sexta-feira, 2 de junho de 2023

As declarações enganosas ou falsas compartilhadas no Twitter por Elon Musk

O bilionário Elon Musk foi criticado por compartilhar afirmações falsas e enganosas no Twitter, plataforma da qual é dono, nos últimos meses, apesar das afirmações de seus apoiadores de que ele está apenas "fazendo perguntas" ou "desafiando a narrativa estabelecida".

Musk, o mais seguido do Twitter, costuma ser cuidadoso com as palavras, mas interage regularmente com as principais contas de direita nos EUA, incluindo algumas conhecidas por compartilhar fake news.

A BBC compilou falsas teorias e comentários polêmicos no Twitter sobre os quais Musk comentou nos últimos meses.

·         Tiroteio em massa no Texas

Musk repetidamente questionou as evidências que mostram que o suspeito de um recente tiroteio em massa em um shopping center do Texas tinha tendências neonazistas.

As contas do atirador no YouTube e na rede social russa Odnoklassniki foram descobertas pela primeira vez pelo grupo de investigação de código aberto Bellingcat, que revelou fotos de uma tatuagem de suástica, longos discursos violentos e um meme que mencionava "crianças latinas" e a frase "tornar-se supremacista branco".

As contas também foram analisadas de forma independente pela BBC e outros jornalistas, e a polícia afirmou que o atirador "tinha ideologia neonazista", embora sua motivação para matar oito pessoas permaneça sob investigação.

Mas Musk lançou dúvidas sobre as evidências e, não citando nenhuma evidência própria, alegou que Bellingcat havia executado "psyops" - "guerra psicológica".

As operações psicológicas, comumente usadas na guerra ou contra países estrangeiros hostis, são formas de fazer com que os oponentes pensem ou ajam de uma determinada maneira.

Mas a ideia absurda de que as autoridades conduzem regularmente tais operações ligadas a tiroteios em massa ou ataques terroristas para mudar a opinião pública tornou-se uma teoria de conspiração comum nos círculos pró-armas dos EUA.

Musk se referiu a essa concepção popular de psicopatas várias vezes, inclusive em março, quando prometeu combater a "manipulação da opinião pública" no Twitter usando inteligência artificial.

Em resposta, o fundador da Bellingcat, Eliot Higgins, chamou o dono do Twitter de "um idiota que consome mídia-lixo".

Questionado pela BBC, Musk não respondeu até a conclusão desta reportagem.

Musk repetiu as alegações em uma entrevista à emissora CNBC na semana passada, alegando que Odnoklassniki era um site "obscuro" do qual "ninguém nunca ouviu falar"./

Odnoklassniki é uma das redes sociais mais populares da Rússia, e a existência do perfil do atirador na plataforma foi revelada pela primeira vez pelo jornal americano New York Times citando fontes policiais e de segurança, antes de ser descoberta pelo Bellingcat usando a função de busca da plataforma.

·         'Xamã do QAnon'

Musk lançou dúvidas sobre alguns dos detalhes da invasão do Capitólio em 6 de janeiro de 2021 em várias ocasiões, mas sua opinião mais polêmica veio em março, quando ele pareceu sugerir que um dos manifestantes mais conhecidos havia sido condenado injustamente.

Musk afirmou no Twitter que Jacob Chansley, também conhecido como "Xamã do QAnon", que foi condenado a 41 meses de prisão, "pegou 4 anos de prisão por uma incursão não violenta escoltada pela polícia".

Seu argumento baseava-se em um vídeo curto de Chansley caminhando pelos corredores do Congresso escoltado pela polícia, transmitido no programa do ex-apresentador da Fox News, Tucker Carlson.

No entanto, outras ações de Chansley em 6 de janeiro de 2021 também foram capturadas pela câmera. Ele rejeitou repetidamente as ordens da polícia para deixar o edifício e foi filmado gritando dentro da câmara do Senado.

Chansley foi acusado de seis crimes federais e assinou um acordo judicial aceitando que a acusação de obstrução de um processo oficial era "verdadeira e precisa".

·         Ataque a Paul Pelosi

Musk foi criticado no ano passado após compartilhar uma alegação infundada após um violento ataque a Paul Pelosi, marido da então presidente da Câmara dos Representantes Nancy Pelosi, na casa de sua família por um homem que promoveu uma variedade de teorias da conspiração de direita on-line.

Uma falsa alegação viral sobre o ataque sugeriu que Paul Pelosi, de 82 anos, e seu agressor David DePape, 42, estavam em um relacionamento do mesmo sexo e tiveram uma briga enquanto estavam bêbados.

Embora inicialmente marginal, a alegação começou a ganhar força nos Estados Unidos depois que Musk tuitou um artigo de um site com afirmações semelhantes.

O site citado por Musk tem um histórico de publicação de histórias imprecisas, incluindo um artigo de 2016 que afirmava que Hillary Clinton estava morta.

Ao contrário de outras ocasiões, Musk posteriormente excluiu o tuíte e pediu desculpas pelo erro.

·         George Soros

Musk também atacou recentemente o bilionário George Soros, cujo financiamento de causas liberais e progressistas por meio de sua fundação filantrópica o transformou em um bicho-papão para conservadores e ativistas de direita.

Musk alegou que Soros "quer corroer o próprio tecido da civilização" e "odeia a humanidade". Três dias antes, o fundo de investimento de Soros disse que havia vendido suas ações da Tesla.

Musk comparou Soros a Magneto, um personagem da Marvel que — como Soros — sobreviveu ao Holocausto.

Os tuítes foram condenados pela Anti-Defamation League, o principal grupo de defesa dos judeus nos Estados Unidos, e pelo Ministério das Relações Exteriores de Israel.

Musk, no entanto, negou que seus comentários fossem antissemitas, dizendo à emissora CNBC: "Sou pró-semita, no mínimo".

 

Ø  Elon Musk diz que ser dono do Twitter tem sido 'muito doloroso'

 

O dono do Twitter, Elon Musk, disse em entrevista à BBC que administrar a empresa tem sido "muito doloroso" e "uma montanha-russa".

Ele afirmou ainda que venderia a companhia se a pessoa certa aparecesse.

A entrevista, transmitida ao vivo a partir da sede do Twitter, em San Francisco, nos EUA, também abordou as demissões em massa, a questão da desinformação e seus hábitos de trabalho.

O empresário multibilionário, que também é dono da montadora Tesla e da empresa de foguetes SpaceX, comprou o Twitter por US$ 44 bilhões em outubro do ano passado.

Na conversa — na qual Musk tentou fazer tantas perguntas quanto o jornalista —, o empreendedor saiu em defesa da sua administração na companhia.

Questionado se ele se arrependia de ter comprado o Twitter, o segundo homem mais rico do mundo disse que "o nível de dor tem sido extremamente alto, não tem sido nenhum tipo de festa".

Ao falar sobre sua temporada no comando até agora, ele afirmou: "Não tem sido entediante. Tem sido uma montanha-russa".

Musk acrescentou que "a situação nos últimos meses tem sido realmente estressante", mas declarou que ainda sente que comprar a empresa era a coisa certa a fazer.

Segundo ele, as coisas estão indo "razoavelmente bem", indicando que o uso da plataforma está alto e "o site funciona".

Ele disse que a carga de trabalho faz com que "às vezes durma no escritório" — e revelou que, nestes casos, costuma usar o sofá de uma biblioteca "onde ninguém vai".

O empresário também fez referência aos tuítes muitas vezes controversos que posta, dizendo:

"Eu dei um tiro no pé com tuítes várias vezes? Sim."

"Acho que não devo tuitar depois das 3 da manhã", acrescentou.

"Se você vai tuitar algo que talvez seja controverso, salve como rascunho e veja no dia seguinte se ainda quer tuitar."

Questionado sobre a decisão de adicionar um selo à conta principal da BBC no Twitter, que a descreve como "mídia financiada pelo governo", Musk respondeu: "Sei que a BBC geralmente não gosta de ser rotulada como mídia estatal."

No início desta semana, a corporação entrou em contato com a rede social a respeito da descrição na conta @BBC para resolver o problema "o mais rápido possível".

"A BBC é, e sempre foi, independente. Somos financiados pelo público britânico por meio da taxa de licença de TV", esclareceu a companhia.

Musk disse que o Twitter estava ajustando a descrição da BBC para "financiada com recursos públicos".

"Estamos tentando ser precisos", ele afirmou.

"Na verdade, tenho muito respeito pela BBC", acrescentou Musk, dizendo que a entrevista foi "uma boa oportunidade para fazer algumas perguntas" e "para obter algum feedback sobre o que deveríamos estar fazendo diferente".

Em relação às finanças do Twitter, Musk disse que a empresa agora está "quase no break even (ponto de equilíbrio entre despesas e receitas)", à medida que a maioria de seus anunciantes voltou.

Ele também contou que reduzir a força de trabalho de pouco menos de 8 mil na época em que comprou o Twitter para cerca de 1,5 mil não foi fácil.

E admitiu que não demitiu todos pessoalmente: "Não é possível falar com tanta gente cara a cara", declarou.

A saída de muitos engenheiros desde que Musk adquiriu a companhia levantou preocupações sobre a estabilidade da plataforma.

Ele reconheceu algumas falhas, incluindo interrupções no site. Mas, de acordo com ele, as interrupções não duraram muito tempo, e o site está funcionando bem atualmente.

Na entrevista — que foi transmitida ao vivo na plataforma Twitter Spaces —, Musk também foi questionado sobre a questão da desinformação e do discurso de ódio na rede social.

Ele afirmou haver menos desinformação no Twitter desde que adquiriu a companhia e que seus esforços para excluir bots (contas automatizadas) vão reduzir as notícias falsas.

No entanto, muitos especialistas discordam. Um estudo — e há muitos outros na mesma linha — mostrou que o engajamento de contas populares de disseminação de desinformação aumentou após Musk assumir a plataforma.

Ele questionou repetidamente se os jornalistas eram árbitros justos da verdade e disse que confiava mais nas "pessoas comuns".

Sobre a questão do legado dos selos azuis de verificação da plataforma, Musk disse que eles seriam removidos das contas até o fim da próxima semana.

O ex-executivo do Twitter Bruce Daisley — que esteve à frente da companhia na Europa, Oriente Médio e África por oito anos — disse que a entrevista "nos deu alguma ideia sobre a estranha vida deste bilionário".

"Ele confessou hoje que a única razão pela qual seguiu em frente com a compra do Twitter foi porque acreditava que um juiz o forçaria a prosseguir com a transação. Ele nunca admitiu isso até agora, então foi uma entrevista muito atípica."

Daisley também sugeriu que a entrevista mostrou que ele nem sempre era consistente no que dizia.

Musk tem uma fortuna pessoal estimada em quase US$ 190 bilhões, o que faz dele a segunda pessoa mais rica do mundo, segundo a lista de bilionários da revista Forbes.

 

Fonte: BBC News Mundo

 

 

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