Qual foi a epidemia mais inusitada da história?
Foi a epidemia Sudor anglicus, também conhecida
como "suor inglês", que foi uma doença epidêmica que atingiu a
Inglaterra e posteriormente se espalhou pelo continente europeu.
A doença ocorreu em cinco surtos, sempre no verão,
entre 1485 e 1551, e matou mais de 2 milhões de pessoas.
Desconhece-se qual era o agente patogénico, mas
acredita-se que tenha sido causada por um hantavírus.
A doença era caracterizada por sintomas como febre,
sudorese intensa, dor de cabeça, dor muscular, náusea e, em alguns casos, morte
súbita; era altamente contagiosa e se espalhava rapidamente, afetando
principalmente a população mais jovem e saudável.
A epidemia Sudor anglicus foi uma das mais mortais
da história da Inglaterra, apareceu misteriosamente, mas curiosamente
desapareceu sem deixar rasto…
• Sudor
anglicus
Sudor anglicus (epônimos: suor inglês, doença do
suor, doença inglesa do suor) foi uma doença epidêmica de etiologia
desconhecida, muito provavelmente causada por um hantavírus, que matou cerca de
3 milhões de pessoas na Inglaterra, entre 1485 e 1551, e outras milhares de
vítimas por toda Europa.
A doença apareceu inicialmente na Inglaterra nos
meses de verão do ano de 1485, e foi desaparecendo com a chegada do inverno.
Reapareceu em 1508, 1517, 1528 e 1551. Não fazia uma distinção absoluta entre
sexo, classe social ou idade, mas fez vítimas predominantemente em homens de 15
a 45 anos.
>> O surto de 1528
Em 1528 a doença teve sua pior recorrência, pois se
espalhou pela Europa, vitimando pessoas na Holanda, Alemanha, Suíça, Polônia,
Rússia e países nórdicos. Do mesmo modo que a recente epidemia de ebola, na
África, a doença fez várias vítimas num curto período de tempo, desaparecendo
rapidamente. Depois de 1551, a doença desapareceu tão misteriosamente quanto
havia surgido. Não há mais relato na história de novos surtos semelhantes.
>> Patogenia
A doença foi estudada por vários e renomados
médicos da época como o italiano Polidoro Virgílio, que na época vivia na
Inglaterra, o inglês John Caius e o alemão Euricius Cordus. Grande parte do que
se sabe hoje é baseado no que eles escreveram.
>> Etiologia
Como a peste negra, a leptospirose, o tifo murino e
outras doenças cujo vetor são os roedores da família Muridae, também
acredita-se que a "doença do suor" era transmitida por um vetor
semelhante, muito provavelmente através da contaminação pelas fezes de ratos
rurais. Os relatos colhidos em paróquias e descritos em fontes testamentais
apontam que a grande maioria das mortes ocorreram mais em ambientes rurais que
em aglomerados urbanos. A frequência de casos em locais próximos a vias de
acesso a cidades, e propagação a outros países com relações comerciais com a
Inglaterra, dá margem a crer que também possa ter havido transmissão direta
entre humanos, fato recentemente evidenciado nas hantaviroses pulmonares.
Corrobora para isso o fato de não existirem casos descritos da doença na
França, Espanha e Itália (culturalmente menos ligados à Inglaterra na época),
nem na Escócia.
>> Período de incubação
O período de incubação era extremamente curto, com
um desfecho normalmente fatal (a doença matava em 24 horas, por vezes em até 3
horas depois do início dos sintomas).
>> Sintomatologia
Os sintomas iniciais eram de uma doença
respiratória aguda (com tosse, falta de ar e febre) como o resfriado comum,
associados a uma sudorese intensa que originou o seu nome característico.
Prostração, indisposição, vômitos e dores pelo corpo (principalmente dores
musculares, abdominais e cefaleia intensa) também eram relatadas. No estágio
final, o indivíduo apresentava confusão mental, delírio, aceleração da
respiração e dos batimentos cardíacos. Não havia qualquer manifestação na pele
(exantemas, manchas) ou nos bubões (linfonodos), comuns em outras doenças da
época, como a peste bubônica.
Os sintomas indicam que a morte era ocasionada pela
rápida falência respiratória associada à desidratação. O desconhecimento na
época, com relação ao tratamento, pode ter contribuído para acelerar a morte:
havia uma ideia de que o paciente acometido deveria provocar em si ainda mais
suor com o intuito de forçar a doença a ser exalada para fora do corpo. Assim,
tão logo alguém apresentava qualquer um dos sintomas, era imediatamente envolto
em roupas, mantas e cobertores, forçavam-lhes exercícios extenuantes e métodos
sem qualquer eficácia, como a sangria. Pouco tempo depois, acometido de febre e
com um suor fétido exalando do seu corpo, o paciente morria e os familiares
acreditavam que isso tinha acontecido porque o "tratamento" havia
sido iniciado tarde demais.
>> Epidemiologia
Geralmente epidemias como estas também têm duração
limitada, pois há uma rápida seleção natural: os indivíduos infectados morrem
rapidamente a ponto de não haver tempo suficiente para contaminar outras
pessoas, sobretudo na época, quando as distâncias demoravam a ser percorridas.
Sobrevivem somente os que não foram infectados ou os que adquirem imunidade. Se
acontecesse hoje, com o desenvolvimento dos transportes, uma doença semelhante
poderia ser catastrófica e ocasionar uma pandemia de grandes proporções,
principalmente se comprovada a transmissão direta. Com os atuais níveis de
desenvolvimento, medidas sanitárias como saneamento básico, tratamento de água,
conservação dos alimentos, dedetização, associados a uma medicina avançada,
seriam suficientes para conter a doença, algo inconcebível para uma época de
pouco conhecimento científico.
>> Correlações recentes
Em Maio de 1993, houve um surto de síndrome da
hantavirose pulmonar, acometendo uma parcela da população rural no Sudeste dos
Estados Unidos. Os sintomas se iniciavam com um período breve e inespecífico de
febre, dor muscular, e dor de cabeça que rapidamente evoluía para falência
pulmonar, necessitando internação hospitalar imediata em UTI. Destes pacientes,
88% tiveram de ser submetidos a um ventilador mecânico de suporte logo nas
primeiras 24 horas da internação. Esta forma de tratamento é crucial em casos
de graves doenças respiratórias e, sem ela, os pacientes teriam morrido
rapidamente. Mesmo assim, alguns morreram num período de 72 horas e a grande
maioria relatava que existiam ratos nas proximidades de suas casas.
Correlacionando, esta é uma época quente no hemisfério norte e sabe-se que a
população de ratos aumenta abruptamente no verão, decaindo gradativamente até o
inverno, ainda mais naquele ano, em que houve uma a colheita abundante de
grãos.
O suor provavelmente advinha da dificuldade
respiratória progressiva (cansaço), associada ao edema do pulmão - situação que
leva a maioria dos pacientes a experimentar pânico e desespero, pois é
semelhante a um afogamento. Além do pânico ocasionar suor, ele também acompanha
a maioria das doenças respiratórias, sobretudo as mais graves como a
tuberculose. Tudo isso leva a crer que a "doença do suor" pode
realmente ter sido uma variante da Síndrome da Hantavirose Pulmonar, mas nada
impede que a doença seja diferente de qualquer outra conhecida atualmente e
tenha o suor abundante como um dos sintomas principais.
>> Investigação laboratorial
O hantavírus só foi elucidado como causador da
Síndrome da Hantavirose Pulmonar nos Estados Unidos graças a exames
laboratoriais avançados só disponíveis no fim do Século XX. Apenas exames desta
natureza poderiam garantir que a "doença do suor" seria de fato uma
hantavirose. Estes exames são realizados analisando-se fragmentos do DNA e RNA
do tecido humano. Além disso, haveria que se provar que o mesmo vírus estaria
presente também no tecido dos ratos infectados e, assim, estabelecer um paralelo
real entre vetor e hospedeiro. Portanto, até aqui, tudo o que se sabe sobre
esta doença é pura teoria, ainda carecendo de comprovação científica.
Relatos sobre a doença
• Polidoro
Virgílio, famoso anatomista italiano em 1485:
Em 1485 uma nova doença atingiu todo o reino…uma
pestilência de fato horrível…repentinamente um suor fatal ataca o corpo,
devastando-o com dores na cabeça e no estômago agravadas pela terrível sensação
de calor. Em decorrência disso, os pacientes retiravam tudo o que os cobria; se
estivessem vestidos, arrancavam as roupas, os sedentos bebiam água, outros
sofriam dessa febre fétida provocada pelo suor, que exalava um odor
insuportável…todos morriam imediatamente ou pouco tempo depois do suor começar;
de tal modo, que um em cada centena escapava.
• John
Caius, médico da coroa real, escreveu um livro inteiro somente sobre a
enfermidade de 1551. Foi o primeiro relato médico escrito na história, que
trata somente de uma única doença:
Primeiro a dor nas costas e nos ombros, dor nas
extremidades, como braços e pernas, com ardor ou espasmo, como se apresentava
em alguns pacientes. No segundo momento apareciam as dores no fígado e nas
proximidades do estômago. Na terceira fase surgia uma dor de cabeça acompanhada
de insanidade. Na quarta, o sofrimento do coração…pacientes respirando
aceleradamente e com dificuldade…com a voz ofegante e lamuriosa… não resistiam
mais do que um dia.
• Martinho
Lutero, que contraiu a doença em 1529 mas sobreviveu:
"Ninguém pensava em seus afazeres diários, as
mulheres enchiam as ruas de lamentações e preces e os sinos dobravam por
finados dias e noites".
Fonte: Quora/Wikipedia
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