quinta-feira, 25 de abril de 2024

Crise do clima pode derrubar renda global em 19% até 2050; Brasil é um dos mais afetados

Um estudo que cruzou informações sobre economia local em populações do mundo todo com dados climáticos nos últimos 40 anos gerou uma simulação para os próximos 25 anos para saber como cada canto do planeta vai reagir ao aquecimento global. Se nada for feito contra as emissões de CO2, a renda global deve cair 19%.

O trabalho, realizado por economistas alemães, fez uma simulação com detalhamento regional inédito para investigar a questão, avaliando mais de 1600 unidades subnacionais no mundo. A precisão do estudo criou um modelo para entender o impacto econômico da crise do clima em estados, províncias e outros tipos de divisão que países adotam para seus territórios.

O Brasil aparece como um dos países mais afetados na simulação. Todos os 27 estados brasileiros devem sofrer queda na renda média por problemas desencadeados pelo clima, mas alguns terão mais dificuldades do que outros.

As regiões do Norte e do Centro-Oeste, que abrigam a maior parte dos biomas da Amazônia e do Cerrado, devem ser mais impactadas, com quedas de renda média superiores a 25%. Outras regiões ficariam na faixa de impacto entre 10% e 20%.

O artigo dos pesquisadores que fizeram a simulação, publicado pela revista Nature, destaca um mapa global mostrando como esse fenômeno deve impactar o planeta de forma desigual. Os problemas mais graves devem ocorrer no interior da América do Sul, no Sahel africano, na Península Arábica e em alguns focos da Ásia Central e da África Subsaariana.

Países desenvolvidos, incluindo quase toda a Europa e o Sul também serão afetados, mas menos que as nações mais pobres em média. Só os poucos habitantes que vivem hoje no Ártico é que não devem ter a renda perturbada pela crise do clima, sugere o modelo. Como muitas das regiões apontadas como foco do problema já possuem renda média pequena, a crise do clima deve acentuar as desigualdades regionais no mundo, dizem os cientistas.

·        US$ 38 trilhões

Em volume total a simulação indica que o planeta pode perder US$ 38 trilhões por ano em média até 2050, se as emissões de gases do efeito estufa continuarem desenfreadas. A margem de erro é larga (de US$ 19 trilhões a US$ 59 trilhões), mas mesmo na margem inferior o impacto é significativo.

Os impactos na renda se manifestam na forma de problemas como redução de produtividade na agricultura, limitações de saúde dos trabalhadores e danos à infraestrutura por eventos climáticos extremos. Os cálculos de danos foram modelados principalmente em função de alterações de temperatura, dizem os cientistas, o que torna o estudo conservador. A perda deve ser até 50% maior se forem consideradas outras variáveis como chuva/seca e elevação do nível do mar.

Os danos, afirmam os cientistas, são muito menores que os custos de investimento estimados para o planeta fazer a transição dos combustíveis fósseis para a energia renovável. Já se sabia que isso era verdade em termos globais, mas agora o estudo mostra que essa lógica é válida em termos locais, para praticamente todos os cantos habitados do planeta.

— Esses danos de curto prazo são resultado de nossas emissões passadas. Precisaremos de mais medidas de adaptação se quisermos evitar pelo menos alguns deles. E temos de reduzir as nossas emissões de forma drástica e imediata para que as perdas econômicas não fiquem ainda maiores na segunda metade do século, subindo até 60% na média global até 2100 — disse em comunicado Leonie Wenz, vice-chefe do Instituto de Potsdam para Pesquisa em Impacto Climático que liderou o estudo.

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O trabalho mostra que a perda de renda impulsionada pela crise do clima é da ordem de seis vezes maior do que o custo de fazer a transição energética até o meio do século para frear o aumento da temperatura em 2,0°C, o limiar menos ambicioso do objetivo do Acordo de Paris para o clima.

— Isso mostra claramente que proteger o nosso clima é muito importante, e mais barato do que deixar de fazê-lo, mesmo sem considerar os impactos não-econômicos, como a perda de vidas e de biodiversidade — afirma a pesquisadora.

A questão da desigualdade destacada pelo estudo também é preocupante, dizem os cientistas.

— Haverá impacto em quase todo canto, mas os países tropicais serão os que mais sofrerão porque já estão mais quentes. Mais aumento de temperatura será, portanto, mais prejudicial — afirma Anders Levermann, outro coautor do estudo. — Os países menos responsáveis pela mudança climática deverão sofrer perdas de renda 60% superiores às dos países de alta renda e 40% superiores às dos países que são os maiores emissores.

 

¨      Bancos "acordam" para impacto do clima nos negócios e tentam driblar perdas

 

Incidentes como a chuva que inundou Dubai no início da semana vêm mostrando que os efeitos extremos do clima são imprevisíveis, e podem ter impactos cada vez maiores sobre comunidades, empresas e países. Ciente disso, o mercado financeiro dá sinais de que entendeu que precisa acelerar seu entendimento sobre os novos riscos do século 21 se não quiser perder dinheiro.

Totens do sistema financeiro, como JP Morgan, Bank of America e Citi, revelaram um pouco de suas estratégias e também a preocupação que começa a tomar forma em Wall Street, uma vez que o mercado passa a reconhecer cada vez mais que desastres climáticos têm o potencial de causar um efeito dominó de falências e empréstimo não pagos, por exemplo.

Reportagem da agência Bloomberg traz informações sobre os bastidores do JP Morgan, que está formando times dedicados a avaliar a carteira de clientes do banco sob essa nova perspectiva de risco, contratando modeladores de catástrofes que possam estimar o impacto potencial de eventos climáticos severos sobre seus credores.

Em dezembro, analistas da BloombergNEF, braço de pesquisa estratégica do grupo de comunicação americano, publicaram um relatório afirmando que o impacto nas empresas de eventos climáticos extremos pode variar desde uma redução nas receitas até à falência. O mais alarmante é a quantidade de companhias caminhando no escuro: 65% das mais de 2.000 empresas analisadas não conseguiram identificar áreas das suas operações que podem ser vulneráveis a riscos físicos, e ainda menos empresas realizam avaliações financeiras de riscos relacionados com o clima.

“Estes eventos estão acontecendo cada vez com mais frequência e, por isso, precisamos de conhecimento, para estarmos conscientes dos riscos”, afirmou Gianluca Cantalupi, chefe de clima, natureza e risco social do JPMorgan Chase & Co., em entrevista à Bloomberg. “Preciso conhecer os riscos físicos que o banco pode enfrentar ao tomar decisões de empréstimo: uma empresa de semicondutores enfrentará estresse hídrico? A exploração madeireira em certas províncias causará deslizamentos de terra que destroem fábricas ou outras infra-estruturas?”, exemplificou o executivo.

O Citigroup afirmou no mês passado que as consequencias físicas da mudança climática podem impactar crédito, liquidez e riscos operacionais. Para avaliar a exposição das suas operações de crédito aos riscos climáticos, o banco introduziu o que chama de “Mapa de Calor do Risco Climático", que mostra as áreas de negócio com maiores riscos físicos e de transição.

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De acordo com o grupo, a sua carteira de empréstimos para a produção de petróleo e gás, no valor de US$ 15,8 bilhões, tem uma pontuação de risco de transição de 4, a mais elevada, e uma pontuação de risco físico de 3. Os setores com as pontuações de risco físico mais elevadas são os semicondutores e portos.

Para Andrew Karp, chefe global do grupo de soluções bancárias sustentáveis do Bank of America, o alarme vem soando especialmente nos últimos seis meses, um indicativo de quão recente pode ser o despertar do mercado financeiro para a questão climática. “Há uma preocupação crescente com o aumento dos custos e, em alguns casos, com a redução da disponibilidade de seguros e o que isso diz sobre como o risco climático irá se manifestar em riscos financeiros.”

 

Fonte: Um só Planeta

 

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