'O Moisés argentino': como Javier Milei é
vendido para o público conservador americano?
Recentemente, Javier
Milei foi entrevistado por um veículo de mídia americano voltado para o público
conservador, expondo algumas de suas visões sobre a Argentina atual e o estado
do mundo ocidental. Trata-se de uma oportunidade bastante importante para
Milei, que busca vender uma imagem de "defensor da liberdade" para
audiências ocidentais.
Durante a entrevista,
o mandatário argentino por diversas vezes elogiou os chamados
"valores" americanos, fundamentados na "liberdade do
indivíduo" e na diminuição do papel do Estado na sociedade.
A própria base da
campanha eleitoral de Javier Milei na Argentina esteve voltada para dirimir a
participação do Estado na economia, eliminando uma série de ministérios, por
exemplo, e na defesa do que ele chamou de "superioridade moral do
capitalismo".
Para além disso, Milei
enfatizou que sua chegada ao poder em Buenos Aires se deve à chamada
"guerra cultural" hoje em curso na Argentina, fenômeno também
presente em demais países do continente.
Segundo Milei, essa
guerra cultural se dá entre dois campos principais. O primeiro deles diz
respeito a forças progressistas de esquerda, centradas no desejo de transformar
suas sociedades por meio da defesa dos direitos das minorias e de pautas
identitárias multifacetadas.
A segunda força nessa
disputa é composta por conservadores de direita que se orientam pela defesa da
tradição, da religião e, ao mesmo tempo, enfatizam a liberdade individual e de
mercado — no plano econômico.
Não só na Argentina,
mas também nos próprios Estados Unidos e até mesmo no Brasil, ambos os lados
dessa disputa se entranharam em uma verdadeira miscelânia de conceitos que ora
se complementam, ora se contradizem, tornando o diálogo entre as partes cada vez
mais difícil.
Milei, por sua vez, é
um personagem político que ascendeu em popularidade justamente no contexto
dessa "guerra cultural" argentina, mas também, e principalmente, por
conta das precárias condições econômicas na qual o país se encontra já há muitas
décadas.
Economista de
formação, Milei fez menção de afirmar que finalmente "os argentinos
decidiram amadurecer […] e, de uma vez por todas, começar a fazer as coisas
direito". Durante a entrevista para o público conservador americano, o
mandatário argentino, obviamente, não deixou escapar a chance de dizer que
"os argentinos decidiram abraçar a liberdade".
Milei sabe que há um
simbolismo muito forte em torno da palavra "liberdade" para grande
parte da audiência estadunidense, assim como para a sua classe política.
Afinal, os Estados Unidos ainda se consideram os "defensores do mundo
livre" e das "liberdades individuais". Logo, qualquer líder
mundial que lançar uso desses termos em suas aparições públicas estará
irremediavelmente acenando para Washington em busca de apoio político ou, até
mesmo, financeiro.
No mais, quando
perguntado por seu interlocutor "qual exemplo a Argentina deixa para o
resto do Ocidente?" ou então "onde foi que o Ocidente errou?",
Milei indica que a principal falha teria sido o abandono dos princípios
fundadores ocidentais de "liberdade".
Para o argentino, o
Ocidente optou por abraçar o "politicamente correto" que, na sua
visão, nada mais é do que um ideário socialista repaginado para o século XXI.
Trata-se não mais do socialismo ancorado no materialismo histórico de Karl
Marx, mas sim de um socialismo ancorado em disputas culturais encabeçado por
forças políticas progressistas, sem necessariamente aludir à clássica luta
envolvendo os trabalhadores e a chamada burguesia.
Nesse sentido, segundo
Milei, as ideias do pensador italiano do século XX Antonio Gramsci teriam
obtido pleno sucesso na Argentina antes de sua chegada ao poder. Isso porque,
na opinião do mandatário argentino, os ideais desse "novo socialismo"
se encontram enraizados no sistema educacional, midiático, cultural,
institucional e governamental em quase todo o país. Todos esses segmentos, por
sua vez, são parte do que Gramsci classificou como "superestrutura".
De forma resumida,
para Gramsci, era importante deter a "hegemonia" do discurso dentro
da "superestrutura" da sociedade, de forma a moldar seus valores
culturais e, assim, impedir a população de questionar o status quo. De acordo
com Milei, a sociedade argentina havia chegado a um estado de quase completa
dominação do ideário progressista, o que teria contribuído para a derrocada
social e econômica do país.
A partir dessas
colocações, Milei é vendido ao público conservador americano como uma espécie
de "modelo" a ser seguido, como um líder capaz de reverter as agendas
culturais e políticas desse "novo socialismo" do século XXI. Não
surpreende, portanto, que o líder argentino tenha se encontrado com Donald
Trump em fevereiro deste ano, além de ter feito uma viagem a Israel no mesmo
mês para uma reunião com Benjamin Netanyahu.
Ambos os encontros
serviram para mostrar que a Argentina de Milei reorientou sua política externa
para o Ocidente, dando especial ênfase para Estados Unidos, Europa e Israel, em
detrimento de suas relações com países como a China, o Brasil de Luiz Inácio
Lula da Silva e até mesmo o grupo BRICS.
Entretanto, este
talvez seja um dos momentos mais peculiares para a Argentina se dizer alinhada
aos "valores humanistas e de liberdade" do Ocidente, tendo em vista o
apoio ocidental às empreitadas de Israel em Gaza, que desde outubro já causaram
a morte de mais de 30 mil palestinos. Ainda assim, não compete esperar que
Milei venha a abandonar os vários simbolismos políticos incutidos em seu
discurso.
Afinal, sua missão é
justamente conquistar a simpatia da audiência americana — sobretudo de sua
parcela conservadora —, o que pode gerar algum dividendo a Buenos Aires caso
Trump vença a disputa à presidência em novembro.
Para concluir, ao
final da entrevista Milei diz considerar Moisés — protagonista do livro bíblico
de Êxodo — como o "maior herói da liberdade de todos os tempos". Pode
ser que Milei queira ser assim lembrado por seus interlocutores no Ocidente:
uma espécie de "Moisés argentino" do subtrópico.
¨ Prefeito de Buenos Aires anuncia que detentos serão colocados em
contêineres por superlotação
O prefeito de Buenos
Aires, Jorge Macri, anunciou nesta sexta-feira (3) que a capital argentina
passará a alojar detentos em contêineres para ampliar sua capacidade em
delegacias e centros transitórios de detenção.
Segundo o prefeito, as
delegacias e os centros estão com superlotação, e após quatro fugas serem
registradas somente em abril, a decisão foi tomada.
"Construíram-se
módulos para gerar respiros até que os detidos sejam levados ao serviço
penitenciário", disse o prefeito sobre os contêineres, qualificando a
iniciativa como "melhoras físicas", relatou Macri, citado pela CNN
Brasil.
Ao todo, 19
contêineres ficarão dentro do limite físico de três delegacias, protegidos por
muros e cercas já existentes, ampliando a capacidade de detenção temporária da
cidade em 300 lugares, segundo a mídia.
A quantidade de
detidos ultrapassa "amplamente" os lugares disponíveis e 20% dos
detidos, por já terem sido condenados, deveriam estar em penitenciárias
federais, de acordo com a prefeitura de Buenos Aires. O número de presos na
cidade saltou de 60 em 2020 para mais de 2.000 em 2024.
"Não vamos deixar
de prender delinquentes na cidade de Buenos Aires", garantiu Macri,
atribuindo a superlotação a "uma polícia mais operativa". Ainda
segundo a prefeitura portenha, cerca de 80 pessoas são presas diariamente na
capital.
O prefeito também
disse que vai colocar à disposição da Justiça duas mil tornozeleiras
eletrônicas para possibilitar que presos de menor periculosidade sejam mantidos
em prisão domiciliar.
Ao mesmo tempo,
informou que avançará com a deportação de "estrangeiros ilegais", já
que 340 detidos, alguns inclusive condenados, não são argentinos. "Não tem
sentido que a Argentina gaste recursos com alguém que vem delinquir", disse
o prefeito.
O objetivo, segundo a
prefeitura, é que as três medidas – módulos, tornozeleiras eletrônicas e
deportações – sejam incorporadas nos próximos 90 dias, liberando pelo menos 600
lugares em delegacias e centros transitórios de detenção.
Em suas declarações
desta sexta-feira (3), feitas ao lado da ministra da Segurança do governo
Milei, Patricia Bullrich, Macri disse ter herdado a superlotação de delegacias
e centros transitórios de detenção do governo anterior.
¨ Políticos fugitivos da Venezuela roubaram mais de US$ 1 bilhão
em petróleo, diz procurador-geral
A Procuradoria-Geral
da Venezuela emitirá novos mandados de prisão e pedidos de extradição para os
políticos da oposição venezuelana Leopoldo López e Julio Borges, que vivem no
exterior.
Segundo o
procurador-geral venezuelano Tarek William Saab, um dos motivos que levou a
tomar a decisão foi o roubo de mais de U$ 1 bilhão (equivalente a
aproximadamente R$5.3 bilhões) de petróleo.
"As entregas...
[desvio de petróleo] estão avaliadas em mais de US$ 1 bilhão [equivalente a R$
5 bilhões]... O embarque mínimo foi de dois milhões de barris por navio, com um
valor estimado de US$ 120 milhões a US$ 140 milhões [aproximadamente R$ 742
milhões], dependendo do preço de mercado", disse Saab em reportagem
exibida na emissora venezuelana VTV nesta quinta-feira (2).
"Por causa das
novas revelações, os promotores do caso solicitarão um novo mandado de prisão
para Leopoldo López e Julio Borges, bem como um novo pedido de
extradição", complementou.
A promotoria estatal
venezuelana, com base no depoimento de funcionários e empresários detidos
anteriormente em um caso de corrupção na empresa petrolífera estatal
venezuelana PDVSA, recebeu informações de que López e Borges, fugitivos da
justiça de Caracas na Colômbia e na Espanha, eram beneficiários do roubo de
petróleo bruto.
De acordo com os
depoimentos, pelo menos oito petroleiros foram roubados com a ajuda de dois
empreiteiros da PDVSA.
¨ Venezuela registra 11 trimestres consecutivos de crescimento
econômico, mesmo com sanções dos EUA
A vice-presidente da
Venezuela, Delcy Rodríguez, declarou que a economia do país registrou um
crescimento sustentado nos últimos 11 trimestres, apesar do impacto das sanções
unilaterais impostas pelos Estados Unidos. Em abril, o governo norte-americano
decidiu renovar as medidas contra o setor de petróleo e gás venezuelano.
"Esse bloqueio,
vocês sabem, sufocou e torturou a Venezuela e toda a sua população sem qualquer
distinção, mas hoje podemos dizer que temos 11 trimestres consecutivos de
crescimento econômico", disse a vice-presidente em uma transmissão do canal
estatal Venezolana de Televisión.
A declaração ocorreu
após Rodríguez apresentar um projeto de lei na Assembleia Nacional da
Venezuela, quando atribuiu o crescimento econômico ao esforço dos
trabalhadores, além da união dos setores público e privado do país.
"Hoje [2] vemos,
em 2024, primeiro trimestre, quase o equivalente a US$ 2 bilhões [R$ 10,2
bilhões], e esse crescimento econômico também se traduz em benefício e
felicidade para nossos trabalhadores e trabalhadoras", detalhou.
Além disso, a
funcionária destacou a recuperação da moeda venezuelana, sendo possível
"dizer que recupera seu espaço de soberania monetária".
Em abril, o Fundo
Monetário Internacional (FMI) projetou que a Venezuela teria o maior
crescimento econômico na região em 2024, com 4% de incremento no produto
interno bruto (PIB), de acordo com o último relatório Perspectivas da Economia
Mundial. Além disso, o governo de Nicolás Maduro afirmou que a Venezuela
registra as taxas de inflação mais baixas da última década.
Em 2023, o crescimento
econômico venezuelano ultrapassou 5% do PIB. Já Maduro projeta um aumento de 8%
no PIB neste ano, o dobro das projeções do FMI.
·
Retomada de sanções contra a Venezuela
No último mês, o
Departamento do Tesouro dos Estados Unidos retomou as sanções norte-americanas
sobre o setor de petróleo e gás da Venezuela, diante de
"preocupações" com questões relacionadas às eleições no país
sul-americano.
Na alegação
estadunidense, a desqualificação de candidatos e partidos por questões
técnicas, como a vencedora das primárias da oposição, María Corina Machado, é
um dos motivos, que incluem um "suposto padrão contínuo de assédio e
repressão contra figuras da oposição e da sociedade civil".
Já o presidente Maduro
comentou o objetivo das medidas impostas pelos EUA à indústria petrolífera do
país. "As sanções que os EUA anunciaram hoje têm como objetivo atingir
nossos rendimentos para que não possamos melhorar os salários dos trabalhadores
na Venezuela", disse o presidente durante discurso.
Fonte: Sputnik Brasil
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