Depois da queda de
Campos Neto, o desafio do desenvolvimento
Lula
precisará reviver o entusiasmo e o sentimento de grandeza de um JK. O período
2008-2010 mostrou que isso será possível.
Nos
próximos meses, haverá dois eventos em maturação.
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Evento 1 – a demissão de Roberto Campos Neto
Campos
Neto tornou-se personagem político. Não se duvide que, nas próximas eleições,
seja um dos braços do bolsonarismo educado. Só que seu tempo de vida útil
acabou.
No
começo do governo Lula, o Ministro da Fazenda Fernando Haddad ainda não tinha
consolidado sua posição perante o mercado. Não conseguiria pressionar Campos
Neto, nem trabalhar por sua demissão.
Optou
por um processo gradativo, de atender às expectativas do mercado e ganhar a
confiança com um discurso bastante racional. Com isso, mais o arcabouço fiscal,
tirou os argumentos nos quais se escorava Campos Neto para não derrubar os
juros.
Agora,
inverteu o jogo. Os efeitos da Selic elevada espalharam-se por todo o país,
afetando do setor financeiro ao varejo, pelo comprometimento do crédito e a
multiplicação de processos de recuperação judicial.
Formou-se
uma unanimidade contra Campos Neto, abrindo a possibilidade de um pacto
político visando mudar essa inacreditável lei de autonomia do Banco Central,
que torna o país inteiro refém de burocratas sem mandato.
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Evento 2 – o pós-Campos Neto
Hoje
em dia, há um objetivo central, que é o da redução da taxa Selic de forma
acelerada. Alcançado o objetivo, entra-se no segundo tempo do jogo, em que
haverá a necessidade de um projeto mais consistente de desenvolvimento.
Se
Lula se conformar em meramente retomar o crescimento via melhoria do consumo,
não conseguirá atingir seu objetivo, de marcar seu terceiro mandato como uma
virada na economia.
Há
um conjunto enorme de possibilidades pela frente, da transição energética às
novas revoluções tecnológicas. O país dispõe de uma boa estrutura de ciência e
tecnologia, organizações empresariais de abrangência nacional, bancos públicos,
um banco de desenvolvimento modelo, uma grande empresa petrolífera, que já
desempenhou papel significativo no desenvolvimento industrial e tecnológico
nacional.
Falta
o maestro, capaz de combinar todos esses instrumentos. Falta mais ainda, uma
concertação com as forças produtivas, sindicatos e movimentos sociais,
apontando para um norte. Essa visão de conjunto de todas as forças é
fundamental para a geração de sinergia e para consolidar o grande pacto
nacional pelo desenvolvimento com sustentabilidade ambiental e responsabilidade
social.
A
primeira parte do trabalho já foi feita, com a retomada dos contatos
internacionais. A segunda parte completa-se com a queda de Campos Neto e a
redução da Selic. Mas são apenas ensaios para a grande apresentação final, da
entrada do país definitivamente no rumo do desenvolvimento.
Para
tanto, Lula precisará reviver o entusiasmo e o sentimento de grandeza de um JK.
O período 2008-2010 mostrou que isso será possível.
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Congressistas
acionam CMN contra Campos Neto
O
Conselho Monetário Nacional (CMN) recebeu, nesta semana, pelo menos dois
pedidos de afastamento contra o atual presidente do Banco Central (BC), Roberto
Campos Neto.
As
ações têm como plano de fundo a manutenção da taxa de juros de
13,75%,
pelo Comitê de Política Monetária (Copom), anunciada na última terça-feira
(21).
No
dia (22), o presidente Lula (PT) chegou a
afirmar que Campos Neto “joga contra a
economia brasileira”, já que a taxa foi mantida, mesmo em meio a melhora
nos indicadores econômicos.
Na
ocasião, o petista cobrou medidas ao Senado em relação ao presidente do
BC. “Eu tenho cobrado dos
senadores. Foram os senadores que colocaram esse cidadão lá”.
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“Campos Neto
sabota o Brasil“
Um
dos pedidos encaminhado ao CMN é de autoria da senadora Ana Paula Lobato
(PSB-MA). Segundo documento, Campos Neto deve ser afastado do cargo devido ao “comprovado e recorrente desempenho
insuficiente para o alcance dos objetivos da instituição”.
De
acordo com Lobato, a manutenção da taxa de juros deixou evidente a “clara atuação política do presidente do BC no
sentido de prejudicar o atual governo, ao impossibilitar maior crescimento
econômico e, com isso, inviabilizar uma maior entrega de políticas públicas”.
“É fundamental ajustar nossa política
monetária. Conto com o apoio dos colegas senadores. Campos Neto sabota o Brasil“,
afirmou a parlamentar, por meio de publicação nas redes sociais.
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“O Brasil não pode esperar”
Já
em ofício enviado ao CMN, na quinta-feira (22), o deputado federal Lindbergh
Farias (PT-RJ) defende a possibilidade de pedir a exoneração de Campos Neto ao
Senado, por descumprimento dos objetivos do BC.
“Fica parecendo, cada vez mais, que Roberto
Campos Neto e o Banco Central não estão agindo de forma técnica ao manter, pela
sétima vez consecutiva, os juros em patamar tão elevado, mas, sim, agindo
politicamente para travar a economia brasileira e sabotar o governo do
presidente Lula”, escreveu.
O
deputado também criticou o comunicado no qual o Copom pede “paciência e cautela”. “O Banco Central exige paciência, mas o Brasil
não pode esperar. As empresas que estão quebrando não podem esperar, as
famílias endividadas não podem esperar, diversos setores da economia em
retração não podem esperar”, continuou Lindbergh.
“Não podemos mais ‘ter paciência’ com um
presidente do Banco Central que está comprometendo de forma direta o futuro do
País”, completou.
Ø
Lula
se contrapõe a países ricos e defende inserção do Sul global
Para
os cerca de 40 líderes mundiais presentes nesta sexta-feira (23) na Cúpula para
um Novo Pacto Financeiro Global, em Paris, na França, o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva discursou mostrando que o Brasil será um contraponto ao sistema
internacional e defenderá mais participação do Sul global em decisões.
O
mandatário indicou ainda que o Banco do Brics pretende investir em infraestrutura
nos países mais pobres e fez menção a um plano de fundar o Banco Sul, ligado ao
Mercosul, para assim ter mais capacidade de realizar transações comerciais com
moeda local e não o dólar.
“A
União Africana está muito mais organizada do que nós, na América Latina. Muito
mais organizada. E nós queremos criar novos blocos para negociar com a União
Europeia”, enfatizou. Defendeu ainda que países pobres sejam incluídos em
reuniões de cúpula, como o G20.
Na abertura do discurso, Lula trouxe à centralidade de
sua fala as questões ambientais e climáticas, enfatizando que são problemáticas
mundiais atreladas a outras, caso da desigualdade que assola a comunidade
internacional provocando um ciclo encerrado por mais poluição, desmatamento e
emissão de gases.
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COP-30
“Em
2025 nós vamos realizar a COP-30 num país amazônico (…) um grande encontro, no
estado do Pará, com todos os presidentes da América do Sul que compõem toda a
região da Amazônia, para que a gente possa formar uma proposta para levar para
a COP-28, nos Emirados Árabes”, começou.
Indicando
uma articulação mais ampla, Lula disse que Congo e Indonésia serão países que o
bloco amazônico irá conversar porque são países que conservam grandes
florestas, e lutam para mantê-las de pé, as protegendo de invasores e da
depredação.
“Nós
enfrentamos muitas adversidades. Nós enfrentamos o garimpo, nós enfrentamos o
crime organizado. E nós enfrentamos muitas vezes pessoas de má-fé querendo
tentar fazer com que nessa floresta se plante soja, se plante milho, se crie gado,
quando na verdade não é necessário fazer isso”, declarou.
Prometeu,
o presidente, que até 2030 o Brasil acabará com o desmatamento na Amazônia. “O
Brasil tem 30 milhões de hectares de terras degradadas, não precisa cortar uma
árvore para plantar um pé de soja, um pé de milho ou criar gado. É só recuperar
as terras degradadas”, justificou.
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Acordo com a União Europeia
Lula,
sentado ao lado do presidente da França e anfitrião, Emmanuel Macron, durante a
Cúpula, se dirigiu a ele quando falou sobre os acordos com a União Europeia e
disse que está “doido” para fechá-los. O presidente Lula, porém, disse
que os acordos precisam ser justos.
“A
carta adicional que foi feita pela União Europeia não permite que se faça um
acordo. Nós vamos fazer a resposta, e vamos mandar a resposta, mas é preciso
que a gente comece a discutir. Não é possível que nós tenhamos uma parceria
estratégica e haja uma carta adicional fazendo uma ameaça a um parceiro
estratégico. Como a gente vai resolver isso”, perguntou.
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Desigualdade e fome
“Eu vim aqui para falar que, junto com a questão
climática, nós temos que colocar a questão da desigualdade mundial. Não é
possível que numa reunião entre presidentes de países importantes, a palavra
desigualdade não apareça”, declarou Lula sem cerimônias.
O
presidente listou as desigualdades salariais, de raça, de gênero, na educação e
na saúde como as que mais são indutoras de miséria, fome e pobreza em países
sobretudo das américas Central e Latina, África e parte da Ásia. No entanto,
América Latina e África foram os continentes mais enfatizados por
Lula.
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Críticas ao FMI e Banco Mundial
Lula
criticou abertamente o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial,
fazendo relembrar o período encerrado no início do primeiro mandato do atual
presidente em que o Brasil era endividado com o FMI, que impunha restrições
consideradas severas ao país como faz hoje com a Argentina.
“Aquilo
que foi criado depois da Segunda Guerra Mundial, as instituições de Bretton
Woods não funcionam mais, e não atendem mais às aspirações e nem aos interesses
da sociedade. Vamos ter claro que o Banco Mundial deixa muito a desejar naquilo
que o mundo aspira do Banco Mundial. Vamos deixar claro que o FMI deixa muito a
desejar naquilo que as pessoas esperam do FMI”, disse.
Também
a Organização das Nações Unidas (ONU) foi alvo das críticas de Lula. “Mesmo o
Conselho Nacional de Segurança da ONU. Os membros permanentes não representam
mais a realidade política de 2023. Se representava em 1945, em 2023 é preciso
mudar”, analisou.
A
ONU precisa voltar a ter representatividade, disse Lula. “A ter força política.
A ONU foi capaz de criar o Estado de Israel em 1948 e não é capaz de resolver o
problema da ocupação do Estado Palestino”, completou. A Organização das Nações
Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) foi mencionada.
“Faz
pelo menos 20 anos que ouço a FAO falar que nós temos 900 milhões de seres
humanos que vão dormir todos os dias com fome. Como nós vamos resolver isso se
nós não discutirmos isso? Como é que a gente vai resolver esse problema da
desigualdade se a gente não discute a desigualdade?”, falou Lula.
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Por que a OMC acabou?
Lula
citou a União Africana e um plano chamado FIDA para questionar a razão do
esvaziamento da Organização Mundial do Comércio (OMC). Era um plano que previa
investimento de 360 bilhões de dólares em infraestrutura em todo o continente
africano.
“Se
o mundo desenvolvido resolvesse financiar empresas para construir as
necessidades de infraestrutura daquele plano, a África já teria dado um salto
de qualidade na infraestrutura”, declarou. A União Africana não conseguiu
captar todo o recurso necessário.
Então
o presidente do Brasil seguiu: “ontem nós ouvimos o presidente do Congo falar
do Rio Congo. Pelo que sei, o Rio Congo daria para fazer pelo menos três
Itaipus, a nossa maior hidrelétrica, mas não tem nenhuma, porque não tem
dinheiro e porque não tem financiamento”.
Lula
defendeu investimentos “em coisas estruturantes, que mudam a vida dos países”.
Se mostrou otimista com o Banco dos Brics e com a possibilidade de criar o
Banco do Sul. Disse querer discutir a moeda de comércio. Mas perguntou de forma
retórica: “Por que que se acabou com a Organização Mundial do Comércio?”.
“Vamos
ver se todo mundo aqui se lembra como é que acabou a Organização Mundial do
Comércio: tinha eleição nos Estados Unidos em 2009. E por isso o presidente
Bush se afastou da OMC e o acordo que estava quase para ser feito não foi feito
e nunca mais os Estados Unidos voltaram para a OMC. Eu imaginei que o Obama
iria voltar assim que tomasse posse. Não voltou e a OMC hoje faz muito pouco”.
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Protecionismo
Com
a OMC enfraquecida, Lula argumentou que a consequência imediata foi o
protecionismo.
“Quem
não se lembra da discussão do G-20 em Londres, quando a gente discutia para
evitar o protecionismo, quando a gente discutia que os países ricos teriam de
fazer investimento nos países em desenvolvimento e nos países pobres? O que
aconteceu? Os países ricos voltam a fazer protecionismo. E estamos vendo a
pobreza crescer em todos os continentes”, pontuou.
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Sul Global nas decisões
Lula
lembrou que em breve haverá a reunião do G-20 e disse: “nós vamos precisar
colocar mais companheiros africanos para participar do G-20. Como vocês estão
fazendo no G-7. Ou seja, esses fóruns não podem ser um grupo de luxo. A elite
política. Não”.
Incitou
a convocação “dos desiguais, os diferentes, para que a gente possa atender a
pluralidade dos problemas que o mundo tem. Todos nós, todos nós, temos como
parâmetro o que aconteceu na União Europeia. Você sabe, Macron, que eu acho que
a construção da União Europeia, foi um patrimônio democrático da humanidade”.
Fonte:
Jornal GGN
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