Vídeo mostra participação de Bolsonaro em
depoimento sobre atentado a bomba no Riocentro
Em janeiro de 2014,
Jair Bolsonaro (PL), então deputado federal, acompanhou um dos investigados no
episódio envolvendo o atentado a bomba no Centro de Convenções Riocentro, que
completa 43 anos nesta terça-feira (30). O vídeo inédito obtido pela Agência
Pública por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI) registra o depoimento de
um militar sobre o caso ao Ministério Público Federal no Rio de Janeiro
(MPF-RJ). Na ocasião, o ex-presidente defendeu o amigo, que não chegou a ser
indiciado pelo episódio.
As imagens mostram
Bolsonaro entrando na sala da procuradoria 15 minutos após o início do
depoimento do capitão da reserva Wilson Monteiro Pino, que comandou, de 1974 a
1981, a Seção de Levantamento do Destacamento de Operações de Informações do I
Exército (DOI-I) – órgão de inteligência e repressão da ditadura.
Bolsonaro chegou
acompanhado do seu chefe de gabinete na Câmara, também capitão do Exército,
Jorge Francisco, que atuou como advogado de Pino na ocasião.
Ao final da
inquirição, o procurador Antonio Cabral deu oportunidade a Bolsonaro de fazer
perguntas ao capitão. O então deputado aproveitou para defender o período da
ditadura militar. Além de negar o golpe de 1964, o ex-presidente exaltou os
militares que atuaram nos anos de chumbo.
“Se eu puder
colaborar, estou à sua disposição, não para desvendar possíveis excessos de
colegas, isso está tudo prescrito pela Lei da Anistia, mas muitos de nós
[militares] morreram, foram mortos, demos a nossa vida pela liberdade que hoje
todo o Brasil desfruta e que infelizmente está novamente sendo ameaçada pelas
mentiras por uma comissão apelidada de Comissão da Verdade”, ressaltou o
político.
Bolsonaro afirmou
ainda que compareceu ao depoimento no MPF para apoiar o amigo. “Eu estava
pensando que era a Comissão [Nacional] da Verdade aqui e vim em consideração,
que eu o conheço há uns 15 anos”, justificou.
“Eu teria algo a falar
sobre o Riocentro? Sim, mas particularmente, por sentir confiança no senhor,
nada mais além disso. Até porque tenho tido muito contato com o então general
Job Lorena”, ressaltou o ex-presidente na ocasião. Lorena foi o responsável pela
condução do Inquérito Policial Militar (IPM) que foi manipulado para inocentar
os militares envolvidos no atentado.
• A investigação
O capitão Wilson
Monteiro Pino, ou agente Emerson, como era conhecido, foi incluído no inquérito
do MPF sobre o caso Riocentro após ter sido citado pelo ex-delegado Cláudio
Guerra – que admitiu participação nos ataques – como uma das pessoas que
estariam no centro de convenções no dia da explosão. Pino disse em depoimento
que nunca esteve no Riocentro e que não conhecia o ex-delegado.
Ele afirmou ainda que
estava em casa durante o atentado. “Me ligaram dizendo que tinha acontecido um
acidente no Riocentro (nem me falaram o que era) e que o comandante estava
requisitando a nossa ida para o DOI.”
Ao contrário de
Guerra, Pino não foi indiciado pelo MPF “por falta de provas” da sua
participação no crime, segundo o procurador.
Outros seis militares
foram denunciados em 2014 por tentativa de homicídio, associação criminosa e
transporte de explosivos, mas a ação acabou arquivada pelo Tribunal Regional
Federal (TRF) da 2ª Região.
• O atentado no Riocentro
Há 43 anos, em 30 de
abril de 1981, um grupo de militares da extrema direita insatisfeito com o
processo de abertura do regime militar planejava explodir bombas durante um
show em homenagem ao Dia do Trabalhador, no Riocentro.
O objetivo do “Grupo
secreto” era incriminar movimentos contrários à ditadura para justificar um
recrudescimento da repressão. Mas o ataque fracassou quando uma das bombas
explodiu no colo do sargento Guilherme Pereira do Rosário, dentro de um carro,
matando-o imediatamente. O motorista do veículo, o coronel Wilson Machado,
também foi atingido e ficou gravemente ferido.
O contato de Wilson
Pino constava na agenda de telefones de Rosário. Segundo depoimento da esposa
de Rosário ao MPF, teria sido Pino o responsável por lhe entregar as chaves do
carro do marido após o ocorrido. A informação foi confirmada por Pino.
À época do atentado a
bomba no Riocentro, Pino era chefe da Seção de Levantamento do DOI-I. A área
era responsável por colher informações de pessoas contrárias ao regime.
Em 1982, Pino foi
agraciado com a Medalha do Pacificador pelo então ministro do Exército, general
Walter Pires, por atos de bravura de 1974 a 1976 e em 1979. Três anos depois,
ele foi chamado para o gabinete do ministro do Exército da época, general Leônidas
Pires Gonçalves, e, em 1991, foi alçado ao Gabinete Militar da Presidência da
República. Ele virou chefe da segurança da Agência Nacional de Petróleo (ANP),
em 2004, onde permaneceu até 2011.
• Neta de ministro nazista publica foto
com Eduardo Bolsonaro: 'Amigo'
A deputada alemã de
extrema direita Beatrix von Storch publicou uma série de fotos nesta
terça-feira (30) no Instagram ao lado do deputado federal brasileiro Eduardo
Bolsonaro (PL).
Ela é neta de Johann
Ludwig Schwerin von Krosigk, ministro das Finanças da ditadura nazista de Adolf
Hitler por mais de 12 anos. Beatrix também é vice-líder do AfD, sigla de
extrema direita, na Câmara alemã.
Beatrix von Storch
chama Eduardo de "amigo". "Um amigo visitando a Câmara alemã.
Eduardo Bolsonaro, nós, patriotas, defendemos juntos a democracia, a liberdade
e o Estado de Direito".
O deputado brasileiro
agradeceu. "Obrigado por todo o seu grande apoio à causa da democracia e
da liberdade de expressão no Brasil. Deus abençoe você e Sven [marido da
extremista]".
Eduardo Bolsonaro
também fez uma publicação no Instagram com fotos ao lado da deputada e do
marido dela. O deputado não cita o avô de Beatriz e escreve que "os tempos
estranhos atuais no Brasil lembram o incêndio do Congresso alemão em 1933, que
foi a desculpa usada por Hitler para perseguir seus opositores".
Em uma das fotos,
Eduardo aparece ao lado de Sven segurando um vinho que leva o nome da família
Bolsonaro.
Em julho de 2021, o
então presidente Jair Bolsonaro também posou para uma foto ao lado de Beatrix
von Storch. Em mensagem publicada nas redes sociais, a parlamentar agradeceu a
Bolsonaro "pela amistosa recepção" e disse ter ficado impressionada
com a "clara compreensão dos problemas da Europa e dos desafios políticos
do nosso tempo" que ele mostrou.
O passado nazista da
família de Beatrix passou a ser destacado pela imprensa alemã a partir de 2014,
quando ela foi eleita deputada europeia pela AfD. Três anos depois, em 2017,
ela foi eleita para o Bundestag (Parlamento alemão), representando Berlim.
Em 2016, ela
manifestou aprovação a uma mensagem no Facebook que havia perguntado se guardas
deveriam atirar em refugiados, inclusive mulheres com crianças.
Em 2018, ela voltou a
causar controvérsia ao reclamar de tuítes da Polícia de Colônia que desejavam
feliz ano novo em várias línguas, inclusive o árabe. "Eles pretendem
apaziguar as hordas de homens bárbaros, muçulmanos e estupradores em massa
dessa maneira?", escreveu. A rede social apagou a mensagem por violação
das regras.
Dentro da AfD, a
deputada costuma ser apontada como membro da ala "cristã
ultraconservadora". Em 2014, quando os ultradireitistas tomaram o partido,
ela afirmou que via a sigla como um veículo para "uma visão cristã da
humanidade".
Fonte: Por Alice
Maciel, da Agencia Pública/FolhaPress
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