quarta-feira, 17 de abril de 2024

Estimulação cerebral: novo tratamento para a dependência química

Há mais de 60 anos, um pesquisador mostrou como um pulso de eletricidade no cérebro de um touro de carga poderia ser utilizado para parar o animal em seu trajeto. Hoje, a neuroestimulação é usada para tratar uma variedade de doenças, incluindo doença de Parkinson, tremor, transtorno obsessivo-compulsivo e síndrome de Tourette. O neurocirurgião da Mayo Clinic, Dr. Kendall Lee, e seus colegas acreditam que uma forma de tratamento chamada estimulação cerebral profunda (ECP), está pronta para resolver um dos maiores desafios da saúde pública: a dependência química.

“A dependência química é uma enorme  e urgente demanda médica”, afirma o Dr. Kendall Lee. A chave para tratá-la, afirma ele, é cortar o prazeroso “estar chapado” que vem com o vício — o que a ECP eventualmente é capaz de fazer.

“No momento, temos vários estudos iniciais que mostram a promessa de suprir o rápido aumento da dopamina que faz com que as pessoas se sintam chapadas”, diz o doutor.

Em 2023, um recorde de 112.000 pessoas morreram nos EUA após uma overdose de drogas, incluindo drogas ilícitas e opioides prescritos. Em 2019, a nível mundial, cerca de 600.000 mortes foram atribuídas ao uso de drogas. Apesar de vários tratamentos psicológicos e farmacêuticos estarem disponíveis para a dependência química, cerca de 75% a 98% dos pacientes apresentam reincidência.

“O que é único no vício é que ele cria um padrão no cérebro que se autoperpetua”, explica o psiquiatra, Dr. Tyler Oesterle.“Basicamente, esse comportamento se reforça, tornando-o muito mais resistente à intervenção”

O cérebro está preparado para fazer do prazer uma prioridade. O sistema de recompensa do cérebro conecta duas pequenas regiões: a área tegmental ventral, que libera a dopamina química do bem-estar, e o núcleo accumbens, que controla a memória e o comportamento. O primeiro é o motivo pelo qual você sente um choque de prazer depois de morder um hambúrguer. É por isso que a sua boca saliva sempre que você sente o cheiro de alguém acendendo uma churrasqueira. As drogas podem sobrecarregar este sistema, inundando-o de dopamina e reforçando as ligações que sustentam o vício.

Mas e se você pudesse causar um curto-circuito no sistema de recompensas? Se as drogas deixassem de provocar o estado de estar chapado, seria mais fácil parar de usá-las? Uma pesquisa preliminar feita em modelos animais e humanos, sugere que é possível reduzir o comportamento da procura por drogas estimulando eletricamente as regiões cerebrais associadas à recompensa.

“Os resultados são promissores, mas ainda não sabemos como funciona”, afirma o engenheiro biomédico, Ph.D. Hojin Shin. “O que realmente precisamos é de uma técnica que nos permita ver como o cérebro funciona e como o cérebro muda em resposta à estimulação, para que possamos utilizar essa informação no aprimoramento do tratamento”

Dr. Shin e seu colega, o Ph.D. Yoonbae Oh,  do Laboratório de Engenharia Neural da Mayo Clinic, estão desenvolvendo novas técnicas para medir substâncias químicas cerebrais —como a dopamina e a serotonina —em tempo real. As versões mais recentes utilizam eletrodos compostos de fibras de carbono flexíveis, mais finas que um fio de cabelo humano, conectadas remotamente a um circuito eletrônico que pode simultaneamente estimular neurônios e detectar neuroquímicos.

Os pesquisadores usaram suas inovações para obter informações importantes sobre os mecanismos da ECP e da dependência. Em um estudo, eles utilizaram a ECP para ativar a área tegmental ventral produtora de dopamina em cérebros de roedores. Em seguida, eles administraram uma dose de um estimulante altamente viciante. O tratamento experimental com a ECP reduziu o fluxo de dopamina ao núcleo accumbens, centro de recompensa do cérebro, quase pela metade.

Em outro estudo, a equipe testou a abordagem em um modelo de roedor com dependência de opioides. Quando eles deram aos modelos um opioide poderoso, viram um aumento nos níveis de dopamina. Mas quando eles trataram os modelos com ECP antes de administrar a droga, esse pico nunca ocorreu. O tratamento experimental pareceu também inibir a depressão respiratória, as dificuldades respiratórias responsáveis pela maioria das mortes por sobredosagem de opioides. 

Recentemente, a equipe recebeu um subsídio dos Institutos Nacionais da Saúde para obter a aprovação de uma Isenção para Dispositivo de Investigação da Food and Drug Administration (FDA), uma etapa necessária para os futuros estudos pré-clínicos e ensaios clínicos deste tratamento experimental.

“Ver o vício como um problema biológico, e abordá-lo com tratamentos biológicos como este, é uma mudança de paradigma”, explica o Dr. Oesterle. “Sabemos que as intervenções comportamentais ou farmacêuticas padrões não funcionam para todos. Estamos indo muito além dos limites porque sabemos que precisamos fazer algo diferente, verdadeiramente diferente, para ajudar as pessoas a reconstruírem suas próprias vidas”.

 

Ø  Assistir a esportes pode induzir mudanças na estrutura do cérebro, diz estudo

 

Para muitas pessoas, o esporte é uma paixão. Torcer, vibrar e comemorar a vitória do time de coração ou de um atleta favorito pode ser uma fonte de diversão e aumento do bem-estar. Diante disso, um estudo inovador, feito por pesquisadores da Universidade de Waseda, no Japão, conseguiu mostrar que, de fato, assistir a esportes ativa circuitos de recompensa no cérebro, levando à felicidade ou ao prazer.

Além disso, os pesquisadores descobriram que assistir a esportes com frequência está associado a mudanças nas estruturas cerebrais. As descobertas foram publicadas online em março, na Sports Management Review.

A equipe de pesquisadores foi liderada pelo professor Shintaro Sato, da Faculdade de Ciências do Esporte da Universidade de Waseda. Para o estudo, o time utilizou uma abordagem com diferentes métodos, combinando análise de dados de outros estudos, autorrelatados (com base na descrição dos participantes) e neuroimagem para compreender a ligação entre assistir a esportes e o bem-estar.

“Um desafio significativo na investigação do bem-estar é a natureza subjetiva dos procedimentos de medição, que pode levar a resultados tendenciosos. Portanto, os nossos estudos concentraram-se em medidas subjetivas e objetivas de bem-estar”, explica Sato, em comunicado à imprensa.

Ou seja, os pesquisadores, além de se basearem no que os próprios participantes do estudo diziam sobre o bem-estar ao assistir a um esporte, eles utilizaram métodos que avaliam como a atividade pode, de fato, mexer com o cérebro.

Para isso, foram feitos três estudos: no primeiro, os pesquisadores analisados dados públicos em grande escala sobre a influência de assistir a esportes em 20 mil residentes japoneses. Os resultados desse estudo confirmaram o padrão contínuo de aumento do bem-estar relacionado ao esporte. No entanto, esse estudo não era capaz de fornecer uma visão mais profunda entre o consumo de esportes e o bem-estar.

No segundo estudo, os pesquisadores utilizaram um questionário online para entender se a relação entre esporte e o bem-estar varia de acordo com o esporte assistido. Para essa fase da pesquisa, foram envolvidos 208 participantes, que foram expostos a vários vídeos esportivos e tiveram seu bem-estar avaliado antes e depois dos vídeos.

As descobertas deste estudo mostraram que esportes populares, como beisebol e futebol, exerceram um impacto maior na melhora do bem-estar em comparação com esportes menos populares, como o golfe.

Porém, foi o terceiro estudo que trouxe descobertas inovadoras. Nele, a equipe empregou técnicas de neuroimagem para examinar alterações na atividade cerebral depois que os participantes assistiram aos esportes. Nessa etapa, participaram 14 japoneses saudáveis, que foram submetidos a ressonância magnética e cuja atividade cerebral foi analisada enquanto assistiam a clipes esportivos.

Os resultados deste estudo mostraram que a prática de esportes desencadeou a ativação dos circuitos de recompensa do cérebro, que são indicativos de felicidade ou prazer.

Além disso, os pesquisadores descobriram que os indivíduos que relataram assistir esportes com mais frequência tinham um maior volume de massa cinzenta em regiões associadas aos circuitos de recompensa, sugerindo que a prática regular de esportes pode induzir gradualmente mudanças nas estruturas cerebrais.

“Descobriu-se que as medidas subjetivas e objetivas de bem-estar são positivamente influenciadas pela prática de esportes. Ao induzir mudanças estruturais no sistema de recompensa do cérebro ao longo do tempo, promove benefícios a longo prazo para os indivíduos. Para quem busca melhorar o bem-estar geral, assistir regularmente a esportes, principalmente os mais populares como o beisebol ou o futebol, pode servir como um remédio eficaz”, comenta Sato.

 

Fonte: IstoÉ Bem-Estar/CNN Brasil

 

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