Encontro
Brasil-Argentina: analista diz que é cedo para falar em estabilidade nas
relações
Após meses de embates e diferenças ideológicas, o Brasil recebeu
nesta segunda-feira (15) a primeira visita oficial de uma representante do
governo da Argentina. Com intensa agenda em Brasília, a ministra das Relações
Exteriores Diana Mondino teve encontros com o homólogo Mauro Vieira e o
vice-presidente Geraldo Alckmin.
Para a cientista política, pesquisadora do Observatório Político
Sul-Americano (OPSA) e doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Relações
Internacionais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) Beatriz
Bandeira de Mello, apesar de enviar um sinal positivo ao governo brasileiro com
a visita da chanceler argentina, ainda é cedo para dizer que as relações
Brasil-Argentina estão estáveis.
"A visita acontece em um momento delicado, depois do
encontro do presidente argentino, Javier Milei, com o empresário Elon Musk na
semana passada. Nesse encontro, Milei ofereceu ajuda a Musk no caso envolvendo
o ministro Alexandre de Moraes, o STF [Supremo Tribunal Federal] e as
investigações sobre a atuação das chamadas milícias digitais no Brasil. Esse
comportamento do Milei, notadamente pró-Estados Unidos e distante da América do
Sul, tem contribuído para um esfriamento das relações entre Brasília e Buenos
Aires. Nesse caso, a ministra atua para minimizar arestas e evitar maiores
conflitos entre as partes", pontua à Sputnik Brasil.
Conforme a especialista, durante os governos Alberto Fernández,
na Argentina, e Jair Bolsonaro, no Brasil, as relações entre as duas maiores
potências da América do Sul também ficaram estremecidas, situação que começou a
ser revertida com o início do terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula
da Silva e que quase levou à entrada de Buenos Aires no BRICS, que foi
rejeitada este ano por Milei.
"A possibilidade de ruptura das relações diplomáticas é
remota, dada a complementariedade econômica e comercial entre os países, mas
não há dúvida de que as diferenças ideológicas contribuem para que a relação
bilateral se mantenha em caráter inercial, ou seja, através da simples
manutenção de agendas protocolares. A título de exemplo, o Ministério de
Relações Exteriores da Argentina declarou em nota que a relação bilateral é uma
'verdadeira política de Estado para ambos os países', o que denota a importância
do Brasil para Buenos Aires para além das declarações de Milei", explica.
Entre os assuntos discutidos no encontro com Vieira, estavam
infraestrutura fronteiriça, cooperação em energia e defesa, além de integração
e a Hidrovia Paraguai-Paraná.
"O Brasil pode atuar como mediador na questão da Hidrovia
Paraguai-Paraná, por exemplo, já que Argentina e Paraguai têm divergências em
questões relacionadas à cobrança de tarifas hidroviárias. A chanceler Diana
Mondino também apresentou a proposta de estabelecer um mecanismo de cooperação
em matéria fluvial, além de citar a complementariedade energética e nuclear. A
questão da integração, sobretudo o papel do Mercosul, também é algo que precisa
ser discutido entre Brasil e Argentina, uma vez que ambos os governos possuem
posições diferentes em relação ao bloco", analisa a especialista.
·
'Tentar manter o que explodiu por baixo'
O doutor em ciência política e professor na Universidade
Nacional de San Martín (UNSAM) Lucho Karamaneff acrescentou à Sputnik Brasil
que Vieira e Mondino tentam "manter o que explodiu por baixo" da
relação, principalmente política, entre os dois países.
"E por isso vemos a insistência de Mondino e Vieira em
falar de políticas de Estado. Isso implica que o que encontraremos daqui para
frente pode ser mais do que uma política de avanços e desenvolvimento, pode ser
uma política de manutenção e sustentação. Não há interesse em detonar
totalmente a relação. Não há interesse e também não há possibilidade. O
principal parceiro comercial da Argentina é o Brasil, e para o Brasil também é
importante e significativa a relação com a Argentina", argumenta.
Assim como Bandeira de Mello, o especialista acredita que o
encontro não vai trazer grandes avanços em um primeiro momento, especialmente
em termos de integração. "É algo que sempre foi difícil, mesmo com
governos com orientações semelhantes. Nesse contexto, é ainda mais complexo
[…]. Estamos com um presidente na Argentina que sempre intensifica o discurso.
Isso é importante destacar, intensifica o discurso. Em outras questões, a
Argentina está subordinada, e em termos comerciais é dependente do Brasil. Nesse
contexto, o que podemos ver é que a relação e o vínculo também estão precários.
Hoje falaram sobre uma possível reunião em algum momento entre Milei e Lula,
sem confirmação. Isso me parece estar em jogo devido aos constantes atritos que
já ocorreram na relação e principalmente devido ao posicionamento
internacional", explica.
Lucho Karamaneff ainda citou a agenda antagonista no âmbito
internacional após o início do governo Milei em dezembro do ano passado.
"A Argentina mudou hoje, deu uma guinada, com a posse de
Milei, em muitos dos posicionamentos históricos que tinha, e isso é algo que se
reflete, por exemplo, no caso do conflito entre Israel e Irã, onde as formas e
o que foi dito, e o posicionamento, e os discursos, os comunicados que foram
emitidos foram diametralmente opostos."
·
Como é a relação econômica entre Brasil e
Argentina?
A visita da ministra das Relações Exteriores argentina começou
com um encontro com o homólogo brasileiro Mauro Vieira no Palácio do Itamaraty,
em Brasília. Terceiro maior parceiro comercial do Brasil, no ano passado as
exportações para a Argentina representaram 5,11% da balança nacional, atrás
apenas de China e Estados Unidos.
Em novembro, após as eleições na Argentina marcadas por embates
do então candidato Javier Milei com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva,
Diana Mondino chegou a visitar o Brasil para tentar aliviar as tensões entre os
dois governos, mesmo objetivo da atual agenda.
Conforme a chanceler, os projetos entre Brasil e Argentina são
"independentes e superiores" a qualquer gestão, a exemplo da possível
parceria para a importação do gás produzido na província argentina de Vaca
Muerta.
"A produção está na Argentina, e a necessidade no Brasil. A
produção alcança nossa necessidade própria e mais a do Brasil", declarou
durante entrevista coletiva. A expectativa é de que o gasoduto que leva o
combustível até Buenos Aires seja expandido até o território brasileiro, com
financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Sobre a polêmica mais recente, quando em encontro com o
empresário Elon Musk, o presidente Milei ofereceu ajuda diante das ações
judiciais que a rede social X (antigo Twitter) enfrenta no Brasil, Mondino
garantiu que o país não vai intervir. "Confiamos na Justiça de cada país.
Defendemos a liberdade de expressão em todos os sentidos", enfatizou.
Já Vieira enfatizou que a primeira visita oficial do governo
argentino tem "significado essencialmente político muito importante, de
intenso diálogo, aprofundado, sobre um conjunto de temas de maior e mais
imediato interesse para os dois países".
Na sequência, a chanceler foi recebida pelo vice-presidente e
ministro do Desenvolvimento, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, quando foram
discutidas estratégias para o fortalecimento do Mercosul e ampliação dos
acordos comerciais intrabloco. Alckmin lembrou ainda que, dos US$ 28 bilhões
(R$ 145,1 bilhões) em produtos exportados ao território argentino no ano
passado, a maior parte veio da indústria brasileira.
"A Argentina é um país parceiro, sócio e amigo do Brasil,
com quem temos uma relação estreita há longo tempo e com oportunidades de
cooperação em todas as áreas. A relação bilateral Brasil-Argentina é
estratégica e deve ser aprofundada […]. Precisamos ampliar o comércio e firmar
acordos no âmbito do Mercosul para promover as exportações, aumentando os
empregos na nossa região e gerando mais renda", enfatizou Alckmin.
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Eduardo Bolsonaro foi
a evento em apoio a Trump nos EUA com passagem paga pela Câmara
Deputado federal foi a evento trumpista em Washington e teve
valor da passagem aérea "reembolsado" pela Câmara.
Segundo informações da coluna do jornalista Guilherme Amado, do
portal Metrópoles, Eduardo Bolsonaro (PL-SP) pagou US$ 1,5 mil pela passagem,
valor que, convertido para o real e somado às taxas de embarque, custou mais de
R$ 8 mil aos cofres públicos.
O evento aconteceu em março deste ano. De acordo com a coluna, o
deputado comprou a passagem no dia 7 do mesmo mês, quatro dias antes da
Conferência de Ação Política Conservadora (CPAC, na sigla em inglês), onde,
além de participar, Bolsonaro discursou contra o Supremo Tribunal Federal
(STF).
A coluna destaca, ainda, que a viagem não consta como
compromisso em missão oficial, mas ainda assim foi paga com cota parlamentar.
Conforme o portal da Câmara dos Deputados, o valor de R$ 8.180,90, referente à
passagem aérea, foi reembolsado no dia 11 de março.
Na viagem aos EUA, Eduardo Bolsonaro foi acompanhado de outro
parlamentar, o deputado Zé Trovão. Este, por sua vez, segundo Amado, não pagou
sua passagem com cota parlamentar.
Esta combinação de fotos mostra o ex-presidente Donald Trump, à
esquerda, e o presidente Joe Biden, à direita. Biden e Trump estão se
preparando para uma possível desforra em 2024. Mas uma nova pesquisa encontra
uma notável falta de entusiasmo dentro dos partidos por qualquer um dos homens
como líder de seu partido e uma clara abertura para uma nova liderança. A
pesquisa do The
A conferência dos conservadores celebrou a candidatura de Donald
Trump à presidência dos EUA. Outros líderes mundiais da ala conservadora como
Nayib Bukele, presidente de El Salvador, e Javier Milei, presidente da
Argentina, também participaram do encontro.
Ø Estado e empresas devem dividir risco em inovação tecnológica,
diz Ministério da Tecnologia
Em entrevista à Sputnik Brasil, Luis Manuel Rebelo Fernandes,
secretário executivo do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação e um dos
convidados mais aguardados do Web Summit Rio 2024, avaliou o cenário de
inovação tecnológica do Brasil.
Iniciado nesta terça-feira (16) na cidade do Rio de Janeiro, o
Web Summit é um dos maiores eventos de tecnologia, inovação e sustentabilidade
do mundo. Focado no encontro de empreendedores e gigantes das indústria, a
edição deste ano atraiu mais de 30 mil participantes.
Convidado como representante do Ministério da Ciência,
Tecnologia e Inovação, Luis Manuel Rebelo Fernandes participou de painéis em
que defendeu o investimento público no setor. Em entrevista exclusiva à Sputnik
Brasil, Fernandes expandiu suas falas.
Segundo o secretário, o momento atual é de recuperação da
capacidade de investimentos em tecnologia no Brasil. "Durante quase seis
anos, o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico teve 90% dos
seus recursos bloqueados", afirmou.
Em 2023, detalhou, foram investidos R$ 10 bilhões. Já em 2024, o
plano é aumentar esse montante para R$ 12,7 bilhões.
"O governo estruturou um programa chamado Mais Inovação,
que se acopla à nova política industrial, ao programa Nova Indústria Brasil,
identificando áreas prioritárias para estimular a inovação e garantir novas
bases tecnológicas para o desenvolvimento do Brasil no século XXI."
Para Fernandes, o governo tem papel fundamental no fomento à
inovação e no empreendedorismo.
"O poder público tem o papel importante de compartilhamento
de risco da inovação com as empresas, sobretudo naquelas áreas prioritárias da
nova política industrial", disse.
Como exemplo de companhia estatal que está na fronteira
tecnológica, aponta o secretário, há a Petrobras, "que de uma empresa de
petróleo e gás está se transformando em uma empresa de engenharia".
De capital aberto, mas com forte presença estatal na condução da
empresa, hoje a Petrobras, enquanto companhia isolada, é a maior investidora em
pesquisa e desenvolvimento no país, especialmente na área de transição
energética, afirmou Fernandes.
"É uma empresa que pode canalizar recursos para pesquisa e
desenvolvimento, sobretudo através dos seus centros de pesquisa e
desenvolvimento, mas também de um conjunto de parcerias que a Petrobras
estabeleceu com universidades, com instituições de ciência e tecnologia."
No entanto, o principal mecanismo que o governo tem no estímulo
à ruptura tecnológica é o mecanismo da subvenção econômica, como facilitação a
empréstimos e benefícios fiscais. Ao todo, "o Programa Mais Inovação já
dirigiu para seis áreas prioritárias da nova política industrial um conjunto de
chamadas para a subvenção econômica", afirmou.
Há ainda outros programas de isenção fiscal, destacou, como a
Lei do Bem e a Lei da Informática, "através dos quais o governo abre mão
de receita imediata para estimular investimentos em pesquisa, desenvolvimento e
inovação em empresas privadas."
"Essa é uma experiência muito bem-sucedida, mas que pode
ser sempre melhorada. Então, com isso, o que o governo pretende é inaugurar um
novo ciclo de desenvolvimento no país em que o investimento empresarial em
inovação tem um papel crescente e que o Estado possa compartilhar com essas
empresas inovadoras o risco da inovação."
Fonte: Sputnik Brasil
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