Países que
abastecem Israel podem ser cúmplices de guerra, diz estudo
Os
veículos usados pelo exército de Israel para bombardear a faixa de Gaza e a
Cisjordânia ocupada têm sido abastecidos pelo combustível fornecido por
diversos países signatários das convenções sobre genocídio – e especialistas
jurídicos dizem que isso pode levar tais países a serem apontados como
cúmplices de crimes contra o povo palestino.
Pesquisa
comissionada pela organização sem fins lucrativos Oil Change International
e divulgada pelo jornal The Guardian revela que quase 80% do combustível de aviação, diesel e
outros produtos petrolíferos refinados fornecidos a Israel pelos EUA nos
últimos nove meses.
Três
remessas deixaram o Texas após a decisão da Corte Internacional de Justiça em
26 de janeiro ordenar que Israel previna a ocorrência de atos genocidas em Gaza
– uma decisão que lembrou aos estados que integram o Tribunal de Haia que, sob
a convenção ligada a genocídio, eles possuem “interesse comum em garantir a
prevenção, supressão e punição do genocídio”.
Ao todo, foram rastreados 65 embarques de petróleo e combustível para Israel entre 21 de outubro do ano passado e 12 de julho.
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Brasil como cúmplice
de genocídio?
A
pesquisa sugere ainda que diversos países forneceram 4,1 milhões de toneladas
de petróleo bruto para Israel, com quase metade do envio efetuado desde a
decisão de janeiro.
Esse
petróleo foi fornecido por países como Azerbaijão, Cazaquistão, Gabão, Nigéria,
a República do Congo, Itália e o Brasil – vale lembrar que o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva é um crítico notório das ações israelenses e retirou o
embaixador brasileiro de Israel.
A
estimativa é que dois terços do petróleo bruto vieram de empresas petrolíferas
privadas e de propriedade de investidores e Israel fica responsável pelo seu
refino para uso doméstico, industrial e militar.
No
caso do Brasil, a pesquisa diz que o país responde por 9% do petróleo bruto
total fornecido a Israel nos últimos nove meses: após a decisão do Tribunal de
Haia, um carregamento de petróleo bruto e um navio-tanque de óleo combustível
foram enviados para o território israelense.
Segundo
porta-voz do governo brasileiro, as negociações eram realizadas diretamente
pelo setor privado, conforme as regras de mercado, e que a posição tradicional
do país sobre sanções é “não aplicá-las ou apoiá-las unilateralmente”.
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Após suposto sim a
cessar-fogo, Israel bombardeia e mata 10 palestinos
Um
dia após do suposto cessar-fogo que
teria sido aceito por Israel na Faixa de Gaza, segundo o Secretário de Estado
norte-americano, Antony Blinken, ao menos 10 palestinos foram mortos nesta
terça (20), por um novo bombardeio israelense.
Segundo
divulgou autoridades de defesa civil, o ataque aéreo foi feito em uma escola
que abrigava famílias que já haviam sido deslocadas da Faixa de Gaza.
O
exército de Israel alegava que o local era uma “base do Hamas” dentro da
escola. Já o Hamas nega que escolas e hospitais foram usados pelo grupo para
fins militares.
O
ataque ocorre ainda em meio a uma operação de inteligência de Israel que diz
ter recuperado 6 corpos de reféns na Faixa de Gaza. De acordo com um ex-refém,
seis homens estavam sendo mantidos como reféns em um túnel subterrâneo em Gaza.
As
famílias dos sequestrados cobravam ao governo israelense para que o Estado
conclua o acordo de cessar-fogo. “O Estado de Israel continuará fazendo todos
os esforços possíveis para devolver todos os nossos sequestrados, vivos e
mortos”, havia respondido Benjamin Netanyahu, em comunicado.
Mas
nesta terça, as Forças de Defesa de Israel (FDI) fizeram este novo bombardeio,
matando pelo menos mais 10 palestinos na escola, localizada a oeste da cidade
de Gaza.
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Revisionistas
Sionistas desafiam os EUA a encerrar a sua pauta de Nakba. Por Alastair Crooke
Os
israelenses têm estado profundamente divididos nos últimos anos, incapazes de
formar algum consenso em torno de um governo. Após cinco eleições gerais,
decidiram dispensar a equipe Lapid/Gantz e colocar uma nova coalizão – formada
por Netanyahu e pequenos partidos supremacistas judeus – no poder.
No
entanto, logo após a formação do novo governo, houve uma forte sensação de
"arrependimento do comprador", com um segmento substancial de
israelenses aparentemente dispostos a considerar quase qualquer coisa para
derrubar o seu governo.
Manifestações
têm ocorrido regularmente em todo Israel para evitar que o país se torne – nas
palavras de um ex-diretor do Mossad – “um estado racista e violento que não
pode sobreviver”.
Mas
provavelmente já é tarde demais.
A
maioria das pessoas fora de Israel tende a agrupar diferentes – e
frequentemente opostas – visões sobre Israel, apenas através da perspectiva
reducionista de ver todos esses diversos atores como sendo judeus e sionistas
com nuances ligeiramente diferentes.
Eles
não poderiam estar mais errados. Há uma divisão existencial; existem diversas
formas de sionismo: as divisões vão ao cerne do que significa ser judeu.
Benjamin Netanyahu é um ‘sionista revisionista’, ou seja, um seguidor de
Vladimir Jabotinsky (para quem seu pai, Benzion Netanyahu, serviu como
secretário particular): o ‘sionismo revisionista’ é o oposto polar do sionismo
cultural do Congresso Judaico Mundial.
Quando
jovem, Netanyahu professou que a Palestina é “uma terra sem povo para um povo
sem terra”. Consequentemente, ele era favorável à expulsão de todos os árabes
‘intrusos’ (como ele os via). Além disso, ele defendia a ideia de que o Estado
de Israel se estende “do Nilo ao Eufrates”.
Contudo,
durante seus 16 anos como primeiro-ministro, Netanyahu foi percebido como sendo
um moderado (tornado-se mais pragmático), mas ainda assim ardiloso. Com o
benefício da retrospectiva, talvez ele tenha simplesmente se adaptado aos
tempos. Ou, possivelmente, ele estava praticando a ‘dupla-verdade’ straussiana
– a prática que Leo Strauss ensinava a seus seguidores como o único meio de
preservar o ‘verdadeiro’ judaísmo dentro do abrangente ethos ‘liberal-europeu’
(em grande parte ashquenazi). O ‘esoterismo’ de Strauss (derivado de
Maimônides, o místico judeu primitivo), consistia em professar abertamente uma
‘coisa mundana’, enquanto internamente se preservava uma leitura esotérica
completamente contrastante do mundo.
Para
deixar claro: sionistas revisionistas (dos quais Netanyahu é um) incluem
Menachem Begin e Ariel Sharon, que demonstraram do que eram capazes com a Nakba
(a expulsão em massa dos palestinos) em 1948.
Netanyahu
é dessa ‘linha’ – e assim também é uma facção dominante em Washington.
<><> A ‘guerra’ com Washington, pós-7 de outubro
No
início, Washington reagiu com apoio imediato e sem reflexão a Israel, vetando
várias resoluções de cessar-fogo no Conselho de Segurança da ONU e fornecendo
plenamente as necessidades militares de Israel para a destruição do enclave
palestino em Gaza. Era impensável aos olhos do Establishment dos EUA fazer
qualquer coisa além de apoiar Israel. A Superioridade Militar Qualitativa (QME)
de Israel é consagrada como sendo uma das estruturas fundamentais que sustentam
o frágil ramo sobre o qual repousa a hegemonia dos EUA.
Americanos
comuns (e alguns no governo dos EUA), no entanto, estavam assistindo aos
horrores do genocídio ‘ao vivo’ em seus celulares. O Partido Democrata começou
a se fragmentar gravemente. Os ‘poderosos’ nos bastidores começaram a
pressionar o gabinete de guerra israelense a negociar a libertação dos reféns
israelenses e concluir um cessar-fogo em Gaza – esperando um retorno ao status
quo ante.
Mas
o governo de Netanyahu – de várias maneiras tautológicas – disse ‘não’,
explorando sem vergonha o trauma de 7 de outubro de seus cidadãos, para afirmar
a necessidade de destruir o Hamas.
Washington,
de forma algo tardia, passou a entender que 7 de outubro era agora o pretexto
para os seguidores de Jabotinsky fazerem o que sempre quiseram fazer: expulsar
os palestinos da Palestina.
A
mensagem israelense foi perfeitamente ‘recebida e compreendida’ pelos estratos
governantes de Washington: os sionistas revisionistas (que representam cerca de
2 milhões de israelenses) pretendiam cinicamente impor a sua vontade aos
anglo-saxões; ameaçá-los com a ignição de uma guerra com o mundo, na qual os
EUA se ‘queimariam’: Eles não hesitariam em mergulhar os EUA em uma grande
guerra regional, caso a Casa Branca tentasse minar o projeto neo-Nakba.
Apesar
do apoio absoluto que Israel tem em Washington, parece que a classe dominante
estadunidense decidiu que o ultimato da estratégia revisionista não poderia ser
tolerado. Uma eleição crucial nos EUA estava em andamento. O poder brando dos
EUA ao redor do mundo estava desmoronando. Qualquer pessoa ao redor do globo
assistindo aos eventos compreendia que matar 40.000+ pessoas inocentes nada
tinha a ver com eliminar o Hamas.
<><> Compreendendo o Contexto
Para
entender a natureza dessa guerra oculta entre os sionistas revisionistas e
Washington, é necessário revisitar Leo Strauss, um judeu alemão, que deixou a
Alemanha em 1932 sob os auspícios de uma bolsa da Fundação Rockefeller,
finalmente chegando aos EUA em 1938.
A
questão aqui é que as ideias em jogo nessa luta ideológica não se referem
apenas aos israelenses e palestinos. Elas tratam de controle e poder. A
essência da agenda do atual governo israelense – particularmente sua
controversa Reforma Legal – são puras derivações de Leo Strauss.
A
preocupação entre os governantes dos EUA era que a agenda de Netanyahu estava
se tornando um exercício de poder puramente straussiano – às custas do poder
secular estadunidense.
Isso
significa que as noções revisionistas são compartilhadas pelo grupo influente
de estadunidenses formado em torno desse Professor de Filosofia – Leo Strauss –
na Universidade de Chicago. Muitos relatos afirmam que ele formou um pequeno
grupo interno de estudantes judeus fiéis, aos quais dava instruções orais
privadas: O sentido esotérico da política girava, segundo boatos, em torno da
afirmação da hegemonia política como meio de proteger contra uma nova Shoah
(holocausto).
O
cerne do pensamento de Strauss – o tema ao qual ele retornava repetidamente – é
o que ele chamou de a curiosa polaridade entre Jerusalém e Atenas. O que esses
dois nomes significavam? Na superfície, parece que Jerusalém e Atenas
representam dois códigos ou modos de vida fundamentalmente diferentes, até
mesmo antagônicos.
A
Bíblia, argumentava Strauss, não se apresenta como uma filosofia ou uma
ciência, mas como um código de leis; uma lei divina imutável que ordena como
devemos viver. Na verdade, os primeiros cinco livros da Bíblia são conhecidos
na tradição judaica como a Torá e ‘Torá’ é talvez mais literalmente traduzido
como ‘Lei’. A atitude ensinada pela Bíblia não é de auto-reflexão ou exame
crítico – mas de obediência absoluta, fé e confiança na Revelação. Se o
ateniense paradigmático é Sócrates, a figura bíblica paradigmática é Abraão e o
Akedá (o sacrifício de Isaac), que está preparado para sacrificar seu filho por
um comando divino ininteligível.
‘Sim’,
a democracia liberal ocidental trouxe igualdade civil, tolerância e o fim das
piores formas de perseguição. No entanto, ao mesmo tempo, o liberalismo exigiu
do judaísmo – assim como de todas as religiões – a privatização da crença, a
transformação da lei judaica de uma autoridade comunitária para os domínios da
consciência individual. O resultado, segundo Strauss analisou, foi uma bênção
mista.
O
princípio liberal da separação entre Estado e sociedade, da vida pública e da
crença privada, não poderia deixar de resultar na “protestantização” do
judaísmo, ele sugeriu.
Para
ser claro: esses dois modos de vida antagônicos expressam pontos de vista
morais e políticos fundamentalmente diferentes. Essa é a essência do que divide
os dois ‘campos’ que habitam Israel hoje: o ‘judaísmo cultural’ democrático
versus o judaísmo da fé e obediência à Revelação divina.
<><> Montando uma Armadilha para os EUA
Os
straussianos dos EUA começaram a formar um grupo político há meio século, em
1972. Eles eram todos membros da equipe do senador democrata Henry “Scoop”
Jackson e incluíam Elliott Abrams, Richard Perle e David Wurmser. Em 1996, esse
trio de straussianos escreveu um estudo para o novo primeiro-ministro de
Israel, Benjamin Netanyahu. Esse relatório (a Estratégia Clean Break) defendia
a eliminação de Yasser Arafat; a anexação dos territórios palestinos; uma
guerra contra o Iraque e a transferência dos palestinos para lá. Netanyahu era
muito próximo desse círculo.
A
Estratégia foi inspirada não apenas pelas teorias políticas de Leo Strauss, mas
também por outro filósofo judeu, o professor de Yale Donald Kagan, que exortou
repetidamente os EUA a abandonarem a ONU e adotarem um caminho imperialista no
Oriente Médio.
Washington,
no entanto, estava ficando nervosa com o fato de que esses neo-conservadores,
como parte de um plano maior, estavam começando a manipular a Casa Branca para
provocar uma guerra maior no Oriente Médio. A equipe de Strauss na Casa Branca
não estava interessada em paz. Eles estavam comprometidos com o poder global.
E a
questão crucial era o uso de Israel como ferramenta para “reformatar” o Oriente
Médio, o que envolveria a destruição da Síria, do Líbano, do Iraque e,
finalmente, do Irã. Isso era uma espécie de reconfiguração geopolítica
revolucionária – e foi em grande parte o que desencadeou a guerra no Iraque.
Strauss
acreditava que as massas poderiam ser manipuladas por um pequeno grupo de
elites esotéricas. Portanto, ele justificava o uso de mentiras “nobres” para
guiar a sociedade. Nesse caso, os straussianos justificaram a invasão do Iraque
em 2003 com base em falsas alegações de armas de destruição em massa – uma
mentira que foi usada para iniciar a guerra. Na perspectiva dos straussianos,
essas mentiras eram nobres porque serviam a um propósito maior: preservar a
segurança de Israel e proteger os judeus.
E
agora, parece que Netanyahu e os straussianos nos EUA estão voltando a essa
mesma estratégia, usando o “trauma” de 7 de outubro como um pretexto para uma
nova Nakba.
O
problema é que o mundo mudou. Washington percebeu que não pode mais dominar o
mundo com essas mentiras e guerras intermináveis. Os estadunidenses comuns
estão fartos de guerras externas e querem resolver os problemas em casa. Além
disso, o poder militar e econômico dos EUA está em declínio.
E
agora, as ações do governo de Netanyahu estão empurrando Washington para uma
encruzilhada perigosa: ceder à estratégia dos revisionistas israelenses ou
enfrentar uma guerra regional com potencial de envolver potências globais como
a Rússia e a China. A situação é tão volátil que Washington está cada vez mais
ciente de que precisa “puxar o plugue” nessa pauta de guerra, ou correr o risco
de perder o controle sobre o Oriente Médio e ver a sua hegemonia global
despedaçada.
Conclusão:
Netanyahu e a sua coalizão de extremistas revisionistas estão praticando um
jogo perigoso, manipulando tanto os EUA quanto o mundo, enquanto buscam
implementar um projeto de "Grande Israel". A elite governante em
Washington começa a perceber que seu tradicional apoio incondicional a Israel
está sendo explorado por uma pauta que poderia arrastar os EUA para uma guerra
devastadora e prejudicar ainda mais a sua posição no mundo.
No
entanto, cortar os laços com Israel não é uma decisão simples. Israel, através
de décadas de alianças estratégicas, conseguiu entrelaçar seu destino com o
poder dos EUA. Romper esse vínculo pode ser mais do que Washington está
disposto a fazer – mesmo que o custo seja a escalada para um conflito global.
Fonte:
Jornal GGN/Strategic-Culture/Brasil 247
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