O direito à Escola sem Celulares
Em maio de 2019, fui
convidado para dar uma palestra na minha antiga escola em Nova York. Antes da
palestra, encontrei-me com o diretor e os principais coordenadores. Ouvi-os
dizer que a escola, como a maioria das instituições de ensino secundárias dos EUA,
lutava contra um grande e recente aumento de doenças mentais entre os alunos.
Os diagnósticos iniciais eram depressão e transtornos de ansiedade, com taxas
crescentes de automutilação; as meninas eram particularmente vulneráveis.
Disseram-me que os problemas de saúde mental surgiram quando os alunos chegaram
ao nono ano: ao sair do ensino fundmental [middle school], muitos alunos já
estavam ansiosos e deprimidos. Muitos também já eram viciados em celulares.
Dez meses depois, fui
convidado para dar uma palestra na Scarsdale Middle School. Lá também me
encontrei com a diretora e seus principais responsáveis e ouvi o mesmo: os
problemas de saúde mental haviam piorado muito em pouco tempo. Muitos dos
alunos que chegavam ao sexto ano já estavam ansiosos e deprimidos. E muitos,
viciados em seus telefones.
Para os professores e
gestores com quem conversei, não foi mera coincidência. Eles viam ligações
claras entre o aumento do vício em telefone e o declínio da saúde mental, para
não falar do declínio do desempenho escolar. Um tema comum em suas falas era: Todos
nós odiamos telefones . Manter os alunos longe de seus dispositivos durante as
aulas era uma luta constante. Chamar a atenção dos alunos era mais difícil,
porque eles pareciam permanentemente distraídos e congenitamente distraíveis.
Drama, conflito, intimidação e escândalo aconteciam continuamente durante o dia
escolar em plataformas às quais os funcionários não tinham acesso. Perguntei
por que eles não podiam simplesmente proibir os telefones no horário escolar.
Responderam que muitos pais ficariam chateados se não conseguissem falar com
seus filhos durante a jornada.
Muita coisa mudou
desde 2019. A defesa das escolas sem telefone é muito mais forte agora. Como
meu assistente de pesquisa, Zach Rausch , e eu documentamos em meu Substack,
After Babel, evidências de uma epidemia de doenças mentais, que começou por
volta de 2012 , continuam a se acumular. O mesmo ocorre com evidências de que
isso foi causado em parte pelas mídias sociais e pela mudança repentina para os
smartphones, no início da década de 2010. Muitos pais agora percebem o vício e
a distração que esses dispositivos causam em seus filhos; a maioria de nós já
ouviu histórias angustiantes de comportamento autolesivo e tentativas de
suicídio entre os filhos de nossos amigos. Há duas semanas, o surgeon-gernal
dos Estados Unidos emitiu um alerta, afirmando que as redes sociais podem
representar “um risco profundo de danos à saúde mental e ao bem-estar de
crianças e adolescentes”.
Há agora mais
precedentes: muitos novos exemplos de escolas que ficam totalmente sem telefone
durante a jornada escolar. É o momento certo para pais e educadores
perguntarem: Devemos livrar a jornada escolar dos celulares? Isso reduziria as
taxas de depressão, ansiedade e automutilação? Melhoraria os resultados
educacionais? Acredito que a resposta para todas essas perguntas é sim.
Pense em como é
difícil para você permanecer concentrado na tarefa e manter uma linha de
pensamento enquanto trabalha no computador. Emails, mensagens de texto e
alertas de todos os tipos apresentam continuamente oportunidades de fazer algo
mais fácil e divertido do que o que lhe ocupa agora. Se você tem mais de 25
anos, possui um córtex frontal totalmente maduro para ajudá-lo a resistir à
tentação e a manter o foco – mas provavelmente tem dificuldades para fazer
isso. Agora imagine um telefone no bolso de uma criança, vibrando a cada poucos
minutos com um convite para fazer algo diferente de prestar atenção. Não há
córtex frontal maduro para ajudá-las a permanecer concentrados na tarefa.
Muitos estudos
estabeleceram que, apesar das regras das escolas, os alunos verificam muito o
telefone durante as aulas e recebem e enviam mensagens de texto, quando
conseguem. Seu foco é frequente e facilmente dispersado por interrupções em
seus aparelhos. Um estudo de 2016 apontou que 97% dos estudantes universitários
usam o telefone durante as aulas para fins não educacionais. Quase 60% dos
alunos disseram que passam mais de 10% do tempo de aula ao telefone,
principalmente enviando mensagens de texto. Muitos estudos mostram que os
alunos que usam o telefone durante as aulas aprendem menos e obtêm notas mais
baixas .
Você pode estar
pensando que essas descobertas são meramente correlacionais; talvez os alunos
mais inteligentes sejam mais capazes de resistir à tentação? Talvez, mas outras
experiências também mostram que usar, apenas olhar para um telefone ou receber
um alerta faz com que os alunos tenham um desempenho inferior.
Por exemplo, considere
este estudo, apropriadamente intitulado “Cérebros desviados: a mera presença do
smartphone reduz a capacidade cognitiva disponível”. Os alunos envolvidos no
estudo foram a um laboratório e fizeram testes comumente usados para medir a
capacidade de memória e inteligência. Foram distribuídos aleatoriamente em um
de três grupos, seguindo as seguintes instruções: (1) Coloque o telefone na
mesa, (2) deixe-o no bolso ou na bolsa ou (3) deixe-o em outro cômodo. Nenhuma
dessas condições envolve o uso ativo do telefone – apenas a distração potencial
de saber que ele está lá, com mensagens de texto e postagens em mídias sociais
esperando. Os resultados foram claros: quanto mais próximo o telefone estava
dos alunos, pior era o seu desempenho nos testes. Até mesmo ter um telefone no
bolso prejudicava as habilidades dos envolvidos no estudo.
O problema não é
apenas uma distração transitória,. O uso intenso do telefone ou das redes
sociais também pode ter um efeito cumulativo, duradouro e deletério na
capacidade dos adolescentes de se concentrarem e dedicarem. Quase metade dos
adolescentes norte-americanos afirma estar online “quase constantemente”, e
essa oferta contínua de pequenos prazeres pode produzir mudanças sustentadas no
sistema de recompensa do cérebro , incluindo uma redução dos receptores de
dopamina. Isso muda o humor geral dos usuários para irritabilidade e ansiedade,
quando separados de seus telefones, e reduz sua capacidade de concentração.
Pode ser uma das razões pelas quais os usuários frequentes de telefones
avaliações escolares mais baixas . Como argumentaram recentemente os
neurocientistas Jaan Aru e Dmitri Rozgonjuk : “O uso de smartphones pode ser
perturbadoramente habitual. Seu preincipal prejuízo é a incapacidade de exercer
esforço mental prolongado”.
Mas os smartphones não
apenas afastam os alunos dos trabalhos escolares; eles os afastam um do outro
também.
O psicólogo Jean M.
Twenge e eu descobrimos um aumento global na solidão nas escolas, a partir de
2012. Estudantes de todo o mundo tornaram-se menos propensos a concordar com
perguntas como “Sinto que pertenço à escola” e mais propensos a concordar com outras
do tipo: “Sinto-me sozinho na escola”. Foi mais ou menos nessa época que os
adolescentes passaram a usar maciçamente os smartphones. Foi também quando o
Instagram pegou fogo entre meninas e mulheres jovens em todo o mundo, após sua
aquisição pelo Facebook, introduzindo a cultura selfie e os seus níveis
venenosos de comparação social visual.
Uma maneira pela qual
os telefones prejudicaram nossos relacionamentos é por meio do “phubbing” (uma
contração dephone e snubbing, algo como desprezo telefônico), quando uma pessoa
interrompe uma conversa para olhar para a tela. A pesquisa mostra que o ato
interfere na intimidade e na qualidade percebida das interações sociais. As
pessoas mais viciadas em seus telefones são, sem surpresa, as maiores phubbers
, o que pode explicar por que são as mais deprimidas. e solitárias . Depois que
alguns alunos começam a fazer phubbing para outros, estes sentem-se
pressionados a pegar seus próprios telefones e, num piscar de olhos, a cultura
de toda a escola muda.
Se você tiver alguma
dúvida de que os telefones na escola prejudicam as conexões sociais, converse
com os alunos sobre o que acontece na hora do almoço. Meus alunos de graduação
na Universidade de Nova York me dizem que é difícil ter conversas reais, porque
a maioria de seus colegas mantém seus telefones na mesa e frequentemente se
afastam para verificar ou responder a notificações. Um estudo de 2018 realizado
pelos psicólogos sociais Ryan Dwyer, Kostadin Kushlev e Elizabeth Dunn testou
esta intuição. Centenas de estudantes universitários e membros da comunidade
foram convidados a compartilhar refeições em um restaurante, com familiares ou
amigos. Participantes de cada pequeno grupo foram designados para colocar seus
telefones na mesa ou guardá-los. Os resultados? “Quando os telefones estavam
presentes, os participantes sentiam-se mais distraídos, o que reduzia o quanto
gostavam de passar tempo com os amigos e ou familiares.”
Há seis anos venho
estudando e escrevendo sobre os efeitos dos smartphones e das mídias sociais no
comportamento, no desenvolvimento e na saúde mental dos adolescentes. Para
ajudar a organizar a pesquisa existente sobre esses tópicos, criei uma série de
documentos de código aberto do Google , dos quais fiz a curadoria com Zach
Rausch. Recentemente, criamos uma revisão colaborativa de escolas sem telefone
, catalogando os estudos que observei neste artigo e muitos mais.
Consideremos as
palavras da professora do MIT, Sherry Turkle, no seu livro Reclaiming
Conversation [“Resgatando a Conversação”]: Por causa dos nossos telefones, ela
escreve, “estamos para sempre noutros lugares”. Se quisermos que as crianças
estejam presentes, aprendam bem, façam amigos e sintam que pertencem à escola,
devemos manter os smartphones e as redes sociais fora do dia escolar durante o
maior tempo possível.
• O que significa ficar sem telefone?
De acordo com o Centro
Nacional de Estatísticas da Educação dos EUA, em 2020 “existiam proibições de
telefones celulares em 77% das escolas do país ”. Mas este número elevado
parece referir-se a um padrão muito baixo: inclui qualquer escola que diga aos alunos
que não devem usar o telefone durante as aulas – a menos que o uso esteja
relacionado com a aula. Isso não é realmente uma proibição; é mais um desejo
inexequível. Tal política garante a continuidade da luta entre professores e
alunos, e significa que há sempre crianças a olhar para telefones escondidos no
colo ou em livros, especialmente nas aulas em que o professor ficou exausto
pelo jogo interminável do policiamento telefônico. Quando algumas crianças
postam e enviam mensagens de texto durante as aulas, isso aumenta a pressão
sobre todos os outros para verificarem seus telefones. Ninguém quer ser a
última pessoa a saber sobre o que todo mundo está falando nas mensagens de
texto.
Outros países estão à
frente na política em relação aos telefones. A França proibiu o uso de
celulares nas dependências das escolas até o nono ano em 2018 (embora a lei
permita que os alunos mantenham seus telefones na bolsa ou no bolso, para que
ainda os usemfurtivamente). Em Nova Gales do Sul, na Austrália, a utilização de
celulares foi proibida nas escolas primárias e em breve será proibida nas
escolas secundárias, embora as escolas possam decidir como implementar as
proibições .
Algumas escolas nos
EUA assumiram agora posições igualmente intransigentes em relação aos
telefones. Por exemplo, o autor Mark Oppenheimer escreveu no início de 2023 no
The Atlantic sobre St. Andrew’s, um pequeno internato em Delaware que permite
que os alunos usem seus telefones apenas quando estiverem em seus dormitórios,
e não em qualquer outro lugar do campus – uma medida a que alguns os alunos
inicialmente resistiram, mas agora tem amplo apoio estudantil.
Mais escolas –
possivelmente, todas – deveriam transformar-se em zonas livres de celulares.
Como isso seria, na prática? Acho útil pensar nas restrições telefônicas em uma
escala de 1 a 5, da seguinte maneira:
Nível 1: Os alunos
podem usar telefone apenas atividades relacionadas às aulas.
Nível 2: Os alunos
podem manter consigo o telefone, mas não devem tirá-lo do bolso ou da mochila
durante o horário de aula.
Nível 3:
Porta-telefones nas salas de aula: os alunos colocam seus telefones em um bolso
de parede ou unidade de armazenamento no início de cada aula e pegam-no no
final.
Esses três níveis
parecem ser os mais comumente empregados pelas escolas norte-americanas hoje.
Acredito que os dois primeiros são quase inúteis. Muitos alunos não têm
controle de impulso para evitar verificar o telefone durante o horário de aula
se este estiver ao seu alcance. Um professor da Scarsdale High School me disse
que quando é imposta a proibição de usar telefones durante as aulas, alguns
alunos dizem que precisam usar o banheiro para verificar seus celulares.
Os porta-telefones são
um pouco melhores para o aprendizado, porque tiram o aparelh do bolso do aluno.
Mas seu efeito na vida social escolar pode ser pior: um resultado provável da
prática é que todos os momentos entre as aulas serão dominados por crianças
olhando para baixo silenciosamente em seus telefones, obtendo o que lhes foi
negado por 50 minutos durante a aula. Aos amigos, nas conversas, eles dão
apenas uma fração de sua atenção.
Vamos em frente:
Nível 4: Bolsas com
chave (como as fabricadas pela Yondr ). Quando chegam à escola, os alunos são
obrigados a colocar o telefone em uma bolsa pessoal. Esta é então trancada com
um alfinete magnético (como as etiquetas antirroubo usadas em lojas de roupas).
Os alunos mantêm a bolsa consigo, mas não podem desbloqueá-la até o final do
dia escolar, quando acessam um dispositivo de desbloqueio magnético.
Nível 5: Armários de
telefone Quando chegam à escola, os alunos trancam seus telefones em um armário
seguro com vários compartimentos pequenos. Eles guardam a chave e só voltam a
ter acesso aos armários telefônicos quando saem da escola.
As práticas de nível 4
e 5 colocam qualquer aluno visto usando um telefone durante o dia escolar em
clara violação. São as duas únicas políticas que conheço que podem criar
escolas sem telefone. São as políticas com maior probabilidade de produzir
benefícios educacionais, sociais e de saúde mental substanciais, porque são as
únicas que proporcionam aos alunos seis ou sete horas por dia longe do
telefone.
As bolsas com chave
são de baixo custo e fáceis de implementar. No entanto, ouvi de alguns alunos
que seus colegas (com a ajuda de vídeos do YouTube) encontram maneiras de abrir
suas bolsas e usar seus telefones sempre que acham que nenhum adulto está assistindo.
Armários telefônicos
podem ser mais complicados de instalar, logisticamente – especialmente em
escolas grandes. Mas eles são a maneira mais confiável de apartar os alunos do
telefone durante o período escolar e oferecem os maiores benefícios.
Uma escola que se
livre dos telefones ainda terá que descobrir o que fazer com laptops, tablets e
computadores na sala de aula. Os alunos certamente usariam qualquer dispositivo
conectado à Internet para enviar e receber textos e para acessar suas contas
nas redes sociais. No ano passado, proibi todas as telas – até mesmo laptops
para fazer anotações – de todas as minhas aulas de graduação e MBA e, no final
de cada semestre, os alunos concordaram fortemente que isso melhorou as aulas
para eles. Mas mesmo na ausência de uma proibição de computadores portáteis,
estes dispositivos maiores são mais facilmente geridos e não têm tanta
probabilidade de perturbar as interações sociais fora da sala de aula, como os
smartphones.
Aqueles que se opõem à
proibição do telefone levantam uma série de objeções. Os smartphones podem ser
ferramentas de ensino úteis, por exemplo, e podem tornar mais fácil para alguns
professores criar planos de aula envolventes. Isso é verdade, mas qualquer
aumento no envolvimento durante uma aula pode ser compensado pela distração dos
alunos durante a mesma aula. Quando acrescentamos os custos para todos os
outros professores e a perda de ligação social entre as turmas, é difícil ver
como o benefício marginal de uma aula por telefone supera os custos de um corpo
discente centrado no telefone.
Um argumento mais
comum vem dos pais, muitos dos quais têm medo de que algo possa correr mal na
escola e querem garantir que seus filhos estejam sempre acessíveis. Estes
receios podem ser compreendidos, mas também fazem parte da causa dos problemas
de saúde mental da Geração Z. No seu livro Paranoid Parenting , o sociólogo
Frank Furedi descreve como um novo estilo de parentalidade protetora varreu a
sociedade britânica e norte-americana na década de 1990, em resposta à
percepção de que os riscos para as crianças estavam aumentando. Quando os pais
acreditam que tudo é arriscado e não podem confiar em outros adultos para
proteger seus filhos, eles adotam uma abordagem mais defensiva em relação à
criação dos filhos. Tentam protegê-los de todos os riscos, mesmo quando isso os
priva de experiências valiosas de independência.
Mas os pais de hoje –
mesmo os que cresceram num período em que as taxas de criminalidade eram muito
mais elevadas do que são agora – geralmente têm boas recordações de irem a pé
ou de bicicleta para a escola com outras crianças, ou simplesmente de passarem
algum tempo longe da supervisão dos pais para sair com os amigos. Acredito que
crianças e adolescentes se beneficiariam em termos de desenvolvimento se
passassem seis ou sete horas por dia sem contato com os pais.
E os tiroteios em
escolas? Sou pai de dois estudantes do ensino fundamental e, claro, gostaria de
me conectar com meus filhos nesse cenário de pesadelo. Mas será que uma escola
onde todos os alunos têm um smartphone seria mais segura do que uma onde apenas
os adultos os têm? Ken Trump, presidente dos Serviços Nacionais de Segurança e
Proteção Escolar , alerta que usar um celular durante uma emergência pode
aumentar os riscos de segurança. “Durante um cativeiro, os alunos deveriam
ouvir os adultos da escola que dão instruções para salvar vidas”, explica ele .
“Os telefones podem desviar a atenção. O silêncio também pode ser fundamental.”
Além disso, parece-me que 300 pais correndo para a escola em 300 carros
provavelmente tornariam as coisas mais difíceis para os socorristas.
A comunicação é
geralmente uma excelente possibilidade. Quando os telefones celulares
tornaram-se comuns na década de 1990, os adolescentes da geração do milênio os
adotaram com entusiasmo. Esses telefones não tinham um navegador de internet ou
aplicativos habilitados para a rede. Podemos chamá-los de “telefones de
comunicação”, porque foram projetados para ajudar pessoas a se comunicar com
outras pessoas. E é para isso que os millennials os usavam: ligar e enviar
mensagens de texto para seus amigos, muitas vezes sobre como e quando se reunir
pessoalmente. Quando os eram adolescentes, sua saúde mental era boa – um pouco
melhor do que a da Geração X, antes deles, e muito melhor do que a Geração Z,
depois deles (como Twenge relata em seu novo livro Generations). Telefones de
comunicação são úteis.
Os smartphones são
muito diferentes. Eles podem ser usados para comunicação, mas têm milhares de
outras aplicações, muitas das quais são cuidadosamente projetadas para atrair e
manter a atenção de uma criança. Penso que é desnecessário e imprudente dar às
crianças smartphones como seus primeiros telefones.
Os pais geralmente dão
às crianças seus primeiros telefones no início do ensino fundamental,
supostamente por boas razões: queremos poder alcançar nossos filhos para
organizar atividades, e queremos que eles possam nos alcançar se algo der
errado. Então, demos a nossos filhos telefones de comunicação! Eles fazem
exatamente o que você quer e não fazem as coisas que você mais teme (fornecendo
acesso 24 horas a mídias sociais viciantes, videogames e muito mais). Minha
esposa e eu demos a nossa filha um Gizmo Watch quando ela completou 9 anos. Ela
podia ligar apenas três números com ele, e nós (os 3 membros da família)
poderíamos chamá-la. Era o dispositivo de comunicação perfeito para uma garota
que ia a pé para a escola, mandando recados e encontrando-se com um amigo em um
parque próximo. Isso permitiu que minha filha tivesse mais experiências do que
teríamos permitido a ela sem o relógio.
Se a maioria dos pais
adiasse dar aos filhos um smartphone até o ensino médio, fornecendo apenas
telefones comuns até lá, isso amplificaria os benefícios de bloquear telefones
nas escolas. Isso significaria que, quando terminam as aulas e as crianças se reencontram
com seus telefones, a maioria delas usaria esses aparelhos para ligar ou enviar
mensagens de texto para seus amigos e familiares, em vez de dedicar a próxima
hora a percorrer as postagens do Instagram.
À medida em que a
crise da saúde mental dos adolescentes continua e as taxas de depressão,
ansiedade e automutilação continuam a aumentar, não podemos permanecer
impotentes. Seria ótimo se as plataformas de mídia social aplicassem idades
mínimas para abrir contas, mas todos os sinais indicam que elas não serão
obrigados a isso. Seria ótimo se leis as obrigassem. Seria melhor ainda se a
idade mínima para o uso de mídias sociais fosse aumentada para pelo menos 16
anos. As soluções para esta crise são abrangentes, e algumas precisam envolver
o Estado.
Mas pais, professores
e gestores escolares também podem tomar medidas significativas desde já. Os
pais podem oferecer apenas telefones de comunicação até o ensino médio, e podem
se coordenar com os pais dos amigos de seus filhos, facilitando essa escolha
para todas as famílias envolvidas. As escolas que estão usando os níveis mais
baixos de restrição de telefone podem evoluir para bolsas bloqueáveis ou
armários de telefone. Minha esperança, como pesquisador, é que alguém
implemente essas mudanças experimentalmente, atribuindo aleatoriamente a
algumas escolas de ensino médio a responsabilidade de implementar essas
mudanças o mais rápido possível. Dessa forma, poderíamos obter evidências
empíricas sobre se as escolas sem telefone realmente trazem os benefícios que
eu previ com base na pesquisa.
“Isso me ajudou
muito”, disse uma estudante da San Mateo High School, na Califórnia, à NBC News
depois que sua escola começou a usar bolsas bloqueáveis. “Antes, eu geralmente
gostava de me curvar na lateral da minha mesa, checava meu telefone e enviava mensagens
para todos. Mas agora não há outra coisa para nós olharmos ou fazermos, exceto
prestar atenção e dialogar com nosso professor.
Todas as crianças
merecem escolas que as ajudem a aprender, cultivar amizades profundas e se
tornar jovens adultos mentalmente saudáveis. Todas as crianças merecem escolas
sem telefone.
Fonte: Por Jonathan
Haidt, em After Babel | Tradução: Antonio Martin, em Outras Palavras
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