sábado, 4 de maio de 2024

'O Moisés argentino': como Javier Milei é vendido para o público conservador americano?

Recentemente, Javier Milei foi entrevistado por um veículo de mídia americano voltado para o público conservador, expondo algumas de suas visões sobre a Argentina atual e o estado do mundo ocidental. Trata-se de uma oportunidade bastante importante para Milei, que busca vender uma imagem de "defensor da liberdade" para audiências ocidentais.

Durante a entrevista, o mandatário argentino por diversas vezes elogiou os chamados "valores" americanos, fundamentados na "liberdade do indivíduo" e na diminuição do papel do Estado na sociedade.

A própria base da campanha eleitoral de Javier Milei na Argentina esteve voltada para dirimir a participação do Estado na economia, eliminando uma série de ministérios, por exemplo, e na defesa do que ele chamou de "superioridade moral do capitalismo".

Para além disso, Milei enfatizou que sua chegada ao poder em Buenos Aires se deve à chamada "guerra cultural" hoje em curso na Argentina, fenômeno também presente em demais países do continente.

Segundo Milei, essa guerra cultural se dá entre dois campos principais. O primeiro deles diz respeito a forças progressistas de esquerda, centradas no desejo de transformar suas sociedades por meio da defesa dos direitos das minorias e de pautas identitárias multifacetadas.

A segunda força nessa disputa é composta por conservadores de direita que se orientam pela defesa da tradição, da religião e, ao mesmo tempo, enfatizam a liberdade individual e de mercado — no plano econômico.

Não só na Argentina, mas também nos próprios Estados Unidos e até mesmo no Brasil, ambos os lados dessa disputa se entranharam em uma verdadeira miscelânia de conceitos que ora se complementam, ora se contradizem, tornando o diálogo entre as partes cada vez mais difícil.

Milei, por sua vez, é um personagem político que ascendeu em popularidade justamente no contexto dessa "guerra cultural" argentina, mas também, e principalmente, por conta das precárias condições econômicas na qual o país se encontra já há muitas décadas.

Economista de formação, Milei fez menção de afirmar que finalmente "os argentinos decidiram amadurecer […] e, de uma vez por todas, começar a fazer as coisas direito". Durante a entrevista para o público conservador americano, o mandatário argentino, obviamente, não deixou escapar a chance de dizer que "os argentinos decidiram abraçar a liberdade".

Milei sabe que há um simbolismo muito forte em torno da palavra "liberdade" para grande parte da audiência estadunidense, assim como para a sua classe política. Afinal, os Estados Unidos ainda se consideram os "defensores do mundo livre" e das "liberdades individuais". Logo, qualquer líder mundial que lançar uso desses termos em suas aparições públicas estará irremediavelmente acenando para Washington em busca de apoio político ou, até mesmo, financeiro.

No mais, quando perguntado por seu interlocutor "qual exemplo a Argentina deixa para o resto do Ocidente?" ou então "onde foi que o Ocidente errou?", Milei indica que a principal falha teria sido o abandono dos princípios fundadores ocidentais de "liberdade".

Para o argentino, o Ocidente optou por abraçar o "politicamente correto" que, na sua visão, nada mais é do que um ideário socialista repaginado para o século XXI. Trata-se não mais do socialismo ancorado no materialismo histórico de Karl Marx, mas sim de um socialismo ancorado em disputas culturais encabeçado por forças políticas progressistas, sem necessariamente aludir à clássica luta envolvendo os trabalhadores e a chamada burguesia.

Nesse sentido, segundo Milei, as ideias do pensador italiano do século XX Antonio Gramsci teriam obtido pleno sucesso na Argentina antes de sua chegada ao poder. Isso porque, na opinião do mandatário argentino, os ideais desse "novo socialismo" se encontram enraizados no sistema educacional, midiático, cultural, institucional e governamental em quase todo o país. Todos esses segmentos, por sua vez, são parte do que Gramsci classificou como "superestrutura".

De forma resumida, para Gramsci, era importante deter a "hegemonia" do discurso dentro da "superestrutura" da sociedade, de forma a moldar seus valores culturais e, assim, impedir a população de questionar o status quo. De acordo com Milei, a sociedade argentina havia chegado a um estado de quase completa dominação do ideário progressista, o que teria contribuído para a derrocada social e econômica do país.

A partir dessas colocações, Milei é vendido ao público conservador americano como uma espécie de "modelo" a ser seguido, como um líder capaz de reverter as agendas culturais e políticas desse "novo socialismo" do século XXI. Não surpreende, portanto, que o líder argentino tenha se encontrado com Donald Trump em fevereiro deste ano, além de ter feito uma viagem a Israel no mesmo mês para uma reunião com Benjamin Netanyahu.

Ambos os encontros serviram para mostrar que a Argentina de Milei reorientou sua política externa para o Ocidente, dando especial ênfase para Estados Unidos, Europa e Israel, em detrimento de suas relações com países como a China, o Brasil de Luiz Inácio Lula da Silva e até mesmo o grupo BRICS.

Entretanto, este talvez seja um dos momentos mais peculiares para a Argentina se dizer alinhada aos "valores humanistas e de liberdade" do Ocidente, tendo em vista o apoio ocidental às empreitadas de Israel em Gaza, que desde outubro já causaram a morte de mais de 30 mil palestinos. Ainda assim, não compete esperar que Milei venha a abandonar os vários simbolismos políticos incutidos em seu discurso.

Afinal, sua missão é justamente conquistar a simpatia da audiência americana — sobretudo de sua parcela conservadora —, o que pode gerar algum dividendo a Buenos Aires caso Trump vença a disputa à presidência em novembro.

Para concluir, ao final da entrevista Milei diz considerar Moisés — protagonista do livro bíblico de Êxodo — como o "maior herói da liberdade de todos os tempos". Pode ser que Milei queira ser assim lembrado por seus interlocutores no Ocidente: uma espécie de "Moisés argentino" do subtrópico.

¨      Prefeito de Buenos Aires anuncia que detentos serão colocados em contêineres por superlotação

O prefeito de Buenos Aires, Jorge Macri, anunciou nesta sexta-feira (3) que a capital argentina passará a alojar detentos em contêineres para ampliar sua capacidade em delegacias e centros transitórios de detenção.

Segundo o prefeito, as delegacias e os centros estão com superlotação, e após quatro fugas serem registradas somente em abril, a decisão foi tomada.

"Construíram-se módulos para gerar respiros até que os detidos sejam levados ao serviço penitenciário", disse o prefeito sobre os contêineres, qualificando a iniciativa como "melhoras físicas", relatou Macri, citado pela CNN Brasil.

Ao todo, 19 contêineres ficarão dentro do limite físico de três delegacias, protegidos por muros e cercas já existentes, ampliando a capacidade de detenção temporária da cidade em 300 lugares, segundo a mídia.

A quantidade de detidos ultrapassa "amplamente" os lugares disponíveis e 20% dos detidos, por já terem sido condenados, deveriam estar em penitenciárias federais, de acordo com a prefeitura de Buenos Aires. O número de presos na cidade saltou de 60 em 2020 para mais de 2.000 em 2024.

"Não vamos deixar de prender delinquentes na cidade de Buenos Aires", garantiu Macri, atribuindo a superlotação a "uma polícia mais operativa". Ainda segundo a prefeitura portenha, cerca de 80 pessoas são presas diariamente na capital.

O prefeito também disse que vai colocar à disposição da Justiça duas mil tornozeleiras eletrônicas para possibilitar que presos de menor periculosidade sejam mantidos em prisão domiciliar.

Ao mesmo tempo, informou que avançará com a deportação de "estrangeiros ilegais", já que 340 detidos, alguns inclusive condenados, não são argentinos. "Não tem sentido que a Argentina gaste recursos com alguém que vem delinquir", disse o prefeito.

O objetivo, segundo a prefeitura, é que as três medidas – módulos, tornozeleiras eletrônicas e deportações – sejam incorporadas nos próximos 90 dias, liberando pelo menos 600 lugares em delegacias e centros transitórios de detenção.

Em suas declarações desta sexta-feira (3), feitas ao lado da ministra da Segurança do governo Milei, Patricia Bullrich, Macri disse ter herdado a superlotação de delegacias e centros transitórios de detenção do governo anterior.

 

¨      Políticos fugitivos da Venezuela roubaram mais de US$ 1 bilhão em petróleo, diz procurador-geral

 

A Procuradoria-Geral da Venezuela emitirá novos mandados de prisão e pedidos de extradição para os políticos da oposição venezuelana Leopoldo López e Julio Borges, que vivem no exterior.

Segundo o procurador-geral venezuelano Tarek William Saab, um dos motivos que levou a tomar a decisão foi o roubo de mais de U$ 1 bilhão (equivalente a aproximadamente R$5.3 bilhões) de petróleo.

"As entregas... [desvio de petróleo] estão avaliadas em mais de US$ 1 bilhão [equivalente a R$ 5 bilhões]... O embarque mínimo foi de dois milhões de barris por navio, com um valor estimado de US$ 120 milhões a US$ 140 milhões [aproximadamente R$ 742 milhões], dependendo do preço de mercado", disse Saab em reportagem exibida na emissora venezuelana VTV nesta quinta-feira (2).

"Por causa das novas revelações, os promotores do caso solicitarão um novo mandado de prisão para Leopoldo López e Julio Borges, bem como um novo pedido de extradição", complementou.

A promotoria estatal venezuelana, com base no depoimento de funcionários e empresários detidos anteriormente em um caso de corrupção na empresa petrolífera estatal venezuelana PDVSA, recebeu informações de que López e Borges, fugitivos da justiça de Caracas na Colômbia e na Espanha, eram beneficiários do roubo de petróleo bruto.

De acordo com os depoimentos, pelo menos oito petroleiros foram roubados com a ajuda de dois empreiteiros da PDVSA.

 

¨      Venezuela registra 11 trimestres consecutivos de crescimento econômico, mesmo com sanções dos EUA

 

A vice-presidente da Venezuela, Delcy Rodríguez, declarou que a economia do país registrou um crescimento sustentado nos últimos 11 trimestres, apesar do impacto das sanções unilaterais impostas pelos Estados Unidos. Em abril, o governo norte-americano decidiu renovar as medidas contra o setor de petróleo e gás venezuelano.

"Esse bloqueio, vocês sabem, sufocou e torturou a Venezuela e toda a sua população sem qualquer distinção, mas hoje podemos dizer que temos 11 trimestres consecutivos de crescimento econômico", disse a vice-presidente em uma transmissão do canal estatal Venezolana de Televisión.

A declaração ocorreu após Rodríguez apresentar um projeto de lei na Assembleia Nacional da Venezuela, quando atribuiu o crescimento econômico ao esforço dos trabalhadores, além da união dos setores público e privado do país.

"Hoje [2] vemos, em 2024, primeiro trimestre, quase o equivalente a US$ 2 bilhões [R$ 10,2 bilhões], e esse crescimento econômico também se traduz em benefício e felicidade para nossos trabalhadores e trabalhadoras", detalhou.

Além disso, a funcionária destacou a recuperação da moeda venezuelana, sendo possível "dizer que recupera seu espaço de soberania monetária".

Em abril, o Fundo Monetário Internacional (FMI) projetou que a Venezuela teria o maior crescimento econômico na região em 2024, com 4% de incremento no produto interno bruto (PIB), de acordo com o último relatório Perspectivas da Economia Mundial. Além disso, o governo de Nicolás Maduro afirmou que a Venezuela registra as taxas de inflação mais baixas da última década.

Em 2023, o crescimento econômico venezuelano ultrapassou 5% do PIB. Já Maduro projeta um aumento de 8% no PIB neste ano, o dobro das projeções do FMI.

·        Retomada de sanções contra a Venezuela

No último mês, o Departamento do Tesouro dos Estados Unidos retomou as sanções norte-americanas sobre o setor de petróleo e gás da Venezuela, diante de "preocupações" com questões relacionadas às eleições no país sul-americano.

Na alegação estadunidense, a desqualificação de candidatos e partidos por questões técnicas, como a vencedora das primárias da oposição, María Corina Machado, é um dos motivos, que incluem um "suposto padrão contínuo de assédio e repressão contra figuras da oposição e da sociedade civil".

Já o presidente Maduro comentou o objetivo das medidas impostas pelos EUA à indústria petrolífera do país. "As sanções que os EUA anunciaram hoje têm como objetivo atingir nossos rendimentos para que não possamos melhorar os salários dos trabalhadores na Venezuela", disse o presidente durante discurso.

 

Fonte: Sputnik Brasil

 

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