Multinacionais na
Rússia ainda financiam guerra na Ucrânia
Segundo
algumas estimativas, a guerra na
Ucrânia custa
por dia ao Estado russo 1 bilhão de dólares (R$ 4,84 bilhões) – uma
carga pesada para as finanças nacionais, sobretudo diante da queda dos preços
do petróleo e do gás natural, e das sanções que afetam a principal
fonte de renda de Moscou.
Um
relatório da Kyiv School of Economics (KSE) e da coalizão de organizações da
sociedade civil B4Ukraine constata que as multinacionais que operam na Rússia
continuaram a pagar impostos no país em 2022, financiando indiretamente a
campanha de agressão e ocupação militar de Vladimir Putin.
Das
1.387 empresas ocidentais com subsidiárias russas no início da invasão, em 24
de fevereiro de 2022, apenas 241 (17%) abandonaram inteiramente o país – entre
as quais as cadeias de lanchonetes McDonald's e Starbucks. As que permaneceram,
geraram naquele ano 177 bilhões de dólares para os cofres nacionais.
Em
fevereiro último, a escola ucraniana de economia comentava, em seu relatório Unfinished
business (Negócio inconcluso): "Quase nada mudou, mesmo após mais
três meses de violência e provas cumulativas de crimes de guerra cometidos
pelas tropas russas: 56% das companhias monitoradas pela KSE ainda estão
comprometidas em permanecer na Rússia."
·
Firmas alemãs: segundo lugar em impostos sobre lucros
Ao
todo, as corporações globais, também as que debandaram desde a guerra, pagaram
à Rússia em 2022, só de impostos sobre lucros, 3,5 bilhões de dólares.
"É apenas a ponta do iceberg e provavelmente muito abaixo do volume total
de impostos", prossegue o relatório, acrescentando que as firmas arcam com
numerosas outras contribuições, inclusive imposto de renda sobre os salários
dos funcionários, seguros e imposto sobre valor agregado (IVA).
Das
firmas sediadas em países do G7 e da União
Europeia,
16 constaram entre as 20 principais contribuintes russas. As americanas
apresentaram os maiores faturamentos totais e pagaram os impostos sobre lucros
mais altos: 712 milhões de dólares. Em seguida veem as empresas alemãs,
com 402 milhões de dólares. As companhias sediadas na UE totalizaram
594 milhões de dólares de impostos.
Michael
Harms, diretor-gerente do Comitê da Economia Alemã para o Leste, justifica:
leva tempo até um êxodo nessa escala se refletir em dados, e "muitas
companhias alemãs agora abandonaram o mercado russo ou estão no processo de
retirar".
"As
relações teuto-russas já mudaram dramaticamente. Em 2022, as exportações alemãs
para a Rússia caíram quase pela metade, as importações se reduziram em 90%
desde o começo de 2023. O fato de o êxodo não ter ainda se refletido
inteiramente nas estatísticas para 2022 faz parte da natureza das coisas."
Haveria
ainda obrigações contratuais, enfatiza Harms, não sendo possível elas saírem do
mercado do dia para a noite. Além disso, "o governo russo colocou
obstáculos significativos para dificultar mais às empresas estrangeiras se
retirarem".
·
Cigarros e bens de grande consumo na linha de frente
O
relatório da KSE mostra que entre as que mais se beneficiaram com a permanência
na Rússia estão as multinacionais do tabaco, estando à frente a nipo-suíça
Japan Tobacco International, com faturamento de 7,4 bilhões de dólares em 2022
– 1,5 bilhão de dólares a mais do que no ano anterior – e pagamento de
193 milhões de dólares em impostos sobre lucros.
A
Phillip Morris, que vende os cigarros Marlboro fora dos Estados Unidos, gerou
um faturamento de 7,9 bilhões de dólares, e impostos de 206 milhões
de dólares. Em fevereiro, a empresa declarara que preferia manter seus negócios
na Rússia a vendê-los por menos do que considerava seu valor.
Em
seguida ao de tabaco, veio o setor de bens de consumo de alta rotatividade
(vendidos rápido e a custo relativamente baixo, FMCG na sigla em inglês), que
faturou 21 bilhões de dólares. A Danone, que alcançou mais de
3 bilhões de dólares em vendas, estaria procurando um comprador russo para
seus negócios locais, mas até agora sem sucesso.
A
Nestlé restringiu algumas de suas atividades e deixou de fazer publicidade no
país. Com 99 milhões de dólares, a fabricante americana de doces Mars
esteve entre as que pagaram mais impostos sobre lucros na Rússia em 2022. Em
janeiro, ela declarou que reduzira parte de seus negócios no país.
Ø
'Tudo
acabou para Ucrânia' e OTAN não ajudará: ex-oficial dos EUA destrói última
esperança de Kiev
As
autoridades de Kiev veem a intervenção da OTAN como única chance de mudar a
situação no campo de batalha, mas na realidade a Aliança Atlântica não é capaz
de resistir à Rússia, afirmou Scott Ritter, ex-oficial de inteligência do Corpo
de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos, para U.S. Tour of Duty.
De
acordo com ele, as Forças Armadas da Ucrânia já estão à beira do colapso e são
forçadas a lutar por sua sobrevivência para chegar à cúpula da Organização do
Tratado do Atlântico Norte (OTAN).
"Eles
vão implorar à OTAN para intervir, porque a única chance para a Ucrânia é a
intervenção da Aliança Atlântica", disse Ritter.
Mas
ele lembrou que não esperassem por esta oportunidade, porque "a OTAN não
pode se envolver em tal conflito, eles não têm tropas, eles não têm
treinamento, eles não têm apoio logístico, eles não têm comando e controle,
eles não sabem como fazê-lo".
"Então
tudo acabou para a Ucrânia. Eles tinham que ter aceitado o acordo quando
[Vladimir] Putin o propôs em abril de 2022. Imagine onde estaríamos hoje, mas
não", enfatizou o ex-militar americano.
Ritter
também ressaltou que as tentativas da contraofensiva ucraniana acabarão por se
transformar em uma reversão em larga escala para as forças russas, que excedem
a força e o nível de treinamento do inimigo.
Ø
Laços
entre Rússia e Irã se intensificam apesar de sanções
Pouco
depois da insurreição dos mercenários do Grupo Wagner na Rússia, o presidente
Vladimir Putin teve uma conversa telefônica com seu homólogo iraniano, Ebrahim
Raisi. Em 26 de junho último, o Kremlin comunicou que este teria
"confirmado seu total apoio à liderança da Federação Russa".
Dois
dias mais tarde, seguiu-se um telefonema entre o chefe do Estado-maior das
Forças Armadas iranianas, Mohammad Bagheri, e o ministro russo da Defesa,
Sergey Shoigu. Segundo o jornal Tehran Times, na pauta estiveram os
acontecimentos recentes na Rùssia, relações militares bilaterais e questões de
segurança regional. Bagheri convidou o ministro russo para Teerã.
"A
rebelião na Rússia não é motivo para o Irã se distanciar
de Moscou", afirma Arman Mahmoudian, docente da Universida da Flórida do
Sul para estudos russos e do Oriente Médio.
"Desde
a presidência de Mahmoud Ahmadinejad [2005-2013], o Irã persegue uma política
externa voltada para o Leste, em que a Rússia desempenha um papel importante.
Sobretudo depois da saída do EUA do acordo nuclear com o Irã [em 2018], Moscou
é visto pelos linhas-duras iranianos como aliado confiável. Na invasão russa da
Ucrânia, eles vêm a oportunidade de se afirmarem como parceiros da
Rússia."
Mahmoudian
antecipa que a guerra na
Ucrânia,
iniciada em 24 de fevereiro de 2022, ficará mais brutal com a insurreição do
Grupo Wagner, que quase chegou às portas de Moscou. Putin vai querer mostrar
força aos observadores externos, pois precisa de todo auxílio possível em sua
campanha para obrigar Kiev a se render.
·
Cooperação à sombra das sanções americanas
Segundo
os Estados Unidos, Moscou tem aprofundado sua cooperação miltar com Teerã. Em
maio, o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos Estados Unidos, John
Kirby, afirmou que os dois países estão no processo de ampliar sua parceria
militar sem precedentes. A Rússia mostra interesse sobretudo nos modernos
drones de combate iranianos, já tendo importado mais do que 400 deles desde
agosto de 2022 – motivo pelo qual os EUA e a União Europeia impuseram sanções a
Teerã.
Além
disso, no início de junho de 2023, a emissora britânica Sky News noticiou sobre
um documento vazado, de 16 páginas, que provaria o fornecimento de munição
iraniana à Rússia. Ele teria sido apresentado tanto ao primeiro-ministro
ucraniano, Denys Schmyhal, quanto ao ministro britânico do Exterior, James
Cleverly. Foram prometidas investigações, caso se confirmasse sua veracidade.
Ao
mesmo tempo, o Irã sofre com as sanções impostas contra a Rússia. Ambos se
financiam principalmente com a exportação de energia, sendo considerados rivais
nos mercados globais. Como as medidas punitivas reduziram bastante o
contingente de compradores da Rússia, esta agora oferece petróleo e gás natural
a preços consideravelmente mais baixos a clientes tradicionais do Irã, como
China, Índia e Turquia.
O
especialista Mahmoudian avalia: "O Irã não vai se distanciar da Rússia.
Nestas circunstâncias, porém, tenta representar uma função desescaladora em
relação ao Ocidente – por exemplo, ao negociar indiretamente com os EUA."
Segundo
dados da mídia, Washington e Teerã trabalham no sentido de um acerto informal
do conflito em torno do programa nuclear iraniano, que os americanos tencionam
restringir. Segundo o jornal The New York Times, o plano seria
fazer o Irã limitar a 60% seu enriquecimento
de urânio e,
acima de tudo, intensificar a colaboração com os inspetores nucleares
internacionais. Em contrapartida, os EUA não endureceriam mais suas sanções
econômicas.
Até
agora, o Irã pouco se beneficiou da planejada ampliação de suas relações
comerciais com a Rússia, mas Moscou promete que isso vai mudar com o fechamento
de um acordo de livre-comércio entre ambos e a Armênia, Belarus, Cazaquistão e
Quirguistão. Segundo o vice-premiê russo, Alexei Overchuk, isso fortalecerá a
cooperação numa região que se estende das fronteiras da Europa Oriental até a
China Ocidental.
Ø
Arábia
Saudita diz que novos cortes de petróleo mostram cooperação com Rússia: 'Mitiga
lado cínico'
Segundo
ministro de Energia saudita, a parceria entre os dois países reduz a
interpretação cínica de outros "espectadores" que questionam a
cooperação entre as nações no âmbito da OPEP+.
Nesta
quarta-feira (5), a Arábia Saudita declarou que a cooperação petrolífera
Riad-Moscou ainda está forte como parte da aliança OPEP+, e que ambos os países
farão "o que for necessário" para apoiar o mercado, disse o ministro
de Energia saudita príncipe Abdulaziz bin Salman.
O
país do Oriente Médio e a Rússia, maiores exportadores de petróleo do mundo,
aprofundaram os cortes na oferta de petróleo na segunda-feira (3), em um
esforço para elevar os preços. No entanto, o movimento apenas brevemente
levantou o mercado, segundo a Reuters.
"Parte
do que fizemos [na segunda-feira 3] com a ajuda de nossos colegas da Rússia
também foi mitigar o lado cínico dos espectadores sobre o que está acontecendo
entre a Arábia Saudita e a Rússia neste assunto específico", disse
Abdulaziz.
A
OPEP+, grupo formado pela Organização dos Países Exportadores de Petróleo e
aliados – incluindo a Rússia, que produz cerca de 40% do petróleo mundial – vem
reduzindo a produção de petróleo desde novembro devido à queda nos preços.
O
organismo diz não ter uma meta de preço e busca um mercado de petróleo equilibrado
para atender aos interesses tanto dos consumidores quanto dos produtores.
"É
bastante revelador nos ver na segunda-feira [3] saindo não apenas com nossa
extensão [do corte de petróleo], mas também com validação do lado russo",
complementou Abdulaziz bin Salman.
Os
Estados Unidos, maior produtor de petróleo fora da OPEP+, repetidamente pediu
ao grupo para aumentar a produção para ajudar a economia global e criticou a
cooperação saudita com a Rússia.
Mas
Riad rejeitou repetidamente os apelos dos EUA e o príncipe Abdulaziz disse hoje
(5) que novos cortes conjuntos na produção de petróleo acordados por Riad e
Moscou nesta semana "provaram novamente que os céticos estão
errados".
Um
boletim de notícias sobre petróleo divulgado ontem (4) pela agência americana
Bloomberg provoca e, ao noticiar o corte, diz: "Quer você acredite ou não,
a Rússia cumprirá sua última promessa de cortar a produção e as exportações de
petróleo".
Entretanto,
as relações russas são baseadas em confiança e não seria diferente com os
sauditas, uma vez que Moscou não deixaria de manter sua palavra.
Ø
Suspensão
do acordo de grãos vai ter algum impacto no mercado mundial?
A
Iniciativa dos Grãos do Mar Negro não deve ser estendida, pois não cumpre seu
propósito e apenas prejudica a economia russa, mas não afetaria o mercado
mundial, disse o presidente da União Russa de Grãos, Arkady Zlochevsky, à
Sputnik.
O
acordo de alimentos, que expira no dia 17 de julho, é prejudicial para a
Rússia, sua economia e suas entregas de grãos, enquanto sua suspensão não
representa risco para o abastecimento mundial, disse o presidente do órgão.
Isso é demonstrado pelo fato de que alguns países da União Europeia (UE)
proibiram as importações de grãos ucranianos, que geralmente não tiveram
impacto nos preços mundiais dos alimentos.
Neste
contexto, Zlochevsky acrescentou que já se viu que não houve impacto no mercado
mundial, porque os abastecimentos da Ucrânia nele, segundo as suas palavras,
"não são tão grandes, abastece principalmente milho e agora têm trigo para
ração".
·
Isso
vai afetar a África?
Devido
ao fato de que Kiev exportou grandes volumes em um ritmo acelerado através do
território dos países europeus, restrições de fato ao transporte terrestre de
grãos ucranianos já foram implementadas, explicou o especialista. Com isso, os
embarques caíram de 52 mil toneladas para 22,5 mil toneladas no último mês e
meio.
Com
isso, nenhum impacto foi percebido, nem no mercado mundial nem nos países
africanos, disse Zlochevsky, porque Kiev "nunca forneceu a esses países,
[quem] sempre os forneceu tradicionalmente foi a Rússia". E os embarques
russos para a África "não dependem da aplicação do acordo alimentar".
"Entregaremos
nossos volumes de qualquer maneira, existindo ou não [o pacto dos grãos]",
disse o funcionário, lembrando a promessa do presidente russo, Vladimir Putin,
de enviar um determinado volume, mesmo que de graça.
Portanto,
de modo geral, nas palavras de Zlochevsky, o impacto dos grãos ucranianos na
fome mundial "tornou-se um fetiche obscuro, que na prática não faz o menor
sentido".
"Sem
uma agenda informativa agressiva, [os volumes enviados por Kiev] não serão
notados por ninguém, não terão efeito no mercado mundial e há recursos mais do
que suficientes", resumiu.
No
dia 22 de julho de 2022, Rússia, Turquia e a ONU assinaram um acordo para
desbloquear a exportação de grãos e fertilizantes da Ucrânia através do mar
Negro. Representantes do governo ucraniano assinaram um documento semelhante
com representantes de Ancara e da ONU. Desde então, o acordo foi prorrogado
três vezes, a última vez em 17 de maio, por dois meses.
A
Rússia insiste que cinco condições sejam cumpridas para estender o pacto
alimentar além de 17 de julho: a reconexão de seu banco agrícola,
Rosselkhozbank, ao sistema SWIFT; a retomada do fornecimento de máquinas
agrícolas, peças de reposição e manutenção; o levantamento da proibição de
acesso aos portos; a reativação do gasoduto de amônia Toliatti-Odessa; e o
desbloqueio de ativos estrangeiros e contas de empresas russas relacionadas à
produção e transporte de alimentos e fertilizantes.
Fonte:
Deutsche Welle/Sputnik Brasil
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