quarta-feira, 17 de abril de 2024

Marcelo Zero: Quem é democrata, no plano mundial?

A viagem de uma representação do PT à China, chefiada pela presidenta do partido, Gleisi Hoffmann, vem ocasionando uma série de críticas sem quaisquer fundamentos.

Tais críticas subiram bastante de tom, após a presidenta do partido, ter elogiado, com razão, a experiência econômica, social e política da China das últimas décadas.

Critica-se, sobretudo, o apoio do PT a uma suposta “ditadura”, quando, há pouco tempo, o governo Lula sofreu uma tentativa de golpe Estado.

Bom, em primeiro lugar, as forças que tentaram dar, recentemente, um golpe de Estado no Brasil detestam a China.

Bolsonaro, como se sabe, teve uma relação muito hostil, em relação a Beijing, principalmente na época do chanceler Eduardo Araújo. Chegou-se até mesmo a se acusar o novo coronavírus de ser um “vírus chinês comunista”.

A extrema-direita brasileira, latino-americana e internacional, que é de onde vêm as reais ameaças à democracia brasileira, têm a China como uma grande inimiga.

Portanto, aproximar-se à China não significa aliar-se com quem defende ditaduras no Brasil. É exatamente o contrário.

Em segundo, e esse nos parece o ponto principal, a China, no plano internacional, contribui, ao contrário de outras potências, para o desenvolvimento dos demais países e para a conformação de uma ordem mundial mais simétrica e democrática.

Em que momento histórico a China ameaçou nossa democracia?

Em que ocasião, a China, que se tornou nosso principal parceiro econômico e comercial, tentou impor seu modelo político ou seus valores ao Brasil?

Quando foi que a China tentou evitar que o Brasil mantivesse boas relações com outras nações?

A China, como se sabe, tem uma política externa pragmática, universalista, não-ideologizada e não-intervencionista. Busca, essencialmente, cooperar e fazer comércio com todo o mundo. Exatamente como o Brasil faz.

Ao agir dessa forma, a China contribui para a paz, para o multilateralismo e para a multipolaridade.

Há, contudo, países que não vêm com bons olhos essa grande ascensão da China no cenário mundial e as mudanças geoeconômicas e geopolíticas que acontecem celeremente no quadro internacional.

Os EUA, em particular, enxergam tal ascensão e tais mudanças como ameaças graves aos seus interesses hegemônicos.

A bem da verdade, EUA e alguns aliados querem impor, ao resto do mundo, uma nova Guerra Fria, no contexto da qual, as nações teriam de “escolher” entre seus dois polos antagônicos: o polo das “democracias”, o polo do “Bem”, ou o polo das “autocracias”, o polo do “Mal”.

Essa visão simplória e maniqueísta da nova ordem mundial introduz tensões desnecessárias no planeta, tende a gerar conflitos e erode a consolidação da multipolaridade e de um real multilateralismo.

Mas, mais do que isso, ela representa uma atitude autoritária, antidemocrática e arrogante, que visa a constranger os países que, como o Brasil, não querem se submeter a alinhamentos com ninguém.

Não se pode ser ingênuo, em política externa.

Essa pressão para o alinhamento com o polo do “Bem”, baseada numa caricatura ridícula da complexidade e diversidade do mundo, não provêm, na realidade, de alguma preocupação legítima com a disseminação da democracia pelo planeta.

Como se sabe, EUA e alguns aliados não hesitam em apoiar países com regimes claramente ditatoriais ou autocráticos, desde que eles estejam alinhados com seus interesses.

De outro lado, a história da América Latina demonstra, de forma cabal, que, em várias ocasiões, regimes democráticos foram derrubados, com o apoio dos EUA e de países europeus, porque não se alinhavam com os interesses dominantes no continente.

A hipocrisia é a homenagem que o vício presta à virtude.

Por isso, o Brasil de Lula não se submete a essa “escolha” maniqueísta, autoritária e hipócrita.

Entre EUA e Europa, de um lado, e China e Rússia, de outro, o Brasil escolhe o Brasil, país com interesses próprios e independentes, que deseja ter boas relações com todas as nações e que almeja contribuir para a conformação de uma ordem mundial multipolar, multilateral e simétrica, capaz de dar soluções para os graves problemas do planeta, como o aquecimento global, a fome, a pobreza, as desigualdades e as guerras.

Entre o “Bem “e o “Mal”, o Brasil escolhe soberanamente os interesses e os valores ditados por sua democracia; não os interesses de outros, travestidos cinicamente de preocupações democráticas.

Nenhum país pode impor democracia a outros. Se alguns países, em vez de promover cooperação e negociações, se concentram em impor aos outros dilemas maniqueístas e simplórios, então esses países dificilmente podem ser denominados de “faróis da democracia”.

No plano mundial, os verdadeiros faróis da democracia deixam que a luz de todos os países brilhe autonomamente.

 

Ø  Glenn Greenwald vê o Brasil com os olhos do bolsonarismo. Por Moisés Mendes

 

O bolsonarista neopentecostal acredita que, na guerra do Irã contra Israel, deve ficar sempre contra os iranianos, porque Israel é um país cristão e amigo dos evangélicos com Deus e seu filho Jesus acima de tudo.

Mas um jornalista do porte de Glenn Edward Greenwald não pode, seguindo o mesmo raciocínio enviesado, acreditar que a guerra de Elon Musk contra Alexandre de Moraes, Lula e o Brasil transforma o bandidão sul-africano em libertário.

Bolsonarista acredita que Israel é cristão e que Bolsonaro é amigo dos judeus, enquanto compartilha fotos do sujeito ao lado de nazistas. Acredita que bandido bom é bandido morto, mas pode também ser o Chiquinho Brazão solto.

Mas um jornalista do porte de Glenn Greenwald não pode acreditar que o ministro Alexandre de Moraes mandou prender anjinhos libertários da ala religiosa do fascismo.

Bolsonarista acredita que só as esquerdas têm gays. Que só comunistas fazem aborto. Acredita que Silas Malafaia pagou a aglomeração de 25 de fevereiro na Paulista em nome da liberdade religiosa.

Mas um jornalista que se consagrou pela defesa do direito à informação não pode estar ao lado de quem dissemina desinformação e mentiras para atacar o ministro que tenta conter as máfias das fake news das redes sociais protegidas pelas big techs também mafiosas.

O bolsonarista raiz acreditou por um bom tempo, depois desacreditou e voltou a acreditar que Sergio Moro caçava mesmo corruptos. Acredita até que Sergio Moro lê biografias.

Mas um jornalista respeitado como Glenn Greenwald, que ajudou a expor a gangue de Curitiba, não pode remexer em posições de muitos anos atrás, de um ou dois nomes das esquerdas, só para tentar desqualificar as posições de todas as esquerdas em relação a Alexandre de Moraes.

Bolsonarista acredita que Deus é capaz de parar tudo o que está fazendo para proteger Michelle. E que Deltan Dallagnol perdeu o mandato de deputado federal porque Deus estava distraído.

Mas um jornalista com o poder de influenciar leitores, com a empatia de Glenn Edward Greenwald, não pode tentar se aproximar de gente que usa Deus para ter a garantia do dízimo acima de qualquer coisa.

O bolsonarista acredita que a família Bolsonaro comprou 50 imóveis com dinheiro vivo porque os vendedores de todos os imóveis não tinham conta em banco.

Bolsonarista ataca maconheiros e se alinha a Elon Musk, que é assumidamente maconheiro. Mas o jornalista americano não tem o direito de se apresentar como desinformado sobre as atitudes cínicas de perseguidores de maconheiros negros e adoradores de maconheiros bilionários.

O bolsonarista pobre bate na Petrobras por não ter distribuído os bônus de seus altos lucros a quem tem ações, porque pobre bolsonarista acha que tem os mesmos interesses de quem vive da renda das ações da Petrobras, porque é o que a Globo diz.

Bolsonarista ainda tem medo do comunismo, porque o comunismo pode levar seu Corsa rebaixado e sua bicicleta junto com o Porsche do filhinho rico que matou o motorista do Uber em São Paulo.

Glenn Greenwald, o jornalista que denunciou os farsantes anti-Lula e anticomunistas do lavajatismo, não pode acreditar em tudo que os bolsonaristas dizem acreditar ou fingem que acreditam.

Não pode, em nome das liberdades, repetir todas as bobagens e agressões do extremismo golpista, misógino, homófobo e racista que ameaça matar a tiros as autoridades garantidoras das liberdades.

Um jornalista do tamanho de Glenn Greenwald não pode acreditar, em respeito aos colegas jornalistas argentinos, que Elon Musk e Javier Milei são libertários.

O texto que Glenn Greenwald publicou na Folha, atacando Alexandre de Moraes para defender Elon Musk e seus parceiros de bandidagem no Brasil, seria assinado por qualquer influencer bolsonarista em qualquer estágio do ativismo de ‘ideias’ da extrema direita.

Um jornalista da qualidade de Glenn Edward Greenwald não poderia virar embarcado de Elon Musk na guerra pela preservação de seus interesses criminosos de predador da Amazônia.

Não pode. Greenwald aliou-se aos argumentos do gangsterismo mundial para fazer o jogo de Musk e de Trump no esforço para evitar a prisão de Bolsonaro, seus generais e o núcleo civil e empresarial do golpe.

Greenwald não pode achar, por ser estrangeiro, que detém sabedoria superior ou que Deus também está com ele na guerra do facínora Elon Musk contra os caboclos brasileiros. Salta fora dessa Terra plana infestada de bandidos, Glenn Edward Greenwald.

 

Ø  Câmara bancou viagem de bolsonaristas para mentir no Parlamento Europeu

 

Entre os dias 7 e 13 de abril, figuras como Eduardo Bolsonaro (PL-SP), Bia Kicis (PL-DF) e Gustavo Gayer (PL-GO) gastaram pelo menos R$ 72,8 mil do Congresso brasileiro para irem a Bruxelas, na Bélgica, denunciar as supostas censuras do governo Lula (PT) e do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal. Esse valor ainda não contabiliza a quantia não declarada por outros bolsonaristas.

No Parlamento Europeu, eles estiveram presentes em atividades como “Brasil: a repressão de Lula ao Estado de Direito” acompanhados de políticos de direita.

Segundo a prestação de contas, Eduardo Bolsonaro viajou em classe econômica no dia 8 de abril e retornou ao Brasil no dia 13 em classe executiva. As passagens custaram cerca de R$ 15.935,06, enquanto as diárias foram de aproximadamente R$ 10.015,20. Bia Kicis teve despesas semelhantes, com reembolso de passagens aéreas no valor de R$ 15.953,62 e diárias de R$ 9.938,16.

Gustavo Gayer teve a hospedagem paga pela Câmara no valor de R$ 9,9 mil, mas não há registros sobre o meio de locomoção até o exterior.

“Neste país que temos agora, a Justiça tem tornado a oposição inelegível, retirando os direitos políticos da direita”, disse Gayer em sua falsa denúncia para um Parlamento praticamente vazio.

O bolsonarista Marcel Van Ratten (Novo-RS) não foi a Bruxelas, mas recebeu o reembolso de passagem doo Congresso e solicitou a devolução do dinheiro à companhia aérea.

Outros três parlamentares, autorizados pelo presidente Arthur Lira (PP-AL) a participarem da missão, ainda não prestaram contas sobre a viagem. São eles Ricardo Salles (PL-SP), Júlia Zanatta (PL-SC) e Coronel Ulysses (União-AC).

No Brasil, Zanatta está sempre usando uma tiara de flores na cabeça, peça de origem alemã habitualmente associada ao nazismo. Na Europa, ela surgiu sem o adereço característico.

 

Fonte: Viomundo/DCM

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