quinta-feira, 25 de abril de 2024

Mídia revela armadilhas da ajuda dos EUA à Ucrânia: 'Kiev receberá muito pouco'

O projeto de lei de ajuda dos EUA a Kiev, que está prestes a ser ratificado pelo presidente Joe Biden, difere dos anteriores. Ao que tudo indica, os norte-americanos vão alocar mais da metade do novo pacote para atender às suas próprias necessidades, disseram os especialistas citados pela Al Jazeera.

O presidente ucraniano Vladimir Zelensky avalia inadequadamente as perspectivas de mais ajuda dos EUA a Kiev, disse o analista militar Yevgeny Semibratov à Al Jazeera.

"De acordo com o analista militar, US$ 61 bilhões [cerca de R$ 314,3 bilhões] correspondem a uma quantia bastante grande, mas os norte-americanos gastarão mais de metade deles consigo próprios. Kiev receberá muito pouco do chamado pacote de ajuda e a maior parte a crédito", indica a publicação.

De acordo com o projeto de lei de assistência à Ucrânia, que avançou na última terça-feira (23) no Senado dos EUA e está agora sendo encaminhado para o despacho do presidente dos EUA, Joe Biden, dos US$ 61 bilhões planejados, mais de US$ 23 bilhões (aproximadamente R$ 118,5 bilhões) vão ser usados para reconstruir o arsenal do país norte-americano.

Segundo o artigo, a julgar pelas peculiaridades do pacote, este "não é semelhante aos anteriores", pois se baseia em um sistema de crédito, enquanto os recursos projetados serão utilizados para necessidades específicas.

Bandeira nacional russa no edifício administrativo na Praça do Kremlin de Moscou - Sputnik Brasil, 1920, 24.04.2024

Panorama internacional

Rússia expandirá 'zona tampão' da Ucrânia se Kiev obtiver mísseis de longo alcance, diz Kremlin

10:12

Para além do que já foi mencionado, pelo menos US$ 11 bilhões (pelo menos R$ 56,7 bilhões) de todo o montante da ajuda serão investidos no financiamento das operações militares dos EUA em curso na região e cerca de US$ 7,85 bilhões (mais de R$ 40,4 bilhões) serão transferidos para apoio orçamentário direto a Kiev. Este último exclui o pagamento de pensões, uma vez que se trata de um empréstimo e não de um auxílio. Da mesma forma, quase US$ 14 bilhões (cerca de R$ 72,2 bilhões) serão atribuídos à compra de armas e material militar para as Forças Armadas ucranianas.

"Quase todo o dinheiro que será nominalmente atribuído à Ucrânia permanecerá na economia dos EUA e no complexo militar-industrial dos EUA", sublinhou o cientista político Dmitry Kim sobre as cifras destinadas a Kiev.

Em suas palavras, os principais beneficiários vão ser as empresas de armamento dos EUA, enquanto "outro pacote de ajuda dos EUA à Ucrânia enviará dezenas de milhares de ucranianos para um 'massacre' geopolítico irrefreável".

¨      Opositor ucraniano: Ocidente quer destruir civilização russa para 'eliminar concorrente perigoso'

Segundo o líder do partido ucraniano Plataforma de Oposição – Pela Vida, esta é mais uma das tentativas históricas do Ocidente de eliminar seu adversário russo, que está promovendo com sucesso um mundo multipolar.

O plano do Ocidente é destruir a civilização russa para eliminar um concorrente perigoso, disse um opositor ucraniano em declarações à Sputnik.

"As fronteiras estratégicas da Rússia, como as de qualquer grande potência mundial, estão muito além de seu território, e elas não se baseiam na força militar ou no desejo de redesenhar o mapa político, mas nos princípios de igualdade, benefício mútuo e parceria", disse Viktor Medvedchuk, líder do partido ucraniano Plataforma de Oposição – Pela Vida, proibido na Ucrânia e presidente do conselho do movimento Outra Ucrânia.

"Essa é a essência da nova ordem internacional, que está gradualmente substituindo o mundo unipolar", disse ele.

Segundo Medvedchuk, os propagandistas ocidentais alegam uma "política invasiva" da Rússia e argumentam que ela simplesmente não pode viver sem invadir seus vizinhos, e que, portanto, deve ser destruída, desmembrada em pequenos Estados e forçada a sair da "civilização", mas a situação real é exatamente o oposto.

"É exatamente o plano do Ocidente destruir a verdadeira civilização russa, a fim de eliminar um concorrente perigoso de seu caminho. Não é a primeira vez que a Rússia é declarada um 'país bárbaro' para organizar a próxima cruzada, que lhe trará 'cultura e liberdade', mas, na verdade, os novos cruzados tentarão destruí-la novamente, e a Rússia se levanta contra os próximos cruzados para mandá-los de volta, para onde mandou seus ancestrais", escreve ele.

A Rússia sempre venceu porque o objetivo de suas guerras era a justiça, acrescentou.

"Hoje, a justiça consiste em desmantelar o ditame do Ocidente coletivo, para o qual já foram criadas condições econômicas e políticas no mundo. E quanto mais o Ocidente se envolver na guerra, mais ele perderá", acredita o opositor.

Viktor Medvedchuk concluiu que quanto menos os ucranianos apoiarem a guerra, melhor será para eles, e que se os cidadãos ucranianos se lembrarem da história real, eles entenderão que são russos, e que são muito necessários para construir uma Rússia nova e forte, que deseja criar um mundo justo para todos os países e povos.

 

¨      Por que a Ucrânia pode estar combatendo grupo mercenário russo no Sudão

 

Em setembro de 2023, ocorreu um encontro inesperado em um local inusitado.

Quando o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, fez escala no aeroporto de Shannon, na Irlanda, voltando sessão da Assembleia Geral da ONU em Nova York, ele foi recebido pelo líder sudanês, general Abdel Fattah al-Burhan.

Os dois líderes discutiram questões de segurança internacional e "ameaças de grupos ilegais financiados pela Rússia".

De acordo com o gabinete de Zelensky, a reunião de alto nível em um aeroporto frequentemente utilizado para reabastecimento em voos transatlânticos foi "não programada".

Mas acredita-se que as forças especiais da Ucrânia tiveram um papel fundamental para que ela acontecesse.

Naquele momento, o Sudão estava paralisado por confrontos entre o Exército e uma força paramilitar chamada Forças de Apoio Rápido (RSF, na sigla em inglês).

Os confrontos eram o resultado direto de uma violenta luta pelo poder dentro da liderança militar do país: de um lado, o general Abdel Fattah al-Burhan, que é chefe das Forças Armadas e presidente do país; do outro, o seu antigo vice e líder da RSF, o general Mohamed Hamdan Dagalo, também conhecido como Hemedti.

Milhares de pessoas morreram no conflito e milhões tiveram de abandonar as suas casas ou fugir para outros países. A economia do país sofreu um grande golpe.

Relatos sobre como e por que a Ucrânia teria apoiado o governo sudanês durante estes confrontos começaram a surgir recentemente.

De acordo com o americano The Wall Street Journal, soldados ucranianos ajudaram o general al-Burhan a fugir da capital Cartum em agosto de 2023, quando o seu quartel-general foi cercado pela RSF.

Cerca de uma centena de agentes das forças especiais da Ucrânia, liderados por um oficial de inteligência conhecido apenas como Timur, chegaram ao Sudão após um telefonema entre al-Burhan e Zelensky, informou o jornal.

De acordo com o WSJ, a unidade ucraniana não só ajudou al-Burhan a fugir, mas também mudou a natureza da guerra no Sudão, fornecendo equipamentos conhecidos como drones de visão em primeira pessoa (FPV) e conduzindo ataques noturnos contra a RSF.

Em uma nota à BBC, a inteligência ucraniana não confirmou nem negou relatos do envolvimento de Kiev no Sudão, afirmando que "realiza as suas atividades em várias regiões geográficas onde é necessário proteger os interesses nacionais ucranianos".

·        O que o grupo Wagner faz no Sudão?

Em fevereiro, surgiu um vídeo que supostamente mostrava agentes ucranianos no Sudão inspecionando um veículo militar bombardeado com o corpo de um soldado russo morto no seu interior.

O veículo carregava a insígnia do grupo mercenário russo Wagner.

Em outra parte do vídeo, militares ucranianos questionavam soldados russos capturados.

"Qual é o seu objetivo aqui?", perguntava um oficial ucraniano.

"Derrubem o governo local", respondia o soldado.

Não está claro quando ou onde o vídeo foi gravado no Sudão e a BBC não conseguiu verificá-lo de forma independente.

O grupo russo Wagner já estava presente no Sudão muito antes do início dos confrontos entre o exército sudanês e a RSF.

Os primeiros vídeos de mercenários Wagner no Sudão datam de pelo menos 2017.

Foi noticiado na época que mercenários russos estavam envolvidos no treinamento de soldados sudaneses e supostamente ajudando as forças de segurança locais a reprimir os protestos.

Após a morte do seu fundador, Yevgeny Prigozhin, em agosto de 2023, as unidades Wagner que operam em África, incluindo o Sudão, ficaram sob o controle dos serviços especiais russos.

Agora, os mercenários do Wagner que apoiam a RSF parecem ser o principal alvo dos ucranianos no Sudão, de acordo com Beverley Ochieng, analista da BBC Monitoring.

"Relatos que surgiram sobre o que as unidades ucranianas estão fazendo [no Sudão] indicam que eles estão mais concentrados em atingir a Rússia do que em dar apoio ao exército sudanês na luta contra a RSF", disse ela.

O grupo Wagner foi repetidamente acusado de crimes de guerra pelas autoridades ucranianas.

O chefe da inteligência militar ucraniana, Kyrylo Budanov, sugeriu que alguns dos mercenários estacionados no Sudão poderiam ter passado pela guerra na Ucrânia.

"Todos os criminosos de guerra russos, que estiveram, estão ou estarão lutando contra a Ucrânia, serão punidos em qualquer lugar do globo", disse ele.

A Ucrânia também está tentando cortar o financiamento dos mercenários russos no Sudão, segundo Murad Batal Shishani, do Remarks on Political Violence, um think tank com sede em Londres.

"Hemedti tem sido o maior aliado da Rússia na África, principalmente do grupo Wagner. Ele controla o ouro, principal fonte de financiamento do Wagner", disse.

Em 2022, uma reportagem da CNN disse que havia envolvimento russo na mineração e comércio de ouro no Sudão e que os russos tinham enviado 16 voos carregados de ouro do Sudão para a Síria.

Os planos para atingir o ouro russo no Sudão foram confirmados ao WSJ por uma fonte da inteligência militar ucraniana.

A derrota de Hemedti e o fortalecimento das relações da Ucrânia com o Sudão também podem impedir os planos russos de criar uma base militar em Porto Sudão, no Mar Vermelho.

·        'O inimigo do meu inimigo é meu amigo'

Alguns analistas dizem que o que está acontecendo no Sudão é uma "típica guerra por procuração" – um conflito em que estão envolvidos países terceiros, cada um perseguindo os seus próprios interesses.

"Hemedti é apoiado pelos Emirados Árabes Unidos e pela Rússia, e al-Burhan está vencendo a guerra de forma constante com o apoio das finanças sauditas e das forças ucraniana"”, disse Glen Howard, antigo chefe da Fundação Jamestown, um grupo de pesquisa baseado em Washington.

A Ucrânia também está tentando construir uma imagem de um Estado capaz de ameaçar as posições russas em qualquer lugar, segundo Nicholas A. Heras, do New Lines Institute, com sede em Washington.

"O acordo entre Zelensky e al-Burhan é um acordo do tipo 'inimigo do meu inimigo é meu amigo'", disse ele.

"Funciona para a Ucrânia como um meio de demonstrar à comunidade internacional que Zelensky irá confrontar Putin a qualquer hora, em qualquer lugar, não apenas na Europa", disse ele.

No entanto, a capacidade ucraniana no Sudão é limitada devido à guerra com a Rússia, e Kiev só pode fornecer ao seu aliado africano pequenas unidades de forças especiais.

Já a presença da Rússia no Sudão é muito mais tangível.

"A Rússia tem maiores capacidades expedicionárias no Sudão através do grupo Wagner, com batalhões de combatentes apoiados por artilharia, sistemas de mísseis superfície-superfície e abastecimento logístico às Forças de Apoio Rápido", disse Heras.

 

Fonte: Sputnik Brasil/BBC News Mundo

 

Nenhum comentário: