quinta-feira, 6 de julho de 2023

Nascimento de nova era: a importância do BRICS para reformulação das relações internacionais

Recentemente Wang Yi, chefe de gabinete da Comissão de Relações Exteriores da China, em conversa telefônica com Celso Amorim, assessor especial do presidente Lula, destacou a importância do BRICS para a cooperação global entre os países emergentes.

A China, aliás, considera o grupo BRICS a plataforma mais importante para fortalecer a solidariedade entre os países em desenvolvimento e também um fator essencial para o estabelecimento do mundo multipolar.

Bem pudera, afinal segundo previsões do ex-presidente do Goldman Sacks, Jim O'Neil, até 2050 os países do BRICS dominarão o quadro econômico global. Os motivos para isso são vários. Primeiro porque dois de seus membros, China e Índia, continuam apresentando um crescimento de seus PIBs invejável, contando com o fato de serem os dois países mais populosos do planeta.

Ambos, é preciso ressaltar, representam os maiores mercados consumidores do mundo, atraindo empresas e expandindo cada vez mais seus negócios. Por outro lado, temos Brasil e Rússia, cujos territórios possuem escalas continentais e que são detentores de vastos recursos naturais.

O Brasil, por sua vez, é um dos principais produtores agrícolas globais, ao mesmo tempo em que também exporta ferro, cobre e commodities importantes como petróleo e gás. Já a Rússia possui as maiores reservas de combustíveis fósseis do planeta, abrigando mais de 20% das reservas mundiais de gás natural.

Em vista desse enorme potencial, ao longo de suas inúmeras cúpulas, o BRICS foi servindo de plataforma de aproximação política para seus países-membros. Não somente isso, como também serviu de importante plataforma para que as nações do agrupamento promovessem ativamente a defesa da multipolaridade no sistema internacional.

Ademais, mesmo com os desafios políticos e financeiros enfrentados pelo grupo após o período da pandemia e como resultado do conflito na Ucrânia, o BRICS ainda se manteve forte na economia mundial, representando cerca de 20% do total do comércio global. Irremediavelmente, portanto, o BRICS se tornará um dos blocos econômicos mais importantes do sistema, fazendo da dominância do G7 uma questão do passado.

Mais uma vez aqui é preciso destacar o papel da China para esse resultado do BRICS. Pequim tem desempenhado um papel essencial na projeção e consolidação do grupo, ao mesmo tempo sediando em seu território o Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), instituição financeira multilateral criada por iniciativa dos países-membros do BRICS.

Tendo como principal objetivo financiar obras de infraestrutura e desenvolvimento sustentável em mercados emergentes, a instituição tornou-se notória por representar uma verdadeira alternativa às organizações internacionais dominadas pelo G7, como é o caso do Banco Mundial e principalmente do Fundo Monetário Internacional (FMI).

Não obstante, entre 2021 e 2022, quatro países já aderiram ao banco, sendo eles: Bangladesh, Emirados Árabes Unidos, Uruguai e Egito, ampliando o alcance global da instituição na América Latina, Oriente Médio, África e Ásia.

Como o NBD continua disposto a receber novos clientes no futuro, pode-se esperar que o Banco do BRICS marcará presença no século XXI como um dos elementos mais importantes de uma ordem internacional reformulada, em que os países emergentes possam ter maior voz e representatividade nos processos de tomada de decisão global.

Para além do banco, também é preciso destacar o papel do BRICS como um dos principais carros-chefe do processo de desdolarização da economia mundial. Tendo aproximado os ministérios das finanças de seus países-membros ao longo dos anos, o BRICS contribuiu para o estabelecimento de um ambiente de confiança e de cooperação econômica baseada em ganhos mútuos.

Não por acaso, países como Brasil, China, Rússia e Índia têm cada vez mais assinado acordos de comércio bilateral em suas moedas locais, evitando assim a necessidade de uso do dólar como meio de troca. A título de exemplo, refinarias indianas já têm feito pagamentos em yuan pela importação de petróleo russo enquanto a China também utiliza o yuan para a maior parte de suas importações de energia de Moscou.

Hoje, mais de 80% das transações comerciais entre Rússia e China são feitas em rublos e yuans. Já em sua visita a Pequim em abril deste ano, o presidente brasileiro Lula também apontou para a utilização de moedas locais para o comércio Brasil-China, movimento esse que deverá ser replicado pelos demais países latino-americanos.

No mais, vale mencionar que, além do Brasil e da Rússia, mais de 20 outros países estão fazendo acordos comerciais com a China baseados em moedas alternativas, seguindo o exemplo dos países do BRICS. Trata-se do início de uma reformulação em pleno curso no cenário internacional, instigada pela perda de prestígio do dólar no sistema.

Tais medidas, que prenunciam o fim do uso do dólar como meio de troca nas transações entre os Estados, serão extremamente prejudiciais para a posição global dos Estados Unidos. Isso porque o yuan chinês se encaminha para tornar-se um forte candidato nas transações comerciais e financeiras entre os países, diminuindo assim os efeitos das políticas monetárias americanas no mundo.

Tal reformulação, capitaneada justamente pelos países do BRICS, se tornou necessária em vista da aplicação unilateral de sanções econômicas por Washington contra o Irã e sobretudo contra a Rússia a partir de 2022. Na prática, essa política dos Estados Unidos gerou fortes incertezas em diversas nações do globo, receosas de se verem vulneráveis diante do poderio financeiro americano, capaz de congelar ativos de forma discricionária em instituições internacionais sob seu comando.

Por fim, há que se levar em conta a possibilidade de ampliação do BRICS, com a possível adesão de países como Arábia Saudita, Argentina e Irã ao bloco. Ao representarem um modelo político fundamentado na liderança "coletiva" em defesa da multipolaridade, o fortalecimento e ampliação dessa aliança será capaz de redefinir os contornos da ordem mundial no século XXI.

Essa nova ordem será uma ordem sem a dominância de um hegemon e com múltiplas instituições de tomada de decisão global, que darão devida voz aos países emergentes. Tratar-se-á de um mundo mais justo, que tem sido justamente o principal objetivo do BRICS desde a sua criação e sua principal força-motriz para a reformulação das relações internacionais.

 

Ø  Multilateralismo e dominação ocidental contribuem para crescimento da OCX, diz analista

 

Em entrevista à Sputnik, o veterano militar indiano, major-general Shashi Bhushan Asthana, explicou os motivos que estão contribuindo para o crescimento e avanço da Organização para Cooperação de Xangai (OCX).

Ao comentar o desejo de outras nações de se juntarem ou cooperarem com a OCX, bem como os benefícios dessa junção, o especialista destacou que o mundo está caminhando em direção ao multilateralismo, e que a Organização das Nações Unidas (ONU) está se tornando ineficiente e altamente politizada pelo Ocidente.

Perante esta situação, a OCX está se tornando um importante fórum com 40% da população mundial, e 20% do produto interno bruto do mundo.

O especialista também destaca a importância da OCX, que conta com países como China, Rússia e Índia, que não são orientados pelas políticas ocidentais como ocorre nas Nações Unidas e na OTAN.

A OCX é um bloco orientado pelas políticas asiáticas, e em uma era de multilateralismo, isso equilibra a ordem mundial, observou o especialista.

O analista também destacou que a OCX oferece diversos benefícios aos países interessados em fazer parte da organização.

"Primeiramente, fornece acesso a vários países da Ásia Central que são ricos em recursos naturais. Também temos a China, uma potência econômica, e a Rússia, uma importante fabricante e fornecedora de equipamentos de defesa. A Índia, por sua vez, é líder no setor farmacêutico e sua economia está crescendo rapidamente no mundo. Sendo assim, as nações interessadas na OCX certamente gostariam de se relacionar com esses países e obterem o melhor deles", explicou.

Shashi Bhushan Asthana também observou que muitos países já estão cansados da dominação ocidental, e acreditam que a OCX possa ser uma organização alternativa, onde poderiam fazer negócios, inclusive em moedas locais, sem a utilização do dólar.

Por fim, ele destaca a guerra econômica como um dos fatores mais importantes que está aproximando outros países de organizações alternativas.

"Esse é outro fator, que está em jogo por causa das guerras econômicas que estão ocorrendo entre rivais presentes no mundo atual. Para ser ligeiramente imune a essas guerras econômicas, o método ocidental faz com que você também deva fazer parte de diversos grupos econômicos", concluiu.

·         'Golpe devastador': China acabou de dar xeque-mate nos EUA proibindo exportação de terras raras?

A China impôs restrições à exportação de duas matérias-primas estratégicas, o gálio e o germânio, que são cruciais para a indústria mundial de fabricação de chips eletrônicos.

A grande imprensa dos EUA chamou a decisão de Pequim de "segunda contramedida" no desenrolar do confronto tecnológico sino-americano, que veio após a República Popular da China impor sanções em maio contra a empresa fabricante de chips dos EUA Micron Technology.

As restrições chinesas são uma resposta à estratégia não muito bem pensada do Ocidente de limitar os laços econômicos com o gigante asiático, disse à Sputnik o consultor em assuntos da Ásia-Pacífico Thomas W. Pauken II, autor do livro "EUA vs. China: Da Guerra Comercial ao Acordo Recíproco" ("EUA vs. China: From Trade War to Reciprocal Deal", em inglês).

Em outubro passado, a administração Biden anunciou um conjunto de controles de exportação sem precedentes que impediram as empresas chinesas de comprar chips avançados onde quer que seja desde que usassem tecnologia dos EUA, o que também abrangeu equipamentos de fabricação de chips.

Na época, a mídia dos EUA observou que tal passo de Washington frustraria "as ambições tecnológicas da China", gabando-se de que a indústria global de semicondutores era "quase inteiramente" dependente dos EUA e de seus aliados. Agora, os jornais norte-americanos reconhecem que a China jogou "um trunfo na guerra dos chips".

"Achei bastante risível que [a administração Biden] realmente pensasse que os americanos ganhariam esta guerra tecnológica", observou Pauken. "Você não tem acesso aos minérios de terras raras, [então] não tem acesso às cadeias de suprimentos a fim de produzir esses eletrônicos – você está totalmente destruído, está devastado, os EUA sabiam disso. Eles sabiam o quanto dependiam das terras raras. Eles sabiam o quanto tinham que confiar na China para sustentar suas fábricas. Ora, em vez de tentar encontrar maneiras de cooperar, eles simplesmente decidiram ir em frente e simplesmente fazer esses ataques desagradáveis e terríveis contra a China e, de alguma forma, pensar que eles vão marcar uma vitória aqui", observou o especialista.

A China possui 63% da mineração de terras raras do mundo, 85% do processamento e 92% da produção de ímãs. De acordo com um estudo do Serviço Geológico dos Estados Unidos, entre 2017 e 2020, 78% dos metais de terras raras importados pelos EUA eram provenientes da China, 6% eram da Estônia, 5% da Malásia e 4% do Japão.

Dado que 94% do gálio do mundo e 83% do germânio é produzido na China, os EUA podem enfrentar uma série de problemas na sequência da proibição das exportações de Pequim, aponta Pauken.

"É preciso entender que muitos dos eletrônicos são produzidos e precisam desses materiais, sem esses metais, eles não podem fazer absolutamente nada. Este é um golpe absolutamente devastador para os mercados dos EUA. E, obviamente, se eles querem continuar esta política de desvinculação da China, isso só vai atingi-los mais e mais. Não sei bem por que é que estes países pensaram que podiam atacar a China e depois não serem atingidos. Esta é a reciprocidade básica", disse o interlocutor da agência.

De acordo com Pauken, os especialistas de Biden para a China não entendem e subestimam as capacidades de Pequim de suportar a pressão e sair por cima.

 

Ø  Empreiteiros de defesa dos EUA podem ficar com metade do fundo bilionário militar da Alemanha

 

Empresas contratadas de defesa dos EUA provavelmente vão receber até metade do fundo de modernização militar de € 100 bilhões (R$ 524,6 bilhões) de Berlim, alertou a diretora-executiva de um fabricante alemão de peças para tanques, acusando o governo do país de falta de visão estratégica para a indústria nacional.

"Não acredito que muito do dinheiro sobre para a indústria alemã", disse na segunda-feira (3) Susanne Wiegand, do grupo Renk. "A Alemanha não tem uma bússola política para a indústria de defesa."

O fundo alemão de modernização foi concluído em maio do ano passado após longas negociações dentro da coalizão governante. O chanceler Olaf Scholz descreveu-o como uma resposta sem precedentes aos desafios atuais e afirmou que isso ajudaria o seu país a contribuir para a segurança europeia a um nível adequado para a maior economia do bloco.

Alemanha tem consistentemente gastado menos de 2% do produto interno bruto (PIB) em defesa, não cumprindo o padrão de referência recomendado pela OTAN aos seus Estados-membros.

De acordo com Wiegand, houve uma mudança na atitude em relação à indústria de defesa na Alemanha, pelo menos em termos de visibilidade. Seus problemas anteriores deveriam ser mantidos fora dos olhos do público, e sua gerência superior tinha que ser discreta. Mas muitas das velhas questões persistem em relação, por exemplo, à política de aquisições militares.

A Renk fornece transmissões para os Leopards, bem como para outros tanques europeus, como o Ajax britânico e o Leclerc francês. A empresa já recebeu encomendas no valor total de € 3,9 bilhões (R$ 20,4 bilhões) disse a CEO.

 

Ø  Países Baixos alertam: 'UE responderá às novas regras de exportação da China'

 

Pequim citou preocupações de segurança nacional ao introduzir novas regras, no entanto, a leitura feita pelo bloco europeu é de retaliação por conta das últimas restrições europeias de chips para China.

Nesta terça-feira (4), o Ministério das Relações Exteriores holandês afirmou que o bloco europeu vai responder às novas regras introduzidas pela China, as quais exigem uma licença para exportar dois metais amplamente utilizados na fabricação de semicondutores, relata a Reuters.

"Até que ponto isso terá consequências para a economia europeia e holandesa dependerá de como a China o realizar [...] dada a autoridade que a União Europeia tem na política comercial, cabe principalmente à UE abordar a China sobre essas medidas [...]", afirmou a chancelaria holandesa.

Ontem (3), Pequim decidiu restringir a exportação de gálio e germânio em resposta às recentes restrições de exportação impostas pelos Estados Unidos e aliados, incluindo os Países Baixos, com o objetivo de retardar seus avanços tecnológicos e militares.

Mais cedo na terça-feira (3), a União Europeia disse estar preocupada com as restrições chinesas e pediu que limitasse tais restrições apenas às estritamente necessárias para sua segurança nacional.

O bloco europeu supervisiona a política comercial dos Estados-membros, que têm um mercado interno único para bens e serviços, mas o governo holandês argumentou que seus controles de exportação eram uma questão de segurança nacional, o qual depende de cada país-membro da UE.

"[...] Manteremos contato próximo com a Comissão Europeia e outros Estados-membros da UE sobre isso", afirmou Amsterdã.

A China impôs esta semana novas restrições à exportação de dois minerais críticos para a produção de semicondutores, sistemas de mísseis e até células solares usadas no espaço. Gálio, germânio e diversos materiais estarão sujeitos a controles muito mais rígidos a partir de 1º de agosto por "proteção da segurança e interesses nacionais".

 

Fonte: Sputnik Brasil

 

Nenhum comentário: