Extrema
direita: “Os ideólogos do tradicionalismo”
Recentemente,
o crescimento dos movimentos de extrema direita fez com que eles se tornassem
possibilidades reais de governo em vários países do ocidente, algo impensável
até então. No Brasil, isto fica claro quando observamos que um número cada vez
maior de pessoas se assume “conservador”, ou “de direita”. Como entender este
fenômeno?
Nas
duas últimas eleições presidenciais brasileiras, mais de 50 milhões de pessoas
votaram na extrema direita. Ora, não é razoável supor que todas elas assumam
posições radicais, racistas, misóginas, homofóbicas, de apologia à violência e
desprezo pela democracia. Há entre eles muitos negros, homossexuais,
ex-eleitores do Partido dos Trabalhadores. Então, o que motivou seus votos? O
que fez com que passassem a acreditar que o discurso de ódio bolsonarista seria
a melhor opção para responder às suas insatisfações?
Obviamente,
não há uma única resposta para estas questões, mas tudo indica que esta
realidade se constituiu a partir de um processo de polarização, que tende a
simplificar os entendimentos. Algo assim: você é contra ou a favor da forma
como está o mundo em que vivemos, sendo que no “contra” cabe muita coisa: a
ameaça comunista, a “ideologia de gênero”, o ateísmo, a intervenção excessiva
do Estado, a corrupção governamental, etc. Não é difícil reunir indignações.
A
extrema direita se apresenta e se define por suas posições reacionárias,
geralmente interpretadas como uma rejeição das transformações sociais e um
esforço para a manutenção de privilégios. Mas, é necessário dar um passo além,
ou melhor, um passo para trás, e tentar entender como o atual fenômeno de seu
rápido crescimento tem fundamentos teóricos muito antigos, que não se limitam a
preconceitos morais e a interesses econômicos.
Retomar
o percurso destas ideias pode ser importante para que possamos compreender suas
motivações e seus equívocos, e talvez contribuir para a construção de
estratégias capazes de denunciar seus desdobramentos mais perversos. Por esta
via, é necessário recusar as polarizações maniqueístas, que opõe os
progressistas aos reacionários, e buscar nos fundamentos de nossa modernidade
os fatores responsáveis por muitos de nossos conflitos e mal-estares.
A
crise do mundo moderno é o título de um
livro escrito por René Guénon, em 1927. Alguns anos depois, em 1934, Julius
Évora lançou uma obra chamada de Revolta contra o mundo moderno.
Era o início da escola espiritual e filosófica tradicionalista, formada por um
conjunto de pensadores alternativos, ecléticos, e com relativamente poucos
seguidores, que nunca obteve grande reconhecimento nas universidades, e também
passa quase despercebida nos ensinos atuais de filosofia. O ponto central que
eles defendem é a recusa das premissas fundadoras da modernidade, que seriam o
racionalismo, o individualismo, o materialismo e o laicismo. Para os seguidores desta filosofia, a tradição
é fundada em características opostas a estas: a identidade coletiva, a dimensão
espiritual/afetiva e a religião, sendo que todos estes elementos seriam
produtores de coesão social e identidade pessoal, algo que teria se perdido na
modernidade.
Nesta
direção, consideram que o racionalismo materialista, próprio da modernidade,
produziu uma substituição do que era simbólico e transcendente por um mundo
marcado pela literalidade, ou seja, um mundo desencantado, ou encantado somente
pelas coisas e pelos corpos. O que importa notar é que, apesar de serem pouco
conhecidos pela maior parte da população, importantes “influencers” de
grandes líderes mundiais, como Steve Bannon, de Donald Trump; Alexandr Dugin,
de Vladimir Putin; e Olavo de Carvalho, da família Bolsonaro, beberam em suas
fontes.
Mas,
que importância tem isso? O que importa o que estes personagens sombrios
pensam? Steve Bannon não é aquele da Cambridge Analytica, que manipulava
metadados para influenciar eleitores em favor dos candidatos de direita?
Alexandr Dugin não é aquele ultranacionalista excêntrico? Olavo de Carvalho não
é o pseudo filósofo, astrólogo, que preenche com palavrões todas suas falas?
Talvez eles sejam mais do que aparentam. Apesar das inúmeras diferenças entre
si, se quisermos entender melhor o processo de crescimento da extrema direita
atualmente, é importante notar o que há de convergente em seus pensamentos, e
reconhecer que isto é muito mais importante do que suas idiossincrasias.
É
claro que a maior parte dos apoiadores dos movimentos de extrema direita não
leu Renée Guénon, Julius Évola, Alexandr Gudin ou Olavo de Carvalho; como a
maior parte dos democratas liberais não leu Adam Smith ou John Locke. Mas, de
alguma forma, seus pensamentos constituem as narrativas a partir das quais são
construídos os entendimentos, projetos e ações que transformam nossas
sociedades. Na verdade, não se trata de um processo linear, como se pensamentos
criassem realidades, mas muito mais um processo dialético entre entendimentos e
experiência social, onde as contradições vão produzindo os movimentos. Parece
ser necessário um quadro de entendimento, uma grande narrativa, para reunir e
dar consistência a uma variedade de sentimentos e percepções que buscam um meio
para se manifestar.
Neste
processo, frequentemente, ocorre um conflito entre os “gurus ideológicos”,
muitas vezes autênticos em suas crenças, e os políticos pragmáticos e
oportunistas, que se apegam mais ao poder do que às ideias. Estes tendem a
recorrer a estas reflexões filosóficas, extraindo delas ideias e valores que
lhes são úteis para acionar insatisfações e anseios de parte da população. O
próximo passo é produzir narrativas, sintonizadas com certo senso comum, que
contesta o “atual sistema”, e convocar o povo para um movimento de retorno às
tradições.
Mesmo
considerando estes “desvios” em relação ao pensamento original tradicionalista,
parece importante considerar que os atuais movimentos de extrema direita só se
tornaram possíveis a partir da crítica direcionada a algumas consequências do
liberalismo moderno, especialmente a radicalização do individualismo, a
desconsideração da história cultural de cada grupo social, a dificuldade de
produção de sentimentos de pertença coletiva e de proposição de projetos
voltados ao bem comum.
Atualmente,
excetuando-se os movimentos ecológicos, o que há de mais potente em termos de
ações coletivas (fora do campo da extrema direita) são os movimentos
identitários que, por mais importantes que sejam, ainda se limitam à defesa de
grupos sociais específicos, e não à proposição de um projeto de sociedade. Talvez
esta seja a chave para o entendimento das razões pelas quais a extrema direita
tem crescido tanto, enquanto a esquerda parece paralisada: a existência, ou
não, de um projeto de sociedade. Como o futuro parece incerto para todos, o que
gera insegurança, especialmente em uma sociedade com acentuado processo de
transformação (globalização, acelerado desenvolvimento de tecnologias
comunicacionais, etc.), a Extrema Direita mira no passado (make America
great again, TFP – tradição, família e propriedade), enquanto a esquerda
não sabe o que propor para o futuro.
Por
outro lado, os tradicionalistas originários não se reconheciam conservadores,
pois recusavam a noção moderna de tempo linear e sua crença no progresso. Para
eles, seguindo tradições filosóficas orientais, o tempo é cíclico, o que os
fazia acreditar que, em algum momento, voltaríamos a ter sociedades holísticas,
hierarquizadas e com referência a algum princípio/entidade transcendente. Mas,
a apropriação contemporânea do tradicionalismo, em seu projeto de cooptação das
massas, geralmente não faz esta distinção, adotando a estratégia de valorizar o
passado, e lamentar a perda das referências que organizavam suas vidas, como a
religião, a família e a pátria, ao menos da forma como elas eram concebidas e
experimentadas antigamente.
Não
é difícil entender que transformações sociais possam gerar reações e
contrariedades. Imaginemos um cenário distópico, mas não de todo improvável: a
Inteligência Artificial passou a dirigir nossas vidas. Cada escolha que fazemos
– pessoas com quem nos relacionamos, direcionamentos profissionais, atividades
de lazer, coisas que adquirimos, a visão de mundo que elaboramos – passou a ser
orientada por algoritmos, afinal eles sabem mais sobre nós do que nós mesmos.
Além
disso, nesta “nova sociedade”, relacionamentos exclusivos são condenados, pois
representam uma forma inaceitável de cerceamento da liberdade; a educação de
nossos filhos é conduzida por atividades e métodos com eficácia comprovada para
a formação de jovens funcionais e bem adaptados a vida social; a produção
artística é policiada, porque toda contestação desta nova forma de vivenciar as
relações sociais é considerada “politicamente incorreta”, as principais mídias
só tocam funk e sertanejo.
Frente
a esta situação, seria razoável supor que muitos de nós assumíssemos posições
saudosistas, no sentido de valorizar certos aspectos das antigas formas de viver.
Afinal, todos precisamos de certa estabilidade em nossas visões de mundo e
estilos de vida. E, mesmo quando promovemos eventuais mudanças em nossas vidas,
gostamos de pensar que elas foram produto de nossas escolhas, e não impostas
desde fora.
Mas,
a sociedade moderno-contemporânea não espera. No tempo de duração de uma
geração, têm ocorrido mudanças no âmbito, tanto das relações de trabalho,
quanto das que envolvem família, afetos e sexualidade, mais radicais do que
havia acontecido no último século. E o ritmo destas transformações é cada vez
mais acelerado, atropelando as singularidades e o ritmo de todas as culturas.
Por
outro lado, se é difícil para todos se ajustar às mudanças sociais, rever seus
conceitos e lidar com saudosismos, o que se mostra essencial para a preservação
de nossos laços sociais é a convivência de diferentes idéias, valores e formas
de viver, ou seja, a adoção de posições não dogmáticas, e não autoritárias.
Dificultando
a adoção desta posição tolerante, percebemos que ainda se mantém hegemônica a
perspectiva evolucionista, que tende a acreditar na linearidade do progresso,
provocando uma equivocada sobreposição do avanço científico tecnológico à
diversidade cultural. É como se a racionalidade liberal-democrática-capitalista
constituísse o ápice da civilização, e que, sendo assim, os países mais
desenvolvidos teriam o direito, e o dever moral, de exportar este modelo para
toda a humanidade. Algo parecido com o afã evangelizador das potências
coloniais.
Neste
sentido, o cristianismo teria sido um precursor de universalismos na
modernidade, na medida em que proclamava uma verdade única. Antes disso, era
comum que os diversos povos que mantinham contato entre si assumissem uma
posição de tolerância e respeito em relação às crenças uns dos outros.
Independentemente
dos interesses econômicos de exploração, inerentes a esta “empreitada
civilizatória”, trata-se também de uma recusa do relativismo cultural, ou seja,
de aceitar que cada cultura, ou grupo social, tem uma forma própria de
organizar suas relações e de lidar com suas tensões internas.
Por
outro lado, sob a perspectiva de uma esquerda marxista, as posições
conservadoras são associadas exclusivamente aos segmentos sociais detentores de
privilégios, o que faz sentido, pois estes são os que mais teriam a perder com
eventuais mudanças sociais. Entretanto, retorna o desafio de entender melhor as
razões pelas quais, em sociedades democráticas, tem ocorrido um apoio massivo
às plataformas da direita conservadora. Ora, não é crível que em países como
Brasil e Argentina, que recentemente elegeram presidentes aliados à extrema
direita, haja uma maioria de privilegiados capaz de eleger presidentes da
república com estas plataformas, o que nos leva a crer que não são apenas
privilégios, especialmente econômicos, que esta população pretende conservar.
Com
referência aos movimentos políticos recentes no Brasil e na Argentina, chama a
atenção a aliança que se construiu entre as forças conservadoras de direita,
especialmente religiosas, e as propostas ultra liberais, afinal seus
pressupostos parecem ser antagônicos. Tudo indica que, mais uma vez, os
interesses pragmáticos se sobrepuseram aos posicionamentos ideológicos (e isto
não é exclusividade da direita, evidentemente).
Os
ultraliberais desconsideraram as plataformas moralistas dos conservadores,
privilegiando a defesa do liberalismo econômico e criticando a “corrupção dos
governos de esquerda”; enquanto os segmentos conservadores, muitos deles
participantes das camadas mais pobres da população, desconsideraram, ou
ignoraram, que as propostas ultraliberais tenderiam a produzir ainda mais
desigualdade econômica. Eles querem mudanças que barrem as mudanças, ou seja,
aderir a uma frente que combata certas transformações sociais que ameaçam suas
visões de mundo. Para fundamentar esta aliança improvável, foi necessário
encontrar um inimigo comum, o comunismo, que deveria ser combatido. Pouco
importa que alguém argumente que não existe nenhum projeto de revolução
comunista no mundo contemporâneo, ou que os projetos comunistas nunca tenham
dado muita importância para as reivindicações identitárias, que tanto incomodam
os conservadores. Voltando aos filósofos tradicionalistas, não é difícil
entender as razões pelas quais a perspectiva tradicionalista/conservadora pode
ser sedutora no mundo de hoje. Analisemos algumas de suas teses.
Em
primeiro lugar, acompanhemos o pensamento de Dugin quando ele afirma que o
liberalismo só pode gerar individualismo, na medida em que propõe que nos
libertemos de tudo que nos liga uns aos outros, como nossa classe social, o
governo e nossas condições de nascimento. Um indivíduo assim liberto não
poderia participar de qualquer identidade coletiva, afinal ele fala e age por
si.
E
não estará mesmo esta radicalização do individualismo na origem de muitos de
nossos mal-estares? Não estará ela relacionada à produção de sentimentos de
desamparo, angústia e desorientação? O ethos individualista
entra em conflito com o que define nossa humanidade, na medida em que nos
constituímos, nos sustentamos e nos movemos a partir de nossas inserções
sociais. Atualmente estamos adoecendo de individualismo, pois, como dizia
Lévi-Strauss, “a integridade física não resiste à dissolução da personalidade
social”. (LÉVI-STRAUSS, 1958, p.194)
Frente
a esta situação, não é difícil entender as razões pelas quais os movimentos de
extrema direita levantem bandeiras enaltecendo Deus, Pátria e Família, ou seja,
este conjunto de relações que tradicionalmente produzem alguma forma de
identidade coletiva e, portanto, de coesão e inserção social. Outra crítica dos
tradicionalistas à sociedade moderna é dirigida à ideologia capitalista.
“Ideologia”, porque se tornou mais do que um modelo econômico, na medida em que
consolidou um sistema de ideias e valores em que o dinheiro e as mercadorias se
tornaram os principais objetos de desejo de nossa sociedade.
Os
ideólogos do tradicionalismo apresentam um argumento forte para fundamentar sua
tese de que a modernidade se tornou eminentemente materialista, ao apontar que
o principal movimento de oposição ao capitalismo se autodenomina de
materialismo histórico, ou seja, permanece privilegiando as relações materiais
de produção e consumo, em detrimento das dimensões espirituais e afetivas da
existência. Neste sentido, capitalismo e comunismo se equivaleriam, e muitos de
nós, em algum momento, acabaríamos desconfiando que estamos sendo enganados, e
que as “melhores coisas da vida não são coisas”.
O
papel assumido pela ciência na modernidade também é apontado pelos
tradicionalistas como equívoco produtor de frustrações e sofrimentos. Eles não
desconhecem os benefícios advindos do progresso científico/tecnológico. Quanto
a isto, não há discordâncias: a ciência vem cumprindo com o que dela se espera,
desenvolvendo tecnologias capazes de acabar com a fome, prolongar a vida humana
e criar condições para que todos os habitantes do planeta possam ter uma vida
minimamente confortável. O problema começa quando a expectativa em relação à
racionalidade científica extrapola suas possibilidades de realização. A ciência
é objetiva. Ela não vai nos esclarecer se Deus existe, ou não; nem se existe
algo além da morte; nem quais são os motores de nossas paixões; nem qual a
melhor forma de viver em sociedade, ou como acabar com as guerras. Ou seja, a
ciência pouco tem a dizer acerca das grandes questões da existência.
É
interessante que esta mesma consideração foi feita por René Descartes,
considerado como um dos fundadores da ciência moderna. Na tentativa de
conciliar as verdades da ciência com as da religião, e de explicar a natureza
dos erros humanos, ele propôs uma das primeiras teorias psicológicas da
modernidade, ao afirmar que Deus nos dotou de apenas duas faculdades, o
entendimento (inteligência) e a vontade (desejo), sendo que a primeira é
limitada (só Deus seria onisciente), enquanto a segunda seria potencialmente
infinita. Assim, toda vez que os humanos assumem a pretensão de utilizar de sua
racionalidade para dar conta de questões que extrapolam o seu domínio, eles
incorrem em erro.
Os
estrategistas da extrema direita se deram conta de que, mais do que a
racionalidade, são os afetos que movem e engajam as pessoas, e tem se mostrado
muito eficazes em sua manipulação. Eles se conectam com os ressentimentos,
frustrações e anseios da população, criando narrativas onde legitimam estes
afetos, identificam os responsáveis pelos mal-estares e se apresentam como
“salvadores”. Eles partem das críticas tradicionalistas à
modernidade, e lá encontram algumas fragilidades inerentes às democracias capitalistas
liberais. Estas fragilidades realmente existem, e são geradoras de conflitos e
injustiças. Por outro lado, não podemos esquecer que estes filósofos, em seu
apego às tradições, muitas vezes defendiam pensamentos racistas e misógenos, a
partir de determinadas concepções de ordem e hierarquia. Assim, da mesma forma
que a crítica de Marx ao capitalismo tem se mantido pertinente através dos
tempos, enquanto suas propostas e profecias nunca se realizaram da forma por
ele prevista, as críticas dos filósofos tradicionalistas à modernidade são
capazes de revelar alguns dos fatores produtores de mal-estar na sociedade
atual, mas, também têm sido apropriadas de forma perversa pela extrema direita,
produzindo muito mais conflitos e polarizações do que harmonia social.
Movimentos
de massa recentes na sociedade ocidental, como os Indignados, na Espanha; a
Primavera Árabe, no norte da África e no Oriente Médio; o Occupy Wall
Street, em Nova York; e os movimentos de junho de 2013, no Brasil,
demonstram um alto grau de insatisfação popular em relação às formas como se
organizam as relações nas sociedades contemporâneas. Estas manifestações,
organizadas principalmente pela internet, e sem a participação de partidos
políticos, revelam uma contestação das modalidades de ação política
tradicionais, e elencam uma diversidade de insatisfações. Mas, por outro lado,
dada a diversidade das reivindicações, muitas delas contraditórias entre si, e
a pluralidade de posições e prioridades dos manifestantes, nada próximo de um
projeto de reforma social foi esboçado. E, pior do que isso, em alguns casos as
insatisfações foram apropriadas pela extrema direita, que conseguiu construir
um discurso, e propostas, mais claros e objetivos. É verdade que estes projetos
da direita, que resultaram, por exemplo, nas eleições de Donald Trump e Jair
Bolsonaro, tampouco se sustentaram, o que focou evidenciado nas suas
não-reeleições.
Está
claro para todos nós que o desafio que teremos que enfrentar enquanto sociedade
será o de rever alguns dos pressupostos fundantes da modernidade, e encontrar
formas de convivência entre diferentes visões de mundo e formas de viver. Não
se trata de algo novo, pelo contrário, o projeto comunista já se afirmava como
uma alternativa de organização social mais justa e equitativa do que o modelo
capitalista; da mesma forma, os movimentos contraculturais das décadas de
1960/70 igualmente denunciavam o caráter alienante dos valores e ideais que
orientavam a sociedade da época; e atualmente as diversas variantes do
movimento ecológico criticam os efeitos nocivos de nossa organização social
hegemônica. Todos estes movimentos de reação deixaram, e continuam deixando,
marcas importantes em nosso imaginário social, contribuindo para a manutenção
de utopias, que não precisam ser realizadas, mas são essenciais para nos
apontar a direção de um caminho que vale a pena seguir. Por mais improvável que
possa parecer, resgatar o que há de comum nas motivações do pensamento
tradicionalista, do comunismo, da contracultura e do movimento ecológico pode
contribuir para a diluição das polarizações, e para uma melhor compreensão das
origens de nossos sofrimentos e conflitos.
Fonte:
Por Eduardo Ely Mendes Ribeiro, em A Terra é Redonda
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