classificar a relação entre pessoas do mesmo sexo como “abominável” e condenar os homossexuais ao fogo do inferno. E é com base nesses trechos, que André Valadão estruturou a sua bandeira “teo-ideológica” e pretende, ao mesmo tempo que mascarar a sua sexualidade apócrifa, se transformar em um grande perseguido por defender a palavra de Deus. Mesmo que ele tenha que sugerir a morte de homossexuais ou o próprio suicídio, como fez durante um culto que celebrava em uma de suas empresas nos EUA, e ainda foi aplaudido pelos fiéis à ele presentes ao local. 

Após a “perseguição”, que pode incluir até um indiciamento criminal, afinal de contas, fazer uma convocação pública para o assassinato de um grupo de pessoas é crime - ou, pelo menos, deveria ser - essa cantilena liturgia anti homossexualidade vai alegar que a esquerda e o bicho papão do comunismo, querem proibir o cristianismo no Brasil, porque querem destruir a família tradicional, a moral, os valores, a ingenuidade de “chapeuzinho vermelho” e todo o blá blá blá fundamentalista que já conhecemos. Vale lembrar a declaração dada pelo também evangélico, Deltan Dallagnol, no programa “Roda Viva”, dizendo que a Bíblia determina a submissão da mulher ao homem e advertindo a quem contesta, que isso era uma determinação de Deus, você concordando ou não. Na ocasião, Deltan estava se posicionando contra o PL das fake News, que, segundo ele, abria uma brecha para uma “censura” a pastores que pregam essa orientação e restringiriam a leitura desses textos. Um raciocínio lisergicamente bíblico.

Ex positis, teríamos o cenário ideal para a incitação de uma guerra civil-religiosa, que mobilizaria a muitos desavisados, alienados e mal-intencionados pela “fé”, com a finalidade de desestabilizar a sociedade e o atual governo, que é manifestamente contrário a tal pensamento, em nome da defesa da palavra de um deus que só vive e reina no inferno dos corações de milhões de Valadões e Deltans, que, infelizmente, dividem conosco as suas amargas e dúbias existências neste planeta. Eu já escrevi aqui há um tempo, que Jesus Cristo é o cara mais sacaneado da história da humanidade. E André Valadão não me deixa mentir, quando se apresenta como mais um de seus discípulos. Nunca que Jesus andaria com ele ou o escolheria para pregar o seu evangelho. Nunca!

O mesmo não podemos dizer do deputado Marco Feliciano, outro empresário da fé, que subiu à tribuna da câmara para defender o seu sócio no ramo da alienação religiosa, e ratificar a intolerância que os textos bíblicos estimulam contra os homossexuais, porque foram escritos por homens que pensavam como eles dois e também atribuíam à Deus os seus preconceitos. A diferença é que esses homens viveram há dois mil anos atrás, numa época em que já existiam homossexuais, mas que a civilização talvez não estivesse suficientemente amadurecida e humanizada para compreender certos aspectos pessoais da natureza humana. E Feliciano usou do mesmo argumento de Deltan Dallagnol, defendendo que, dentro das igrejas, os pastores podem orientar a seus fiéis como bem entenderem, desde que encontrem respaldo bíblico para as suas falas. Ele também disse que a esquerda e o comunismo querem destruir os valores cristãos da sociedade. É que a liberdade de expressão em nome do deus deles se sobrepõe às leis, ao direito à vida de pessoas LGBTS e aos ensinamentos do próprio Jesus Cristo, que, pelo que se sabe através de suas inserções na Bíblia, não se preocupava com a orientação sexual das pessoas.

O problema se agrava porque no livro de Levítico 20:13, está escrito que “Se também um homem se deitar com outro homem, como se fosse mulher, ambos praticaram coisa abominável; serão mortos; o seu sangue cairá sobre eles. ” E como punir judicialmente os simpatizantes e praticantes desse texto bíblico, se a Bíblia é, para muitos, a palavra de Deus? Mesmo que Deus nunca tenha escrito pessoalmente nenhuma linha do livro, e tudo o que nele está contido é apresentado como inspiração “divina”? E aqui eu sugiro outra reflexão. Que certeza nós temos de que esses homens estavam realmente inspirados por Deus? Sobretudo, quando aprendemos que Deus é amor, misericórdia e perdão. E Jesus Cristo quando esteve entre nós, manifestou esse amor, essa misericórdia e esse perdão. Seria a Bíblia um livro controverso? Vale, no mínimo, uma análise a respeito. Voltando a André Valadão e a morte sugerida de homossexuais, chama a atenção o fato de ele ter começado a intensificar esse discurso de ódio contra os homossexuais, após o jornalista e deepfaker, Bruno Sartori, revelar em seu Twitter que teve os dois tiveram um affair. Sartori também revelou que sabia de outros casos homo afetivos de André Valadão e que se arrependeu de um dia ter ficado com o pastor.

Chegando na morte, a física costuma ser a única saída encontrada por muitos homossexuais por não se aceitarem, devido ao preconceito que sofrem, inclusive, dentro da própria família. A existencial eles experimentam em vida diariamente, quando são atingidos por olhares de reprovação, gestos de repulsa e por palavras de ódio revestidas de divindade suprema, como as proferidas por André Valadão, que, muitas vezes, os definem como uma “aberração” e dignos de irem para o inferno. Um sujeito que vive por um fio entre essas duas mortes. A existencial, ele vivencia ao se travestir de pastor e incitar a intolerância contra outros seres humanos. A física, ele poderá experimentar, por sugestão própria e pelas mãos de algum fiel obediente de sua seita, no dia em que assumir a sua verdadeira identidade ou quando não houver mais dúvidas quanto à sua sexualidade auto vigiada. Que morra como preferir. O que André Valadão não pode continuar fazendo é incitar crimes contra uma parte da humanidade e seguir impune. Afinal, Deus é amor, mas o Estado, que é laico, é responsável por impor justiça aos criminosos aqui na terra.

 

Ø  Quem é o pastor André Valadão, que pregou morte às pessoas LGBT+

 

O nome do pastor André Valadão voltou a figurar nos principais assuntos desta segunda-feira (3), mas não foi por um bom motivo: mais uma vez, o líder fundamentalista usou o culto para propagar ódio contra as pessoas LGBT+. No entanto, desta vez ele deu um passo adiante e convocou os fiéis a matarem pessoas lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais.

"A porta que se abriu para o casamento homossexual, homoafetivo, não é um mero casamento. 'Mas eles se amam, Jorjão com Jorjão, Therezinha com Therezinha [...] ai, não, o que vale é toda forma de amor. Deixa casar, deixa viver'. Hoje, você vê nas Paradas homens e mulheres nuas, com seus órgãos genitais completamente expostos, dançando na frente de crianças. Aí você horroriza", disse o pastor.

Após atacar as Paradas LGBT, André Valadão convoca as pessoas a matarem as LGBT. "Essa porta foi aberta quando nós tratamos como normal aquilo que a Bíblia já condena. Agora é hora de tomarmos as rédeas de volta e dizer: 'não, pode parar, reseta'. Aí Deus fala: 'não posso mais, já meti esse arco-íris, se eu pudesse, eu matava tudo e começava tudo de novo. Mas já prometi para mim mesmo que não posso, então agora está com vocês'. Você não entendeu o que eu disse: agora está com você. Vou repetir: está com você".

"Sacode os quatro do teu lado e fala: 'vamos pra cima. Eu e a minha casa serviremos ao senhor'. Aí, por causa de uma porta que parecia bonitinha, um casal LGBT casando, agora você tem drag queen dentro da sala de aula", esbravejou André Valadão.

·         Quem é André Valadão?

André Valadão é natural de Belo Horizonte e atualmente é o pastor-presidente da Igreja Batista da Lagoinha.

Sua carreira começou com a banda Diante do Trono, liderada por sua irmã Ana Paula Valadão, nos anos 1990.

O religioso é filho do pastor Márcio Valadão, também pastor na Igreja Batista da Lagoinha. Além de Ana Paula Valadão, André também tem uma irmã chamada Mariana.

Ele se formou pastor pelo Rhema Bible Training Center. Também passou pela Escola de Missões DOMATA em Tulsa (EUA) e pelo Seminário de Música Christ For The Nations, em Dallas, no Texas.

Após excursionar com a banda de sua irmã, André Valadão iniciou carreira solo na música gospel e lançou, ao todo, doze discos.

Além de todas as atividades religiosas de André Valadão, ele também possui uma marca chamada "Fé", por meio da qual comercializa uma série de produtos.

Em 2017, Valadão deu início a um grupo de oração em sua casa, localizada em Orlando, Flórida (EUA). A partir desse trabalho, ele fundou a Lagoinha Orlando Church, que atualmente conta com mais de três mil membros.

Células da Igreja da Lagoinha também foram abertas em Boston, Dallas, Miami e Nova Iorque.

Atualmente, André Valadão é casado com Cassiane Valadão, com quem tem três filhos.

·         Perseguição contra a comunidade LGBT

O trabalho religioso de André Valadão, ao que tudo indica, é focado na missão de propagar ódio contra a comunidade LGBT+. 

Antes de incentivar os fiéis a matarem pessoas LGBT, André Valadão já afirmou que "Deus odeia o orgulho" e que as pessoas evangélicas "devem odiar as LGBT".

"Eu preciso odiar a impureza sexual, eu preciso ter ódio daquilo que Deus não criou de forma natural, [...] nojo, eu preciso romper na minha vida, [...], não deixar que isso entre na minha casa, na mente dos meus filhos. [...] Eu não posso tratar com naturalidade aquilo que Deus repugna”, disparou o pastor. 

A deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP) entrou com representação no Ministério Público de Minas Gerais (MP-MG) contra o pastor bolsonarista André Valadão por discurso de ódio feito no culto homofóbico intitulado “Deus Odeia o Orgulho.”

A celebração evangélica da Igreja Lagoinha causou revolta na internet pela abordagem homofóbica, agravada pelo fato de acontecer no Mês do Orgulho LGBTQIAP+. André Valadão disse que é preciso odiar pessoas que não estão dentro da heteronormatividade e já havia mencionado que a igreja não é o lugar para pessoas que fazem parte da comunidade LGBTQIAP+.

 

Fonte: Brasil 247/Fórum

 

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