sábado, 24 de fevereiro de 2024


 

Bolsonaristas falam em 'guerra civil' e se preparam para ato com pacto de não agressão

  • Ao mesmo tempo em que convocações para o ato deste domingo (25) em São Paulo repetem o pedido do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para que não haja cartazes ou alvos específicos na manifestação, mensagens de tom violento e teorias da conspiração seguem sendo compartilhadas em grupos públicos bolsonaristas, ainda que sem citar o protesto.

    O levantamento feito pela empresa de tecnologia Palver buscou capturar o que estava sendo dito após a operação da Polícia Federal de 8 de fevereiro que mirou Bolsonaro e aliados acerca de trama golpista engendrada em sua gestão. Além disso, analisou também como reverberou a convocação do ex-presidente, feita no dia 12, para ato na avenida Paulista.

    Mensagens citando Bolsonaro e falando em "guerra civil" ou "revolução" teve certo aumento após a ordem de apreensão de passaporte contra o ex-presidente. Este tipo de conteúdo mais inflamado, porém, não cita a manifestação de 25 de fevereiro e já vinha aparecendo anteriormente nos grupos.

    Uma mensagem diz, por exemplo, que "estão inventando uma prisão a qualquer custo para Bolsonaro" e fala que "vai ter guerra civil". O texto, que é longo, diz ainda que "ninguém sairá de dentro do Congresso até que todos sejam presos" e que "ninguém nos deterá". Ao final, demanda "providências contra esses abusos de autoridades do STF" e diz que "isso não vai continuar assim".

    "Guerra civil à vista", diz outro conteúdo compartilhado, acompanhado de uma teoria da conspiração: "PT mandou o TSE cassar os mandatos e tornar inelegíveis todos os deputados do PL. É imprescindível fazer este vídeo chegar a cada brasileiro".

    Um outro caso traz o rosto de Bolsonaro junto do aviso: "Estamos atentos, não encostem nele!". Na sequência, diz que se o ex-presidente for preso todos devem sair às ruas. "Vamos parar o país. Revolução civil em todo o Brasil. Encostem no Bolsonaro e é isso que terão", diz o conteúdo.

    Um outro vídeo traz áudios supostamente de pessoas ligadas ao Exército falando também em guerra civil e junto dos termos de que o Brasil estaria em alerta e de que faltariam poucos dias.

    Todos estes exemplos estavam marcados como encaminhados com frequência no WhatsApp, segundo a Palver. Essas mensagens não citam o ato do dia 25 de fevereiro, mas seguem sendo encaminhadas nos grupos.

    Há ainda outras mensagens dizendo que houve fraude em 2022, além de textos aventando novas teorias da conspiração das instituições contra Bolsonaro e incutindo ainda a ideia de que as Forças Armadas podem vir a agir nestes casos.

    Os novos indícios, que vieram à tona com a recente decisão do ministro Alexandre de Moraes (STF), não são destaque nas conversas tampouco alteraram a narrativa de que Bolsonaro estaria sendo perseguido.

    As minutas de golpe, por exemplo, foram pouco mencionadas, o que ficou restrito a poucas ocorrências de um vídeo do advogado de Bolsonaro justificando o documento encontrado na sede do PL e a um texto de Ives Gandra dizendo que um dos arquivos encontrados no celular de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do então presidente, era de 2017.

    Nos segmentos bolsonaristas, a principal crítica segue sendo a órgãos de Justiça, como o Supremo e ao atual governo.

    O vídeo divulgado por Bolsonaro convocando para um ato na avenida Paulista, por sua vez, repercutiu positivamente nos grupos de WhatsApp, segundo a Palver.

    No gráfico, aparecem algumas ocorrências pontuais anteriores ao dia 12, isso se deve ao fato de a busca capturar termos gerais além disso, foram consideradas apenas mensagens em português.

    Ao analisar a quantidade de mensagens destacando a fala do ex-presidente para que não houvesse cartazes ou para que o ato fosse pacífico e se evitasse xingamento a opositores, as menções são menos relevantes.

    No vídeo, Bolsonaro pediu a apoiadores que não levem faixas e cartazes contra ninguém e fala em ato de apoio ao que chama de "Estado democrático de Direito". "Nesse evento eu quero me defender de todas as acusações que têm sido imputadas à minha pessoa nos últimos meses", afirmou.

    Os textos em geral recomendam que as pessoas vistam verde e amarelo, há também recomendação para que levem seus familiares e fazer lives e fotos. "A nação brasileira precisa colocar a cara do lado de fora e deixar claro que já não tolera mais nenhuma espécie de ditadura."

    Há também mensagens sobre ônibus partindo para a capital paulista, como uma que diz que o ônibus sairá do Leme no Rio de Janeiro no domingo de manhã por R$ 200 adicionando que não será permitida a entrada com faixas e cartazes bem como com objetos como facas e armas.

    Segundo Maria Cruz, analista da Palver, será preciso avaliar o quanto as convocações encaminhadas nos grupos resultarão em aderência aos atos, considerando o fato do chamamento do Bolsonaro.

    Ela ressalta que em mobilizações mais recentes a aderência teria sido abaixo do que os grupos esperavam, resultando em discussões sobre possíveis falhas.

    Uma mensagem que foi bastante encaminhada divulga uma concentração em Manaus no domingo. O perfil do movimento conservador da cidade porém já divulgou que o ato foi cancelado, dado a instrução de Bolsonaro para que tudo fosse centralizado em São Paulo.

    Nos grupos aparecem ainda fake news como a de que o ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump e o presidente argentino, Javier Milei compareceriam aos atos.

    O PT, partidos do campo governista e movimentos ligados ao presidente Lula decidiram preparar um manifesto em reação ao ato o grupo quer denunciar o golpismo do ex-presidente e reiterar o apoio à democracia.

     

           Advogados veem prisão iminente de Bolsonaro e pedem habeas corpus a Fux

     

    A defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) que desconsidere o habeas corpus preventivo apresentado por advogados bolsonaristas para assegurar a presença dele na manifestação marcada no próximo domingo, 25, na avenida Paulista, em São Paulo,

    Sem consultar a defesa do ex-presidente, dois advogados de Curitiba, que não têm procuração para atuar em nome dele, pediram ao STF um salvo-conduto para impedir “qualquer medida de constrangimento ilegal de sua liberdade”.

    Fábio Wajngarten, que faz parte da equipe jurídica de Bolsonaro, confirmou mais cedo que acionou o STF para que a inciativa não seja reconhecida.

    “A defesa do presidente Bolsonaro, técnica e com a devida procuração nos autos, ingressou no STF, aos cuidados do ministro Fux, para que ele não reconheça qualquer habeas corpus no sentido da participação ou não na manifestação de domingo”, informou Wajngarten na saída da sede da Polícia Federal, em Brasília, onde o ex-presidente era esperado para prestar depoimento no inquérito do golpe, mas ficou em silêncio.

    O habeas corpus afirma que, após a apreensão do passaporte do ex-presidente na Operação Tempus Veritatis, sua prisão preventiva é “medida vislumbrada num horizonte próximo”.

    “Constitui pedido deste habeas corpus, a garantia prévia, certa e necessária, de preservação da liberdade do paciente, Jair Messias Bolsonaro, quando da sua legítima presença e manifestação na democrática reunião popular já anunciada, por evidente, com objeto de salvo-conduto circunscrito à pacífica participação e exercício da liberdade de expressão por meio dos eventuais discursos a serem proferidos diretamente aos cidadãos”, diz o documento.

    A manifestação prevista no domingo é uma tentativa de aliados de Bolsonaro de ostentar apoio popular ao ex-presidente em meio a inquéritos que fecham o cerco contra ele. Embora não seja o mais antigo, um dos mais sensíveis é o que investiga a trama golpista que teria sido articulada para anular o resultado da eleição e manter Bolsonaro no poder.

     

           Bolsonaro se hospedará no Palácio dos Bandeirantes a convite de Tarcísio antes de ato na Paulista

     

    O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) vai se hospedar no Palácio dos Bandeirantes, a convite do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), para ir à manifestação que convocou no domingo (25), na avenida Paulista. Bolsonaro chegará no sábado (24) a São Paulo e deve reunir políticos aliados no Bandeirantes antes do ato.

    O ex-presidente já ficou hospedado no Bandeirantes, sede do Governo de São Paulo, em ao menos outras três ocasiões, como quando esteve na capital paulista para uma cirurgia de correção de desvio de septo, em setembro do ano passado.

    Aliado de Bolsonaro, Tarcísio é um dos três governadores que já confirmaram presença no ato, além de Jorginho Mello (PL-SC) e Ronaldo Caiado (União Brasil-GO). O governador paulista deve ser um dos poucos a discursar no ato, segundo Bolsonaro afirmou nesta quarta-feira (21).

    "A senhora Michelle [Bolsonaro] fazendo uma oração. Seria o governador Tarcísio, o próprio pastor Silas Malafaia e eu. A princípio apenas essas pessoas falarão. Qual o recado ali? Em defesa do Estado democrático de Direito, da nossa liberdade e um retrato para o Brasil e imagens para o mundo do que nós, de verde e amarelo, queremos: Deus, pátria, família e liberdade."

    Segundo Fabio Wajngarten, advogado e ex-secretário de Bolsonaro, mais de cem deputados são esperados na avenida Paulista. Deputados bolsonaristas justificaram sua participação na manifestação afirmando que há uma perseguição contra o ex-presidente e que é preciso demonstrar apoio a ele neste momento.

    No último dia 12, Bolsonaro gravou um vídeo chamando apoiadores para o ato, em meio às investigações da Polícia Federal que apontam a atuação do ex-mandatário no planejamento de um golpe de Estado para se manter no poder.

    No vídeo, Bolsonaro pede aos apoiadores que não levem faixas e cartazes contra ninguém. "Nesse evento eu quero me defender de todas as acusações que têm sido imputadas à minha pessoa nos últimos meses", afirmou.

    O pedido agora a apoiadores para que não levem faixas e cartazes no ato de 25 de fevereiro é uma estratégia para evitar a ampliação do acirramento com o STF (Supremo Tribunal Federal) e o ministro Alexandre de Moraes, que deve ser o principal alvo do ato e que preside inquéritos que podem levar Bolsonaro a novas condenações.

    Caso seja processado e condenado pelos crimes de tentativa de golpe de Estado, tentativa de abolição do Estado democrático de Direito e associação criminosa, o ex-presidente poderá pegar uma pena de até 23 anos de prisão e ficar inelegível por mais de 30 anos.

    Bolsonaro já foi condenado pelo TSE por ataques e mentiras sobre o sistema eleitoral e é alvo de diferentes outras investigações no STF. Neste momento, ele está inelegível ao menos até 2030.

     

    Fonte: FolhaPress


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