Controladores
de elite: por que alguns mantêm baixa carga viral de HIV sem tratamento
O diagnóstico da infecção pelo HIV é feito a partir da coleta de sangue ou por fluido oral. O vírus
conta com um período de incubação prolongado antes do surgimento dos primeiros
sintomas, o que pode atrasar a detecção.
Quando um vírus invade o organismo, ele adere às
células humanas com o objetivo de se instalar e produzir inúmeras cópias de si
mesmo – quanto mais cópias o vírus produz, maior é a carga viral no organismo.
No caso do HIV, o alvo principal são células de defesa chamadas linfócitos
T-CD4+, conhecidas comumente como glóbulos brancos.
Os medicamentos antirretrovirais impedem justamente
o processo de replicação viral no organismo humano. Ao bloquear a produção
de novas cópias do vírus, o tratamento age na redução da carga viral no sangue.
Cerca de 1% das pessoas vivendo com HIV mantêm o
controle da carga viral baixa, em limite inferior ao da detecção pelos ensaios utilizados
rotineiramente, sem a realização do tratamento: são os chamados controladores
de elite.
·
Hipóteses explicam o controle natural da infecção
As razões exatas pelas quais um grupo pequeno de
pessoas consegue controlar a infecção pelo HIV naturalmente ainda permanecem
desconhecidas.
A médica infectologista Rosana Richtmann, do
Hospital Emílio Ribas, de São Paulo, explica que os controladores de elite
apresentam contagem de linfócitos T-CD4 estável, carga viral indetectável
(inferior a 50 cópias/ml) e, clinicamente, não manifestam sintomas
característicos da infecção.
“São poucos pacientes, porém privilegiados por que
eles conseguem sem tratamento, sem uso de antirretroviral, deixar a carga viral
abaixo de 50 cópias por ml. Isso é praticamente uma carga viral indetectável”,
explica.
A especialista ressalta que os casos são raríssimos
e que embora o vírus não seja detectado no sangue, a infecção pode ser
identificada através do teste de sorologia, que revela a presença de anticorpos
específicos contra o HIV no organismo.
“Eles conseguem conviver naturalmente com o vírus de
forma excelente. A maioria deles não evolui para a doença, para a Aids. Porém,
existe uma porcentagem que pode evoluir para a doença, seja por um desbalanço
imunológico, que pode acontecer com o tempo, oito ou dez anos depois, ou seja
por alguma infecção outra”, diz.
Rosana acrescenta que a recomendação aos pacientes é
de que seja realizado o acompanhamento periódico do quadro clínico.
“Mesmo que o paciente seja definido como um
controlador de elite, o que é uma raridade, uma exceção à regra, importante
deixar isso muito claro, ele precisa de acompanhamento médico por que a gente
não sabe em qual momento ele pode precisar de algum tratamento”, destaca.
Um estudo publicado no periódico Brazilian Journal
of Infectious Diseases aponta que o controle viral pode estar associado a uma
capacidade aumentada desses indivíduos de combater a infecção, seja por terem
células do sistema imunológico com função ampliada ou por herança genética,
como mutações que aprimoram o combate ao vírus.
“A existência de indivíduos capazes de controlar
naturalmente a infecção representa uma oportunidade para explorar quais
recursos do sistema imunitário permitem tal controle, fornece informações sobre
as dinâmicas vírus‐hospedeiro e revelam um possível alvo de novos fármacos ou vacinas, fator
ainda não completamente esclarecido”, afirmam os pesquisadores da Universidade
São Francisco (USF) no artigo.
Segundo Rosana, o estudo científico dos casos de
controladores de elite pode abrir caminhos para descobertas importantes sobre a
infecção pelo HIV.
“Quanto mais conseguirmos estudar a genética desse
paciente, como os receptores ou ausência de receptores desses pacientes,
abre-se um imenso caminho na ciência para futuros tratamentos e para busca pela
cura em relação ao HIV”, afirma.
·
Importância do diagnóstico e tratamento
A testagem permite o diagnóstico oportuno da
infecção pelo HIV. O tratamento aumenta a expectativa e qualidade de vida,
reduzindo os riscos de complicações.
Os antirretrovirais são distribuídos no Brasil pelo
Sistema Único de Saúde (SUS) desde 1996. São pelo menos 22 medicamentos, em 38
apresentações farmacêuticas diferentes, de acordo com o Ministério da Saúde.
O ministério preconiza o início do tratamento logo
após o diagnóstico do HIV. Os testes podem ser realizados de forma gratuita em
Centros de Testagem e Aconselhamento.
Fonte: CNN Brasil
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