terça-feira, 12 de dezembro de 2023

FMI: economia global pode perder até 7% do PIB devido à fragmentação causada pelo conflito ucraniano

As perdas na economia global como resultado da fragmentação em dois blocos ante o conflito na Ucrânia são estimadas em até 7% do produto interno bruto (PIB), disse o Fundo Monetário Internacional (FMI) nesta segunda-feira (11).

"Se a economia global se fragmentasse em dois blocos com base na votação da ONU sobre a resolução da Ucrânia de 2022 e o comércio entre os dois blocos fosse eliminado, as perdas globais seriam estimadas em cerca de 2,5% do PIB. Mas dependendo da capacidade de ajustamento das economias, as perdas poderão atingir os 7% do PIB", disse a vice-diretora-executiva do FMI, Gita Gopinath.

Gopinath salientou que as perdas podem ser extremamente pronunciadas nos países de rendimento mais baixo e nos mercados emergentes.

"A fragmentação do investimento estrangeiro direto [IED] em um mundo dividido em dois blocos centrados nos Estados Unidos e na China — com alguns países permanecendo não alinhados — poderia resultar em perdas globais a longo prazo de cerca de 2% do PIB", disse ela.

Gopinath observou que há "sinais claros" de que o IED global está se segmentando segundo linhas geopolíticas.

"Os projetos de IED anunciados entre blocos diminuíram […] após o início da guerra na Ucrânia, enquanto o IED de países não alinhados aumentou acentuadamente", acrescentou.

·        'Ruim para o dólar': político russo destaca mais um sinal do fim da hegemonia dos EUA

O novo recorde histórico do preço do ouro é um sinal ruim para os EUA e o dólar estadunidense, disse o senador russo Aleksei Pushkov.

Na manhã de segunda-feira (4), o preço do ouro na bolsa de valores Comex em Nova York atingiu um recorde de mais de US$ 2.100 (R$ 10,3 mil) por onça-troy. Como parte da correção, o preço baixou para US$ 2.070 (R$ 10,1 mil).

Segundo observou o político, o preço do ouro atingiu o nível mais alto de todos os tempos, e isso é "ruim em primeiro lugar para o dólar e para os EUA".

"A acumulação da dívida pública dos EUA, que já atingiu US$ 33,5 trilhões [R$ 164,6 trilhões], a impressão ilimitada [do dinheiro] pela Reserva Federal [Fed], além das sanções contra a Rússia e a apreensão de suas reservas em dólares – tudo isso mina a confiança na moeda norte-americana. Mais um sinal do 'fim da história' da hegemonia dos EUA tal como todos a conheciam", disse Pushkov.

Em novembro, a agência internacional de classificação de risco de crédito Moody's Investors Service rebaixou a previsão de classificação dos EUA de estável para negativa. O principal fator por trás dessa decisão foi o aumento dos riscos para a diminuição da sustentabilidade fiscal dos EUA, que não podem mais ser totalmente compensados pelas vantagens de crédito únicas do país.

·        Metade dos eleitores dos EUA considera excessivo gasto do país com a Ucrânia, diz pesquisa

Uma pesquisa do Financial Times e da Universidade de Michigan divulgada neste domingo (10) revelou que quase metade dos eleitores norte-americanos acredita que os gastos do país com a Ucrânia são excessivos.

O levantamento foi realizado na mesma semana que o Congresso dos Estados Unidos rejeitou um projeto de lei do governo que previa mais de US$ 100 bilhões (cerca de R$ 490 bilhões) em ajuda financeira a Kiev e também Israel, que desde o dia 7 de outubro está em guerra contra o Hamas na Faixa de Gaza, onde mais de mais de 17 mil palestinos já morreram por conta dos ataques.

O texto precisava de 60 votos para ser aprovado. No entanto, o líder da minoria no Senado, Mitch McConnell, e o presidente da Câmara, Mike Johnson, solicitaram aos democratas que incluíssem medidas de segurança de fronteira no projeto de lei para receber o apoio republicano, o que não foi viabilizado.

"Uma nova sondagem revelou que 48% dos eleitores acreditam que os Estados Unidos gastam demais em ajuda militar e financeira para apoiar os esforços militares de Kiev", escreve o jornal.

Conforme a pesquisa, os índices de reprovação ao envio de recursos para o governo do presidente Vladimir Zelensky são ainda maiores entre os republicanos: 65% veem como excessivos os repasses ao país, envolvido em denúncias de corrupção e falta de estratégia em meio à operação especial militar russa.

Com relação a Israel, o levantamento apontou que 40% dos eleitores também consideram altos os gastos norte-americanos em assistência militar e financeira ao país.

A pesquisa foi realizada de 5 a 6 de dezembro com 1.004 eleitores registrados nos EUA. A margem de erro é de 3,1 pontos percentuais.

·        Gastos bilionários com a Ucrânia

O governo dos EUA confirmou que até agora gastou mais de US$ 100 bilhões (cerca de R$ 490 bilhões) em ajuda à Ucrânia enquanto prossegue o seu conflito com a Rússia, informou a emissora Fox News, citando um documento do Escritório de Administração e Orçamento (OMB, na sigla em inglês) da Casa Branca.

O número resulta da resposta da OMB ao pedido enviado em janeiro por um grupo de senadores republicanos, que exigiu um relatório "completo e transversal" sobre a assistência prestada a Kiev.

A planilha fornecida pelo escritório mostra que a Casa Branca alocou US$ 101,198 bilhões (R$ 500,68 bilhões) em assistência militar, econômica e humanitária. Além disso, o governo americano teria planos de gastar US$ 9,769 bilhões (R$ 48,33 bilhões) adicionais.

 

Ø  Entrada do Irã no BRICS é 'de suma importância, principalmente para a China', aponta especialista

 

A entrada do Irã no BRICS, que será oficializada em 1º de janeiro de 2024, marca o ingresso de um país declaradamente contrário aos Estados Unidos. Que tipo de repercussões isso poderá trazer ao grupo?

Essas e outras questões foram respondidas por Jorge Mortean — geógrafo e professor de relações internacionais, mestre em estudos regionais do Oriente Médio no Irã e atual doutorando em geografia política na Universidade de São Paulo (USP) — no episódio desta segunda-feira (4) do podcast da Sputnik Brasil Mundioka, apresentado pelos jornalistas Melina Saad e Marcelo Castilho.

Para o especialista em estudos iranianos, a entrada do Irã no BRICS representa um ganho tanto para o país persa quanto para o grupo, uma vez que "temos aí a semiperiferia e periferia do mundo se aliando", disse, referindo-se à teoria de sistema-mundo das relações internacionais, popularizada por Immanuel Wallerstein. "O que seria semiperiferia?"

"São países com um grau até importante de desenvolvimento tecnológico-industrial, que servem como ponte de retransmissão de fluxos de comércio (investimentos, capital). São grandes mercados e possuem certo poderio de defesa em suas respectivas regiões."

Essas características, para Mortean, definem a posição ocupada pelas nações do BRICS mais do que qualquer relação econômica. Nesse ponto, o grupo de países, que agora se expande para se tornar o BRICS+ com a inclusão além do Irã, do Egito, da Arábia Saudita, dos Emirados Árabes Unidos e da Etiópia — e, talvez, da Argentina — forma um agrupamento antissistêmico.

"Ou seja, ele faz um contraponto a toda a hegemonia que se diz aí ocidental de países desenvolvidos, nomeadamente Europa, Estados Unidos, Canadá e Japão, que apesar de ser do Oriente, é um Oriente mais ocidentalizado do que nunca."

"Oferece, portanto, uma nova possibilidade de ordem mundial", resumiu.

·        Relações da China e do Irã: uma via de mão dupla

Mortean também destaca que, enquanto um projeto encabeçado pela China — país de maior destaque econômico e científico de todo o grupo —, a entrada do Irã é de "suma importância, principalmente para a China". Na verdade, sublinha, ambos os países têm bastante a ganhar com a entrada do Irã no BRICS.

Desde a Revolução de 1979, aponta Mortean, o Irã passa por certo isolamento diplomático devido à sua retórica confrontativa contra o Ocidente e Israel. Dessa forma, a entrada do Irã no grupo ajuda a suprir carências tecnológicas, científicas e comerciais que o Irã possa vir a ter.

"As sanções e os embargos impostos pelo Ocidente desenvolvido ao Irã têm, sim, um grande efeito sobre o cotidiano iraniano."

Como exemplo, o geógrafo aponta para o caso da aviação civil. Até hoje, o país não consegue importar peças para fazer a manutenção dos aviões. "São aviões comerciais comprados das grandes indústrias aeronáuticas há mais de 30, 40 anos. É um milagre que estejam voando", explicou.

"Como sofrem esse embargo, eles inclusive desenvolveram uma engenharia reversa e fazem um trabalho de manutenção e fabricação de peças […], que é vital para o país."

Outro ponto destacado pelo pesquisador é que, com a entrada no BRICS, o Irã terá acesso a um banco de desenvolvimento e oportunidades de ampliar sua balança comercial em moedas diferentes do dólar e do euro, como o yuan.

"Abre-se uma porta muito vantajosa para os iranianos."

·        O que a China ganha com a entrada do Irã no BRICS?

Por sua vez, a China também tem muito a ganhar com a entrada do Irã no agrupamento, não só em termos econômicos, como geopolíticos. Para começar, o país persa é um dos membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), sendo um dos principais produtores de petróleo e gás natural do mundo, além de contar com grandes reservas inexploradas.

Em segundo lugar, o Irã faz parte dos planos chineses da Iniciativa Cinturão e Rota, que vê a criação de novos caminhos para o escoamento da produção industrial chinesa. Não só o país conta com uma população de quase 90 milhões, sendo um grande mercado consumidor, mas também está "exatamente na encruzilhada do Oriente Médio com a Europa e com o resto da Ásia".

Isso dá a ele uma posição estratégica na Iniciativa Cinturão e Rota. "Ele está ali no meio, geograficamente falando, do grande projeto de logística, infraestrutura e investimento chinês", aponta Mortean.

"O Irã é abarcado principalmente pelo caminho terrestre dessa rota, que levaria infraestrutura rodoviária e, principalmente, ferroviária. Aí, sim, justifica-se ainda mais a presença do Irã nessa ampliação do grupo."

 

Fonte: Sputnik Brasil

 

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