sábado, 3 de fevereiro de 2024

Estudo indica TAVI como opção preferencial para tratar estenose aórtica em mulheres

A estenose aórtica degenerativa, estreitamento progressivo da válvula aórtica causado pelo envelhecimento e acúmulo de depósitos calcificados, compromete o fluxo sanguíneo do coração para a artéria aorta e pode causar fadiga, falta de ar, dor no peito, palpitações e tonturas. Se não tratada adequadamente, a condição pode ser séria e potencialmente fatal. Inicialmente, a única possibilidade de tratamento era a cirurgia invasiva de troca valvar. No entanto, cerca de 30% dos pacientes idosos não são elegíveis para esse procedimento. Recentemente, uma alternativa minimamente invasiva tem se mostrado promissora, especialmente para as mulheres, conforme destaca um artigo recentemente publicado na Revista Internacional de Ciências Cardiovasculares. Trata-se do Tratamento Transcateter (TAVI) que, feito através de uma punção minimamente invasiva na virilha, apresenta-se como uma solução para pacientes com risco proibitivo ou alto de realizar a cirurgia aberta.

A pesquisa, que revela um aumento da prevalência da doença valvar aórtica calcificada no Brasil, aponta que as mulheres apresentam taxas de mortalidade proporcionalmente mais altas em comparação aos homens. Além de apresentarem a forma mais grave da doença, com menos calcificação valvar, muitas mulheres apresentam sintomas menos evidentes e maior comorbidade, fatores que podem levar ao diagnóstico tardio e afetar os resultados dos procedimentos. Por isso, o estudo "Estenose aórtica degenerativa em mulheres: Desafios e Perspectivas" enfatiza a importância da precisão na identificação de sintomas em mulheres para garantir diagnósticos assertivos e intervenções oportunas.

A boa notícia é que o TAVI comprovadamente tem se revelado mais favorável às mulheres, possivelmente por suas características anatômicas derivadas principalmente de uma menor superfície corporal.  Contudo, de acordo com o cardiologista intervencionista Sérgio Câmara, “na hora de decidir entre a cirurgia de troca valvar ou TAVI e de escolher a prótese valvar adequada, é preciso considerar não só o gênero e a idade, mas também a anatomia, a presença de comorbidades, a preferência do paciente e a avaliação da viabilidade cirúrgica”, explicou.

O artigo da Revista Internacional de Ciências Cardiovasculares destaca, ainda, que a substituição cirúrgica da válvula aórtica e o TAVI são as únicas abordagens capazes de alterar a qualidade de vida e o prognóstico da estenose aórtica degenerativa. No entanto, “a demora na intervenção após o surgimento dos sintomas pode resultar em uma taxa de mortalidade superior a 50%, especialmente em pacientes com doença sintomática após dois anos”, destacou o especialista em Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista, Sérgio Câmara.

Em geral, para pacientes com mais de 75 anos,  o TAVI tem sido a primeira opção de tratamento da estenose aórtica. Regulamentado pela Anvisa, o implante é coberto por planos de saúde e, desde 2022, foi incluído no rol de procedimentos do Sistema Único de Saúde (SUS) para o tratamento de pacientes de alto e altíssimo risco.

 

Ø  Entenda o que é alexitimia, dificuldade de reconhecer e expressar emoções

 

A dificuldade de reconhecer e expressar emoções é caracterizada como uma condição mental chamada alexitimia. Relativamente novo, o conceito da psicologia é alvo de estudos que buscam explicar a origem do problema.

Estudos apontam que a condição tem relação com distúrbios físicos, levando a uma classificação de doença psicossomática, agravada pelo sofrimento psicológico. Por outro lado, pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) sugerem que a associação não tenha sido demonstrada na prática e pode ser, na verdade, fruto de uma construção social.

Em um artigo elaborado com base na revisão da literatura científica, professores do Instituto de Psicologia da USP sugerem que a alexitimia está diretamente relacionada ao contexto social do indivíduo, marcado pela competição econômica e social, empobrecimento da linguagem oral e escrita e crescente sofrimento cotidiano. Os resultados foram publicados na revista científica Neurociências e Comportamento.

Segundo descrevem os autores, o pensamento dos pacientes com alexitimia “é voltado para o exterior, de traços afetivos pobres, escasso valor simbólico e predominantemente operatório, ou seja, relações interpessoais baseadas em ligações utilitárias, carentes de afeto, com dificuldade de apreender os próprios sentimentos e os dos outros, com tendência à dependência ou à solidão”.

“Na década de 1980, essas teorias tentavam relacionar configurações mentais com determinadas doenças físicas, notadamente àquelas denominadas de forma extremamente equivocada de ‘doenças psicossomáticas’, e começaram a se tornar predominantes. O grande problema é que na nossa prática clínica e de pesquisa das inter-relações mente-corpo, ou seja, da psicossomática, isto não era evidenciado”, afirmam os professores Avelino Luiz Rodrigues e Allan Felippe Rodrigues Caetano, autores do artigo, em comunicado.

·        Origens da alexitimia

A alexitimia já foi considerada uma forma de funcionamento mental que seria característica das “doenças psicossomáticas”, que são aquelas causadas ou agravadas por sofrimento psicológico. A associação tinha como base uma suposta dificuldade na capacidade simbólica de representar emoções, mantendo-se assim um estado de tensão emocional que contribuiria para o surgimento de sintomas físicos.

“Hoje sabemos que a associação entre alexitimia e doença orgânica não tem sido evidenciada de forma consistente na literatura, sendo, portanto, questionada. Encontramos pessoas clinicamente saudáveis com características alexitímicas”, apontam os pesquisadores.

Os autores citam um estudo da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo em parceria com o Instituto de Psicologia da USP, em 1997. A pesquisa avaliou 15 famílias com filhos assintomáticos, identificando que as mães apresentavam maiores índices de estresse e os pais maiores dificuldades na expressão do afeto.

“Eles concluem que a alexitimia pode ser encontrada na personalidade do tempo atual, características de um perfil socialmente esperado e ambos os achados parecem decorrentes dos papéis desenvolvidos pelo homem e pela mulher na família brasileira”, relatam.

Diversos fatores contribuem para o desenvolvimento da alexitimia e a dificuldade de expressar sentimentos na composição da sociedade em que estamos inseridos. De acordo com os especialistas da USP, há um sofrimento aflitivo crescente e cotidiano, com um aumento da competição social e econômica, além de uma exposição a um volume de informações que dificulta a elaboração cognitiva plena.

“O sujeito é governado pelo impulso de possuir e dominado por um pensamento operatório, uma mentalidade racionalista e racionalizante, uma razão sempre instrumental”, observam. “Afinal, há um predomínio de um pensamento concreto”.

Os pesquisadores destacam que o entendimento da alexitimia como resultado de uma construção social pode contribuir para a compreensão do desenvolvimento da condição.

“O que se oferece para discussão neste artigo é que a alexitimia e o pensamento operatório, apresentados como os mais correntes do processo de somatização, na verdade, são construções sociais, tipificações, formas emblemáticas do nosso tempo, e desde há muito sabemos que o organismo e, ainda mais, o eu, não podem ser devidamente compreendidos fora do particular contexto social em que foram formados”, pontuam.

 

Fonte: Carla Santana - Assessora de Imprensa/Jornal da USP

 

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