terça-feira, 16 de abril de 2024

Governo corta R$ 419 milhões de Defesa, Polícia Federal e Abin e gera insatisfação

O Ministério da Defesa está entre as pastas mais atingidas por cortes feitos em 2024 pelo governo Lula (PT) para ajustar o Orçamento às regras do novo arcabouço fiscal.

O órgão perdeu R$ 280 milhões durante o ano e afirma que ficou com o menor volume de recursos em uma década.

"Tal restrição gera fortes impactos no cumprimento de contratos já firmados (alguns com governos e empresas estrangeiras) dos projetos estratégicos da Defesa e também na manutenção e no custeio das diversas organizações militares em todo o território nacional", afirma o ministério.

O governo retirou mais de R$ 4 bilhões em despesas discricionárias de diversos ministérios neste ano. Essa verba não está comprometida com salários e outras obrigações, servindo para custear a estrutura dos ministérios e outros investimentos.

Depois do corte de verbas, a Defesa ficou com R$ 5,7 bilhões disponíveis em verba discricionária, sem contar recursos de emendas parlamentares e do Novo PAC. Em 2014, essa mesma fatia era de R$ 11,5 bilhões, cifra que supera R$ 20 bilhões se for considerada a inflação do período.

A verba obrigatória (como salários e pensões) das Forças Armadas, porém, aumentou em uma década e alcança cerca de R$ 110 bilhões anuais.

No saldo dos cortes feitos em 2024, o Ministério da Fazenda perdeu a maior cifra entre os ministérios, R$ 485 milhões. A redução atingiu verbas de administração das unidades ligadas ao ministério, também para o setor de tecnologia da Secretaria Especial da Receita Federal, entre outras ações.

Em seguida, os ministérios dos Transportes e da Defesa sofreram cortes de cerca de R$ 280 milhões cada um.

A relação com as Forças Armadas é um tema sensível ao governo Lula. Neste ano, o presidente chegou a vetar atos em memória dos 60 anos do golpe de 1964, no momento em que militares são investigados por suposta participação em trama golpista para manter no poder o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

A Polícia Federal perdeu R$ 122 milhões com os cortes. Em nota, o órgão afirma que nem sequer foi consultado sobre quais áreas seriam atingidas.

O governo cortou parte dos recursos usados para pagar agentes da PF que trabalham nos períodos de sobreaviso, controle migratório e da manutenção do sistema de passaportes.

Também perderam verba as rubricas sobre "controle e registro de estrangeiros, operações policiais de prevenção e repressão ao tráfico de drogas, ações de cooperação policial internacional, entre outras atividades de grande relevância para a Polícia Federal", segundo o órgão.

O presidente da ADPF (Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal), Luciano Leiro, disse que causou perplexidade a inclusão da PF entre os órgãos alvos de corte "porque a corporação tem sido cada vez mais exigida, seja no combate à criminalidade organizada, aos crimes ambientais, na defesa do Estado democrático de Direito".

"A PF já está na iminência do cancelamento de contratos que abrangem a manutenção de terceirizados que fazem o serviço de imigração e emissão de passaportes", afirmou, em um comunicado.

Em nota, o Ministério do Planejamento afirmou que teve de reduzir despesas porque uma parcela de R$ 32 bilhões do Orçamento estava condicionada à apuração da inflação.

"Como o IPCA veio abaixo do previsto, o valor de fato que pôde ser liberado foi de cerca de R$ 28 bilhões. Esse ajuste é o principal fator que explica a redução, em R$ 4,5 bilhões, da estimativa para a despesa discricionária em 2024, anunciada no Relatório de Avaliação de Receitas e Despesas do 1º Bimestre", disse a pasta.

É comum que ações discricionárias sejam cortadas durante o ano para, por exemplo, reforçar gastos obrigatórios, como a folha salarial, a dívida pública ou sentenças judiciais, além de adequar o Orçamento às regras fiscais.

A recomposição desses valores sofre influência do desempenho da economia, arrecadação do governo e queda de gastos obrigatórios, entre outros fatores. Em 2023, a verba discricionária subiu entre o começo e o fim do ano --em 2024, até agora, houve redução.

Os cortes ainda atingiram R$ 17 milhões da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), o equivalente a cerca de 20% da verba discricionária do órgão.

A rubrica de "ações de inteligência", usada para bancar serviços de tecnologia da informação do órgão e diárias dos agentes, entre outras atividades, foi a que mais perdeu recursos.

Em nota, a Abin afirma que "tem se mobilizado para conseguir recomposição orçamentária".

O órgão diz ainda que mantém atividades como a instalação de centros de inteligência local para as reuniões do G20 no Brasil, consultoria de segurança para o Concurso Público Nacional Unificado e ações de inteligência para desintrusão em áreas indígenas, além da atuação na Casa de Governo na Terra Indígena Yanomami.

·        Cortes no Orçamento

Governo reduziu mais de R$ 4 bilhões em gastos discricionários por regras do novo arcabouço fiscal

<<<< Ministério da Fazenda

Pasta perdeu maior volume de recursos (R$ 485,8 milhões)

<<< Ministério da Defesa

Teve R$ 280 milhões cortados. Em nota, diz que verba disponível é a menor em 10 anos e cita 'forte impacto'

<<< Segurança e inteligência

PF perdeu R$ 122 milhões e diz que não foi ouvida sobre corte. Abin teve cerca de 20% da verba cortada

<<< Ministério da Saúde

De R$ 140 milhões cortados, R$ 107 milhões são para entrega com desconto no Farmácia Popular; pasta diz que ainda não há impacto na distribuição dos produtos e lembra que verba geral do programa foi turbinada

<<< MEC e Ciência e Tecnologia

Perderam cerca de R$ 280 milhões, somados. Bolsas em universidade e na educação básica estão entre ações atingidas

<<< Desenvolvimento e Assistência Social

Com cortes de R$ 228 milhões, pasta diz que tem verba limitada para programa Criança Feliz e financiamento de comunidades terapêuticas

 

Ø  Associações de funcionários tentam impedir que Caixa transfira loterias a subsidiária

 

Associações de funcionários da Caixa Econômica Federal enviaram uma carta ao presidente do conselho de administração do banco, o secretário do Tesouro Nacional, Rogério Ceron, pedindo para que os membros do colegiado votem contra a transferência das operações de lotéricas do banco para uma subsidiária. Essa transferência deve ser votada pelo órgão na próxima segunda-feira, 15.

As entidades afirmam, no texto, que a operação ameaça o caráter público da Caixa, porque representaria uma “terceirização” da operação, ameaçaria o repasse de recursos das loterias ao governo federal, que os utiliza para financiar políticas públicas, e abre brechas para uma eventual privatização.

“[…] tememos que este seja um passo inicial para uma privatização mais ampla da instituição, o que seria desastroso para os interesses públicos e para a soberania nacional”, diz a carta à qual o Broadcast teve acesso. “Diante do exposto, apelamos ao senso de responsabilidade e compromisso com o interesse público de cada membro deste Conselho para que votem contra a proposta de transferência das operações das Loterias da Caixa para a Caixa Loterias.”

O presidente da Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa Econômica Federal (Fenae), Sergio Takemoto, afirma que os objetivos do banco para fazer a mudança organizacional não estão claros. “O que eles alegam, na nossa visão, não tem fundamento. Eles alegam que a Caixa não tem tecnologia, não tem agilidade, nem produto.”

A alegação da Caixa é que ao criar uma empresa específica para as loterias, o banco conseguirá implementar novos produtos de forma mais ágil. Hoje, as loterias estão consolidadas no balanço do banco. No ano passado, arrecadaram R$ 23,4 bilhões, um crescimento de 0,9% em relação a 2022. Deste total, R$ 9,2 bilhões foram destinados a programas sociais do governo federal.

Além da arrecadação, as loterias são parte fundamental da rede de atendimento do banco, porque prestam serviços bancários da Caixa. Em dezembro passado, eram 13,3 mil lotéricas espalhadas pelo País. O número de agências físicas, para efeito comparativo, era bem menor, de 3,4 mil.

·        Temor de privatização

A Fenae é uma das entidades que assinam a carta, junto com a Federação Nacional das Associações de Gestores da Caixa Econômica Federal (Fenag), a Associação Nacional dos Advogados da Caixa Econômica Federal (Advocef), a Associação Nacional dos Auditores Internos da Caixa Econômica Federal (Audicaixa), a Associação Nacional dos Engenheiros, Arquitetos e Administradores de Rede (Aneac), a Social Caixa e a Associação Nacional dos Avaliadores de Penhor da Caixa Econômica Federal (Anacef).

Takemoto critica ainda o modelo de busca de parceiros de operação no setor privado, que a Caixa adota em empresas como a Caixa Seguridade, a Caixa Cartões e outras. De acordo com ele, trata-se de uma “privatização na prática”.

No banco público, as críticas são vistas como infundadas. Uma fonte afirma que a exploração das loterias é um monopólio da Caixa definido por lei, e que por isso, não está nas mãos do banco buscar uma eventual privatização do serviço, que já foi cogitada em outros governos.

O projeto de transferir as loterias da Caixa para uma empresa específica, controlada pelo banco, não é novo. A Caixa Loterias foi criada com essa finalidade em 2015, durante o governo Dilma Rousseff (PT), na mesma época em que a Caixa Seguridade foi criada. O presidente do banco, Carlos Vieira, que assumiu em novembro passado, tem afirmado que sua gestão vai tirar a mudança do papel. Em janeiro, nomeou Lucíola Vasconcelos, ex-vice-presidente de Agente Operador, como CEO da Caixa Loterias.

Embora as loterias sigam crescendo, o segmento é diretamente ameaçado pelo avanço das casas de apostas esportivas, as chamadas bets, que acabam de ser regulamentadas pelo governo. Diante disso, a Caixa considera que precisa ter maior agilidade no negócio.

¨      Caixa: eventual privatização de loteria depende do Congresso, que teria de alterar Constituição

A Caixa Econômica Federal informou neste domingo, 14, que uma eventual privatização do serviço de loterias, hoje explorado pelo banco de forma exclusiva, dependeria do Congresso Nacional. A manifestação da instituição acontece após um pedido de associações de funcionários para que a transferência da operação das lotéricas para uma subsidiária seja reprovada pelo conselho de administração do banco.

“A Caixa esclarece que a exploração de loterias constitui serviço público e, em âmbito federal, é permitida pela Constituição Federal apenas à União, que atribuiu a execução das modalidades lotéricas ao banco, nos termos das normas e diretrizes previstas em legislação vigente”, diz a nota. “Nesse contexto, a privatização das Loterias dependeria de lei específica, aprovada pelo Congresso Nacional, independente de qual empresa seja seu agente operador.”

Como mostrou o Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado), um grupo de associações de funcionários do banco enviou ao presidente do Conselho da Caixa, o secretário do Tesouro Nacional, Rogério Ceron, pedido para que os membros do órgão votem contra a transferência da operação das loterias para a Caixa Loterias.

A empresa é uma subsidiária integral da Caixa, criada para receber a gestão das lotéricas. A votação sobre a transferência das loterias da Caixa para a subsidiária está prevista para esta segunda, 15.

Estas associações alegam que a mudança pode abrir espaço para uma eventual privatização do serviço, através da venda de parte ou todo o capital da empresa. A Caixa tem alegado que a operação dará ao banco maior agilidade para modernizar as loterias, que sofrem concorrência direta das casas de apostas esportivas online, as chamadas bets.

 

Fonte: FolhaPress/IstoÉ       

 

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