As
críticas de políticos e personalidades a derrotas do governo Lula em pautas
ambientais
Lideranças políticas e pessoas famosas que apoiam o
governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticaram a gestão
petista nos últimos dias por novas medidas anunciadas e concessões a
parlamentares.
Nas redes sociais, o governo vem sendo criticado por
ter apoiado ou se omitido sobre decisões do Congresso relativas ao meio
ambiente — um dos temas que mais engajaram na campanha de Lula após quatro anos
de críticas à gestão do governo Jair Bolsonaro (PL) na área.
Nessa semana, a ministra do Meio Ambiente, Marina
Silva (Rede), sofreu uma série de derrotas no Congresso. O ministério dos Povos
Indígenas, chefiado por Sônia Guajajara, também saiu derrotado.
Parte das mudanças foram apoiadas pelo governo Lula
com o objetivo de manter o apoio do Centrão, pois a gestão do PT hoje conta com
uma frágil base parlamentar no Congresso.
Nesta quarta-feira, uma dessas decisões foi tomada
por um comissão mista formada por deputados e senadores responsável por
analisar a MP (medida provisória) que reorganiza os ministérios do governo
Lula.
A comissão aprovou mudanças na Esplanada que
fortaleceram o Centrão e diminuíram o poder de Marina.
Caso a nova proposta seja aprovada pelo Congresso,
setores que hoje fazem parte dos ministérios de Meio Ambiente e Povos Indígenas
serão transferidos para outras pastas, diminuindo o poder de Marina e
Guajajara.
Um desses setores é a ANA (Agência Nacional de
Águas), além de vários órgãos de monitoramento do clima e de recursos hídricos.
Com a organização inicial do governo Lula, eles ficaram sob o guarda-chuva das
ministras mas, agora, podem ser transferidos para outros ministérios.
Outra das derrotas diz respeito a mudanças previstas
em uma MP do governo Bolsonaro, que afrouxa regras de proteção à Mata
Atlântica, um dos principais biomas do país.
A pauta ambiental saiu derrotada ainda na discussão
sobre o marco temporal das demarcações de terras indígenas. A Câmara aprovou um
requerimento de urgência para acelerar a tramitação de um projeto de lei sobre
o tema.
Segundo defensores do estabelecimento de um marco
temporal, só podem reivindicar a demarcação de terras indígenas as comunidades
que as ocupavam na data da promulgação da Constituição: 5 de outubro de 1988.
Esse projeto, apoiado pela bancada ruralista e pelo
Centrão, é duramente criticado por ambientalistas e indígenas.
O governo Lula liberou sua base para votar o
requerimento, gerando críticas de apoiadores e até da ministra Sônia Guajajara.
“O Marco Temporal é um genocídio legislado. Uma
teoria que inverte toda história do Brasil. Um projeto de lei que atenta contra
a constituição brasileira. Um atentado ao direito dos povos Indígenas”,
escreveu.
O deputado Guilherme Boulos, líder da bancada do
PSOL, também foi outra voz crítica ao projeto.
“ABSURDO! A maioria dos deputados aprovou agora a
urgência do PL 490, que aprofunda a destruição de terras indígenas em benefício
de mineradoras e do agronegócio. Vamos lutar para impedir esse retrocesso!”,
publicou o parlamentar, no Twitter.
A deputada Célia Xakriabá, do PSOL, também criticou
duramente o projeto. “Estão usando a estrutura do governo, a estrutura do
estado brasileiro, com a caneta, para assassinar os povos indígenas”, disse a
parlamentar, após a votação.
Já a deputada Gleisi Hoffmann, presidente nacional
do PT, afirmou que o partido vai atuar para reverter as decisões do Congresso
na área de meio ambiente.
“Sobre o atraso ocorrido ontem no Congresso, vamos
trabalhar pra que seja revertido. Se for preciso vamos ao STF pra reaver a
estrutura do meio ambiente e povos indígenas. E Lula vai vetar a flexibilização
da proteção à Mata Atlântica. Sobre o PL490 do marco temporal, vamos fazer
pressão pra que o projeto não seja aprovado. A sociedade precisa nos ajudar a
enfrentar a direita no parlamento”, publicou.
O deputado André Janones (Avante), um dos mais
enfáticos defensores do governo Lula nas redes sociais, também se pronunciou a
favor das pastas de meio ambiente.
“Quero aproveitar o espaço que vocês me dão nas
redes e aqui no congresso, pra ser mais um soldado na luta do Ministério do
Meio Ambiente e do Ministério dos povos indígenas. São pastas das mais
importantes no desenvolvimento social sustentável, nesse momento de
reconstrução. Contem comigo!”
As críticas ao governo Lula também tiveram
ressonância em influenciadores das redes sociais que já apoiaram o presidente
de maneira pública, como Felipe Neto.
“Hoje foi um dia lamentável do governo Lula. O
desmembramento do Meio Ambiente, afrouxamento do código florestal, tudo com
apoio do PT e posts celebrando. Não há explicação razoável pra esse cenário”,
escreveu, no Twitter.
Também na rede social, a conta do presidente Lula
normalizou a situação.
"Tem dias que a gente acorda com notícias
parecendo que o mundo acabou. Eu fui ler as notícias hoje, na verdade, tudo
parecia normal. Uma comissão do congresso querendo mexer numa estrutura de
governo que é difícil de mexer. Agora que começou o jogo", diz a postagem.
"O que a gente não pode é se assustar com a
política. Quando a sociedade se assusta com a política e começa a culpar a
classe política, o resultado é infinitamente pior. É na política que se tem as
soluções dos grandes e pequenos problemas do país", concluiu.
Ø Lula tem hoje reunião com Marina, Guajajara e líderes
O presidente Luiz Inácio
Lula da Silva (PT) se reúne nesta sexta-feira (26) com as
ministras Marina Silva (Meio
Ambiente) e Sonia
Guajajara (Povos Indígenas) após o governo sofrer revés no
Congresso com o avanço de mudanças na medida provisória que reorganiza os
ministérios de Lula.
A reunião foi convocada após a comissão mista que
discute a MP aprovar, na quarta (24), um parecer do relator, deputado Isnaldo
Bulhões (MDB-AL), com alterações
que esvaziam competências das pastas chefiadas por Marina e Guajajara.
A proposta ainda precisa passar pelos plenários principais da Câmara e do
Senado.
Entre as mudanças aprovadas estão:
- a transferência da competência de reconhecer e demarcar terras
indígenas do Ministério dos Povos Indígenas para o Ministério da Justiça;
- e a transferência do Cadastro Ambiental Rural (CAR) do Ministério do
Meio Ambiente para o Ministério da Gestão e Inovação.
A aprovação do parecer pela comissão de deputados e
senadores levou a críticas públicas de Marina e Guajajara.
A ministra do Meio Ambiente classificou a alteração
em sua pasta como um "erro
estratégico", e Sonia Guajajara relatou uma "certa
frustração" com a ausência de Lula nas discussões.
O Palácio do Planalto, no entanto, enxerga pouco
espaço para pressionar o Congresso Nacional a mudar de ideia
nesta disputa, disseram fontes do governo ao g1.
Por outro lado, o presidente Lula quer prestigiar as
ministras, e a reunião com elas nesta sexta faz parte desse esforço.
Além de Marina e Guajajara, vai participar do
encontro a ministra da Gestão e Inovação, Esther Dweck, que também
tem atribuições alteradas pelo relatório de Bulhões.
O encontro desta sexta prevê ainda as participações:
- do ministro da Casa Civil, Rui Costa;
- do ministro da Secretaria de Relações Institucionais, Alexandre
Padilha;
- do ministro da Secretaria de Comunicação Social, Paulo Pimenta;
- do líder do governo no Congresso, senador Randolfe Rodrigues (sem
partido-AP);
- do líder do governo no Senado, Jaques
Wagner (PT-BA);
- e do o líder do governo na Câmara, deputado José Guimarães (PT-CE).
>>>
Derrotas no Congresso
O governo ainda registrou outra derrota no Congresso
nesta semana. Em votação no plenário da Câmara, os deputados ignoraram
uma decisão do
Senado e retomaram trechos de uma medida
provisória que enfraquecem regras de proteção da Mata Atlântica.
Nesta quinta (25), Lula criticou, ao discursar em um
evento em São Paulo, os comentários feitos após derrotas do governo no
Congresso.
Para o presidente, os comentários dão impressão de
que o "mundo acabou", mas, na avaliação
dele, está tudo parecendo "normal".
"Hoje a impressão que eu tinha [ao ler jornais]
era de que o mundo tinha acabado. 'Lula foi derrotado', 'acaba-se ministério
disso', 'acaba-se ministério daquilo'. E o que estava acontecendo era a coisa
mais normal", afirmou o presidente.
Lula afirmou ainda que o governo não pode se
assustar com a política.
"Uma comissão do Congresso querendo mexer numa
estrutura de governo que é difícil de mexer. Agora que começou o jogo. O que a
gente não pode é se assustar com a política. Quando a sociedade se assusta com
a política e começa a culpar a classe política, o resultado é infinitamente
pior", argumentou o presidente.
"É na política que se tem as soluções dos
grandes e pequenos problemas do país", completou.
Fonte: BBC News Brasil/g1
Nenhum comentário:
Postar um comentário