sexta-feira, 2 de junho de 2023

Exorcismo e sua história dentro da Igreja Católica

No ano de 2021, um incidente envolvendo uma criança de três anos e uma sessão de exorcismo atraíram os olhos do mundo. Como resultado disso, a prática, antes cada vez mais restrita aos filmes de ficção, tornou-se novamente centro de debate ao redor do mundo.

Após a suposta sessão de exorcismo, três familiares da vítima foram acusados de crime de abuso infantil. Isso se deu pelo fato de, durante a cerimônia, alguém ter asfixiado a criança.

O ocorrido serviu para reascender as discussões em torno das mortes causadas em rituais de exorcismo no passado. Por exemplo, em 1976, Anneliese Michel, uma alemã, morreu de desidratação e desnutrição após um processo de 10 meses de exorcismos católicos.

Já em 2005, Maricica Irinia Cornici, uma freira ortodoxa romena, faleceu na ambulância. Mais tarde descobriu-se que, durante uma sessão de exorcismo, ela havia sido acorrentada em uma cruz.

Dito isso, a prática do exorcismo é um assunto que oscila até mesmo dentro da própria Igreja Católica. Consequentemente, ao longo da história, a instituição procurou rever sua posição em relação ao método sobrenatural.

·         Exorcismo: a vida imita a arte?

Gostando de filmes de terror ou não, certamente você já ouviu falar do filme “O Exorcista”, lançado em 1973. Na trama, um padre é chamado para ajudar uma garota de doze anos que vem apresentando um comportadomento assustador.

Ao passo que a produção tornou-se um sucesso, muitas pessoas passaram a buscar o auxílio de padres para lidar com os supostos demônios que assombravam suas vidas.

Contudo, a própria Igreja possuía um posicionamento cético em relação ao exorcismo. Acreditando ou não, era inegável o sucesso do assunto entre o público, o que transformou a prática em uma agenda política de conversão de fiéis.

Dessa forma, em 1991, autoridades eclesiásticas permitiram que fosse transmitido na televisão uma sessão de exorcismo. Em seguida, o padre Richard P. McBrien falou um pouco sobre a súbita decisão expositiva.

Foi assim que McBrien declarou que o exorcismo estava sendo apresentado daquela forma não para salvar almas, mas como maneira de impulsionar o avanço de uma agenda política tradicional.

·         Fé, ciência e, sobretudo, política

Diante desse contexto, travou-se outra discussão dentro dos muros da igreja. Sacerdotes são pessoas que estudam durante toda sua vida, independente do posicionamento e da abordagem que utilizem.

Sendo assim, muitos acabam tornando-se acadêmicos de estudos religiosos, como Joseph P. Laycock, que escreve sobre o exorcismo do ponto de vista histórico e tem sua própria perspectiva sobre o posicionamento da Igreja.

Segundo Laycock, as mudanças de postura da instituição em relação ao exorcismo tem pouco a ver com a compreensão das doenças mentais pela nossa cultura ou com outros avanços científicos.

Na verdade, tais mudanças levam mais em conta as visões em disputa na própria igreja. Assim como descrito por McBrien, a instituição conta com sua própria agenda política.

Se de um lado, alguns sacerdotes tendem a ser mais conservadores, outros são mais liberais. Todavia, no fim das contas, todos os interesses convergem em um único ponto: preservar e atrair fiéis para o catolicismo.

·         Exorcistas: O retorno

Em 1990, fundaram a Associação Internacional de Exorcistas, cujo objetivo era convencer o Vaticano a levar a prática mais a sério. Posteriormente, em 2004, houve uma solicitação para que as dioceses de todo o mundo voltassem a nomear exorcistas.

No entanto, esses novos exorcistas precisavam ser treinados, e o próprio Vaticano ofereceu um curso para especialização no assunto. Aliás, um dos padres que passaram pelo treinamento foi Gary Thomas.

Embora o nome não seja reconhecível de imediato, ele se tornou famoso após suas experiências originarem o filme “O Ritual”, de 2011. No longa, um padre com pouca fé acaba tendo que lidar com o demônio Baal.

Dito isso, em 2014, a Associação Internacional de Exorcistas recebeu, finalmente, o reconhecimento formal do Vaticano. Hoje, o papa Francisco, considerado progressista, até mostra-se favorável à prática.

 

Fonte: BBC News

 

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