Gustavo Petro diz que capitalismo é
'responsável' por construir muros e lançar bombas
O discurso com as mais
fortes críticas ao sistema capitalista entre os chefes de Estado que se
apresentaram no Fórum Econômico Mundial, na cidade suíça de Davos, foi, sem
nenhuma dúvida, o do presidente da Colômbia, Gustavo Petro.
Participante do painel
“Enfrentando o Cisma Norte-Sul”, o presidente colombiano utilizou a expressão
“policrise” para definir o atual cenário geopolítico, atormentado por diversos
conflitos regionais e desafios de grande complexidade – citando como exemplos a
crise climática, a pandemia de covid e o brutal aumento da desigualdade de
renda –, e deu a entender que considera o sistema capitalista como principal
responsável por esses problemas.
Petro descreveu o
sistema econômico atual como um “capitalismo de fortaleza, que constrói muros e
lança bombas” e utilizou o conflito em Gaza como exemplo para essa analogia.
“Estamos em um mundo
pior, pois passamos da guerra ao genocídio, passamos a bombardear crianças”,
criticou o presidente colombiano, numa alusão ao massacre dos palestinos em
Gaza, vítimas da ofensiva militar de Israel, que já matou mais de 24 mil civis,
entre os quais pelo menos 10 mil são crianças, segundo entidades defensoras dos
direitos humanos que atuam no território.
Em seguida, Petro
mencionou os países do Ocidente como responsáveis por essa transição “da guerra
ao genocídio”, ao afirmar que “a Europa e os Estados Unidos votaram contra uma
política para resolver o problema dos palestinos”. Efetivamente, Washington vetou
ao menos duas resoluções no Conselho de Segurança da ONU que propunham um
cessar-fogo em Gaza.
·
Importância do Sul
Global
O Conselho de
Segurança, principal entidade da Organização das Nações Unidas, também foi alvo
dos questionamentos de Petro, por “manter uma estrutura que evidencia uma
separação política entre o Ocidente e o Sul Global”.
Nesse sentido, o
mandatário colombiano criticou o uso do termo “cooperação” por parte de
autoridades europeias e norte-americanas, por considerar que ele “parte do
conceito de um norte muito rico e um sul muito pobre, que recebe esmolas do
norte em forma de ajuda”.
Para defender essa
tese, Petro enfatizou a questão da crise climática e os US$ 100 bilhões
investidos anualmente desde 2020 para ajudar as economias emergentes a
enfrentar as consequências das alterações no clima do planeta, valor estipulado
pelo Acordo de Paris, em 2015. “Esse valor já não significa nada. O montante
necessário a cada ano é 30 vezes maior e isso implica uma mudança no sistema
financeiro global”, acrescentou o líder colombiano.
“A Colômbia paga um
prêmio porque é considerada uma economia arriscada, como o Brasil, o Equador, a
Venezuela, como todos os países da floresta amazônica. O que é arriscado hoje
não são os países que têm a floresta amazônica, são os países do norte”, insistiu
Petro.
O mandatário
aproveitou para repudiar “este conceito de cooperação que se choca com a
realidade da crise civilizatória global. O Sul Global tem uma importância
essencial para o processo de transformação econômica e tecnológica que os
próprios países do norte precisam enfrentar para sustentar a vida no planeta e
superar os desafios da crise climática”.
·
Crise civilizatória
Ao concluir seu
discurso, Petro reforçou sua visão sobre o cenário mundial atual, desta vez
caracterizando-o como uma “crise civilizatória” e defendendo uma reestruturação
dos sistemas globais de representação entre os países.
“[As tragédias
climáticas] serão um ponto de inflexão para a humanidade, por dependendo de
como as enfrentaremos, podemos nos encaminhar para um novo pacto democrático,
ou para a barbárie”.
No mesmo painel em que
Petro esteve presente também discursaram o primeiro-ministro dos Países Baixos,
Mark Rutte, o presidente de Ruanda, Paul Kagame, e o cofundador da Microsoft,
Bill Gates.
Ø
Em Davos, Javier Milei diz ver mundo atual
‘mais pacífico graças ao capitalismo’
Uma suposta “ameaça
socialista” foi o elemento central do discurso de Javier Milei no Fórum
Econômico Social. Em tom alarmista, o presidente argentino afirmou no evento
realizado em Davos na Suíça, ser o “o guardião dos valores ocidentais", e
afirmou categoricamente que “o Ocidente está em perigo”.
“Aqueles que
supostamente deveriam defender os valores ocidentais” trabalham com “uma visão
do mundo que conduz ao socialismo e à pobreza”, declarou Milei, direcionando
suas palavras aos principais líderes da comunidade internacional, incluindo
representantes das maiores potências globais.
Antes mesmo de sua
chegada à Suíça, o portal argentino Infobae havia revelado que
o chefe de Estado chegou a classificar a cúpula como um espaço “contaminado
pela agenda socialista de 2030” e que, portanto, pretendia "plantar ideais
de liberdade".
A declaração ignora o
fato de que o evento reúne as maiores autoridades do mundo capitalista e donos
de algumas das maiores empresas privadas do planeta.
·
Elogios ao
capitalismo, críticas ao socialismo
O pronunciamento de
Milei foi marcado por fortes ataques a políticas defendidas por setores
progressistas – aos que ele se refere como “coletivistas” – e pelo repúdio à
participação do Estado na economia, ao mesmo tempo em que exagerava em elogios
ao livre mercado e ao que ele chama de “modelo libertário”.
Porém, a defesa desse
conceito causou certa polêmica após o mandatário sul-americano dizer que
“quando a Argentina adotou o modelo libertário em 1860, tornou-se a primeira
potência mundial”.
Milei seguiu com seu
discurso culpando as “ideias do coletivismo” como supostas responsáveis pelo
empobrecimento e consequente crise econômica em seu país. Além disso, acusou os
líderes do Ocidente de “ceder às visões de socialismo e abandonar o modelo de
liberdade”.
Outro momento que
gerou controvérsia foi quando o líder argentino disse considerar o mundo atual
“mais pacífico”, enaltecendo o capitalismo como responsável por essa suposta
façanha.
“Graças ao capitalismo
de livre mercado, o mundo está no seu melhor [momento]: é mais livre, mais
rico, mais pacífico e mais próspero do que em qualquer momento da história”,
declarou o ultradireitista.
·
Valores contra justiça
social e feminismo
Alvo de massivos
protestos nas principais ruas da Argentina, mesmo tendo apenas 38 dias de
mandato, Milei também criticou o conceito de justiça social, alegando que a
ideia não contribui para o bem-estar das pessoas, e a qualificou como
“intrinsecamente injusta porque é violenta e leva o Estado a se financiar por
meio de impostos, ou seja, por meio da coação”.
As críticas à justiça
social logo foram emendadas com ataques ao aborto e o “feminismo radical”,
classificado como “ridículo e antinatural” pelo presidente argentino.
Ao concluir seu
discurso, Milei pediu às autoridades participantes do Fórum de Davos que “não
se deixem intimidar pela casta política ou pelos parasitas que vivem do
Estado”, e chamou de “heróis” os representantes das multinacionais mais ricas
do mundo, presentes no evento.
Ø
Chanceler do Equador atribuiu aumento da
criminalidade à 'falta de oportunidades' para sociedade
A ministra das
Relações Exteriores do Equador, Gabriela Sommerfeld, discursou no Fórum
Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, destacando os problemas ligados à crise da criminalidade que atravessa seu
país.
Segundo ela, a insegurança
afetou a população civil, razão pela qual “o país ficou paralisado pelo medo e pela falta de oportunidades".
Sommerfeld abordou a
crise social enfrentada por grande parte da população equatoriana, com apenas
sete em cada dez pessoas com pleno emprego e poucas oportunidades de trabalho
para os jovens.
Neste contexto
socioeconômico, a chanceler argumentou que os índices de criminalidade
aumentaram “tremendamente” na sociedade, o que “ enfraqueceu todas as
instituições que têm a ver com a segurança e o sistema de Justiça".
Sommerfeld destacou
que 40 mil empresas equatorianas fecharam em 2022 e apontou para o problema das
chamadas 'vacunas', pagamentos exigidos pelo crime organizado para os pequenos
empresários se manterem ativos.
"O primeiro
gerador de trabalho são os pequenos negócios. Se estamos a afetando a base
produtiva, o que podemos esperar? Obviamente que cada vez mais pessoas se
juntem a este crime organizado", concluiu a ministra nomeada pelo
presidente equatoriano, Daniel Noboa.
A chefe das Relações
Exteriores contou como o governo, em conjunto com o Ministério Público, lançou
uma operação em dezembro passado que levou a “muitos movimentos violentos
profundos".
Sommerfeld fez
referência ao decreto emitido por Noboa em 8 de janeiro, estabelecendo
o Estado de emergência no país, e em sequência, o segundo decreto, de 9 de
janeiro, reconhecendo um conflito armado e identificando "22 grupos
terroristas" no país, segundo ela.
Em final de seu
discurso, Sommerfeld agradeceu o apoio internacional enviado ao Equador,
afirmando que esses problemas "não correspondem apenas ao nosso país,
porque o crime organizado é alimentado pelo tráfico de drogas e pela mineração
ilegal”, sublinhou.
Ø
Nísia Trindade defende fórmula global para
combater pandemias
O enfrentamento a
pandemias deve contar com áreas de atuação que vão além da saúde, envolvendo
também o ambiente político, de forma a dar celeridade às medidas emergenciais.
É também fundamental que esse enfrentamento seja feito de forma compartilhada
entre países, inclusive para viabilizar a criação de sistemas de proteção
social e complexos industriais que viabilizem a fabricação de insumos em
quantidade suficiente para abastecer países com menor poderio econômico.
Essas foram as medidas
defendidas pela ministra da Saúde, Nísia Trindade, em Davos, na Suíça, em uma
mesa de debates sobre como o mundo deve se preparar para lidar com futuras
pandemias. A ministra participa do 54º Fórum Econômico Mundial.
·
Resposta política
Nísia Trindade disse
que, antes de tudo, é necessário fortalecer o setor de saúde, mas que essa
medida deve vir acompanhada da inclusão de outros setores internos e externos
aos países. “Além de fatores ligados à organização das condições estruturais
visando um sistema de saúde resiliente, há [um fator] que é o do tempo da
resposta política. Isso tanto a nível Nacional quanto em uma situação de
pandemia em nível global”, disse.
Ela explicou que, no
caso específico do Brasil, o governo que enfrentou a pandemia de covid-19
apresentou uma resposta muito negativa, diante da capacidade do sistema de
saúde. “O país falhou na resposta a essa pandemia, apresentando, entre outros
indicadores, 11% das mortes por covid [do mundo], tendo uma população que
representa cerca de 4% [da população global]”, argumentou.
·
Desenvolvimento
Tendo por base a
experiência – positiva e negativa – brasileira, Nísia sugeriu algumas medidas a
serem adotadas em situações de pandemia como a da covid-19. A primeira delas,
investimento em ciência, tecnologia e inovação.
Segundo a ministra, é
também necessário reduzir as desigualdades entre os países, especialmente no
que se refere ao desenvolvimento e produção de vacinas, medicamentos, testes e
diagnósticos. “Por essa razão, estamos propondo, no âmbito do G20, uma aliança
no sentido de que se incentiva essa produção em nível local e regional”.
·
Complexo industrial
A ministra da Saúde
defendeu estratégias nacionais que se expandam a um debate de saúde global
visando a constituição de um “complexo econômico industrial de saúde que
permita organizar essa produção de insumos e reduzir a desigualdade,
fortalecendo os sistemas nacionais, especialmente nos países de baixa renda, de
média renda e também países em desenvolvimento”.
As discussões visando
tais instrumentos de combate a pandemias devem ser adotados no âmbito da
Organização Mundial de Saúde (OMS).
“É muito importante
que haja uma visão integrada da vigilância de possíveis novos surtos e novas
epidemias com potencial pandêmico. Essa vigilância deve ser vista de forma
integral, iniciando na atenção primária à saúde mas também fortalecendo os
centros de inteligência epidemiológica no país, para que essa vigilância possa
ser melhor orientada”, acrescentou.
Essas agendas devem,
ainda, incluir sistemas de proteção social. “Esses sistemas são fundamentais em
tempos de crise, como o que vivemos recentemente”, argumentou. “Tudo feito a
partir de evidências científicas”, complementou.
Ø
Mais que preço, mundo precisa debater valor
da natureza, diz Marina Silva
A ministra do Meio
Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, afirmou,
nesta quarta-feira (17/01), que não há como “precificar” os serviços prestados
pela natureza, tamanho o valor que ela tem para o planeta e para os seres
humanos.
A declaração
referia-se à tentativa do 54º Fórum Econômico Mundial de mensurar, em termos
financeiros, “serviços ecossistêmicos incalculáveis”, ao convidar a ministra
para participar da mesa de debates Colocando um Preço na Natureza. O evento
está sendo realizado em Davos, na Suíça.
“Tem um exemplo que eu
gosto de citar: a Amazônia produz 20 bilhões de toneladas de água por dia. A
floresta usa 50% dessa água e 50% são dispensados na atmosfera, que é
responsável pelo nosso regime de chuvas, ao qual está relacionado 75% do PIB
[Produto Interno Bruto] da América do Sul. Se fôssemos bombear essa água,
precisaríamos de 50 mil usinas de Itaipu. Alguém consegue imaginar um
investimento como esse, bombeando água ininterruptamente para poder alimentar o
nosso regime hidrológico?”, questionou a ministra.
·
Serviço incalculável
“A natureza faz isso
utilizando apenas a terra, seus nutrientes, a floresta, o Sol e o vento. É,
portanto, um serviço ecossistêmico incalculável”, disse Marina Silva.
A ministra abriu sua
participação dizendo ter recebido com estranheza o convite para participar de
uma mesa de debates que tentaria “botar um preço na natureza”. Ao refletir
sobre o tema, ela concluiu que seria melhor adotar, em vez de “preço”, o termo
“valor” para o debate.
“A palavra valor, para
mim, remete a algo que vai além daquilo que podemos precificar porque a
natureza tem valores que a forma e o estágio em que nos encontramos ainda não
conseguem alcançar. A gente só conseguiria precificar algo que pudesse
produzir”, acrescentou.
Segundo a ministra,
até seria possível chegar a um preço, mas esse cálculo só poderia ser feito
após se conseguir “ver o valor” da natureza. “Um valor que [a partir desse
olhar] tem preço também. Sobretudo o preço de quem pesquisa; o preço de quem
usufrui desses serviços ecossistêmicos e dos conhecimentos milenares daqueles
que têm conhecimentos associados a esses recursos. Que esse debate seja
constante nesse olhar para a natureza.”
Marina Silva disse
ainda que o Brasil trabalhará, em uma força-tarefa do G20 (grupo formado pelas
20 maiores economias do planeta), a ideia de pagamentos para os serviços
ecossistêmicos, de forma a preservá-los para o bem do planeta.
Fonte: Opera Mundi
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