Bolsonaro
nunca negou que queria uma República das Milícias, diz sociólogo
Em
entrevista ao programa Fórum Café de quinta-feira (1), o sociólogo e
jornalista Bruno Paes Manso, autor do
livro ‘A República das Milícias’, analisou a conjuntura das questões do crime organizado no
Brasil.
Na visão
do pesquisador, o bolsonarismo serviu como agiu diretamente para fortalecer a
lógica miliciana e conectou a ideologia de Bolsonaro ao recente escândalo de
espionagem da Abin durante o governo de extrema-direita.
"A
gente estava com 30 anos de Nova República e uma tentativa de criar um estado
democrático a partir da Constituição de 88. A gente tem uma crise e uma grande
depressão no Brasil desde 2016 com o impeachment da Dilma e a crise
econômica profunda, e com a descrença na política muito grande”, explicou Bruno
Paes Manso.
“Quando
você não acredita na política, a solução é a polícia. O comandante desse
exército de descrentes na política foi o bolsonarismo com um discurso de
guerra, estabelecendo inimigos, que casava com o discurso dos generais e dos
representantes das FFAA, com as viúvas da ditadura, que via a política com uma
guerra, em um Brasil que havia sido tomado ‘pelos comunistas e esquerdistas’”,
completou.
De acordo
com o pesquisador, é esse clima de guerra e de financiamento a partir da
ilegalidade que fomentou o escândalo da Abin paralela, uma lógica parecida com
a das milícias no Rio de Janeiro.
“Você
precisa tratar a política como uma extensão da guerra e aqueles que não são
seus aliados precisam ser liquidados, e de poder ligado à força. No caso do
bolsonarismo, você precisa ter aliados fortes, dinheiro e poder. O dinheiro vem
com agronegócio, garimpo, venda de armas, assim a gente consegue financiar o
poder. Você tem uma máquina de guerra”, afirma.
“O Bolsonaro
nunca negou que fizesse isso”, completou o pesquisador.
·
Kakay: investigações na Abin seguramente
vão chegar em Bolsonaro
Em
entrevista ao programa Fórum Café desta terça-feira (30), o advogado e
jurista Kakay comentou
o escândalo do Abingate no governo Jair Bolsonaro.
Segundo
informações da Polícia Federal, a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) de
Alexandre Ramagem teria monitorado pelo menos 30 mil cidadãos brasileiros entre
2019 e 2023 sob a batuta do governo Bolsonaro.
"O
Brasil não está completamente seguro de que não haverá golpe", afirmou
Kakay. "O mais difícil de lidar com esse pessoal da extrema-direita é que
eles não têm escrúpulos, ética ou limites. Depois que eles se estruturaram em
cima de fake news, eles se estruturaram para chegar ao poder e para
manter o poder. E para isso eles têm que manter o poder", afirma Kakay. “A
ultradireita inoculou o ódio na população brasileira e nós temos hoje uma
sociedade dividida. Não sei se voltará a ser como era”, completou.
·
Direitos dos espionados
Kakay
afirma que a sociedade deve saber quem são os mais de 30 mil brasileiros que
foram monitorados pela Abin e que esses brasileiros devem ter acesso individual
às informações que foram coletadas.
"A
sociedade não somente tem o direito. Nós que participamos do debate político,
temos que cobrar”, afirmou Kakay.
"Essa
[violação do] direito à intimidade é extremamente grave. Imagine se eles estão
ferindo esse direito para fazer jogo político", completou o jurista, que
afirma que o nome dos monitorados deve ser divulgado para compreensão de quem
eram os principais alvos do governo.
"Eu
não tenho nenhuma dúvida de que o cidadão que foi investigado tem direito de
saber o conteúdo inclusive e a sociedade tem o direito mínimo de saber quem
foram as pessoas que foram investigadas", completa.
·
Vai chegar em Bolsonaro
Questionado
se as investigações chegarão ao ex-presidente Jair Bolsonaro, Kakay foi
objetivo ao dizer que ele foi o maior beneficiário das diversas investigações e
que elas certamente chegarão ao inelegível.
"Eu
não tenho nenhuma dúvida [de que as investigações chegarão em Bolsonaro]. Há
uma máxima no direito penal que é ver quem é que se beneficia mais em
determinada ação. Assim começam as investigações. Quando tem uma investigação
que envolve política e poder econômico. Eu tenho para mim que ainda vamos ter
uma série de questões graves. As imputações que foram colocadas nesse processo
são gravíssimas", completa.
"O
grupo político que se beneficiou e que se beneficiaria, seguramente, chegará no
ex-presidente da República", completou.
Ø
Abin paralela: PF tem dados contra Heleno,
que deve apontar para Bolsonaro
Ex-ministro-chefe
do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), pasta a qual a Agência Brasileira
de Informação (Abin) era subordinada, o general da reserva Augusto Heleno enfrentará uma saia justa diante de dados coletados pelos
investigadores no depoimento à Polícia Federal (PF), marcado para a próxima terça-feira (6), sobre o sistema de arapongagem ilegal montado no coração do
ex-governo de Jair Bolsonaro (PL).
Após as
operações contra Carlos Bolsonaro (Republicanos) e Alexandre Ramagem (PL-RJ),
ex-diretor da agência, a PF já tem dados que revelam que Heleno tinha
conhecimento dos monitoramentos ilegais feito pelos subordinados na Abin.
Além
disso, há um histórico de ações que ligam diretamente Heleno à estrutura
montada por Carlos Bolsonaro na Abin após a exoneração do general Carlos
Alberto dos Santos Cruz e de Gustavo Bebbiano do núcleo duro do governo logo no
início do mandato do ex-presidente, em 2019.
Em sua
defesa, Heleno deve contar o histórico de aproximação de Ramagem do clã
Bolsonaro e afirmar que as tratativas do ex-diretor-geral da Abin se davam
diretamente com o ex-presidente.
Caso o
general confirme realmente o que tem dito a interlocutores, Jair Bolsonaro (PL)
deve virar alvo da investigação e ser convocado a prestar depoimentos sobre o
caso.
De acordo
com os investigadores, os arapongas lotados na Abin obedeciam ordens direta de
Ramagem que, por sua vez, era subordinado a Heleno e a Bolsonaro.
·
Heleno sabia
Em
entrevista ao Roda Viva em 3 de março de 2020, o ex-secretário geral da
Presidência Gustavo Bebianno afirmou que Heleno tinha conhecimento de que
Carlos Bolsonaro queria montar uma Abin paralela dentro do governo. Bebianno
morreu 11 dias depois da entrevista.
Na
ocasião, o ex-secretário geral da Presidência revelou que o filho de Bolsonaro
articulava com "um delegado da PF" a montagem da Abin paralela logo
nos primeiros meses de governo.
"Um
belo dia o Carlos Bolsonaro aparece com um nome de um delegado federal e três
agentes que seriam uma Abin paralela. Isso porque ele não confiava na
Abin".
Ainda
segundo o ex-secretário, ele e o general Santos Cruz afirmaram a Bolsonaro que
eram contra a ideia.
"O
general Heleno (chefe do gabinete Institucional da presidência) foi chamado.
Ficou preocupado. Mas ele não é de confronto e o assunto acabou comigo e o
general Santos Cruz. Nós aconselhamos o presidente a não fazer aquilo porque
também seria motivo de impeachment. Eu não sei se isso foi instalado porque
depois eu acabei saindo do governo".
Questionado
se o delegado seria o atual diretor da Abin, Alexandre Ramagem, Bebianno
preferiu não responder. “Eu lembro o nome do delegado. Mas não vou revelar por
uma questão institucional e pessoal”, afirmou.
Na mesma
entrevista, Bebianno revelou que Carlos Bolsonaro comandava o Gabinete do Ódio.
“Eu disse
ao presidente que as notícias falsas não podiam estar dentro do Planalto porque
poderiam dar em impeachment. Mas a pressão que o Carlos faz é tão grande que o
pai não consegue se contrapor ao filho. É como aquela criança que quer um
presente no shopping, esperneia e o pai não tem pulso para dizer não”, contou.
·
Gabinete do ódio e "Abin
paralela"
Após se
aproximar de Ramagem e em meio à tentativa de criar a "Abin paralela"
para atuar junto ao Gabinete do Ódio, Carlos Bolsonaro instalou a primeira
grande crise no Planalto.
O alvo era
justamente o general Carlos Alberto dos Santos Cruz, que se opôs aos
planos do filho de Bolsonaro e foi demitido em 13 de junho de 2019.
Menos de
um mês depois, Ramagem foi nomeado por Bolsonaro como diretor-geral da Abin e,
sob o aval de Augusto Heleno, iniciou a instalação da Organização Criminosa que
virou alvo da PF - e resultou na ação contra o agora deputado federal nesta
quinta-feira (25).
A
investigação da PF segue a mesma linha de raciocínio exposta por Bebbiano e
escancara a relação espúria com o clã Bolsonaro que fez Ramagem alavancar sua
carreira política e se lançar pré-candidato à prefeitura do Rio - tendo como
coordenador de redes sociais, Carlos Bolsonaro.
Ø
O que pode acontecer se for provado que clã
Bolsonaro ocultou provas na estranha "pescaria"
A fuga do
ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) ao lado de seus filhos Carlos (Republicanos-RJ) e Flávio (PL-RJ) pelo mar, momentos antes da chegada dos agentes
da Polícia Federal para cumprir mandados de busca e apreensão em sua residência na praia de Mambucaba, em Angra dos
Reis (RJ), na última segunda-feira (29), tornou-se o alvo das
investigações, levantando suspeitas de possível ocultação de provas que
poderiam incriminar o clã.
Após virem
à tona informações indicando que Bolsonaro e seus dois filhos, mencionados na
investigação da PF sobre a "Abin paralela", teriam fugido, a
defesa do ex-presidente alegou que eles haviam saído ainda na
madrugada para uma pescaria em alto-mar, retornando à residência, onde os
policiais aguardavam, apenas após serem contatados por aliados.
Contudo,
uma reportagem do portal Metrópoles revelou que a PF identificou que uma das três embarcações
que transportavam Bolsonaro, seus filhos e aliados, incluindo o deputado Zucco
(PL-RS), não retornou à residência. Os investigadores suspeitam que o jet
ski, que não retornou à casa em Mambucaba, possa ter sido utilizado para
transportar e ocultar provas.
Segundo o
Metropóles, Bolsonaro e seus três filhos, junto a seguranças e aliados,
deixaram a residência em um barco e dois jet skis às 6h40 após saberem da
operação da PF, que chegou às 8h40 de helicóptero do Rio de Janeiro. Eduardo
voltou às 9h30 em um jet ski, negociando o retorno de Carlos, que voltou às 11h
com Bolsonaro no barco. Flávio e o segundo jet ski não retornaram pela manhã,
alegando ida a um almoço, o que gerou estranheza entre os agentes da PF.
A suspeita
aumenta com declarações conflitantes, incluindo a de Fábio Wajngarten,
ex-secretário de Comunicação do governo Bolsonaro e atual advogado do
ex-presidente, que afirma ter encontrado Flávio na casa em Mambucaba às 12h45,
enquanto as imagens da saída da PF mostram apenas Jair, Carlos e Eduardo
Bolsonaro.
Mas,
afinal, o que pode acontecer se for provado que o clã usou a
"pescaria" de pretexto para ocultar ou destruir provas?
·
Situação grave pode motivar prisão
preventiva
Em entrevista à Fórum, o professor e advogado Guilherme
Gonçalves, especialista em Direito Público e membro da Academia Brasileira de
Direito Eleitoral e Político (Abradep), avaliou que a suposta destruição de
provas, cuja suspeita foi gerada a partir da "pescaria" da família
Bolsonaro no momento da operação da PF, pode ensejar a prisão
preventiva dos envolvidos por se tratar de uma "situação
grave".
"Caso
for comprovado que eles [a família Bolsonaro] eventualmente foram avisados
por algum vazamento de que haveria uma operação da Polícia Federal, e se provar
que essa saída para a pescaria foi um simulacro, e ainda se provar que
equipamentos eletrônicos foram descartados ou destruídos, aí não há dúvida de
que teríamos uma situação grave, que é um exemplo acadêmico daquilo que pode
levar à determinação de uma prisão preventiva dentro de uma visão
garantista", destaca Gonçalves.
"Nesse
caso, a contemporaneidade é evidente, a gravidade da destruição de provas,
ainda mais se houver provas que a operação foi vazada para os integrantes da
família Bolsonaro. Aí me parece que há um ambiente para a própria prisão
preventiva", prossegue.
Ø
Altamiro Borges: Vivo, Claro e Tim
encobriram a espionagem da Abin
Reportagem
da Folha desta quarta-feira (31) revelou que “as operadoras de
telefonia Claro, Tim e Vivo sabiam que suas redes estavam sendo atacadas pelo
software espião FirstMile, contratado pela Agência Brasileira de Inteligência
(Abin) e por outros órgãos públicos, mas não avisaram a Agência Nacional de
Telecomunicações (Anatel). A necessidade de comunicação em casos do tipo consta
em regimento do setor e é obrigatória”.
A denúncia
é grave e pode até resultar em punições.
O jornal
procurou as três operadoras, mas elas “não se manifestaram sobre a falta de
notificação e as invasões”.
Já a
Anatel confirmou em nota que as três empresas “não notificaram a agência sobre
ataques ou tentativas de invasão por meio do software FirstMile”.
Ela ainda
confirmou que essa omissão pode gerar alguma medida administrativa e lembrou
que no passado disposições de proteção para evitar acessos criminosos e
indevidos foram tomadas.
Na nota, a
Anatel ainda informou “ter instaurado três processos administrativos a partir
dos fatos noticiados pela imprensa em 14 de março de 2023, quanto ao possível
monitoramento de cidadãos por meio de software espião, nas redes de empresas de
telefonia móvel. Tais procedimentos priorizaram, no início, esclarecer se houve
conhecimento e colaboração das prestadoras para com a Agência Brasileira de
Inteligência (Abin), e apurar sobre eventuais falhas que pudessem permitir tais
acessos indevidos”.
·
Operadoras não notificaram as invasões
Como
lembra a Folha, “a Polícia Federal encontrou um e-mail em que um
funcionário da empresa responsável pela FirstMile relata uma tentativa de
invasão na rede da Tim.
As
empresas, segundo a Anatel, conseguiram corrigir falhas que permitiam que a
ferramenta monitorasse a localização de aparelhos celulares, mas não
notificaram a agência à época da descoberta das invasões operadas pelo
FirstMile”.
O artigo 9
do Regulamento de Segurança Cibernética Aplicado ao Setor de Telecomunicações
determina que as operadoras têm a obrigação de “notificar à Agência e comunicar
às demais prestadoras e usuários, conforme o caso e sem prejuízo de outras
obrigações legais, os incidentes relevantes que afetem de maneira substancial a
segurança das redes”.
Segundo
a Folha, “os processos instaurados pela Anatel demonstraram até o momento
que o software espião ‘teria atuado sem o conhecimento ou acordo prévio das
prestadoras Claro, Tim e Vivo’”.
Será
mesmo? Cabe uma rigorosa investigação!
Fonte:
Fórum/Viomundo
Nenhum comentário:
Postar um comentário