Barroso se indispõe com Moraes e Gilmar e
corre risco de se isolar no STF
O presidente do STF
(Supremo Tribunal Federal), Luís Roberto Barroso, se indispôs com os ministros
Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes em julgamentos nos últimos meses e colocou
em risco seu poder de articulação no tribunal na posição de chefe da corte.
Barroso derrotou
Moraes e viu suas teses saírem vitoriosas em ações sobre a chamada revisão da
vida toda do cálculo de aposentadorias e outra relativa a sobras eleitorais que
poderia levar à troca de sete deputados na Câmara dos Deputados.
Já Gilmar ficou
irritado com após a interrupção da análise de ampliação do foro especial na
corte, tese defendida pelo decano. Barroso paralisou o julgamento ao pedir
vista (mais tempo para análise) quando já haviam quatro votos a favor. O caso
agora está parado por pedido de André Mendonça.
No tema das sobras
eleitorais, Barroso e Moraes se desentenderam e protagonizaram no plenário um
diálogo ríspido. Depois, longe das câmeras, o clima esquentou ainda mais e o
bate-boca prosseguiu.
Ministros relataram à
Folha de S.Paulo sob reserva que a irritação de Moraes ficou maior porque
Barroso teria articulado nos bastidores a mudança de posição do ministro Luiz
Fux, que foi decisiva para o resultado do julgamento -o placar acabou em 6 a 5.
Menos de um mês
depois, o presidente do Supremo articulou outro revés ao colega. Em 2022,
Moraes apresentou uma tese, que saiu vencedora, para autorizar a revisão mais
benéfica para incluir salários antigos, pagos em outras moedas, no cálculo das
aposentadorias.
Neste ano, diante da
mudança de composição do tribunal, o presidente pautou no plenário um recurso à
decisão do ano retrasado e reverteu a regra que havia sido determinada sobre o
tema. A mudança de entendimento alivia as contas do governo federal, que via na
revisão o potencial de impacto de R$ 480 bilhões.
As duas derrotas
impostas a Moraes já tiveram uma consequência. Barroso pediu vista (mais tempo
para analisar o processo) no julgamento sobre ampliação do foro especial em 29
de março.
Já havia quatro votos
para mudar a regra atual, formulada por Barroso em 2018 e representou uma das
principais marcas de sua atuação no Supremo desde que tomou posse na corte, em
2013.
Pela praxe, quando há
pedido de vista, os integrantes do tribunal que ainda não haviam votado
aguardam a retomada da análise do tema para anunciarem sua posição.
Nesse caso, porém,
Moraes atropelou o colega e antecipou seu voto para se alinhar a Gilmar e
ampliar as hipóteses de investigações perante o STF contra autoridades.
Além disso, discurso
de Moraes em um evento de homenagem ao ex-presidente Michel Temer, que o
indicou para a corte, também foi interpretado como recados do ministro ao
presidente da corte.
"Todas as
injustiças dolosas que fizeram contra o seu governo não foram capazes de apagar
as marcas, as reformas que foram aprovadas", disse.
Barroso foi o relator
de inquérito contra Temer quando ele era chefe do Executivo e deu duras
decisões contra o então presidente em apurações sob suspeita de esquema ilegal
no Porto de Santos, inclusive determinando a prisão de aliados do emedebista,
em 2018.
Em uma ordem judicial,
afirmou que havia no caso "possível cometimento de crimes como corrupção,
lavagem de dinheiro e associação criminosa/organização criminosa a eles
correlatos".
Foi também o
julgamento do foro que suscitou a irritação de Gilmar com o presidente da
corte. O magistrado, que é o decano da corte, não gostou do fato de Barroso ter
interrompido a apreciação da matéria quando já havia quatro votos e se
desenhava a formação de maioria.
O decano fez críticas
ao colega nos bastidores. Ao final, no entanto, o presidente do tribunal não
demorou a devolver o caso e ainda se alinhou a Gilmar em sua tese.
Em 2018, o STF decidiu
que, em casos de autoridades com foro, apenas crimes cometidos durante o
mandato e relacionados ao exercício do posto deveriam tramitar na corte.
Agora, Gilmar propôs a
ampliação da regra para determinar que a prerrogativa de foro para "crimes
praticados no cargo e em razão das funções subsiste mesmo após o afastamento do
cargo, ainda que o inquérito ou a ação penal sejam iniciados depois de cessado
seu exercício".
Barroso acompanhou por
entender "adequado definir a estabilização do foro, mesmo após a cessação
das funções".
Nos bastidores, a
avaliação é que é um risco para Barroso se desentender com os dois colegas por
se tratar, atualmente, dos membros do tribunal mais influentes dentro da corte
e também na relação com os outros Poderes.
Ambos foram decisivos,
por exemplo, nas escolhas pelo presidente Lula (PT) de Flávio Dino para o STF e
de Paulo Gonet na PGR (Procuradoria-Geral da República).
A atuação dos dois é
criticada por outros ministros em conversas reservadas por haver uma avaliação
de que, às vezes, eles extrapolam suas atribuições jurisdicionais para
influenciar o mundo político e fazer valer suas vontades dentro do tribunal.
Na gestão de Fux à
frente do Supremo, de 2020 a 2022, por exemplo, o ministro não conseguiu
concretizar marcas que pretendia deixar como presidente, principalmente, por
ter se indisposto no julgamento que discutia a possibilidade de reeleição no
comando da Câmara e do Congresso dentro da mesma legislatura.
Segundo relatos sob
reserva feitos à Folha, Fux se comprometeu nos bastidores a votar para
autorizar a recondução dos chefes das duas Casas legislativas. À época, a
avaliação era que seria importante permitir que os então presidentes da Câmara,
Rodrigo Maia, e do Senado, Davi Alcolumbre, se reelegessem porque os dois
ajudavam a conter as ofensivas de Jair Bolsonaro (PL) contra o tribunal.
A recondução, no
entanto, contraria letra expressa da Constituição. Diante das críticas, Fux
recuou e votou contra a reeleição dentro do mesmo mandato legislativo.
Como se tratou de um
julgamento virtual, porém, Moraes e Gilmar já haviam se desgastado para,
conforme o combinado nos bastidores, inserir uma posição no sistema no sentido
de permitir a reeleição.
Os atritos internos no
Supremo não são novidade. Barroso e Gilmar, por exemplo, protagonizaram anos
atrás alguns dos mais duros embates da corte. Em 2018, ambos tiveram um
bate-boca no plenário. "O senhor é a mistura do mal com o atraso e pitadas
de psicopatia", disse Barroso, que ouviu, como réplica, que deveria
"fechar seu escritório de advocacia".
Durante o governo
Bolsonaro, no entanto, diante das ofensivas do então presidente contra a corte,
os ministros se reaproximaram em defesa do tribunal. A posse de Barroso na
presidência do tribunal, em setembro passado, expôs a reconciliação dos dois.
Como integrante mais
antigo da corte, Gilmar fez um discurso em homenagem ao colega e ambos trocaram
gentilezas. Os dois se abraçaram ao final da fala.
Por meio de nota,
Barroso afirmou, por meio de sua assessoria, "que, em um colegiado,
divergências são naturais e saudáveis". "A relação do presidente com
todos os ministros tem harmonia e afeto".
Deputados pedem que MPF investigue
improbidade administrativa no caso de ministro da CGU com Novonor
Seis deputados
federais pedem que o Ministério Público Federal (MPF) averigue um “possível
conflito de interesses” e “improbidade administrativa” na atuação de Vinícius
Marques de Carvalho como ministro da Controladoria-Geral da União (CGU).
Como mostrou o
Estadão, o escritório de advocacia de Vinícius de Carvalho presta serviços para
a Novonor, antiga Odebrecht, ao mesmo tempo em que órgão do governo federal
renegocia os acordos de leniência firmados no âmbito da Operação Lava Jato.
O documento,
encabeçado pela deputada Carla Zambelli (PL-SP), aponta que há “inegável
existência de fortíssimos indícios de improbidade administrativa cometidos pelo
ministro da CGU, além de um evidente conflito de interesses”.
“Existem evidentes
indícios de que o ministro da CGU violou diversos princípios constitucionais da
administração pública, em especial o da moralidade”, argumenta a representação.
Além de Zambelli, assinam o documento os deputados Hélio Lopes (PL-RJ), Cabo
Gilberto Silva (PL-PB), Zé Trovão (PL-SC), Rodolfo Nogueira (PL-MS) e Filipe
Martins (PL-TO).
Como mostrou o
Estadão, Vinícius de Carvalho já sentou na mesa com advogados da Novonor e de
outras empreiteiras para rediscutir os acordos.
No final de janeiro de
2023, o ministro consultou a Comissão de Ética Pública (CEP) se poderia receber
dividendos do seu escritório. Ele alegou que, apesar de afastado das atividades
da banca, ainda é seu “sócio patrimonial”.
Vinícius nega conflito
de interesse e diz que não recebe dividendos do seu antigo escritório, a VMCA
Advogados, um acrônimo feito a partir do seu nome completo.
“A reunião não
caracterizou participação no processo de renegociação e, muito menos, de tomada
de decisão. A renegociação ocorre no âmbito de processos individuais de cada
empresa, sob responsabilidade de servidores públicos da Secretaria de
Integridade Privada”, esclareceu. O escritório segue atuando para a Novonor e
outras empresas.
O ministro também
enviou uma nota à reportagem em que anunciou que se declara impedido de tomar
qualquer decisão sobre eventual homologação de mudanças no acordo de leniência
da empreiteira. Na nota, ainda diz que não recebe qualquer quantia referente a lucros,
dividendos, honorários ou outra modalidade de remuneração do escritório desde
que assumiu o cargo na CGU. Além disso, negou participação em decisões ou
procedimentos internos na CGU que possam implicar conflitos de interesse.
O escritório VMCA
informou que, conforme o artigo 12 do Estatuto da Advocacia e a Ordem dos
Advogados do Brasil, Vinicius Marques de Carvalho está licenciado desde 29 de
dezembro de 2022, ficando “totalmente afastado de quaisquer atividades
envolvendo o escritório”. “Com relação à atuação do escritório, VMCA Advogados
não exerce qualquer atuação perante o órgão no qual o sócio licenciado está
realizando suas atividades (CGU)”, acrescentou a banca.
Já a Novonor afirmou
que o escritório atende a empreiteira exclusivamente em assuntos ligados ao
Cade. A companhia não se manifestou sobre eventual conflito de interesse, nem
sobre a procuração de substabelecimento autorizar atuação da banca no Ministério
Público Federal.
Fonte:
FolhaPress/Agencia Estado
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