Biden:
pressão para revidar ataque na Jordânia pode agravar conflito
A morte de
três soldados americanos em um ataque com drone no domingo empurrou os Estados
Unidos ainda mais para o conflito no Médio Oriente e deu nova urgência aos
esforços para garantir a libertação de reféns em Gaza em troca de uma suspensão
prolongada dos combates entre Israel e o Hamas.
A
confluência de eventos interligados – negociações de alto risco sobre reféns na
França aconteciam ao mesmo tempo que as autoridades americanas lidavam com as
mortes de tropas na Jordânia – resultou em um dos momentos mais tensos desde o
início da guerra depois dos ataques do Hamas em 7 de outubro.
Agora,
líderes em Washington e no Oriente Médio analisam escolhas que poderão
transformar significativamente a situação, com milhares de vidas e o futuro da
região em jogo.
“Vamos
responder”, disse o presidente Joe Biden no salão de banquetes de uma igreja
batista na Carolina do Sul, horas após o ataque.
Mas o
presidente, que também prometeu responder ao ataque com drones “no momento e da
maneira que escolhermos”, ainda enfrenta uma decisão na escala da represália
americana, que terá consequências tanto na região como nos Estados Unidos, a
medida que ele entra em uma dura batalha pela reeleição. Segundo assessores,
respostas significativas foram discutidas em videoconferência com Biden e sua
equipe de segurança nacional horas após o bombardeio.
Em Israel,
o Primeiro-Ministro Benjamin Netanyahu está sob intensa pressão para chegar a
um acordo que garanta o retorno dos mais de 100 reféns restantes dentro de
Gaza, um passo que exigirá uma longa pausa na campanha de Israel contra o
Hamas.
E em
Teerã, os líderes devem determinar se uma estratégia de semear instabilidade na
região por meio de grupos por procuração é aproxima-los do combate direto com
os Estados Unidos – uma medida que as autoridades americanas dizem que o Irã
não quer e que o país tem feito tudo até certo ponto para evitar.
A forma
como cada parte vai proceder nos próximos dias poderá alterar
significativamente a trajetória da guerra Israel-Hamas e as tensões mais amplas
que o conflito provocou no Oriente Médio. As questões têm sido foco de intensas
discussões na Casa Branca e conversas de alto nível entre os líderes.
“Esta é
uma escalada perigosa. Estamos tentando garantir que esse conflito não aumente.
Isso nos aproxima muito mais desse ponto”, disse o deputado Adam Smith, do
estado de Washington, o principal democrata no Comitê de Serviços Armados da
Câmara, sobre os ataques com drones na Jordânia, que deixaram mais de 40
militares americanos feridos, além das três mortes. “É fundamental que os EUA
respondam e encontrem uma forma de parar estes ataques, e sei que o presidente
está trabalhando nisso.”
Smith
disse que as perspectivas de uma guerra crescente não podem ser separadas da
situação em Gaza, onde a campanha militar de Israel matou mais de 26 mil
pessoas, segundo o ministério da saúde local, e desencadeou o aumento da
violência em toda a região.
“O que
acontece em Gaza é crucial”, disse Smith. “O conflito em Gaza aumenta a força
do Irã neste momento. E isso é mau para nós, mau para Israel, mau para os
Estados Árabes, mau para o mundo. Portanto, encontrar uma solução para isso
também é uma parte crucial deste desafio.”
A forma
como será a resposta dos EUA ainda será determinada. Biden e sua equipe
acreditam que a ação militar deve ser mais enérgica do que as ações que os EUA
fizeram em ataques anteriores não fatais. No entanto, tem havido uma
preocupação dentro da Casa Branca para evitar que o conflito se espalhe – e uma
forte aversão a se envolver diretamente em uma guerra regional contra o Irã.
Quanto ao
grupo responsável pelo ataque, o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional,
John Kirby, disse no “CNN This Morning” de segunda-feira (29) que a
administração ainda está “trabalhando na atribuição e qual grupo foi
especificamente responsável por isso”.
“Acho que
temos um bom senso”, disse Kirby, “e certamente acreditamos que o grupo foi
apoiado pelo Kata’ib Hezbollah, que é um dos principais grupos apoiados pela
Guarda Revolucionária do Irã no Iraque e na Síria que tem conduzido muitos
desses ataques contra nossas tropas em nossas instalações.”
Biden já
está sob pressão para aumentar a escala do contra-ataque americano. Os
republicanos rapidamente fizeram apelos no domingo para que Biden atacasse
alvos dentro do Irã, que os EUA acusaram de estar por trás dos grupos que
atacam as tropas americanas no Iraque e na Síria.
A senadora
Lindsey Graham, da Carolina do Sul, incentivou a administração “a atacar alvos
importantes dentro do Irã, não apenas como represália pela morte das nossas
forças, mas como dissuasão contra futuras agressões. A única coisa que o regime
iraniano entende é a força.”
O senador
John Cornyn, do Texas, foi mais direto: “Faça Teerã de alvo”, escreveu ele no
X.
Mais
tarde, Cornyn esclareceu que estava se referindo a “facilitadores terroristas
do Irã e da Força Quds” e não a alvos na capital iraniana.
Para
Biden, cuja forma de lidar com o conflito de Gaza já gerou raiva na esquerda
política ao iniciar a sua campanha de reeleição, a escolha de como responder
será politicamente difícil.
Autoridades
americanas disseram que usaram canais secundários para transmitir ao Irã e aos
seus representantes que os ataques às tropas dos EUA devem parar. No entanto,
esses esforços não foram suficientes para evitar os ataques com drones, e as
autoridades dentro da Casa Branca há muito temem que isso acabe resultando em
mortes.
Com esse
medo agora concretizado, as autoridades disseram que o presidente estava
determinado a responder com força. Em uma série de reuniões no domingo com
membros importantes de sua equipe de segurança nacional, incluindo o secretário
de Defesa Lloyd Austin e o conselheiro de segurança nacional Jake Sullivan,
Biden discutiu os ataques e as possíveis respostas americanas.
Ao mesmo
tempo, as autoridades norte-americanas continuam esperançosas de estarem cada
vez mais perto de chegar a um acordo sobre os reféns, que incluiria uma longa
pausa nos combates em Gaza – e, esperam, um alívio das tensões na região.
As
autoridades norte-americanas acreditam que uma suspensa mais prolongada dos
combates poderia proporcionar espaço para que mais ajuda humanitária fluísse
para Gaza, bem como para discussões contínuas sobre o futuro da campanha de
Israel contra o Hamas.
Biden
despachou o diretor da CIA, Bill Burns, a Paris para negociações no domingo
sobre um plano que incluiria uma libertação em fases de todos os reféns
restantes em Gaza, juntamente com uma suspensão da guerra por dois meses, uma
proposta que, se acordada, poderia ter um impacto significativo sobre o futuro
do conflito.
Posteriormente,
o gabinete do primeiro-ministro israelense descreveu as conversas como
“construtivas”, mas disse que permaneciam “lacunas significativas”. As partes
“continuarão a discutir em reuniões mútuas adicionais a serem realizadas esta
semana”, disse o anúncio do escritório.
O
primeiro-ministro do Catar deve viajar a Washington esta semana, disse uma
fonte diplomática à CNN, à medida que as discussões se intensificam. O Catar
atuou como um intermediário importante nas negociações com o Hamas.
A reunião
de domingo, que incluiu Burns e os seus pares de inteligência de Israel e do
Egito, juntamente com o primeiro-ministro do Qatar, foi um momento importante à
medida que as negociações se aproximavam de um acordo. Autoridades americanas
disseram estar cautelosamente otimistas de que as negociações estavam
caminhando na direção certa e que um acordo poderia ser alcançado em breve.
No
entanto, as mortes dos três soldados norte-americanos alimentam os receios de
uma guerra regional cada vez mais ampla e as autoridades norte-americanas
disseram que agora há apenas mais urgência em chegar a um acordo que possa
reduzir as tensões.
“Esta
perda e a crescente instabilidade em todo o Oriente Médio tornam ainda mais
claro por que aqueles que negociam uma nova pausa nos combates em Gaza e o
retorno dos reféns devem trabalhar com urgência”, disse a deputada Elissa
Slotkin, democrata do Michigan e antiga Analista da CIA, disse no X.
Ø
Oriente Médio está em nível mais perigoso
das últimas décadas, dizem EUA
A situação
no Oriente Médio está mais perigosa “desde pelo menos 1973, e possivelmente até
antes disso”, disse o secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken,
em coletiva de imprensa com o secretário-geral da Otan — a aliança militar
ocidental –, Jens Stoltenberg.
Em seguida,
ele destacou o esforço dos EUA para evitar a escalada dos conflitos na região.
Blinken
pontuou ainda que a resposta dos EUA aos grupos armados apoiados pelo Irã, que
supostamente são responsáveis por um ataque que matou três reservistas do
Exército dos EUA na Jordânia, “poderia ser multinível, ocorrendo por etapas e
sendo sustentada ao longo do tempo”.
“Queremos
evitar que este conflito se espalhe, por isso pretendemos fazer as duas coisas,
ou seja, defender o nosso povo quando este é atacado, ao mesmo tempo que
trabalhamos todos os dias para evitar que o conflito cresça e se espalhe”,
explicou.
Sobre a
guerra na Faixa de Gaza, o principal diplomata dos Estados Unidos também falou
sobre a reunião que teve com o primeiro-ministro e ministro das Relações
Exteriores do Catar, Mohammed bin Abdulrahman Al Thani, nesta segunda-feira
(29);
No encontro, discutiram os “esforços que
estão acontecendo” para libertar os reféns israelenses e criar uma “pausa prolongada” nos combates no território
palestino.
Ø
Irã está por trás dos grupos que atacam
tropas dos EUA, diz Pentágono
O
Pentágono informou que mais de 40 militares ficaram feridos no ataque a uma base com tropas dos Estados
Unidos na Jordânia, destacando também que o Irã está “por
trás” dos grupos que realizam ataques contra os soldados americanos no Oriente
Médio.
“Sobre a
atribuição do ataque, sabemos que se trata de uma milícia apoiada pelo Irã, tem
as “digitais” do Keitab Hezbollah, mas não [estou] fazendo uma avaliação final
sobre isso”, destacou Sabrina Singh, secretária de imprensa do Pentágono em
coletiva de imprensa nesta segunda-feira (29).
“As nossas
equipes continuam fazendo análises, mas sabemos que… o Irã está por trás disso.
E, certamente, o Irã continua armando e equipando estes grupos para lançar
esses ataques e certamente iremos responsabilizá-los”, adicionou.
Ainda
durante a coletiva, Singh pontuou que o Irã “arma, equipa e financia” os
grupos, tendo “digitais” no ataque. Entretanto, não informou outros detalhes,
por exemplo, se líderes iranianos conduziram o ataque.
A ação na
Jordânia deixou ao menos três soldados mortos, segundo as autoridades
norte-americanas, arrastando os EUA ainda mais para o
conflito no Oriente Médio. O número de feridos
pode aumentar.
·
EUA não procuram
guerra com Irã
Ao mesmo
tempo, os Estados Unidos “não procuram guerra” com o Irã, mesmo que não tenham
excluído a possibilidade de ataques no país do Oriente Médio.
“Não
procuramos uma guerra com o Irã, não procuramos um conflito militar com o
regime”, disse o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, John Kirby.
“Não
pretendemos escalar [o conflito] aqui. Este ataque no fim de semana foi
escalonado, não se engane. E exige uma resposta, não se engane quanto a isso.
Não vou me antecipar à tomada de decisão do presidente”, colocou.
Fonte: CNN
Brasil
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