segunda-feira, 26 de junho de 2023

Paulo Nogueira Batista Jr.: Catástrofe nuclear?

Outro dia, fizeram-me a pergunta, inocente, quase rotineira: “Qual é afinal o principal risco que corremos?”. A intenção era provocar uma discussão sobre os dilemas do Brasil e os obstáculos com que se defronta o novo governo. Porém, outra coisa, completamente diferente, e mais urgente, me veio de pronto à mente: o risco de destruição do planeta e da vida humana na Terra. Não por causa da badalada crise climática, mas por outra crise bem mais imediata e mais destrutiva. Refiro-me ao risco de uma catástrofe nuclear, possível desdobramento da guerra na Ucrânia, e o consequente desaparecimento da humanidade. O planeta agradeceria, de certo, mas estaríamos todos liquidados.

Exagero? O brasileiro é um dos povos mais complacentes do planeta. Como todas as nações gigantes, o Brasil é propenso à introversão. Damos atenção apenas relativa, apenas seletiva, ao que ocorre em outros países. Além do mais, somos afortunados. Vivemos na América do Sul, uma região de paz, onde não se vê guerra há muito tempo. Temos boas relações com todos os nossos vizinhos de fronteira, sem exceção. E mais: ficamos razoavelmente preservados dos efeitos destrutivos das duas Guerras Mundiais do século 20. Por todos esses motivos, os brasileiros estão entre os menos alertas para o perigo que o mundo corre desde a invasão da Ucrânia pela Rússia em 2022.

·         Risco de guerra nuclear

Não é difícil, entretanto, perceber que existe mesmo risco de guerra nuclear. O conflito na Ucrânia envolve, direta ou indiretamente, as duas principais potências nucleares. A Rússia, diretamente. Os Estados Unidos, indiretamente, engajados em uma guerra por procuração em que os ucranianos lutam e morrem por eles. Para os Estado Unidos, o que está em jogo é nada mais nada menos do que o prestígio da sua hegemonia global, desafiada pela invasão da Ucrânia. A Rússia, por seu lado, enxerga na ação do Ocidente, na Ucrânia e em outros países, uma ameaça existencial, e tem dito isso aberta e repetidamente.

O ideal seria que os Estados Unidos fossem menos paranoicos quanto a ameaças à sua liderança mundial. E que a Rússia fosse menos paranoica quanto às ameaças que vêm do exterior. Mas essas paranoias têm raízes profundas. Os americanos estão acostumados a mandar e desmandar, desde a Segunda Guerra Mundial e, em especial, desde o colapso da União Soviética. Os russos, por seu lado, estão acostumados a invasões imperiais ocidentais profundamente ameaçadoras, notadamente a napoleônica e a hitlerista.

Estamos diante da maior ameaça de guerra nuclear desde a crise dos mísseis soviéticos em Cuba, no início dos anos 1960. É bem verdade que, ao longo das últimas décadas, Estados Unidos e União Soviética/Rússia se defrontaram em várias regiões do mundo sem chegar às vias de fato. Instalou-se, assim, a complacência. A guerra nuclear, impensável por seu potencial de destruição mútua, será sempre evitada, acredita-se. Uma teoria, otimista, postula inclusive que a existência de arsenais nucleares constitui, paradoxalmente, uma garantia de paz ou, pelo menos, de ausência de guerras diretas e totais entre potências atômicas.

·         Paralelos com a Primeira Guerra Mundial

Autoengano? Talvez! O quadro internacional neste início do século 21 lembra muito, mas muito mesmo, aquele que antecedeu a Primeira Guerra Mundial, e esse paralelo tem sido feito por diversos observadores. Recentemente, li um livro sobre a Primeira Guerra, de autoria de Karl Hellferich, destacado economista e político alemão, que foi inclusive o autor intelectual da hiperestabilização alemã de 1923. O que ele escreveu sobre as origens da guerra de 1914 deu-me um frio na espinha – tão grande é a semelhança com o que vivemos hoje, pouco mais de cem anos depois.

Naquela época, como agora, uma potência emergente – a Alemanha então, a China hoje – crescia rapidamente em importância e era vista como ameaça. Ameaçada se sentia, notadamente, a potência hegemônica – a Inglaterra na época, os Estados Unidos agora – e se mostrava disposta a obstruir a ascensão da potência ascendente. A potência em declínio é sempre mais perigosa. A sua disposição de hostilizar e, no limite, provocar uma guerra era aguçada pela percepção de que o tempo corria contra ela. Antes confrontar e até mesmo guerrear agora do que mais tarde, raciocinava a Inglaterra de então, assim como os Estados Unidos de hoje.

Outro traço comum aos dois períodos: o quadro internacional era de multipolaridade, com diversas potências disputando espaço na Europa e/ou no resto do mundo. Inglaterra, França, Rússia, Alemanha, Áustria-Hungria, Japão, Estados Unidos, entre outros, naquela época. Estados Unidos, Alemanha, França, China, Rússia, entre outros, nos dias de hoje. A multipolaridade, tanto hoje como há cem anos, multiplicava os pontos perigosos de atrito. A formação de coalizões, com garantias recíprocas, aumentava o perigo de que um conflito localizado desembocasse em conflagração geral.

Outra semelhança inquietante. Até a eclosão da guerra em 1914, ocorreram diversos episódios de conflito envolvendo as potências centrais, a Alemanha e a Áustria-Hungria, de um lado, e a Tríplice Entente, França, Rússia e Inglaterra, de outro. Nos Bálcãs, em Marrocos, no Mediterrâneo, no Oriente Médio, irrompiam crises e disputas que ameaçavam provocar uma confrontação militar entre as potências centrais e a Tríplice Entente. Muitos sabiam que uma nova guerra na Europa seria destrutiva como nenhuma anterior. A cegueira não era total. E, no entanto, como cada episódio de conflito acabava sendo resolvido sem guerra, instalou-se uma perigosa complacência.

·         A marcha da insensatez e outros cenários

Não é, mutatis mutandis, o que vivemos agora? Tantas vezes tem sido possível evitar que confrontos localizados desaguem em confronto nuclear. Os líderes dos países atômicos não serão irresponsáveis, confiamos. Eles sabem que uma guerra nuclear deixaria no chinelo as Guerras Mundiais do século 20. E os mais otimistas entre nós acreditam na evolução do ser humano e que a experiência histórica deixa lições.

Pois bem. É justamente a experiência histórica milenar que desautoriza essas crenças. A humanidade não progride, ela sequer existe, disse Nietzsche. Como haveria de aprender com os desastres históricos? O que se tem, de certa forma e como também dizia Nietzsche, é o eterno retorno do mesmo. Mudam as aparências, mas persiste o que a historiadora Barbara Tuchman chamou de “marcha da insensatez”. E a célebre frase de Marx merece uma modificação. A história se repete: na primeira vez como tragédia, na segunda também.

Este é o quadro sinistro que queria delinear hoje. Nem tudo está perdido, claro. E o inexorável nem sempre acontece. Há cenários, mais ou menos plausíveis, em que a catástrofe nuclear seria evitada. A vitória da Ucrânia, com expulsão das tropas russas do seu território, não parece provável, mas não pode ser inteiramente descartada, dada a extensão do apoio militar e financeiro do Ocidente. A vitória da Rússia, mais concebível, dada a sua superioridade militar, econômica e populacional, encontra resistência cerrada do bloco ocidental.

Um terceiro cenário, mais provável, seria o chamado congelamento da guerra, um conflito de longa duração, sem solução no campo de batalha e sem solução diplomática. Um “congelamento” da guerra manteria vivo o risco de um confronto nuclear. A passagem do tempo multiplicaria os incidentes capazes de levar à sua materialização. Para os países envolvidos, principalmente a Ucrânia, o prolongamento da guerra traria custos enormes em termos humanos e econômicos. Já severamente abalada pela invasão, a Ucrânia sofreria mais ainda. A Rússia também pagaria um preço elevado em termos humanos, políticos e econômicos. O Ocidente arcaria com uma conta cada vez mais pesada. O resto do mundo continuaria sofrendo as consequências econômicas da guerra.

·         Clube da paz?

Volto ao Brasil. Lideranças políticas como Lula e outras estão plenamente conscientes, tudo indica, dessas ameaças todas. É compreensível e louvável que tentem ajudar a restabelecer a paz. Países como China, Índia, Indonésia, Turquia, Brasil aparecem como possíveis mediadores. O caminho talvez seja aquele apresentado inicialmente pelo Brasil – a formação de um grupo de países que atuariam conjuntamente em prol do fim das hostilidades e de uma solução duradoura para os conflitos no Leste da Europa. Evidentemente, Brasil e outros podem acabar saindo de mãos abanando. Por maiores que sejam seus esforços, só haverá paz se as partes envolvidas na guerra estiverem realmente dispostos a negociar. Tendo em vista, porém, a dimensão dos riscos que corremos, vale a pena persistir na busca de uma solução pacífica.

O Brasil exerce a presidência de turno do G-20 em 2024, grupo que inclui todos os principais países envolvidos no conflito, com exceção da Ucrânia. É a oportunidade que talvez se apresente para superar a guerra e seus riscos.

 

Ø  Coreia do Sul e Vietnã assinam acordos para trabalhar contra 'ameaça nuclear' da Coreia do Norte

 

Em sua primeira visita ao Vietnã como presidente, o líder sul-coreano Yoon Suk Yeol reconheceu problemas econômicos, mas reiterou o papel fundamental do Vietnã para a estratégia de crescimento de Seul.

Na viagem de Yoon a Hánoi, a Coreia do Sul e o Vietnã concordaram ontem (23) em aumentar a cooperação em segurança, citando a ameaça nuclear da Coreia do Norte, relata a Reuters.

Yoon assinou 17 acordos com o presidente vietnamita, Vo Van Thuong, sobre uma série de questões, desde minerais críticos até trabalhadores vietnamitas na Coreia do Sul, e disse que Seul intensificaria a cooperação com o Vietnã contra a ameaça nuclear da Coreia do Norte.

Segundo a mídia, o Vietnã é um dos poucos países que podem se orgulhar de relações estreitas com Pyongyang. Hanói "está pronta para participar do processo de desnuclearização da península coreana", disse Thuong em entrevista coletiva conjunta.

As duas nações também concordaram em aumentar as relações da indústria de defesa e a cooperação em segurança no mar do Sul da China.

Seul também é um dos muitos países que discutem possíveis vendas de armas para o Vietnã enquanto busca modernizar seu arsenal, segundo a agência britânica.

 

Ø  Cofundador da OpenAI: mundo vai ter que 'gerenciar os riscos' de 'tecnologia perigosa'

 

Especialistas em tecnologia discutiram a crescente reputação da inteligência artificial (IA) como uma "ameaça" na Cúpula de Tecnologia Bloomberg em San Francisco, EUA, enfatizando a necessidade de ficar de olho nessa tecnologia, que continua avançando aos trancos e barrancos.

Embora existam áreas em que a IA pode ser benéfica, também há muitas coisas ligadas a ela que podem "dar errado", reconheceu o CEO e cofundador da OpenAI, Sam Altman.

"Trabalhamos com tecnologia perigosa que pode ser usada de maneiras perigosas com muita frequência", disse Altman durante a cúpula.

Segundo o empresário e programador norte-americano, cuja empresa OpenAI foi avaliada em mais de US$ 27 bilhões (cerca de R$ 129,2 bilhões), os "benefícios superam os custos" da nova tecnologia. Altman destacou áreas como ciência, educação e medicina como campos promissores de aplicação para os avanços da IA, acrescentando achar "que seria bom acabar com a pobreza, mas teremos que administrar os riscos para alcançá-la".

O empresário também falou sobre os pedidos dos legisladores para regulamentar a inteligência artificial e afirmou que "a regulamentação global pode ajudar a torná-la segura, o que é uma resposta melhor do que pará-la".

Sam Altman elogiou o enorme sucesso dos produtos OpenAI, como o chatbot ChatGPT e o gerador de imagens Dall-E, insistindo que sua preocupação com a IA no momento "não é sobre dinheiro".

"Eu tenho dinheiro suficiente. [...] Esse conceito de ter dinheiro suficiente não é algo fácil para outras pessoas superarem", explicou Altman, destacando que construir as chamadas "grades de proteção" para o uso de IA é um dos passos "mais importantes" que "a humanidade tem a alcançar com a tecnologia".

Altman também falou sobre os recentes avisos do CEO da Tesla, Elon Musk, sobre o potencial prejudicial da IA. Musk, que cofundou a OpenAI com Altman, "se preocupa muito com a segurança da IA", enfatizou o guru da tecnologia, acrescentando que as bandeiras vermelhas "vieram de um bom lugar".

Anteriormente, centenas de pesquisadores de inteligência artificial e executivos de tecnologia haviam assinado um aviso severo de que a IA representa uma ameaça existencial para a humanidade.

"Mitigar o risco de extinção [da humanidade] da IA ​​deve ser uma prioridade global, juntamente com outros riscos sociais, como pandemias e guerra nuclear", alerta o comunicado divulgado no dia 30 de maio.

O lançamento trazia as assinaturas de alguns dos maiores nomes da indústria, incluindo Altman; o padrinho da IA, Geoffrey Jinton; o diretor do Centro de Segurança de IA, Dan Jendrycks, e executivos seniores da Microsoft e do Google.

Outra carta pública emitida em março reuniu as assinaturas de mais de 1.000 acadêmicos, empresários e especialistas em tecnologia pedindo uma pausa no desenvolvimento da IA ​​até que ela possa ser regulamentada e gerenciada com responsabilidade.

 

Fonte: Jornal do Brasil/Sputnik Brasil

 

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