FMI: economia global pode perder até 7% do PIB devido à fragmentação
causada pelo conflito ucraniano
As perdas na economia global como resultado da fragmentação em dois
blocos ante o conflito na Ucrânia são estimadas em até 7% do produto interno
bruto (PIB), disse o Fundo Monetário Internacional (FMI) nesta segunda-feira
(11).
"Se a economia global se fragmentasse em dois blocos com base na
votação da ONU sobre a resolução da Ucrânia de 2022 e o comércio entre os dois
blocos fosse eliminado, as perdas globais seriam estimadas em cerca de 2,5% do
PIB. Mas dependendo da capacidade de ajustamento das economias, as perdas
poderão atingir os 7% do PIB", disse a vice-diretora-executiva do FMI,
Gita Gopinath.
Gopinath salientou que as perdas podem ser extremamente pronunciadas nos
países de rendimento mais baixo e nos mercados emergentes.
"A fragmentação do investimento estrangeiro direto [IED] em um
mundo dividido em dois blocos centrados nos Estados Unidos e na China — com
alguns países permanecendo não alinhados — poderia resultar em perdas globais a
longo prazo de cerca de 2% do PIB", disse ela.
Gopinath observou que há "sinais claros" de que o IED global
está se segmentando segundo linhas geopolíticas.
"Os projetos de IED anunciados entre blocos diminuíram […] após o
início da guerra na Ucrânia, enquanto o IED de países não alinhados aumentou
acentuadamente", acrescentou.
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'Ruim para o dólar': político russo destaca mais um sinal do fim da
hegemonia dos EUA
O novo recorde histórico do preço do ouro é um sinal ruim para os EUA e
o dólar estadunidense, disse o senador russo Aleksei Pushkov.
Na manhã de segunda-feira (4), o preço do ouro na bolsa de valores Comex
em Nova York atingiu um recorde de mais de US$ 2.100 (R$ 10,3 mil) por
onça-troy. Como parte da correção, o preço baixou para US$ 2.070 (R$ 10,1 mil).
Segundo observou o político, o preço do ouro atingiu o nível mais alto
de todos os tempos, e isso é "ruim em primeiro lugar para o dólar e para
os EUA".
"A acumulação da dívida pública dos EUA, que já atingiu US$ 33,5
trilhões [R$ 164,6 trilhões], a impressão ilimitada [do dinheiro] pela Reserva
Federal [Fed], além das sanções contra a Rússia e a apreensão de suas reservas
em dólares – tudo isso mina a confiança na moeda norte-americana. Mais um sinal
do 'fim da história' da hegemonia dos EUA tal como todos a conheciam",
disse Pushkov.
Em novembro, a agência internacional de classificação de risco de
crédito Moody's Investors Service rebaixou a previsão de classificação dos EUA
de estável para negativa. O principal fator por trás dessa decisão foi o
aumento dos riscos para a diminuição da sustentabilidade fiscal dos EUA, que
não podem mais ser totalmente compensados pelas vantagens de crédito únicas do
país.
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Metade dos eleitores dos EUA considera excessivo gasto do país com a
Ucrânia, diz pesquisa
Uma pesquisa do Financial Times e da Universidade de Michigan divulgada
neste domingo (10) revelou que quase metade dos eleitores norte-americanos
acredita que os gastos do país com a Ucrânia são excessivos.
O levantamento foi realizado na mesma semana que o Congresso dos Estados
Unidos rejeitou um projeto de lei do governo que previa mais de US$ 100 bilhões
(cerca de R$ 490 bilhões) em ajuda financeira a Kiev e também Israel, que desde
o dia 7 de outubro está em guerra contra o Hamas na Faixa de Gaza, onde mais de
mais de 17 mil palestinos já morreram por conta dos ataques.
O texto precisava de 60 votos para ser aprovado. No entanto, o líder da
minoria no Senado, Mitch McConnell, e o presidente da Câmara, Mike Johnson,
solicitaram aos democratas que incluíssem medidas de segurança de fronteira no
projeto de lei para receber o apoio republicano, o que não foi viabilizado.
"Uma nova sondagem revelou que 48% dos eleitores acreditam que os
Estados Unidos gastam demais em ajuda militar e financeira para apoiar os
esforços militares de Kiev", escreve o jornal.
Conforme a pesquisa, os índices de reprovação ao envio de recursos para
o governo do presidente Vladimir Zelensky são ainda maiores entre os
republicanos: 65% veem como excessivos os repasses ao país, envolvido em
denúncias de corrupção e falta de estratégia em meio à operação especial
militar russa.
Com relação a Israel, o levantamento apontou que 40% dos eleitores
também consideram altos os gastos norte-americanos em assistência militar e
financeira ao país.
A pesquisa foi realizada de 5 a 6 de dezembro com 1.004 eleitores
registrados nos EUA. A margem de erro é de 3,1 pontos percentuais.
·
Gastos bilionários com a Ucrânia
O governo dos EUA confirmou que até agora gastou mais de US$ 100 bilhões
(cerca de R$ 490 bilhões) em ajuda à Ucrânia enquanto prossegue o seu conflito
com a Rússia, informou a emissora Fox News, citando um documento do Escritório
de Administração e Orçamento (OMB, na sigla em inglês) da Casa Branca.
O número resulta da resposta da OMB ao pedido enviado em janeiro por um
grupo de senadores republicanos, que exigiu um relatório "completo e
transversal" sobre a assistência prestada a Kiev.
A planilha fornecida pelo escritório mostra que a Casa Branca alocou US$
101,198 bilhões (R$ 500,68 bilhões) em assistência militar, econômica e
humanitária. Além disso, o governo americano teria planos de gastar US$ 9,769
bilhões (R$ 48,33 bilhões) adicionais.
Ø
Entrada do Irã no BRICS é 'de suma importância,
principalmente para a China', aponta especialista
A entrada do Irã no BRICS, que será oficializada em 1º de janeiro de
2024, marca o ingresso de um país declaradamente contrário aos Estados Unidos.
Que tipo de repercussões isso poderá trazer ao grupo?
Essas e outras questões foram respondidas por Jorge Mortean — geógrafo e
professor de relações internacionais, mestre em estudos regionais do Oriente
Médio no Irã e atual doutorando em geografia política na Universidade de São
Paulo (USP) — no episódio desta segunda-feira (4) do podcast da Sputnik Brasil
Mundioka, apresentado pelos jornalistas Melina Saad e Marcelo Castilho.
Para o especialista em estudos iranianos, a entrada do Irã no BRICS
representa um ganho tanto para o país persa quanto para o grupo, uma vez que
"temos aí a semiperiferia e periferia do mundo se aliando", disse,
referindo-se à teoria de sistema-mundo das relações internacionais,
popularizada por Immanuel Wallerstein. "O que seria semiperiferia?"
"São países com um grau até importante de desenvolvimento
tecnológico-industrial, que servem como ponte de retransmissão de fluxos de
comércio (investimentos, capital). São grandes mercados e possuem certo poderio
de defesa em suas respectivas regiões."
Essas características, para Mortean, definem a posição ocupada pelas
nações do BRICS mais do que qualquer relação econômica. Nesse ponto, o grupo de
países, que agora se expande para se tornar o BRICS+ com a inclusão além do
Irã, do Egito, da Arábia Saudita, dos Emirados Árabes Unidos e da Etiópia — e,
talvez, da Argentina — forma um agrupamento antissistêmico.
"Ou seja, ele faz um contraponto a toda a hegemonia que se diz aí
ocidental de países desenvolvidos, nomeadamente Europa, Estados Unidos, Canadá
e Japão, que apesar de ser do Oriente, é um Oriente mais ocidentalizado do que
nunca."
"Oferece, portanto, uma nova possibilidade de ordem mundial",
resumiu.
·
Relações da China e do Irã: uma via de mão dupla
Mortean também destaca que, enquanto um projeto encabeçado pela China —
país de maior destaque econômico e científico de todo o grupo —, a entrada do
Irã é de "suma importância, principalmente para a China". Na verdade,
sublinha, ambos os países têm bastante a ganhar com a entrada do Irã no BRICS.
Desde a Revolução de 1979, aponta Mortean, o Irã passa por certo
isolamento diplomático devido à sua retórica confrontativa contra o Ocidente e
Israel. Dessa forma, a entrada do Irã no grupo ajuda a suprir carências
tecnológicas, científicas e comerciais que o Irã possa vir a ter.
"As sanções e os embargos impostos pelo Ocidente desenvolvido ao
Irã têm, sim, um grande efeito sobre o cotidiano iraniano."
Como exemplo, o geógrafo aponta para o caso da aviação civil. Até hoje,
o país não consegue importar peças para fazer a manutenção dos aviões.
"São aviões comerciais comprados das grandes indústrias aeronáuticas há
mais de 30, 40 anos. É um milagre que estejam voando", explicou.
"Como sofrem esse embargo, eles inclusive desenvolveram uma
engenharia reversa e fazem um trabalho de manutenção e fabricação de peças […],
que é vital para o país."
Outro ponto destacado pelo pesquisador é que, com a entrada no BRICS, o
Irã terá acesso a um banco de desenvolvimento e oportunidades de ampliar sua
balança comercial em moedas diferentes do dólar e do euro, como o yuan.
"Abre-se uma porta muito vantajosa para os iranianos."
·
O que a China ganha com a entrada do Irã no BRICS?
Por sua vez, a China também tem muito a ganhar com a entrada do Irã no
agrupamento, não só em termos econômicos, como geopolíticos. Para começar, o
país persa é um dos membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo
(OPEP), sendo um dos principais produtores de petróleo e gás natural do mundo,
além de contar com grandes reservas inexploradas.
Em segundo lugar, o Irã faz parte dos planos chineses da Iniciativa
Cinturão e Rota, que vê a criação de novos caminhos para o escoamento da
produção industrial chinesa. Não só o país conta com uma população de quase 90
milhões, sendo um grande mercado consumidor, mas também está "exatamente
na encruzilhada do Oriente Médio com a Europa e com o resto da Ásia".
Isso dá a ele uma posição estratégica na Iniciativa Cinturão e Rota.
"Ele está ali no meio, geograficamente falando, do grande projeto de
logística, infraestrutura e investimento chinês", aponta Mortean.
"O Irã é abarcado principalmente pelo caminho terrestre dessa rota,
que levaria infraestrutura rodoviária e, principalmente, ferroviária. Aí, sim,
justifica-se ainda mais a presença do Irã nessa ampliação do grupo."
Fonte: Sputnik Brasil
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