quinta-feira, 6 de julho de 2023

Multinacionais na Rússia ainda financiam guerra na Ucrânia

Segundo algumas estimativas, a guerra na Ucrânia custa por dia ao Estado russo 1 bilhão de dólares (R$ 4,84 bilhões) – uma carga pesada para as finanças nacionais, sobretudo diante da queda dos preços do petróleo e do gás natural, e das sanções que afetam a principal fonte de renda de Moscou.

Um relatório da Kyiv School of Economics (KSE) e da coalizão de organizações da sociedade civil B4Ukraine constata que as multinacionais que operam na Rússia continuaram a pagar impostos no país em 2022, financiando indiretamente a campanha de agressão e ocupação militar de Vladimir Putin.

Das 1.387 empresas ocidentais com subsidiárias russas no início da invasão, em 24 de fevereiro de 2022, apenas 241 (17%) abandonaram inteiramente o país – entre as quais as cadeias de lanchonetes McDonald's e Starbucks. As que permaneceram, geraram naquele ano 177 bilhões de dólares para os cofres nacionais.

Em fevereiro último, a escola ucraniana de economia comentava, em seu relatório Unfinished business (Negócio inconcluso): "Quase nada mudou, mesmo após mais três meses de violência e provas cumulativas de crimes de guerra cometidos pelas tropas russas: 56% das companhias monitoradas pela KSE ainda estão comprometidas em permanecer na Rússia."

·         Firmas alemãs: segundo lugar em impostos sobre lucros

Ao todo, as corporações globais, também as que debandaram desde a guerra, pagaram à Rússia em 2022, só de impostos sobre lucros, 3,5 bilhões de dólares. "É apenas a ponta do iceberg e provavelmente muito abaixo do volume total de impostos", prossegue o relatório, acrescentando que as firmas arcam com numerosas outras contribuições, inclusive imposto de renda sobre os salários dos funcionários, seguros e imposto sobre valor agregado (IVA).

Das firmas sediadas em países do G7 e da União Europeia, 16 constaram entre as 20 principais contribuintes russas. As americanas apresentaram os maiores faturamentos totais e pagaram os impostos sobre lucros mais altos: 712 milhões de dólares. Em seguida veem as empresas alemãs, com 402 milhões de dólares. As companhias sediadas na UE totalizaram 594 milhões de dólares de impostos.

Michael Harms, diretor-gerente do Comitê da Economia Alemã para o Leste, justifica: leva tempo até um êxodo nessa escala se refletir em dados, e "muitas companhias alemãs agora abandonaram o mercado russo ou estão no processo de retirar".

"As relações teuto-russas já mudaram dramaticamente. Em 2022, as exportações alemãs para a Rússia caíram quase pela metade, as importações se reduziram em 90% desde o começo de 2023. O fato de o êxodo não ter ainda se refletido inteiramente nas estatísticas para 2022 faz parte da natureza das coisas."

Haveria ainda obrigações contratuais, enfatiza Harms, não sendo possível elas saírem do mercado do dia para a noite. Além disso, "o governo russo colocou obstáculos significativos para dificultar mais às empresas estrangeiras se retirarem".

·         Cigarros e bens de grande consumo na linha de frente

O relatório da KSE mostra que entre as que mais se beneficiaram com a permanência na Rússia estão as multinacionais do tabaco, estando à frente a nipo-suíça Japan Tobacco International, com faturamento de 7,4 bilhões de dólares em 2022 – 1,5 bilhão de dólares a mais do que no ano anterior – e pagamento de 193 milhões de dólares em impostos sobre lucros.

A Phillip Morris, que vende os cigarros Marlboro fora dos Estados Unidos, gerou um faturamento de 7,9 bilhões de dólares, e impostos de 206 milhões de dólares. Em fevereiro, a empresa declarara que preferia manter seus negócios na Rússia a vendê-los por menos do que considerava seu valor.

Em seguida ao de tabaco, veio o setor de bens de consumo de alta rotatividade (vendidos rápido e a custo relativamente baixo, FMCG na sigla em inglês), que faturou 21 bilhões de dólares. A Danone, que alcançou mais de 3 bilhões de dólares em vendas, estaria procurando um comprador russo para seus negócios locais, mas até agora sem sucesso.

A Nestlé restringiu algumas de suas atividades e deixou de fazer publicidade no país. Com 99 milhões de dólares, a fabricante americana de doces Mars esteve entre as que pagaram mais impostos sobre lucros na Rússia em 2022. Em janeiro, ela declarou que reduzira parte de seus negócios no país.

 

Ø  'Tudo acabou para Ucrânia' e OTAN não ajudará: ex-oficial dos EUA destrói última esperança de Kiev

 

As autoridades de Kiev veem a intervenção da OTAN como única chance de mudar a situação no campo de batalha, mas na realidade a Aliança Atlântica não é capaz de resistir à Rússia, afirmou Scott Ritter, ex-oficial de inteligência do Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos, para U.S. Tour of Duty.

De acordo com ele, as Forças Armadas da Ucrânia já estão à beira do colapso e são forçadas a lutar por sua sobrevivência para chegar à cúpula da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN).

"Eles vão implorar à OTAN para intervir, porque a única chance para a Ucrânia é a intervenção da Aliança Atlântica", disse Ritter.

Mas ele lembrou que não esperassem por esta oportunidade, porque "a OTAN não pode se envolver em tal conflito, eles não têm tropas, eles não têm treinamento, eles não têm apoio logístico, eles não têm comando e controle, eles não sabem como fazê-lo".

"Então tudo acabou para a Ucrânia. Eles tinham que ter aceitado o acordo quando [Vladimir] Putin o propôs em abril de 2022. Imagine onde estaríamos hoje, mas não", enfatizou o ex-militar americano.

Ritter também ressaltou que as tentativas da contraofensiva ucraniana acabarão por se transformar em uma reversão em larga escala para as forças russas, que excedem a força e o nível de treinamento do inimigo.

 

Ø  Laços entre Rússia e Irã se intensificam apesar de sanções

 

Pouco depois da insurreição dos mercenários do Grupo Wagner na Rússia, o presidente Vladimir Putin teve uma conversa telefônica com seu homólogo iraniano, Ebrahim Raisi. Em 26 de junho último, o Kremlin comunicou que este teria "confirmado seu total apoio à liderança da Federação Russa".

Dois dias mais tarde, seguiu-se um telefonema entre o chefe do Estado-maior das Forças Armadas iranianas, Mohammad Bagheri, e o ministro russo da Defesa, Sergey Shoigu. Segundo o jornal Tehran Times, na pauta estiveram os acontecimentos recentes na Rùssia, relações militares bilaterais e questões de segurança regional. Bagheri convidou o ministro russo para Teerã.

"A rebelião na Rússia não é motivo para o Irã se distanciar de Moscou", afirma Arman Mahmoudian, docente da Universida da Flórida do Sul para estudos russos e do Oriente Médio.

"Desde a presidência de Mahmoud Ahmadinejad [2005-2013], o Irã persegue uma política externa voltada para o Leste, em que a Rússia desempenha um papel importante. Sobretudo depois da saída do EUA do acordo nuclear com o Irã [em 2018], Moscou é visto pelos linhas-duras iranianos como aliado confiável. Na invasão russa da Ucrânia, eles vêm a oportunidade de se afirmarem como parceiros da Rússia."

Mahmoudian antecipa que a guerra na Ucrânia, iniciada em 24 de fevereiro de 2022, ficará mais brutal com a insurreição do Grupo Wagner, que quase chegou às portas de Moscou. Putin vai querer mostrar força aos observadores externos, pois precisa de todo auxílio possível em sua campanha para obrigar Kiev a se render.

·         Cooperação à sombra das sanções americanas

Segundo os Estados Unidos, Moscou tem aprofundado sua cooperação miltar com Teerã. Em maio, o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos Estados Unidos, John Kirby, afirmou que os dois países estão no processo de ampliar sua parceria militar sem precedentes. A Rússia mostra interesse sobretudo nos modernos drones de combate iranianos, já tendo importado mais do que 400 deles desde agosto de 2022 – motivo pelo qual os EUA e a União Europeia impuseram sanções a Teerã.

Além disso, no início de junho de 2023, a emissora britânica Sky News noticiou sobre um documento vazado, de 16 páginas, que provaria o fornecimento de munição iraniana à Rússia. Ele teria sido apresentado tanto ao primeiro-ministro ucraniano, Denys Schmyhal, quanto ao ministro britânico do Exterior, James Cleverly. Foram prometidas investigações, caso se confirmasse sua veracidade.

Ao mesmo tempo, o Irã sofre com as sanções impostas contra a Rússia. Ambos se financiam principalmente com a exportação de energia, sendo considerados rivais nos mercados globais. Como as medidas punitivas reduziram bastante o contingente de compradores da Rússia, esta agora oferece petróleo e gás natural a preços consideravelmente mais baixos a clientes tradicionais do Irã, como China, Índia e Turquia.

O especialista Mahmoudian avalia: "O Irã não vai se distanciar da Rússia. Nestas circunstâncias, porém, tenta representar uma função desescaladora em relação ao Ocidente – por exemplo, ao negociar indiretamente com os EUA."

Segundo dados da mídia, Washington e Teerã trabalham no sentido de um acerto informal do conflito em torno do programa nuclear iraniano, que os americanos tencionam restringir. Segundo o jornal The New York Times, o plano seria fazer o Irã limitar a 60% seu enriquecimento de urânio e, acima de tudo, intensificar a colaboração com os inspetores nucleares internacionais. Em contrapartida, os EUA não endureceriam mais suas sanções econômicas.

Até agora, o Irã pouco se beneficiou da planejada ampliação de suas relações comerciais com a Rússia, mas Moscou promete que isso vai mudar com o fechamento de um acordo de livre-comércio entre ambos e a Armênia, Belarus, Cazaquistão e Quirguistão. Segundo o vice-premiê russo, Alexei Overchuk, isso fortalecerá a cooperação numa região que se estende das fronteiras da Europa Oriental até a China Ocidental.

 

Ø  Arábia Saudita diz que novos cortes de petróleo mostram cooperação com Rússia: 'Mitiga lado cínico'

 

Segundo ministro de Energia saudita, a parceria entre os dois países reduz a interpretação cínica de outros "espectadores" que questionam a cooperação entre as nações no âmbito da OPEP+.

Nesta quarta-feira (5), a Arábia Saudita declarou que a cooperação petrolífera Riad-Moscou ainda está forte como parte da aliança OPEP+, e que ambos os países farão "o que for necessário" para apoiar o mercado, disse o ministro de Energia saudita príncipe Abdulaziz bin Salman.

O país do Oriente Médio e a Rússia, maiores exportadores de petróleo do mundo, aprofundaram os cortes na oferta de petróleo na segunda-feira (3), em um esforço para elevar os preços. No entanto, o movimento apenas brevemente levantou o mercado, segundo a Reuters.

"Parte do que fizemos [na segunda-feira 3] com a ajuda de nossos colegas da Rússia também foi mitigar o lado cínico dos espectadores sobre o que está acontecendo entre a Arábia Saudita e a Rússia neste assunto específico", disse Abdulaziz.

A OPEP+, grupo formado pela Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados – incluindo a Rússia, que produz cerca de 40% do petróleo mundial – vem reduzindo a produção de petróleo desde novembro devido à queda nos preços.

O organismo diz não ter uma meta de preço e busca um mercado de petróleo equilibrado para atender aos interesses tanto dos consumidores quanto dos produtores.

"É bastante revelador nos ver na segunda-feira [3] saindo não apenas com nossa extensão [do corte de petróleo], mas também com validação do lado russo", complementou Abdulaziz bin Salman.

Os Estados Unidos, maior produtor de petróleo fora da OPEP+, repetidamente pediu ao grupo para aumentar a produção para ajudar a economia global e criticou a cooperação saudita com a Rússia.

Mas Riad rejeitou repetidamente os apelos dos EUA e o príncipe Abdulaziz disse hoje (5) que novos cortes conjuntos na produção de petróleo acordados por Riad e Moscou nesta semana "provaram novamente que os céticos estão errados".

Um boletim de notícias sobre petróleo divulgado ontem (4) pela agência americana Bloomberg provoca e, ao noticiar o corte, diz: "Quer você acredite ou não, a Rússia cumprirá sua última promessa de cortar a produção e as exportações de petróleo".

Entretanto, as relações russas são baseadas em confiança e não seria diferente com os sauditas, uma vez que Moscou não deixaria de manter sua palavra.

 

Ø  Suspensão do acordo de grãos vai ter algum impacto no mercado mundial?

 

A Iniciativa dos Grãos do Mar Negro não deve ser estendida, pois não cumpre seu propósito e apenas prejudica a economia russa, mas não afetaria o mercado mundial, disse o presidente da União Russa de Grãos, Arkady Zlochevsky, à Sputnik.

O acordo de alimentos, que expira no dia 17 de julho, é prejudicial para a Rússia, sua economia e suas entregas de grãos, enquanto sua suspensão não representa risco para o abastecimento mundial, disse o presidente do órgão. Isso é demonstrado pelo fato de que alguns países da União Europeia (UE) proibiram as importações de grãos ucranianos, que geralmente não tiveram impacto nos preços mundiais dos alimentos.

Neste contexto, Zlochevsky acrescentou que já se viu que não houve impacto no mercado mundial, porque os abastecimentos da Ucrânia nele, segundo as suas palavras, "não são tão grandes, abastece principalmente milho e agora têm trigo para ração".

·         Isso vai afetar a África?

Devido ao fato de que Kiev exportou grandes volumes em um ritmo acelerado através do território dos países europeus, restrições de fato ao transporte terrestre de grãos ucranianos já foram implementadas, explicou o especialista. Com isso, os embarques caíram de 52 mil toneladas para 22,5 mil toneladas no último mês e meio.

Com isso, nenhum impacto foi percebido, nem no mercado mundial nem nos países africanos, disse Zlochevsky, porque Kiev "nunca forneceu a esses países, [quem] sempre os forneceu tradicionalmente foi a Rússia". E os embarques russos para a África "não dependem da aplicação do acordo alimentar".

"Entregaremos nossos volumes de qualquer maneira, existindo ou não [o pacto dos grãos]", disse o funcionário, lembrando a promessa do presidente russo, Vladimir Putin, de enviar um determinado volume, mesmo que de graça.

Portanto, de modo geral, nas palavras de Zlochevsky, o impacto dos grãos ucranianos na fome mundial "tornou-se um fetiche obscuro, que na prática não faz o menor sentido".

"Sem uma agenda informativa agressiva, [os volumes enviados por Kiev] não serão notados por ninguém, não terão efeito no mercado mundial e há recursos mais do que suficientes", resumiu.

No dia 22 de julho de 2022, Rússia, Turquia e a ONU assinaram um acordo para desbloquear a exportação de grãos e fertilizantes da Ucrânia através do mar Negro. Representantes do governo ucraniano assinaram um documento semelhante com representantes de Ancara e da ONU. Desde então, o acordo foi prorrogado três vezes, a última vez em 17 de maio, por dois meses.

A Rússia insiste que cinco condições sejam cumpridas para estender o pacto alimentar além de 17 de julho: a reconexão de seu banco agrícola, Rosselkhozbank, ao sistema SWIFT; a retomada do fornecimento de máquinas agrícolas, peças de reposição e manutenção; o levantamento da proibição de acesso aos portos; a reativação do gasoduto de amônia Toliatti-Odessa; e o desbloqueio de ativos estrangeiros e contas de empresas russas relacionadas à produção e transporte de alimentos e fertilizantes.

 

Fonte: Deutsche Welle/Sputnik Brasil

 

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