Tiago Barbosa: O "patriotismo"
bolsonarista não passa de uma tara indisfarçável - e colonizada - pelo
viralatismo
Os
"patriotas" bolsonaristas estão revoltados com o novo mapa do IBGE
que tem o Brasil no centro.
Os
"patriotas" bolsonaristas defendem que um estadunidense libere crimes
na rede social brasileira.
Os
"patriotas" bolsonaristas vão ao exterior para implorar sanções
contra o Brasil.
Os
"patriotas" bolsonaristas batem continência para a bandeira dos EUA.
Os
"patriotas" bolsonaristas dizem "eu te amo" para um
presidente estadunidense.
Os
"patriotas" bolsonaristas apoiam ofensas de um ministro do genocídio
ao presidente do Brasil.
Os
"patriotas" bolsonaristas elegem um senador que discursa em inglês no
parlamento brasileiro.
Os
"patriotas" bolsonaristas usam a camisa símbolo do Brasil para tentar
golpe de estado.
O
"patriotismo" bolsonarista não passa de uma tara indisfarçável - e
colonizada - pelo viralatismo.
Musk antecipa golpes de Estado contra a
democracia com Trump eleito nos EUA. Por Cesar Fonseca
No Brasil, com Lula, a
liberdade, para Musk, inexiste – é inimiga – pois o titular do Planalto não se
sujeitou aos seus caprichos de romper com o tríduo republicano, atacando o
judiciário; mas, na Argentina, por exemplo, com o fascista Javier Milei, na Casa
Rosada, pode a liberdade ser a aliada da exploração total do país, amiga
imprescindível, dado que Milei/Trump/Musk comporiam relações carnais etc.
Desse modo, o
nacionalismo lulista não merece ser defendido em seus pressupostos éticos e
morais, se Musk aposta no oposto para fazer valer seus interesses.
O lado de Musk, no
Brasil, é o de Bolsonaro, que quer a liberdade para si para inventar argumentos
– fake News – que coadunam com os interesses bolsonaristas-trumpistas-muskianos
fascistas.
A mentira – veiculada
nas redes sociais em que Musk dita as regras – vira arma política.
Dispõe do poder
político e econômico quem, segundo Musk, possui os meios de comunicação em suas
mãos.
Por meio dele,
constrói a “sua” realidade à qual todos têm que se submeter.
ANTECEDENTE HISTÓRICO
Musk é repeteco
histórico de empresários americanos, como o bilionário Percival Farquhar
(1865-1954) que, apoiado por Washington, atuou em confronto com as leis
brasileiras, na área de mineração, até que Getúlio Vargas o mandou catar
cavaco, expulsando-o do Brasil.
Comprava apoio
político no Congresso da Velha República para obter as concessões para
exploração ferroviária e mineral no país continental, estimulado, ao máximo,
pela Casa Branca e banqueiros ingleses.
A exemplo de Farquhar,
os vastos interesses de Musk, na exploração da riqueza petrolífera, mineral,
ambiental e da Amazônia, lançam suas expectativas para dominar o amplo espectro
da transição energética na qual atuará desmedidamente, se Trump ganhar eleições
nos Estados Unidos.
Ao mesmo tempo, é
claro, Musk cuidará de fortalecer a direita brasileira e sul-americana,
bombando o neoliberalismo bolsonarista pauloguedeseano.
A democracia, no
cenário hipotético de dominação trumpiana, que a vê e a entende,
ideologicamente, como estorvo, vai para o espaço, para que a sede de dominação
das riquezas nacionais seja infinita sob dominação ultraneoliberal, conduzida
pelo Banco Central Independente, independente, diga-se, do governo, mas,
totalmente, dependente dos credores.
Golpe em câmera lenta é a onda do século
XXI
"Os golpes de
Estado em estilo clássico, com tanques nas ruas, deixaram de integrar o roteiro
das iniciativas anti-democráticas", observa Paulo Moreira Leite.
• 1 - Como entender a conexão que aproxima
o golpe contra Dilma e a impunidade que mantém Jair Bolsonaro fora da cadeia
Por razões que se
pretende debater nos parágrafos seguintes, há uma velha novidade na cena
política deste século XXI.
Todos já percebemos
que os golpes de Estado em estilo clássico, com tanques nas ruas, cenas de
violência explícita, prisões e mesmo execuções de lideranças perseguidas pela
nova ordem deixaram de integrar o roteiro obrigatório das iniciativas
anti-democráticas de nosso tempo.
Ainda que a memória
política permaneça ilustrada pelo golpe de 31 de março 64 no Brasil, a violenta
deposição de Salvador Allende no Chile, em 1973, os golpes de 1930, 1943, 1955,
1962 e 1976 na Argentina, nem sempre as coisas se passam dessa forma, como se
vê pela disputa eleitoral que concentra olhares e nervos de 2024 - a eleição
presidencial norte-americana.
Como observa o
colunista Mark Danner, há meses o planeta acompanha a campanha presidencial de
2024, na qual Donald Trump se mobiliza para levar em frente um projeto de
"golpe em câmera lenta, que acompanha sua carreira desde o início, quando
se mostrou capaz de deslegitimar o sistema político para quase metade da
população". (The New York Review of Books, 5/10/2023).
Para Danner, qualquer
que venha a ser o destino de Trump, "na Casa Branca ou numa cela de
penitenciária, a destruição da confiança do país em suas instituições irá
permanecer como a herança tóxica do trumpismo".
Não se trata de um
caso isolado, mas a demonstração clara de que os projetos de desmanche
institucional também corroem as instituições instaladas no centro do mundo
capitalista - e não apenas nas periferias do sistema. Assiste-se a um trabalho
de sabotagem interna, possibilitando que as instituições políticas sejam
paulatinamente esvaziadas de sua energia democrática e de sua capacidade de
responder às necessidades da maioria da população.
No mesmo processo,
forças em atividade na máquina do Estado dissolvem as referências mais
elementares do Estado Democrático de Direito, para transformar as instituições
num braço automaticamente alinhado a interesses conservadores, com auxílio cada
vez mais visível de um Ministério Público ativo e atuante na mesma direção.
Conceito cada vez mais
presente nas publicações que são referência internacional, o assunto tem
relevância óbvia na América do Sul, essa região na qual, com ou sem câmera
lenta, os golpes de Estado são uma realidade dramática e ameaçadora desde o
nascimento da República.
Em seu último livro
publicado, o professor Wanderley Guilherme dos Santos (1935-2019), um dos mais
relevantes intérpretes do sistema político brasileiro, registrou o fenômeno.
Em "A democracia
impedida -- o Brasil no século XXI”, publicado em 2017, no ano seguinte à
deposição de Dilma Rousseff, o professor não fala de "câmera lenta",
expressão que ainda não fora padronizada entre estudiosos antenados. Emprega um
termo aparentado, "golpe constitucional" ou "parlamentar",
para denunciar a deposição de uma governante eleita, evitando banalizar
acontecimentos de gravidade indiscutível, assinalando também diferenças
importantes entre os dois processos.
"Ao contrário de
golpes militares - que, se bem sucedidos, procuram desde logo consolidar as
condições que os protegeram, desalojando os oficiais opositores de posições de
poder e introduzindo pela força, se necessário, as modificações propícias à estabilização
- os golpes parlamentares em democracias representativas dispensam a liderança
e a violência institucional escandalosa, armada ou jurídica", escreve
Wanderley Guilherme.
• 2 - "Não havia uma ditadura
declarada, afinal de contas o presidente havia assumindo legalmente o
país", diz historiador sobre golpe no Uruguai
Um dos marcos deste
processo é mais antigo do que se pensa. Trata-se do regime nascido no Uruguai
durante o governo de Jorge Pacheco Areco, vice que assumiu a presidência após a
morte repentina do titular, em dezembro de 1967.
Entre dois vizinhos
maiores pela geografia, pela população e pelo PIB, que já se encaminhavam para
a formação de ditaduras de longa duração, instituídas pelo velho aparato de
guerra apontado contra um povo transformado em inimigo doméstico, o governo
Areco não demorou a mostrar seus planos de construir uma ditadura num processo
lento e gradual.
"As medidas
adotadas por Areco assemelhavam-se às de um país ditatorial," descreve o
historiador José Rodrigo de Araújo Silva, no artigo “Golpe em Câmera Lenta:
Estado de Sítio e o Cinema Político de Costa Gravas”, onde se vale de uma
obra-prima do cinema político mundial - o filme “Estado de Sítio” -- para
debater uma novidade da Ciência Política.
"Não havia uma
ditadura declarada, afinal de contas o presidente havia assumido legalmente o
país. Contudo, os meios utilizados para manter a ordem foram próximos aos meios
que países como o Brasil utilizaram para legitimar o estado de exceção",
acrescenta o professor, referindo-se ao período Médici da ditadura militar.
Num instrumento
incompatível com qualquer ordenamento democrático, o governo uruguaio decretou
as Medidas Prontas de Seguridad, equivalentes locais dos Atos Institucionais da
ditadura brasileira. Lá como aqui, eram instrumentos de múltiplas utilidades, fosse
para determinar um quadro de arrocho salarial ou para instituir um ambiente de
feroz repressão sobre o movimento operário e sobre a luta estudantil.
"Com essas e
outras medidas, o estado de terror passou a fazer parte do cotidiano da
população," explica Araújo Silva, deixando claro que o país caminhou para
uma metamorfose interna, capaz de submeter a sociedade uruguaia a uma ditadura
especialmente feroz, impensável numa nação habituada a ser classificada como a
"Suíça sul-americana", em função de uma estabilidade política sem
comparação com os vizinhos.
• 3 - Uma nova mudança gigantesca no plano
mundial iria ocorrer décadas mais tarde, na abertura do período histórico
contemporâneo. Sua raiz se encontra na reação norte-americana aos atentados de
11 de setembro de 2001.
Numa resposta que
definiu os traços principais da nova conjuntura mundial dos dias de hoje, pelo
emprego da totalidade dos instrumentos políticos, militares e econômicos
abrigados em seu arsenal imperial para pressionar China e Rússia ao mesmo
tempo, Washington desenhou uma nova divisão de poder e riqueza no planeta.
Mostrou que os demais
governos até podiam não gostar de submeter-se a seu domínio, mas "teriam
imensas dificuldades para escapar de sua influência", como observa Paul
Krugman, Prêmio Nobel de Economia, em artigo intitulado "Caminho norte-americano
para a Guerra Econômica", publicado na revista Foreign Affairs (edição
janeiro-fevereiro 2024).
Aquele situação hoje
chamada de hiperglobalização, para diferenciar mudanças de patamar ocorridas ao
longo de um processo - de séculos - trouxe consequências impensáveis para o
destino de homens e mulheres de todo o planeta, na União Europeia e no Brasil,
na Rússia, na China, nos EUA e na África.
Sem desprezar a
narrativa convencional sobre as origens da hegemonia econômica dos Estados
Unidos sobre os destinos do planeta, Henry Farrell e Abrahamn Newman apontam
para emergência, nas décadas finais do século XX, de um fator de outra
natureza, de valor estratégico impensável até há pouco.
Trata-se do controle
sobre o sistema mundial de cabos e mensagens de fibras óticas de todo o
planeta, que atravessam o território norte-americano, onde são gravados e
enviados para exame nos serviços de informação e segurança nacional, num
processo que permite investigar projetos que ameaçam interesses
norte-americanos e encaminhar sanções correspondentes em resposta.
Paul Krugman vai além
e esclarece: "aonde quer que os cabos aterrisem, Washington monitora seu
trajeto -- basicamente fazendo um registro de todo o conjunto de dados que
permite ao Conselho de Segurança Nacional examinar os dados. Assim, os Estados Unidos
podem facilmente espionar tudo aquilo que outras empresas, e outros países,
estão fazendo. Isso pode definir quando seus competidores ameaçam seus
interesses e definir sanções significativas em resposta".
"Para proteger
interesses dos Estados Unidos, lentamente Washington transformou redes de
economia em instrumentos de dominação," escrevem Henry Farrel e Abraham
Newman.
Alguma dúvida?
Fonte: Brasil 247
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