terça-feira, 27 de junho de 2023

Esquerda surpreende e leva duas candidaturas ao segundo turno na Guatemala

Em uma jornada cheia de surpresas neste domingo (25/06), a esquerda conseguiu levar duas candidaturas ao segundo turno das eleições presidenciais da Guatemala.

O primeiro turno da disputa presidencial terminou com um resultado bastante inesperado, apesar de a primeira colocação ter ficado com a mesma vencedora da eleição passada, em 2019.

Segundo informações do Tribunal Supremo Eleitoral da Guatemala (TSE), após mais de 95% das urnas apuradas, a empresária Sandra Torres, do partido de centro-esquerda União Pela Esperança (UNE), obteve 15,3% dos votos, com os quais ela chega novamente ao segundo turno.

Esta é a terceira vez que Torres concorre à Presidência da Guatemala, e nas outras duas vezes ela também chegou ao turno decisivo, perdendo em 2015 contra o ex-presidente liberal Jimmy Morales (2016-2020) e em 2019 para o atual mandatário, o conservador Alejandro Giammattei.

Porém, esta é a primeira vez que ela enfrentará outro candidato progressista no segundo turno, marcado para próximo dia 20 de agosto.

O segundo mais votado neste domingo foi a grande surpresa do dia: Bernardo Arévalo, do Movimento Semente, reuniu 12,1%, superando todas as candidaturas de direita.

O desempenho de Arévalo foi bastante inesperado, já que seus percentuais em todas as pesquisas publicadas durante a campanha variaram entre 4% e 6% das intenções de voto.

Ademais, Arévalo não foi a única surpresa da jornada. O terceiro colocado foi o candidato governista Manuel Conde, do partido Vamos, com 7,8%.

Também foi surpreendente a quarta colocação do nacionalista Armando Castillo, do partido Viva, que ficou com 7,4% dos votos.

Dois dos candidatos melhor posicionados nas pesquisas foram as grandes decepções. O ex-funcionário da Organização das Nações Unidas (ONU) Edmond Mulet, do partido de centro-direita Cabal, ficou em quinto lugar, com apenas 6,9%.

Porém, a maior frustração foi a candidatura da extrema direita, liderada por Zury Ríos Sosa, filha do ex-ditador Efraín Ríos Montt (1981-1983). Todas as pesquisas a colocavam entre os três primeiros lugares, e em muitas delas ela aparecia liderando, sempre com percentuais acima dos 15%, às vezes até acima dos 20% das intenções. Neste domingo, porém, ela conquistou apenas 6,7% dos votos.

·         Sandra Torres, a ex-primeira-dama

Sandra Torres é a ex-esposa do falecido presidente social-democrata Álvaro Colom (2008-2012), que apoiou a Comissão Internacional contra a Impunidade na Guatemala (CICIG), um organismo endossado pela ONU que funcionou como uma Pprocuradoria paralela e desvendou casos notórios de corrupção, entre 2007 e 2019.

Nascida em 5 de outubro de 1955 no município de Melchor de Mencos, no norte, Sandra é formada em Comunicação e empresária do setor têxtil. Em 2002, divorciou-se de seu primeiro marido, com quem teve quatro filhos, antes de se envolver na política. 

Juntou-se à Unidade Nacional de Esperança (UNE), um partido de centro-esquerda que levou Colom ao poder e que ela agora lidera. 

"Lembrem-se que as mulheres são boas administradoras. Esticamos o dinheiro em casa e eu vou esticar no governo", diz a ex-primeira-dama, de 67 anos. 

Em 2003, ela se casou com Colom. Em 2011, divorciou-se dele para poder disputar a Presidência e não infringir a norma constitucional que impede que familiares próximos dos presidentes em exercício sejam candidatos. A Justiça rejeitou sua candidatura.

Ela foi detida em 2019 por suposto financiamento irregular na UNE, mas o caso foi arquivado em 2022.

Torres foi derrotada por Jimmy Morales na eleição de 2015 e pelo atual presidente, Alejandro Giammattei, em 2019. Neste ano, porém, mostrou-se certa de conseguir derrotar qualquer rival neste segundo turno. 

""Com quem for (o segundo turno) vamos ganhar", declarou a ex-primeira-dama na noite de domingo. 

Um grande desafio para ela é a rejeição, que atinge 41,4% dos eleitores, segundo pesquisa do jornal Prensa Libre. 

·         Quem é Bernardo Arévalo

Opera Mundi publicou neste domingo um pequeno perfil das três figuras melhor posicionadas nas pesquisas, incluindo o de Sandra Torres, única candidatura que obteve no primeiro turno um percentual semelhante ao que as sondagens atribuíam a ela.

Entretanto, a matéria não falou sobre o surpreendente Bernardo Arévalo, que chegou ao segundo turno e ganhou mais 40 dias de campanha para tentar repetir o feito de seu pai, o ex-presidente Juan José Arévalo (1945-1951), cuja história contaremos nos parágrafos mais abaixo.

Sociólogo de 64 anos, nascido em Montevidéu (durante o exílio de seus pais), Arévalo é o líder do Movimento Semente, que se descreve como um partido “ecologista, progressista e liberal”, embora alguns analistas locais prefiram categorizá-lo como “social liberal”.

As posições políticas da sua bancada no Congresso mostram semelhanças com o estilo do presidente chileno Gabriel Boric: por exemplo, considera os governos de Nicarágua e Venezuela como ditaduras e exige do presidente Giammattei uma postura oficial de condenação à Rússia e de apoio à Ucrânia, com relação ao conflito entre os dois países – inclusive, chegou a pedir na justiça (sem sucesso) o cancelamento do contrato do Estado guatemalteco para a aquisição de milhões de doses da vacina russa anticovid Sputnik V.

Entretanto, o vínculo mais controverso do partido é com o presidente de El Salvador, o polêmico empresário e influencer Nayib Bukele.

Nestas eleições da Guatemala, o mandatário salvadorenho não expressou abertamente seu apoio a nenhum candidato, mas em 2019, quando a candidata do Movimento Semente era a ex-promotora pública Thelma Aldana, o principal trunfo da campanha eram declarações de Bukele, nas quais ele pedia votos da juventude e a chamava de “futura presidente”.

Outra situação, que talvez também explique o fenômeno de Arévalo este ano e porque ele não foi previsto pelas pesquisas, é que, assim como Bukele durante sua candidatura em El Salvador (em 2019), Arévalo e o Movimento Semente centraram os esforços da campanha deste ano nas redes sociais, sem fazer tantos atos públicos e comícios.

·         Família Arévalo

Apesar de seu desemprenho eleitoral ser inesperado, o sobrenome Arévalo não é uma novidade no Palácio Presidencial guatemalteco. Seu pai foi o escritor e ex-presidente Juan José Arévalo, que governou o país entre 1945 e 1951, conhecido por um estilo que era chamado de “socialismo espiritual”, cujo objetivo era “libertar o indivíduo psicologicamente”.

Durante aquele governo, a Guatemala realizou grandes reformas na saúde e na educação. Também foi criado o Instituto Guatemalteco de Seguridade Social (IGSS), referência no país até os dias de hoje.

No entanto, Arévalo precisou superar diversas tentativas de golpe de Estado para completar seu mandato. A maioria desses ataques realizados pela direita local foram patrocinadas pela empresa norte-americana United Fruit e pela embaixada dos Estados Unidos no país, como relata o famoso livro “As Veias Abertas da América Latina”, do escritor e jornalista uruguaio Eduardo Galeano.

Em 1950, Arévalo pai elegeu seu sucessor, o militar Jacobo Árbenz, que manteve o programa de governo progressista, mas não resistiu às investidas da direita e acabou vítima de um golpe, em 1954. 

Com o início da ditadura do general Carlos Alberto Castillo, a família Arévalo foi obrigada a fugir do país, e encontrou asilo político no Uruguai, onde Bernardo Arévalo nasceu.

O clã só voltaria ao país centro-americano em meados dos Anos 70, apesar de o regime ditatorial ainda estar vigente – naquele então, sob as ordens do general Eugenio Laugerud. Juan José Arévalo faleceu na Cidade da Guatemala, em 1990, quando o país já havia recuperado a democracia.

 

Ø  Peronismo e oposição oficializam pré-candidaturas à Presidência da Argentina

 

A Argentina conheceu, neste sábado (24/06), as 13 pré-candidaturas que disputarão as Prévias Abertas Simultâneas e Obrigatórias (PASO), processo que escolherá os candidatos que concorrerão nas eleições presidenciais do país.

As PASO, como são chamadas essas eleições prévias, estão programadas para o dia 13 de agosto, e terão como principais atrações as disputas dentro dos dois principais conglomerados: a coalizão governista União pela Pátria (peronismo, de centro-esquerda) e a opositora Juntos pela Mudança (direita, ligada ao ex-presidente Mauricio Macri).

Confira abaixo os nomes que tentarão superar essa etapa, para chegar ao primeiro turno, marcado para dia 22 de outubro (se for necessário um segundo turno, ele acontecerá em 19 de novembro).

·         Peronismo

As pré-candidaturas governistas estão divididas entre um grupo mais moderado, liderado pelo ministro da Economia, Sergio Massa, e o setor mais progressista, que será encabeçado pelo ativista Juan Grabois.

Massa é um ex-dissidente do peronismo que agora tenta liderar o setor moderado e centrista do Partido Justicialista (legenda tradicional fundada pelo próprio Juan Domingo Perón), e que também é mais próximo ao presidente Alberto Fernández.

Advogado de 51 anos, ele despontou na política como chefe de gabinete da então presidente Cristina Kirchner, entre 2008 e 2009, e depois como prefeito da cidade de Tigre, no Norte da Província de Buenos Aires, entre 2009 e 2013.

Em 2015, criou seu próprio partido, a Frente Renovadora, e foi candidato presidencial apresentando-se como “terceira via” entre o kirchnerista Daniel Scioli e o neoliberal Mauricio Macri (que acabou sendo eleito naquele então), mas ficou em terceiro lugar no pleito.

Se reconciliou com o peronismo quatro anos depois, apoiando a chapa de Alberto e Cristina, que venceu as eleições, enquanto ele encabeçou a lista de candidatos a deputado, o que lhe valeu a maior votação na disputa legislativa e, posteriormente, o cargo de presidente da Câmara, que exerceu até julho de 2022, quando assumiu o Ministério da Economia.

Seu adversário será o também advogado e ativista social Juan Grabois, fundador e líder da União dos Trabalhadores da Economia Popular (UTEP).

Aos 40 anos, Grabois jamais disputou um cargo de eleição popular, embora seja uma das mais relevantes figuras políticas da Argentina há vários anos, especialmente por sua atuação em ações sociais e em defesa de sindicatos e grupos excluídos.

Seu ativismo o levou a ser uma figura muito próxima ao então cardeal arcebispo de Buenos Aires, Jorge Bergoglio, que depois se tornaria o papa Francisco.

A amizade com o pontífice o transformou em enviado deste em algumas ocasiões: por exemplo, foi ele quem levou um rosário abençoado pelo papa a Luiz Inácio Lula da Silva em 2018, quando o atual presidente brasileiro estava na prisão em Curitiba.

·         Direita

A principal coalizão opositora da Argentina também estará dividida entre um setor mais moderado e outro mais distante do centro.

No caso, a candidatura que tenta passar uma imagem menos conservadora é a do prefeito de Buenos Aires, Horacio Rodríguez Larreta, um economista de 57 anos que, no passado, foi um dos principais assessores do ex-presidente Mauricio Macri (2015-2019), mas que tem buscado se distanciar deste nos últimos anos para se levantar como principal líder da direita na Argentina.

Larreta tem a seu favor seus oito anos de governo na capital, com níveis de aprovação acima dos 50%, apesar de algumas polêmicas envolvendo a privatização de serviços públicos.

Justamente, o que diferencia o discurso do prefeito portenho de outros candidatos da direita nessa eleição é uma postura menos agressiva somente na questão de direitos civis, ou seja, sem posições homofóbicas ou contrárias ao feminismo, por exemplo. Em termos econômicos, ele defende uma agenda ultraliberal.

No entanto, Larreta terá como possível ponto fraco o seu vice: Gerardo Morales, governador da província de Jujuy e alvo da polêmica que surgiu esta semana pelas medidas de repressão contra movimentos sociais dessa região, o que gerou uma onda de solidariedade em toda a Argentina, com massivas marchas de apoio às vítimas em várias cidades.

A adversária de Larreta na disputa interna será alguém também marcada pela violência.

Patricia Bullrich é presidente do partido macrista Proposta Republicana (PRO), fundado pelo próprio Macri. A imprensa argentina a considera como figura importante dentro do círculo de confiança do ex-mandatário – do qual Larreta também fazia parte até 2019, mas não mais.

Cientista política de 67 anos, Bullrich foi ministra de Segurança Pública durante os quatro anos da gestão macrista, período em que se destacou como defensora de um discurso de fortalecimento das atribuições policiais e militares, e de negação de crimes cometidos pela última ditadura argentina (1976-1083) – o que causou forte polêmica, já que ela mesma foi presa e torturada pelo regime, já que foi militante peronista durante a juventude.

O governo de Macri não foi a única experiência ministerial de Bullrich. Entre outubro e novembro de 2001, durante o governo de Fernando de la Rúa e em meio à grave crise econômica que levaria à renúncia do então presidente, ela chegou a liderar brevemente dois ministérios: o do Trabalho e o da Seguridade Social.

·         Outras candidaturas

Mas a Argentina não terá apenas as candidaturas das coalizões peronista e macrista presentes nas PASO. Outras nove fotos estarão na cédula do dia 13 de agosto.

O governador da província de Córdoba, Juan Schiaretti, será candidato pela coalizão nacionalista Fazemos por Nosso País, de centro-direita – embora mais de direita que de centro, mesmo tendo como vice o ex-kirchnerista Florencio Randazzo (hoje desafeto de Cristina).

O partido de extrema direita Liberdade Avança formalizou, sem surpresas, a candidatura do economista e influencer Javier Milei, considerado o Bolsonaro argentino.

A Frente de Esquerda terá duas pré-candidaturas, a da socióloga Myriam Bregman e a do ativista Gabriel Solano.

Outra coalizão de esquerda, Novo Mais, lançou a líder feminista Manuela Castañeira. Já o partido Política Operária será representado por Marcelo Ramal.

O partido regionalista Livres do Sul terá como candidato Jesús Escobar. A Frente Patriota Federal será encabeçada por Cesar Biondini. Finalmente, a Frente Princípios e Valores será representada por Guillermo Moreno.

 

Fonte: Opera Mundi

 

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